Uma música relativamente alta acordou Mike, ele tentou se mexer, mas algo o impedia. Olhou para baixo e percebeu que Clara anda dormia tranquilamente em seu ombro. A música voltou a tocar alta, e o garoto olhou para a televisão, mas ela estava desligada, só depois que ele percebeu que era seu celular tocando. Levantou-se devagar para não acordar Clara e atendeu.

– Alô?

– Mike? Oi, é a Vanessa. Estou te atrapalhando?

– Hum... Não, não, pode falar.

– Porque está sussurrando?

– Er... Porque eu estou no quarto da minha mãe e ela tá dormindo – O garoto mentiu.

– Então é só sair do quarto dela! – Vanessa riu falando em tom óbvio.

– Han... Er, certo. – Mike tentou falar um pouco mais alto, porém Clara se mexeu no sofá e ele voltou a falar sussurrando. Dessa vez, Vanessa não reclamou.

– Quase não te vi hoje, fiquei com saudades – Vanessa falou com a voz um pouco melosa.

– Er... Eu tive que sair mais cedo.

– Mas, nem mesmo na aula você falou comigo.

Mike não respondeu, apenas suspirou impaciente.

– Está acontecendo alguma coisa?

– Alguma coisa? – Mike mal prestava atenção no que a garota falava.

– Sim, com a sua família, talvez.

– Hãn, sim. Mas não posso te falar agora – Mike mentiu novamente.

– Qualquer coisa você pode contar comigo, você sabe – Vanessa falava e o garoto revirava os olhos impaciente.

– Vanessa, você me ligou para isso? – Mike perguntou um pouco grosseiro, mas depois se arrependeu.

– Na verdade... Eu queria falar uma coisa muito séria, mas não sei se conseguiria falar pelo telefone. Você pode vir a minha casa?

– Agora?

– Sim, o mais cedo possível. Estou te esperando – E falando isso a garota desligou, deixando um Mike confuso do outro lado da linha.

Mike respirou fundo, olhando para o celular e para Clara. Ele prometera a Clara que iria ficar ali, com ela. E, ao mesmo tempo, Vanessa parecia que iria lhe dizer algo importante. Aquela não era a primeira vez que ele tinha que escolher entre as duas garotas, a primeira vez havia sido na festa da Vanessa, e também não seria a última. Porém, como da primeira vez, a escolha de Mike foi Clara.

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– Você ficou! – Clara falou ao acordar, sorrindo. Só aquele sorriso fez com que Mike soubesse que havia feito a escolha certa.

– Sim, eu prometi que ficaria – O garoto também sorriu.

– Eu não estou te atrapalhando, não é? Se você tiver alguma coisa para resolver, pode ir.

– Não tenho nada a fazer – Mike mentiu – Já falei que hoje tirei o dia para ser seu prisioneiro – O garoto sorriu malicioso e Clara riu alto.

– Estou com fome. Vamos sair para comer alguma coisa? – Clara propôs.

– Claro, señorita, o que deseja?

– Sushi! – Clara sorriu se levantando do sofá – Só vou tomar um banho rápido...

– Conheço esses banhos rápidos...  – Mike revirou os olhos, sorrindo.

Quase meia hora depois, a garota sai do banheiro já vestida. Ela estava com uma calca Jeans Skinny, uma blusa branca de mangas e um colete preto, além de botas de salto alto que chegavam ao joelho. Mike assoviou e ela sorriu, colocando os brincos.

– Você viu a minha amiga Clara? Ela entrou aí mas ainda não voltou – Mike se levantou e apontou para o banheiro.

– Engraçadinho! – Clara fez uma careta e o garoto sorriu – Cabelo preso ou solto? –Ela perguntou indecisa.

– Solto. Vamos?

Clara confirmou e os dois saíram do hotel, indo para um restaurante que ficava perto.

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– Então, porque você ficou com a sua prima? – Clara perguntou enquanto colocava um sushi na boca.

– Já falei, ela era gostosa – Mike tentou falar despreocupado.

– Não acredito que foi só por isso – Clara fez uma careta.

– Tá, eu meio que tinha uma queda por ela – Mike admitiu e a garota riu – Ah, não inventa, todo mundo já ficou com um primo, ou no meu caso, prima.

– Eu não – Clara levantou o Haishi (N/A: Haishi é o palitinho usado para comer sushi).

– Você não teve infância – Mike reclamou, dando língua, e Clara sorriu.

– E vocês ficaram de novo?

– Não – Mike demorou para responder.

– Quantas vezes? – Clara perguntou percebendo que o garoto havia mentido.

– Algumas vezes.

– Mike, quantas vezes? – Clara insistiu.

– Perdi as contas. Mais de cinco, acho. – O garoto admitiu por fim e Clara se deu por satisfeita.

– E agora?

– E agora o que? – Ele perguntou impaciente.

– Você ainda tem uma “queda” por ela? – Clara perguntou fazendo aspas com as mãos.

– Faz muito tempo que eu não a vejo.

– Mas, e se você a visse, acha que voltaria a se sentir atraído por ela?

– Porque todo esse interesse na minha prima, posso perguntar?

– Ah, só curiosidade, vamos, já falei muito de mim.

– Tá, tá – Mike revirou os olhos ao ver o bico que Clara fazia.

– Você ainda não respondeu minha pergunta – Clara cantarolou e Mike sorriu.

– Não, eu não acho que me sentiria atraído pela minha prima, agora.

– Por que não?

– Você pergunta demais, sabia?

– Responda, Mike.

– Descobri que prefiro as morenas – Mike sorriu de lado e Clara levantou os olhos.

– Vanessa! – Clara murmurou fazendo cara de nojo, não tinha a intenção que Mike escutasse, porém, ele ouviu e riu alto.

– Até onde eu saiba, a Vanessa não é a única morena que eu conheço. Você devia se olhar mais no espelho, Clara – Mike sorriu comendo mais um sushi. Nenhum dos dois falou mais nada por um bom tempo, Clara agora brincava com a comida no seu prato.

– Porque você jogou o carro do seu pai em um lago? – Clara perguntou quebrando o silêncio, e novamente Mike demorou para responder.

– Eu estava no sítio dos meu pais, e no mesmo dia estava acontecendo uma festa e eu queria muito ir. Mas meu pai não deixou e eu tive que passar o dia no sítio. A noite, porém, eu tirei o carro da garagem, pensei por um momento em ir até a festa, mas daqui que eu chegasse lá, já seria muito tarde. Resolvi, então, fazer uma pequena vingança e joguei o carro dentro do lago.

– E seu pai?

– Ele, bem, ficou fora de si. Ameaçou-me de todas as maneiras possíveis, disse até que iria me afogar junto com o carro – Mike sorriu – Mas ele não é de ficar estressado por muito tempo, então no outro dia já falava comigo como se nada tivesse acontecido.

– Quando eu bati o carro do... Hãn... Oliver, ele passou um mês me dando aqueles adoráveis sermões dele – Clara falou com ironia – Eu já não agüentava mais...

Enquanto Clara falava, Mike sentiu o bolso vibrar e tirou o celular, vendo-o por debaixo da mesa. Era uma mensagem de Vanessa.

Você não vêm?

V.

O garoto olhou para Clara, que ainda falava, e voltou seu olhar para a mensagem, apagando-a, e voltou a prestar atenção na conversa.

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– Mike, você não precisava ter pago aquela conta sozinho, eu poderia ajudar.

– Nada disso, Clara. Hoje foi por minha conta.

– Fico te devendo essa.

– Eu vou cobrar – Mike sorriu de lado, piscando um olho.

Os dois começaram a andar, seguindo a direção do hotel, que ficava a apenas dois blocos do restaurante.

– Moço, você não quer comprar uma rosa para a sua namorada? – Uma criança que não parecia ter mais de oito anos, os parou na rua. Ele tinha os cabelos curtos e pretos, assim como os olhos, que pareciam duas amêndoas. O garoto segurava uma cesta, com várias rosas.

– Claro, porque não? Qual o seu nome garoto? – Mike perguntou ao menino e Clara sorriu.

– Henry

– Henry, você não acha que eu tenho a namorada mais bonita desse mundo? – Mike perguntou abraçando Clara pela cintura, fazendo a garota ficar um pouco vermelha de vergonha e agradecer por Mike não ter percebido. Afinal, o que estava acontecendo com ela?

– Com certeza! – O garoto falou animado, mas depois consertou – Er... Com todo respeito, claro. – Mike riu alto e Clara deu um beliscão forte nele.

– Então, Henry, você pode escolher para mim a rosa mais bonita que tiver aí?

O garoto pensou um pouco e depois escolheu uma da cor rosa, um rosa clarinho, sutil.

– Simboliza o amor – Henry sorriu entregando a rosa à Mike, que pagou com uma nota de 10 libras.

– Moço, eu não tenho troco, mas se você quiser levar outras rosas...

– Pode ficar com o troco, Henry. Mas não gaste tudo de uma vez, ok? Foi bom te conhecer, até mais. – Mike falou alisando a cabeça do menino.

– Tchau – O garoto se despediu sorrindo vitorioso com uma nota de 10 libras na mão.

Assim que o pequeno Henry saiu, Mike entregou a rosa para Clara, que sorriu e praticamente sussurrou um ‘obrigada’.

Os dois caminharam em silêncio até chegar ao hotel. Na recepção, Clara já ia se despedir de Mike quando o garoto avisa:

– Deixei a chave do carro no quarto – O garoto bateu a mão na testa. Clara sorri fraco e os dois sobem pelas escadas mesmo. Assim que Clara abre a porta do apartamento, Mike vai rapidamente até o sofá e pega a chave do carro.

– Clara? – Ele a chama, e ela que até aquele momento estava encostada no encosto do sofá, se vira.

– Sim?

– Porque você está tão calada desde que a gente saiu do restaurante? Se é por causa da rosa, desculpe, eu não queria te deixar embaraçada, só queria ajudar o garoto, ele parecia precisar e...

– Mike, não é isso – A garota sorriu fraco e deu a volta, sentando-se no sofá.

– O que foi, então?

– E-Eu só estou preocupada como minha vida vai ser a partir de agora, eu ainda não tinha parado para pensar na besteira que eu havia feito. Só isso. Além do mais, você não pode reclamar de mim, depois que você recebeu aquela mensagem, você também ficou todo estranho – A garota falava e a menção da mensagem fez Mike se sentar também no sofá, com uma expressão estranha no rosto.

– Você sabe sobre a mensagem? – Ele perguntou parecendo surpreso, mas Clara não conseguia perceber direito o que se passava na mente dele.

– Eu não sou idiota, Mike. Era ela, não era? A Vanessa? – Clara perguntou com o rosto virado. Mike não respondeu. – Esquece, isso não é da minha conta – Clara ia se levantar quando sentiu seu braço ser puxado por Mike.

– Desculpa, eu prometi que passaria o dia com você e acabei me desligando...

– Mike, eu não queria te atrapalhar, eu falei que se você tivesse alguma coisa para fazer, podia ir. Mesmo que fosse para ver... Ela.

– Clara, eu não gosto da Vanessa – Mike se levantou e Clara também.

– É, mas isso não impede que ela goste de você. Aliás, o que você ainda tá fazendo aqui? A Vanessa está te esperando.

– Vai me expulsar agora? – Mike perguntou um pouco grosso.

– Não, você sabe que não. E só que eu não quero te prender aqui. – Assim que Clara acabou de falar, o celular de Mike tocou, e ele bufou impaciente. Tirou o telefone com um pouco de raiva do bolso e atendeu.

– Alo?

– Mike, porque você não veio?

– Vanessa, eu to ocupado, amanhã a gente se fala – Mike falou irritado, virando-se de costas para Clara.

– O que houve?

– Nada, eu só não posso falar com você agora. Tchau – E sem esperar a resposta da garota ele desligou, sabia que depois teria que se desculpar, mas agora isso já não importava. Ele se virou novamente e Clara estava sentada no sofá, olhando para o outro lado, brincando com a unha, como se aquilo fosse a coisa mais divertida do mundo. Mike se sentou no sofá, mas mesmo assim a garota não se moveu, apenas falou.

– É melhor você ir.

– Eu acho que não – Mike virou o rosto da garota, e fitou os olhos verdes de Clara por um minuto, antes de puxá-la para um beijo.

Clara se assustou no início, mas logo correspondeu. Mike a puxou para mais perto, deixando o beijo mais acelerado, e Clara levou as mãos até a nuca do garoto, enquanto as mãos dele estavam na cintura e no rosto dela. Ondas elétricas passaram pelo corpo de Clara, e seu estômago pareceu dar uma volta de 360°. O beijo ficava cada vez mais rápido e urgente, Clara mordeu o lábio inferior do garoto, fazendo-o soltar um gemido, e ela sorriu vitoriosa. O garoto, para compensar, jogou seu corpo para frente, sem parar o beijo, fazendo com que a garota se deitasse no pequeno sofá, em seguida ele se ajeitou sobre ela, encaixando as pernas dele entre as da garota. Ambos agora já sentiam necessidade de respirar, mas deixaram isso em segundo plano. As mãos de Mike agora já não se decidiam entre os cabelos ou a cintura da garota, e Clara puxava os cabelos do garoto com cada vez mais força, mas ele não pareceu ligar.

Os beijos de Mike desceram para o pescoço da garota, e ela agradeceu, já que assim ela poderia respirar. Foi então que ele pareceu recuperar a consciência e parou. Ela estranhou e apenas o fitou, mas novamente a expressão de Mike nada revelava. Ele saiu de cima da garota e pegou suas coisas rapidamente, Clara ainda estava sentada no sofá, nenhum dos dois havia dito nada, e ela continuava sem entender o que, afinal, o garoto queria.

Assim que terminou de recolher suas coisas, visivelmente perturbado, Mike virou-se para a garota.

– E-Eu não deveria ter feito isso. Desculpe-me... Eu... Eu acabei me aproveitando de você – Ele não esperou que a garota respondesse e saiu rapidamente do quarto. Clara continuou sentada no sofá, sem entender absolutamente nada.