BIP… BIP…

O barulho ressoava em minha mente. Não conseguia parar de olhá-la. Por quê? Não entendo.

BIP...

O barulho. Esse som, que em outras ocasiões odiava. Agora é diferente. Como não seria nesta situação?Ela. Tão linda.

BIP...

Como isso foi acontecer? Será que eu mereço isso?

BIP...

Tudo o que eu fiz foi amá-la demais. Mas mesmo assim, não foi o suficiente, pelo que parece.

BIP...

Contanto que ele ainda esteja aqui. O barulho. Ela estará também.

BIP...

Mas, porque ela não me disse? Porque não me avisou?

BIP...

Eu poderia ter voltado. Para ver ela. Só para ela. Somente para ela.

BIP...

Porque? Porque fiz uma turnê mundial? Porque a deixei sozinha?

BIP...

Agora é tarde. Não posso voltar atrás, mesmo sendo o que eu mais desejo neste exato momento. Uma lágrima escorre.

BIP...

Outra vez, não entendo. Ela era tão boa. Tão pura! E mesmo assim...

BIP...

Ela está em estado terminal agora, e não há nada que se possa fazer. Por quê não me avisou? Será que ela não entendeu que ela é mais importante para mim, que qualquer outra coisa nesse mundo? Ela é meu mundo.

BI...P...

Ele está diminuindo. O barulho. Está ficando cada vez menos constante. Isso me apavora.  Quero ela viva, saudável. Quero ela ao meu lado. Sorrindo. Cantando. Dançando. Outra lágrima.

BI...P...

Cada vez menos, e menos. Cada vez mais raro. O barulho.

B...I...P...

O barulho da vida. Da vida dela. É emitido com menos freqüência. Estou com medo. Com medo do fim. Lágrimas caem mais ainda.  Olho para o rosto dela. Tão perfeito. Tudo que eu sempre quis. E agora, a vida está tirando de mim. Seus olhos, que agora estavam fechados. Lindos olhos cor de mel, que sempre expressavam uma imensa felicidade pela vida. Sorrio ao pensar nisso.

B...I...P...

E sua boca, que costuma ser rosadinha, e sempre sorrindo. Agora está pálida. Sem vida. Mas por incrível que pareça, o sorriso continua lá. Como sempre esteve. É o que eu mais admiro nela, mesmo se tudo der errado, ela sorri. Ela consegue, com apenas um sorriso, iluminar um dia cinzento. Ela é minha luz, minha vida.

B...I...P...

Como vou viver sem ela? Choro só em pensar nisso. Choro como nunca chorei. Choro. Apenas isso. Choro. O que mais eu poderia fazer? Eu um simples homem, contra uma doença que vem matando muitos. Como poderia combater contra isso? Contra o câncer?

B...

É isso. É o fim. Começo a soluçar. A dor no meu peito aumenta. Ela está insuportável. NÃO! Acaricio o rosto dela. Aproximo-me.  Olho em seus olhos, como se estivessem abertos. Quero ela de volta. Fazem apenas 5 segundos que ela me deixou, e já não agüento mais. Vejo enfermeiras entrando no quarto, pelo canto do meu olho. Tanto a família quanto os amigos dela choram. Porque? Não dá para ver que ela é importante demais para partir? Ela não é querida apenas para mim, mas para todos os outros que estão aqui presente. Limpo as lágrimas, que deixei cair, do rosto pálido dela.  Percebo os olhares de pena das enfermeiras. Eu não quero pena, eu quero ela. Meu amor. Coloco a mão no bolso procurando a caixinha.

-Eu te amo, e sempre vou te amar, independente de onde esteja. – Deposito-lhe um leve beijo sobre os lábios, abro a caixinha e pego a aliança que ali se encontrava. – Eu sei que eu cheguei tarde demais, mas será que você aceita se casar comigo? – Coloco a aliança em sua mão esquerda. – Isso é uma prova do meu amor por você. Nunca se esqueça disso. Eu te amo. – e lhe beijo novamente. Pela última vez.

Afasto-me dela, sem tirar a nenhum momento meu olhos dela. As enfermeiras se aproximam. Elas colocam um lençol branco sobre ela. Lágrimas caem com mais violência. Embaçando minha vista. É isso, é o fim.