Amélia sentou-se na poltrona de veludo vermelho e pediu a atenção de todos.

- Bom, hoje, como podem ver, a neve está devastando as minhas roseiras. – Ela riu um pouco e abriu o grande livro de capa vermelho carmim, com as melhores histórias já contadas. – Acho que tem uma história sobre neve aqui em algum lugar.

Os olhos atentos dos amigos foram para seu rosto de aparência infantil nos seus cinqüenta anos. Amélia cruzou as pernas e começou a narrativa:

“Há muitos anos, eu me lembro, minha mãe me contou essa história. Era quase natal numa pequena vila ao norte da Pensilvânia. Norma Clark, uma nova iorquina que viajou para ver a família, estava á procura da casa de sua família quando se deparou com uma linda casa amarela, que estava com a porta aberta. Ela notou que á porta uma menina de uns cinco anos brincava na neve descalça e sem um casaco, perto a um pequeno laguinho congelado. Na verdade, a menina só usava um vestidinho de verão. Norma não se importou com o fato da menina usar vestido, mas resolveu perguntar á menina se ela sabia que estava nevando. Ela estacionou o carro do outro lado da rua e atravessou, em meio á nevasca, para falar com a menininha. Conforme avançava, a menina recuava mais e parecia mais distante. Até que a garotinha chegou até a porta e sorriu. Norma correu até a porta e atravessou a menina, entrando na casa. Foi nessa hora que ela notou que a menina não estava mais lá e a porta havia sido fechada. Ela resolveu então procurar outra saída pela casa. A casa estava arrumada e as janelas todas fechadas, com os móveis cobertos por panos brancos e quase sem nenhuma poeira. Ela notou que no fim do corredor, á esquerda, havia uma porta fechada. Como a sala nem a cozinha tinham uma saída e subir para o segundo andar estava fora de cogitação, ela segurou a respiração e abriu a porta. Nunca souberam explicar muito que aconteceu aquela noite, mas dois dias depois, o corpo de Norma foi achado dentro do pequeno cômodo espelhado no fim do corredor, com as seguintes palavras escritas no espelho, usando sangue: A curiosidade mata.”