Skater Girl escrita por sisfics


Capítulo 2
Capítulo Um: Atropelamento.




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Bella Pov

– Bells, me passa a torrada? – Rennesme pediu, pois não alcançava o pote.
– Toma pequena! – dei a ela.
– Estou indo para o trabalho. Beijo, filhas. – Charlie veio até nós duas sentadas na mesa da cozinha e deu um beijo na testa de cada uma.
– Bom dia papai. – Rennesme disse com carinho.
– Toma cuidado, pai. Não se preocupe que eu cuido de tudo. – sussurrei.


Desde pequena sempre tive receio quando meu pai saía de casa pra trabalhar e eu ficava sozinha com minha mãe. Policial não é um dos melhores empregos para se ter em Nova Iorque.
– Pode deixar, Bella. Você pode acordar o seu irmão para mim?
– Tudo bem. – rosnei.
– Tchau, crianças. Juízo! – ele saiu pela porta da cozinha.
– Bella, o Emmett vai se atrasar para faculdade!
– Eu sei, Nessie, mas ele tem que aprender a ter um pouco mais de responsabilidade também. Não sou a mãe dele. – percebi que nos olhinhos dela surgiu uma coisa diferente. – Desculpa ter falado na mamãe?
– Tudo bem. Eu não lembro dela mesmo. – disse com tristeza.


Sempre fiz de tudo para parecer com a minha mãe e dar uma referência a minha irmã mais nova, mas por mais que me esforçasse, não era nem um terço do que minha mãe foi.


– Vai buscar sua mochila que eu vou te levar para escola de skate hoje. – ela deu um sorriso largo mostrando o buraco que tinha no sorriso por causa do dente de leite que caira.

Se levantou correndo e foi até o nosso quarto apanhar a mochila, enquanto isso fui ao de Emmett.

– Acorda! – gritei, enquanto abria a cortina.
– Sai daqui. 
– Você vai se atrasar para faculdade.
– Sai do meu quarto.
– Já está avisado. – sai e encontrei Nessie na sala.

Peguei meu skate num canto e sai do apartamento a carregando no colo. Ela adorava andar de skate comigo. Acho que tenho mais uma das minhas na família.

– Boa aula, linda. – dei um beijinho nela quando chegamos à porta da escola.
– Obrigada.
– Preste atenção na aula, coma tudo na hora do almoço, não corra no intervalo e não sai da escola com ninguém, okay? – ordenei.
– Está bem Bella. Você tá me fazendo pagar um mico. – rosou nas bochechas, assim como eu sempre ficava. Antigamente.
– Mico? Está bem. Vai logo. – saiu andando até o portão e a observei entrar.

Em volta de mim e só via mães arrumadas, vestidas socialmente em carros de luxo. Nessie tinha muita sorte de estudar num colégio particular. O sacrifício que eu e meu pai fazíamos para ela ter uma boa educação. Falando em escola, eu precisava ir para minha.

[...]

– Fala aê, Lee. – cheguei perto da minha amiga sentada na calçada em frente à escola ajeitando as rodas.
– Fala aê, Bê. – era assim que eles me chamavam na rua, quase ninguém sabe meu nome completo. – Sabia que você vinha hoje.
– Adivinhação agora? – perguntei me sentando com ela.
– Não, é que você só aparece em dia de teste.
– É mesmo. Que que houve com as rodas? – perguntei apontando para o skate.
– Estão uma merda. Preciso de novas. Vão acabar quebrando no próximo ollie. Me empresta uma grana aí?
– Se eu tivesse.
– O Jake estava te procurando ontem. Ele tem uma parada para te dar.
– Que parada? – deu de ombros.
– Você vai para rampa hoje? – perguntou.
– Se não tiver serviço no japa ou no James, vou, mas tenho que arrumar grana, então vou catar entrega até no inferno. – o sinal tocou.
– Vamos entrar.
– Fazer o quê?

[...]

– Boa tarde, seu Ling! – resmunguei, me apoiando no balcão da loja que ficava perto da minha casa quando cheguei da escola
– Boa tarde nada! Está cheio de entregas aqui e meu filho sumiu com o caminhão.
– E eu estou aqui para quê? – ele pegou uma sacola de papel enorme em cima do balcão e jogou no meu braço.
– Essa sacola é para os Stevens na 5st. – pegou outra sacola maior ainda e jogou no meu outro braço – Essa vai para os Jacksons, segundo andar do 450, na 7st. Você vai me trazer vinte dólares da primeira sacola e trinta e dois e noventa na outra. Vai logo, menina. Vai logo. – Japa abusado.

Saí da loja, me equilibrando com as sacolas e o skate. O bati no chão, subi e peguei impulso. Me equilibrava melhor nele que nos pés. Passei o resto da tarde fazendo entregas, e quando terminei, fui buscar Nessie no colégio. Ganhei cinqüenta dólares com o japa e consegui fazer as compras da semana com isso.

– Me ajuda com o trabalho de casa? – Nessie pediu quando eu terminei de ajudá-la com o banho.
– Pedindo ajuda para mim é a mesma coisa que nada. – respondi brincando.
– Boba. Você é inteligente, Bells.
– Você também. Agora, vamos para cozinha que enquanto faço o jantar, eu te ajudo com o trabalho.

Comecei a ajudá-la, enquanto arrumava a mesa e botava a nossa comida. Meu pai chegou um pouco mais tarde com Emmett que praa variar me fez de empregada. Depois do jantar eu pus Ness para dormir e me arrumei para sair.

– Vai aonde Isabella? – Emmett perguntou, enquanto eu saía pela porta de casa.

Já eram quase uma da manhã, meu pai e Nessie estavam dormindo e ele assistia tv na sala.

– Não te interessa.
– Vai se encontrar com aquele marginal?
– Qual foi a parte do “não te interessa” que você não entendeu? Me deixa em paz. Você é meu irmão, e não meu pai.

Já na rua, coloquei meu skate no chão, dei impulso deslizando pela calçada e assustei quem passava. Um tempo depois, entrei no beco escuro e puxei a escada de incêndio do prédio sem que ninguém visse. Pus meu skate embaixo do braço e comecei a subir. Terceiro andar. Dei duas batidinhas na janela do quarto que estava escuro. De repente, a luz de um abajur acendeu e pude vê-lo deitado sem camisa na cama. Ele deu um daqueles sorrisos enormes e me mandou entrar. Puxei a janela e o fiz. Levantou da cama, veio até onde estava e me agarrou, me dando um beijo daqueles.

– Tem gente em casa? – perguntei num sussurro.
– Não. Estou sozinho, quer dizer estava. – me jogou na cama.
– Calma, Jacob – rolei fugind.
– Ah, Bê! Para. Vem aqui. – me puxou pela cintura, me abraçando por trás e começou a beijar meu pescoço.
– A Lee me disse que você estava me procurando ontem. Que parada você quer me dar?
– Toda mulher é interesseira assim?! Porra. – levantou e foi até o armário.

Abriu uma das portas e tirou de lá de dentro alguma coisa que não pude ver. Escondeu atrás de si e veio até onde eu estava deitada.

– O que é isso?
– Um presente. – o tirou de trás das costas e me mostrou.
– Não acredito. É para mim? – deu um sorriso e colocou no meu colo o skate novinho se sentando ao meu lado.
– Caralho, ele é lindo. – analisei a prancha de cima a baixo.

Me levantei, o pus no chão e dei uma voltinha pelo quarto. Mas, de repente uma idéia me ocorreu.

– Aonde você arrumou dinheiro para esse skate, Jake?
– Não interessa, Bê. Será que não dá só para pegar o presente.
– De onde? - perguntei de novo.
– Penhorei meu anel. Serve? - debochou. Não acreditei muito na sua resposta, mas a aceitei. Não queria discutir hoje.
– Nem para agradecer, né? - resmungou. Andei até a cama e me sentei em seu colo.
– Que tipo de agradecimento você estava pensando? – passei mão em seu peito.
– Esse mesmo.

Edward Pov

– Bom dia filho! – minha mãe desejou me vendo sair do quarto.
– Bom dia! – andei pelo corredor com ela até a cozinha.

Chegando na sala pude sentir o cheiro do café-da-manhã que a empregada preparava.

– Bom dia, mãe! – Alice estava toda animada como sempre.
– Oi, lice
– Cadê o papai? – Rosalie perguntou já na mesa.
– Seu pai teve uma emergência no hospital de madrugada. Era por volta das quatro da manhã quando ele saiu de casa.
– Hum. Coitado. – Alice fez biquinho.
– Aqui está o seu café, senhora. – a empregada serviu o café à Esme.

A Família reunida na mesa. Sinceramente, quando o meu pai não estava em casa, me sentia uma formiga. Minoria. Sempre cercado pelas três. Já estava terminando de tomar meu café quando lembrei que meu carro estava no conserto por causa de uma merda de arranhão que a louca da Alice fez. Teria que ir para escola naquele porsche amarelo.

– Vão acabar se atrasando. Não quero advertências logo agora, não é mesmo? – minha mãe lembrou.
Eu e Alice fomos embora com Rose nos seguindo até a garagem do prédio.
– Já estou saindo para facul. Beijos. – gritou Rosalie para nós dois entrando em seu carro.
– Tchau Rose. – Alice se despediu.
– Entra no carro logo.
– Impaciente. – deu uma careta. – Já acorda de mau-humor. Cruzes.
– Alice, cala a boca e vamos embora! – fechou a porta e pôs o cinto.

Chegando na escola, minha irmã foi para sua sala e eu para minha. Não agüentava mais essa escola, não agüentava mais esses pseudo-amigos que só sabiam falar de carros, as casas de praia e as mansões dos pais. Isso tudo me enojava demais. Tomei uma decisão: ia matar aula amanhã. A pintura do Volvo ficava pronta hoje, e amanhã dava um jeito de sair sem Alice perceber. O plano começou a se arquitetar na minha mente durante uma aula de trigonometria.

Talvez se nos atrasasse, eu poderia mandar descer do carro para que ela não chegasse ainda mais tarde e eu fingia estacionar, então ia embora. Perfeito. Acho que vou até a baía. Respirar um pouco. Esquecer meu celular em casa de propósito para Tanya não me ligar. Só volto quando a escola acabar. Terminei de assistir as aulas do dia e fui para casa ouvindo Alice falar sobre alguma coisa que não faço nem noção do que seja. Lá meu pai me puxou para conversar sobre o dia dele no hospital. Suas aventuras na sala de cirurgia. Quem disse que quero ser médico? Quero ser engenheiro químico, mas meu pai cisma em dizer que não aos amigos, familiares. Tentei ser paciente com ele, e na maioria das vezes conseguia, mas hoje estava tão cansado. Inventei uma desculpa de que estava com dor-de-cabeça e fui para o quarto. Não sei o que tem acontecido comigo de uns tempos para cá, mas estou tão cansado de tudo. Da minha vida, das pessoas, da falsidade. Quero alguma coisa para gostar de verdade.

Não gosto da minha casa, da minha escola, dos meus amigos, da minha namorada. Parece uma prisão sem grades. Minha saída para isso é deitar na minha cama e dormir.

Dormir pensando no dia que vou ter amanhã. Só vou matar aula e estou assim ansioso, para se ter uma idéia de como fico angustiado e frustrado nessa casa.

Bella Pov

– Alô? - atendi.
– Oi, Bê.
– Oi, Lee.
– Vamos andar um pouco hoje na baía?
– Porra, parece até que você adivinhou. Sabe o que ele queria me dar ontem?
– O que?
– Um skate novo. Novinho, Lee.
– Caralho, garota sortuda. O que você vai fazer com seu skate antigo?
– Sei lá. Guardar.
– Me dá, Bê? O meu está todo fudido.
– Te dou sim. Não tem problema nenhum. Te encontro na baía às dez, valeu?
– Okay. Tchau. - desliguei o aparelho - Rennesme, a gente vai se atrasar para escola.
– Se a gente for de skate, vai mais rápido. – disse aparecendo na sala com a mochila nas costas.
– Tenho uma surpresa. – peguei o skate que guardava no canto e mostrei à ela.
– Uau, é muito maneiro.
– Eu sei! – pulei, parecendo criança. – Vamos que vou te levar nele hoje.
– Eba. Sabe, Bells, meus amiguinhos dizem que sou muito corajosa.
– Por quê?
– Por andar em cima disso aqui. Nenhum teria coragem. Todo mundo pensa que é um monstro ou coisa do tipo.
– Quando você ficar maiorzinha te ensino a andar sozinha, tudo bem?
– Valeu.

[...]

Cheguei na baía por volta das dez com os dois skates, encontrei Lee e nós começamos a andar seguindo a água e conversando. O celular dela tocou depois de um tempo e acabou tendo que ir embora por causa de Sam. Fiquei sozinha, aproveitando meu brinquedinho novo, mas o tempo começou a esfriar perto do mar, então pus meu casaco. Uma estranha névoa estranha cobriu toda a baía, deixando o clima ainda mais frio e a visibilidade pior, por isso achei melhor ir embora.

Fui andando até o outro lado para atravessar a rua, mas foi quando ouvi uma freada muito forte em cima de mim, e depois alguma coisa bateu no meu corpo e me jogou alguns metros a frente. Cai de bruços no meio da pista, sentindo a forte dor latejar do meu joelho para baixo. Já sabia até que dor era essa.

– Porra, não olha por onde não, muleque? – o motorista gritou -Tá morto? - que preocupação.
– Não, meu pé está doendo só e muito. – minha voz saiu mais grossa e rouca que o normal, por causa da insuportável dor entalada na garganta.
– Vou te levar para o hospital. Me dá sua mão. – fiz o que mandou e ele logo me ergueu do chão sem dificuldade.

Ele pegou meu skate no chão, me ajudou a entrar em seu carr, então entrou também e arrancou.

– Você está sentindo o que?
– Torci o tornozelo. Mas pode estar fraturado porque não estou conseguindo mexer direito.
– O que entende disso?
– Sou skatista, porra. – abaixei o capuz do casaco e o tirei.
– Ei, você é uma garota? – me perguntou assustado olhando para os meus seios e depois para os meus cabelos.
– Pelo menos foi o que o médico disse para minha mãe quando nasci. Pensou o que, imbecil? - gritei.
– É que... que... – tirou os olhos de mim e voltando a atenção para a rua – Não tinha percebido antes. Desculpa?
– Não, não desculpo. Você acabou de me atropelar e ainda achou que eu era homem. Continua dirigindo e cala a boca. – levantei um pouco o bermudão e percebi que meu joelho e panturrilha estavam ralados e sangrando.
– Bem machucado. Foi mal mesmo. Não te vi por causa da névoa.
– Tudo bem, meu irmão, agora olha para frente antes que você atropele outra pessoa e não caiba mais ninguém na porra desse carro.
– Desculpa. Eu não queria.
– Tudo bem, cara. Eu te desculpo. Era isso que você queria ouvir? – tentei o fazer parar de se lamentar feito criança.
– Vou te levar para o hospital que meu pai trabalha. Vão cuidar bem de você lá. – deu um sorriso torto. Completamente metido.
– Obrigada. – continuei avaliando os estragos.
– Qual seu nome?
– Para quê você quer saber? Cala a boca.
– Calma, grossa. Só te fiz uma pergunta. Custa responder?
– Bê. – resmunguei vencida.
– Beatriz?
– Bê. E só Bê. – fez cara de confuso com a resposta.
– Sou Edward. – disse.
“E o que eu tenho a ver com isso?” – pensei.

Apenas sorri amarelo para não ser tão mal educada, mas o sorriso deve ter ficado mais parecido com o de um monstro. Estava mesmo com muita dor na perna.

– Está doendo tanto assim? – perguntou vendo minha cara de angústia.
– Já agüentei pior. – lembrei de outras como minha fratura exposta há três anos.
– Sei. Quantos anos você tem?
– Dezoito. – resolvi ser mais amigável – E você?
– Também. Você anda nisso aí há muito tempo? – perguntou, apontando para o skate perto de mim.
– Desde os nove, dez, não sei.
– Poxa. – ficou impressionado. – Ai, merda. – bateu a mão na testa.
– Que foi? Atropelou mais alguém?
– Não! – parou o carro numa vaga. Nem percebi que já tínhamos chegado ao hospital. – Eu estava matando aula quando te atropelei. Estou fudido com meu pai.
– Bem-feito. Se fudeu!
– E você? Estava fazendo o que essa hora na rua?
– Não te interessa minha vida. Mas só para te responder, também estava matando aula. A diferença é: você é um perigo em potencial solto na rua, já eu, não. Desculpa.
– Caralho. - bateu a testa de leve no volante.

Parecia mesmo preocupado com a reação do pai. Um sentimentozinho de culpa me cobriu. Também não olhei quando fui atravessar.

– Diz que você me atropelou quando estava indo para escola.
– Estava com minha irmã. Deixei ela lá e fui para a baía.
– Fala com ela depois, quando for a buscar. Pede para ela te cobrir nessa. Favor de irmão.
– Talvez ela faça isso por mim. – resmungou pensativo.
– Eu digo que estava passando na frente da sua escola. Onde você estuda para não me enganar?
– No George Washington. – deve ter muito dinheiro. "Colégio pica." - pensei.
– Pronto. Nem precisa falar nada, eu converso com seu pai.
– Valeu, Bê. – disse sorrindo.

Saiu do carro, veio até o meu lado e abriu a minha porta. Passou o braço pela minha cintura e começou a me ajudar a caminhar até a entrada.

Edward Pov

– Bom dia. Pode arranjar uma cadeira de rodas? – pedi a um enfermeiro na entrada do hospital.
– Eu só estou com o pé machucado. Não estou parindo. – Bê resmungou com indignação.
– Fica quieta, garota. Você não está nem conseguindo andar.
– Fala direito comigo, hein porra? Eu estou contigo na palma da minha mão, esqueceu? – era uma ameaça, mas ela ria como uma criança.

O enfermeiro trouxe a cadeira e a pus sentada. A levei para emergência, ela recebeu os pimeiros atendimentos, tirou raio-x, teve o ferimento limpo e logo meu pai foi chamado a meu pedido.

– O que aconteceu? – perguntou ao chegar perto da maca onde Bê estava.
– Fui atropelada. Deu para perceber? – resmungou sarcástica.
Meu pai olhou para mim com dureza.
– Foi você Edward?
– Para falar a verdade, não foi ele. – Bê se intrometeu chamando atenção – Eu que estava atravessando a rua distraída e acabei me jogando na frente do carrão do seu filho. - Carlisle não acreditou muito na história.
– Eles já vão trazer o raio-x. Enquanto isso, vou fazer o curativo nessa perna. - os dois estavam concentrados no ferimento.

Olhei para beirada da cama e ali estava a prancheta com os dados que tinha preenchido enquanto esperávamos meu pai. Alonguei o olhar, ficando na ponta do pé para ler seu nome.
– Nem tenta ver. – ralhou – Não te interessa. – esticou o braço e virou a prancheta para baixo.
– Você deve ter o nome muito feio mesmo para implicar tanto com isso.
– Não enche, muleque.
– Dr. Carlisle, aqui está o raio-x. – uma enfermeira se aproximou.
– Obrigado. – meu pai abriu o pacote e analisou a situação.

Enquanto ele o fazia, parei para notar pela primeira vez o rosto dela. Um rosto delicado. Delicado demais para uma skatista. Olhos castanho chocolate, cabelos cacheados, se vestia diferente do que já tinho visto para uma garota. Bermudão até o joelho, largo, camiseta preta com uma caveira desenhada.

– Bom, quebrar você não quebrou. Apenas torceu o tornozelo mesmo. Terá que fazer curativo todos os dias na perna até cicatrizar completamente e o skate vai ficar de lado um tempinho. – ela fez cara de desgosto, mas assentiu com a cabeça. – Você pode pegar suas coisas, enquanto isso, quero ter uma conversa com você, Edward. - Carlisle me pegou pelo braço e me levou até o canto.
– Você está louco? – perguntou com raiva.
– Pai, desculpa. Eu não a vi atravessando e tinha o skate...
– Não interessa. Cala a boca. A gente conversa mais tarde em casa. – rosnou e depois saiu pelo corredor.
– Edward. – Bê chamou.

Já havia descido da maca e andava na minha direção com dificuldade. Fui até ela e lhe ajudei.

– Arranjei problemas para você? - perguntou.
– Não, eu mesmo arranjei problemas para mim.
– Que horas são?
– Não mais que 4 da tarde, porque?
– Você está me devendo um favor.
– Acho que sim.
– Me leva a um lugar com o seu carro?
– Claro. Vou te levar para casa mesmo. – já parados ao lado do Volvo, abri a porta e ela entrou devagar.

Entrei também e a observei atendendo o celular que começava a tocar.

– Alô? Já estou indo te buscar, meu amor. Não fica preocupada. Não saia daí com ninguém. Tchau. - desligou e se virou para mim.
– Você sabe onde fica o colégio de meninas perto do centro?
– Sei.
– Pode me levar lá?
– Claro. O seu pé está melhor?
– Um pouco. O remédio está fazendo efeito. Um belo efeito. O que seu pai disse para você?
– Que eu estava louco e falou que a gente ia conversar mais tarde em casa. Estou ferrado.
– Desculpa. Eu devia ter olhado antes de atravessar.
– Concordo, mas tudo bem. Pelo menos não tirei pedaço.

Ela riu um pouco e recostou a cabeça no banco fechando os olhos.

– Quer ouvir música? – perguntei por educação.
– Não, quero dormir. – respondeu com a voz pesada.

Acho que foi o remédio que fez efeito.

[...]

– Bê - toquei de leve seu braço.
– Que foi? – perguntou, levantando a cabeça.
– Chegamos no colégio.
– Vou buscar minha pequena, tudo bem? – perguntou.
– Vou com você. – desliguei o carro e fui até o outro lado para abrir a porta, mas em um minuto já tinha pulado para fora sem me esperar.

Caminhamos até a porta da escola e ali chamou uma menininha que estava sentada no chão, com os cotovelos sobre uma pastinha e o queixo apoiado nas mãos. Sinceramente, parecia uma minuatura da Bê.

– Rennesme. - a menina levantou os olhos da cor dos dela e deu um sorriso enorme, veio correndo na nossa direção e pulou no colo de Bê.
– Ai. – reclamou.
– Que foi? – a pequena perguntou preocupada.
– É que esse carinha aqui me atropelou. – resmungou, apontando para mim.

A garotinha me encarou com ódio. O que me deu vontade de rir da carinha de anjo se retorcendo na máscara aborrecida.

– Só para complementar o que sua ... Sua o que mesmo? – perguntei me dirigindo à Bê.
– Irmã mais velha – respondeu.
– Poxa, parece até filha. Bom, mas voltando ao assunto: sua irmã também não olhou para onde estava indo.
– Bella, acho que ele te chamou de velha. – cruzou os braços, nos fazendo rir.
– Quer dizer que seu nome é Bella? – perguntei.
– Na verdade o nome dela é Isabella.
– Nessie, já disse que não gosto que digam meu nome.
– Porque? Seu nome é lindo. – comentei.
– Obrigada. Agora, vamos? – pediu.

Andei com as duas até o carro e depois entramos.

– Que carro é esse? – a menininha perguntou no banco de trás.
– Volvo c30. – eu e Bella respondemos juntos.

A olhei nos olhos, até um pouco assustado com seu lindo sorriso.

– Gosta de carros? – perguntei.
– Gosto muito.
– Onde vocês moram?
– Eu vou te mostrando o caminho.
– Tudo bem.
– Bella, o que aconteceu com o skate novo? – a irmã perguntou.
– Nada, Nessie. Está em bom estado. Já vou poder te levar nele para escola amanhã.
– Não, não vai poder não. Está louca? - ela arregalou os olhos - Meu pai disse que você vai ter que ficar longe do skate por um tempo e não pode esquecer de fazer o curativo nessa perna. - revirou os olhos - Ness, posso te chamar assim? – perguntei, olhando no retrovisor para menininha que passava a mãos nos cachos.
– Pode.
– Posso contar com você para tomar conta da sua irmã? - ela abriu um sorriso enorme.
– Claro que sim.

Continuamos o caminho conversando um pouco. A menina era muito engraçadinha e eu ficava abismado a cada minuto como eram parecidas.

– Chegamos. – Bella me sinalizou um prédio bem simples na calçada.
– É aqui que você mora?
– Não é um palácio, mas é aqui sim. Vamos, Nessie?
– Vou descer para conversar com seus pais. - era óbvio que eu queria conversa com os pais dela. Tinha atropelado a menina.
– Não. Você não vai.
– Por quê?
– Primeiro: porque não tem ninguém em casa. Segundo: Porque você não vai querer, realmente, dizer para o meu pai, policial armado, que você me atropelou. E Terceiro: Acredite, você já me deixou com a pessoa mais responsável da família que é a baixinha aí atrás. Além do que, é melhor tirar o carro logo daqui antes que o perca. Valeu por ter me levado para o hospital. Fico te devendo uma. - desceu do carro, abriu a porta de trás, buscou a irmã no colo, que se despediu de um mim com um até logo simpático e saiu andando em direção ao prédio.

Garota cabeça-dura.

Bella Pov

– Boa noite. – meu pai disse quando chegou em casa.
– Pai, Pai! A Bells foi atropelada – Rennesme gritou pulando e apontando para mim.
– O que? – veio na minha direção, me segurou pelos braços e olhou para minhas pernas, braços e cara. Acho que estava procurando algum pedaço que faltasse.
– Pai, calma. Foi só uma batidinha. Estava distraída, valeu?
– Não, não valeu. Quem foi que fez isso? – perguntou autoritário.
– Um carinha.
– Foi o Edward. – Rennesme se intrometeu.
– Nessie. – chamei sua atenção.
– Quem é Edward?
– Foi o menino que trouxe a gente em casa. – respondeu por mim.
– Rennesme, você não tem trabalho de casa para fazer? – recebi um sorrisinho falso e ela logo saiu da cozinha.
– Pode me explicando isso direitinho, Isabella.
– Pai, foi só que eu estava na baía, aí tinha muita com névoa, o carinha não me viu, também não olhei quando fui atravessar. Então bateu em mim. Torci o tornozelo e ralei a perna. Só isso.
– E ele não fez nada?
– Claro que fez. Me levou para o hospital em que o pai dele trabalha e cuidaram de mim. Depois, me trouxe em casa e ainda passamos na escola da Nessie para buscá-la. Não precisa ficar preocupado, pai. Estou bem.

Senti o alívio chegando para os pés de galinha no rosto dele. De repente, se amenizaram e ficou menos vermelho.

– Você ainda me mata um dia desses, Isabella. Ainda me mata.

Apenas sorri. Se eu falasse alguma coisa ia começar o sermão.

– O jantar está no fogão. Vou para o quarto. – respondi depressa me levantando.

[...]

Não vem para minha casa hj. Vou sair!

Recebi a mensagem no celular que dizia isso. Jacob ia trabalhar. Sei que trabalho que ele ia fazer. Provavelmente assaltar. Queria tanto que ele parasse com essas coisas, mas já tinha tentado o fazer abandonar, e não foi muito legal o momento que fui falar com ele.

Flash back on


– Jake?! – entrei no quarto da casa de Sam onde eles se encontravam para conversar.

Olhei para o canto que ele estava com os outros caras e percebi que estavam fumando. Maconha?

– Sai daqui, Bê. – resmungou com a voz embargada.
– Que merda vocês pensam que tão fazendo? – perguntei alto.

Sam e Jared levantaram e saíram do quarto fechando a porta ao passarem por mim.

– Jake, o que você está fazendo cara?
– Cala a boca, porra. – gritou.

Levantou e veio na minha direção. Quando a luz da janela alcançou seu rosto, percebi o ódio escondido por trás dos olhos vermelhos.

– O que você está fazendo aqui? Já disse que eu não te quero ver por aqui. – me agarrou pelo braço e sacudiu.
– Você está me machucando. Merda. – tentei tirar as mãos dele de mim.
– O que você quer? Fala logo. – apertou ainda mais.
– Eu arrumei um emprego para você. Na oficina do James. Você pode parar de fazer isso... – não consegui terminar de falar, porque sua mão envolveu meu pescoço e me jogou contra a parede.
– Te pedi para arrumar alguma merda de emprego para mim? – não respondi – TÔ TE PERGUNTANDO PORRA!
– Não. – respondi num fio de voz.
– Então me deixa em paz. Eu faço o que eu quiser, valeu? – soltou o meu pescoço e me jogou para o lado - Sai daqui. Vai embora. – gritou, abrindo a porta e me empurrando para fora.

Flash back off

Às vezes ele perdia a razão, isso me dava um pouco de medo. Droga!

Edward Pov

– Preciso desse favor, Alice. – disse quase me ajoelhando aos seus pés quando chegamos em casa.
– Edward, não vou compactuar com isso. Você matou aula, não me contou nada e ainda atropelou a garota.
– Alice, Licinha. – fez cara de impaciente – Faço qualquer coisa por você, se confirmar minha história para o papai. Por favor, Alice? É o meu pescoço que está em risco.

Bateu um pouco os pés no chão, olhou para o teto, bufou e sacudiu o cabelo. Estava em dúvida, com certeza.

– Está bem, eu faço. – resmungou com raiva.

Pulei a segurando no colo e lhe dando um beijo.

– Me larga, peste. Você está bagunçando o meu cabelo. – gritou.
– Olha, é o seguinte: atropelei ela um pouco antes do estacionamento da escola. Mandei você descer do carro para não perder aula e depois a levei para o hospital. Entendeu? – perguntei.
– Tá, tá bom. Falo isso para ele. Mas você fica me devendo essa. – lembrou, apontando o dedo na minha cara.

Mais tarde, meu pai chegou e ouvi um pequeno sermão de uma hora sobre responsabilidade no volante e como eu poderia ter matado ou estragado a vida daquela garota se o acidente tivesse sido mais grave. De repente, me lembrei da primeira hora que a vi. Ali largada no chão. Não sei como consegui confundi-la com um cara. Depois, tirando o casaco e eu me assustando com o tamanho do cabelo dela. Só fui ter certeza do que estava vendo quando o despediu por completo e vi o volume dos seios na camiseta. É claro, com a melhor das intenções. Mas lembrando isso agora, até que foi engraçado.

– Entendeu? – Carlisle perguntou me tirando dos meus desvaneios.
– Sim, senhor.
– Vai para o seu quarto. Agora. – rosnou antes de se levantar também e ir para o quarto dele.

Entrei no meu e deitei na cama. Se era um dia de descanso que eu queria, não consegui, mas mesmo assim me sentia muito melhor do que nos outros dias. Mudanças na minha rotina. Pessoas diferentes. Lugares diferentes. Percebi que estava sorrindo. Sorrindo para o teto? Só eu.


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Leitoras, desculpem mesmo o meu desaparecimento. Estive muito ocupada com a fanfic no orkut e acabei até me esquecendo que o prólogo já estava aqui. Em breve posto o segundo capítulo. Prometo não demorar tanto. Beijos.