Jealous

Lúcia sempre invejou Susana. Ela costumava observar como a irmã mais velha conseguia tudo que queria com um olhar doce ou com palavras gentis.

Invejava como ela era sempre a mais bonita nas festas, com suas maquiagens coloridas e vestidos de marca. Tais vestidos escorregavam no corpinho miúdo de Lúcia, e ela nunca seria tão graciosa dançando com aqueles sapatos de salto alto que Susana tanto amava e usava.

Além disso, a irmã era cercada de amigas. Qualquer fosse o lugar em que estava, já fazia uma nova amizade, mesmo sendo tímida quando estava junto a desconhecidos. Em uma semana, era capaz que um bairro inteiro já conhecesse a Pevensie mais velha, que encantava a todos.

Também não entendia como ela tinha tantos pretendentes. Até mesmo o Príncipe Caspian se apaixonou após um tempo. Na Inglaterra, era comum que cartas de admiradores secretos aparecessem junto da correspondência, com flores e chocolates. Lúcia era pequena para entender dessas coisas, mas sabia que era apenas mais um motivo para que aquele sentimento a atacasse de novo.

Ela sempre saía impune de qualquer acusação. Mesmo que fosse culpada, qualquer um que olhasse seu rosto delicado jamais teria coragem de culpá-la. E assim, deixavam o assunto de lado e fingiam que nada tinha acontecido. Ou culpavam os outros irmãos.

Susana tirava boas notas e era comportada. Foi uma das melhores rainhas de Nárnia e foi amada pelo seu povo. Sempre foi a mais bela da família e mais querida pela Sra. Pevensie, chegando a ser escolhida para ir aos Estados Unidos com ela.

E mesmo com toda essa inveja, Lúcia amava sua irmã mais que tudo. Espelhava-se nela, e queria ser igual a ela quando crescesse. Vê-la experimentando lingeries e batons fazia a mais nova pensar como é ser gente grande. É claro que Susana ainda não tinha tal idade para ser considerada adulta, mas desejava ter. E isso estragou tudo.

E no final, a inveja virou pena e a admiração foi embora. A tamanha perfeição de Susana trouxe sua ruína. Segundo ela, “No mundo real as pessoas não devem perder seu tempo com fantasia e brincadeiras bobas; devem crescer e se preocupar com o que realmente importa.” Como se ela soubesse o que realmente importava! Ela só sabia de roupas, festas e rapazes!

A Rainha Gentil se transformou numa máquina, programada para sorrir e encantar. Esqueceu de Nárnia, e de todos aqueles que um dia a amaram e se curvaram perante ela. Tornou-se um ser mesquinho e oportunista, que não ouvia os conselhos dos irmãos e que vivia num mundinho de falsas amizades.

Alguém assim não era digno de pisar em terras narnianas. Aslam não permitiria que isso acontecesse. Então, no dia em que todos os grandes reis e rainhas se reuniram e celebraram sua volta à Nárnia, Lúcia lembrou-se da irmã com tristeza e constatou: Susana deve ter tanta inveja de nós agora.