Máfia de Sangue escrita por LadySpohr


Capítulo 1
Noite Fria


Notas iniciais do capítulo

“Quando você estiver triste, e ninguém souber disso
Eu lhe manderei rosas negras
Quando o seu coração estiver na escuridão e congelado
Eu lhe manderei rosas negras”

Ten Black Roses – The Rasmus



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Estava garoando pra chuva, mais uma vez. Me observei no espelho antes de sair. Eu vestia um grande casaco de couro preto e botas de cano longo, mas por baixo havia menos roupa do que seria recomendável numa noite fria e ventosa.

Minha maquiagem estava no lugar, olhos pretos ao extremo e o que eu odiava ter de colocar: a maldita coleira de pinos. Eu não era uma cadela no fim das contas. Penteei com os dedos alguns fios fora do lugar do meu cabelo castanho e grosso. Em dias de chuva ele parecia ter vida própria.

Suspirei, desanimada, arrumando o cinto em volta dos meus quadris, o vestido de renda de alças era preto e curto, tudo que não se deveria usar numa caminhada pelas ruas às onze e meia, eu poderia atrair coisas que nenhuma mulher gostaria de enfrentar. Ergui a ponta do guarda-chuva que tinha em mãos. Pontudo o suficiente se eu tivesse que furar algum estuprador no caminho.

Me encaminhei até o sofá e apanhei a bolsa, relanceando os olhos pela minha kitinete. Não era lá grande coisa, mas pelo menos eu tinha onde morar. Pra alguém que perdera os pais há um mês, sem poder contar com qualquer outro parente vivo porque não havia nenhum – meus pais eram filhos únicos e meus avós estão mortos há anos – eu até que estava bem. Tinha tentando a faculdade, mas o que houve com meus pais me abalou tanto que tranquei a matrícula e parei pra pensar por uns tempos.

Eu não aguentei viver em minha herança, a casa em que nasci e cresci, haviam lembranças dolorosas demais, talvez um dia eu voltasse, mas não agora. Preferia alugar pra obter alguma renda e saber que havia uma família lá dentro, feliz por ter uma casa boa e aconchegante pra tomar conta.

Por enquanto, ficava satisfeita em morar ali, mesmo que fosse um pouco apertado e não tivesse um jardim.

Me dirigi pra porta e fui até o elevador. Os saltos das minhas botas fazendo um suave e ritmado clack clak pelo chão.

Não havia ninguém pra dividir o elevador comigo, o que foi bom, meu humor não estava dos melhores, quando chovia eu gostava de ficar no meu canto, dormindo, ou lendo. Qualquer distração que esquentasse meu coração congelado. É assim quando se perde as pessoas mais importantes da sua vida. O mundo perde toda a cor, é tudo preto e branco. Meu emprego era mais uma distração executada com afinco. O consegui apenas uma semana após a morte dos meus pais, um clube exclusivamente de rock, onde não tocava nada além disso. E era por isso que meu uniforme era sexy e provocante a ponto de me incomodar.

Cheguei à garagem do condomínio e saquei as chaves do bolso do casaco. Na verdade o carro nem era meu, mas da minha adorável vizinha Alice, uma senhora idosa que adorava me fazer bolos e doces e que já não podia dirigir mais. Ela estava prestes a se livrar do Pálio branco quando me mudei. Quando voltei pra casa às oito da manhã e a encontrei no corredor e respondi sua pergunta do porquê parecia tão cansada, o carro me foi cedido na hora. Eu estava pensando seriamente em comprá-lo quando juntasse dinheiro suficiente. No momento eu teria que tê-lo apenas provisoriamente.

Entrei a bati a porta, jogando a bolsa e o guarda-chuva no banco de trás. Parti sem mais demoras. Esperava que o estacionamento não estivesse muito cheio, caso contrário teria de achar um lugar mais distante pra estacionar o carro. Ainda tinha mais uns quinze minutos a pé pra chegar até o clube, por isso o guarda-chuva pontudo.

As ruas estavam vazias, os únicos estabelecimentos abertos eram postos de gasolina e farmácia vinte e quatro horas.

Cheguei no estacionamento e gemi. Não havia uma vaga naquela merda. Dando a ré e resmungando palavrões dirigi pelo quarteirão até achar um lugar digno do carro. Traduza-se: onde ele não correria o risco de ser roubado ou depredado. Eu estava querendo um milagre, mas mesmo assim eu tentei.

Achei um canto numa rua sem saída, com algumas poucas casinhas respeitáveis ao redor. Me sentindo segura de que o encontraria ali quando voltasse, desliguei-o, apanhei minhas coisas e desci, tomando o cuidado de não escorregar na calçada por causa das minhas botas. Vi que uma das fivelas se soltara e me curvei pra arrumá-la.

É surpreendente o quanto uma mulher pode se distrair com um probleminha como esse e deixar passar que se está num lugar onde o silêncio e o escuro são suas companhias. Elas podem ser boas, mas também ruins.

Quando me ergui algo bateu em mim com tanta força que vi pontos brancos diante dos olhos. Tentei gritar, mas uma mão grande e fria cobriu minha boca com firmeza e antes que eu pensasse em usar meu guarda-chuva como arma, ele foi arrancado das minhas mãos e o vi voar pro lugar onde estivera antes. Ganhei uma chave de braço e um tranco contra a porta do carro.

-Se você tentar qualquer reação, vai ser a última que coisa que fará em vida. Está me entendendo?


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