Flake escrita por Aislyn


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Consegui terminar a tempo *O*

Feliz Natal pra todos!!! Boas festas!!!

Boa leitura e espero que gostem! ^-^



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_ Droga! – xingou mais alto do que pretendia, chamando a atenção de algumas pessoas no café. Correu até a porta, mas sabia que era tarde. Jun já deveria estar muito longe.

* * *

Enfrentou novamente as ruas frias, dessa vez praguejando pelo vento cortante e o chão um pouco escorregadio. O movimento de pedestres havia diminuído, mas o espaço nas calçadas também parecia diminuto, de modo que era impossível andar sem esbarrar em alguém.

Ou talvez sua raiva fosse tamanha que não olhava por onde andava. Deixando as sacolas de presentes toparem com as pessoas, não se importando se iriam rasgar ou estragar seu conteúdo.

Que tipo de compromisso o outro poderia ter? Tinha certeza que não era nada do trabalho da banda e também não poderia ser alguém da família, já que os parentes de Jun moravam em Kobe.

Sacudiu a cabeça, espantando alguns pensamentos. Tudo o que não queria era estragar o seu dia, e pensar que a ligação poderia ser daquele baixista era algo que definitivamente acabaria com a semana toda.

Atravessou a rua, finalmente chegando até onde estacionara o carro, jogando as compras no banco do passageiro e permitindo-se ficar ali um instante, com a cabeça apoiada no volante, repassando o encontro com o amigo.

Só entrara no café para se aquecer um pouco e descansar pela caminhada, mas acabou ganhando um presente. Claro que estava frustrado pela interrupção, só que não deixava de ser bom, afinal havia revisto o outro. Desde que saíra da banda, não imaginara encontrar Jun tão cedo, pois conhecia bem a agenda corrida e a quantidade de ensaios que costumavam fazer. Cogitou vê-lo novamente apenas em alguma propaganda da tv ou em revistas e não pessoalmente.

Suspirou pesadamente, erguendo o corpo e olhando as ruas cobertas de branco. Solidão e nostalgia.

Balançou a cabeça, ligando o carro e dirigindo de volta para casa. A companhia dos pais e irmãos animando o ambiente com certeza o contagiaria e talvez assim conseguisse esquecer o outro... mesmo que fosse apenas por algumas horas.

* * *

Andava de um lado para o outro dentro do pequeno apartamento, mordiscando a ponta do dedo em sinal de nervosismo. Por que tinham que ligar justo àquela hora? Não podiam ter esperado só mais alguns minutos?

Fazia muitos dias que queria ver o outro, que desejava em segredo poder encontrá-lo novamente, para enfim conversarem e poder explicar o motivo de seus atos naquele dia. Foi uma surpresa e tanto quando ele simplesmente apareceu naquela cafeteria, sentando ao seu lado tão calmamente e pedindo algo pra beber.

Lembrar da sua voz grave lhe causava arrepios.

Pensou em sair de fininho, já que Iori não o vira ainda. Era verdade que queria conversar, repassara várias vezes em sua cabeça um suposto diálogo com o amigo, mas não sabia como começar e agora que estavam tão próximos, o branco em sua cabeça parecia ter aumentado.

Bom, no final das contas, não havia mais nada a perder, certo?

Um simples cumprimento, uma troca de sorrisos e lá estavam eles conversando como os amigos de infância que eram. O clima era gostoso, estava feliz por ter reprimido seu medo e iniciado aquela conversa. Notou que o maior estava incomodado com algo, mas ele havia dito que estava bem de saúde, então não devia ser nada demais. Não queria pressioná-lo, pedindo detalhes do seu tratamento. O importante é que haviam voltado a conversar e tudo parecia como antes.

Até aquela porcaria de celular tocar.

Pediu licença e afastou-se ao ver quem ligava, mordendo o lábio de leve enquanto ouvia a pessoa do outro lado. Eles nunca gostaram de comemorar o Natal e agora decidiram vir para a capital para visitá-lo. Maldita hora em que dissera à sua família que teria alguns dias de folga. Estava com saudades deles também, mas era o tipo de visita que poderia ser feita em qualquer outro dia do ano, em qualquer outra hora!

Não podia culpá-los, eles não sabiam o que estava passando naquele instante.

Suspirou fundo, forçando um sorriso e voltando para perto do balcão. Pediu a conta e explicou rapidamente a Iori que precisava sair, pois tinha um compromisso. Estranhou o silêncio do loiro, que só acenou em entendimento, mas não tinha tempo a perder. Pelo que disseram ao telefone, estavam chegando a qualquer momento.

E agora estava ali, ansioso e nervoso, esperando a campainha tocar e ver seu apartamento repleto de gente de uma hora para outra. Havia feito as compras há poucos dias, não precisava se preocupar com comida. E seus avós não bebiam muito, de modo que não precisava sair para comprar nada. Qualquer coisa que fosse necessário depois, ele poderia rapidamente sair para conseguir.

Exceto a companhia do loiro.

* * *

Ao contrário do que imaginou, não ia conseguir ficar quieto em casa, e agora percorria as ruas da capital, com sua avó decidida a comprar uma árvore para alegrar a casa, seu avô querendo comprar-lhe um presente e seus irmãos querendo conhecer os lugares mais badalados.

Revirou os olhos mais uma vez ao ver a senhora fazer a pobre atendente pegar todos os enfeites da loja para, no fim, não levar nenhum. Ela olhava tudo que podia, vendo marcas e modelos, perguntando se tinham garantia e reclamando que iria trocar se não funcionasse, para depois de tudo dizer que não havia gostado realmente.

Inconscientemente seus pensamentos se voltaram para o loiro, imaginando o que ele estaria fazendo àquela hora. Também estaria com a família, já que seus pais vieram para acompanhá-lo na recuperação. E ele estava carregando presentes mais cedo, deviam ser para eles.

E ele não havia comprado nada para o amigo.

Em anos anteriores, sempre compravam lembrancinhas para trocarem depois, mesmo que fosse algo bobo ou que não servisse para nada. Afinal, o importante era mostrar que lembraram um do outro.

No ano passado, ao aparecer com o cabelo rosa para a nova banda, Iori surgiu com um ursinho da mesma cor, dizendo que era seu irmão gêmeo. Deram boas gargalhadas e o ursinho agora tinha um canto especial no seu armário.

_ Ai! – olhou para o lado, massageando o lugar que a avó havia beliscado, fazendo-o sair de seu transe – Achou o que queria?

_ Você está suspirando pelos cantos... quem é a moça? – ela não parecia disposta a deixá-lo desconversar, olhando-o fixamente enquanto esperava uma resposta.

O rapaz corou levemente, desviando o olhar para o outro lado da loja, praguejando pelas mulheres serem tão intuitivas... ou ele estava dando muito na cara.

_ E então, mocinho... não vai me contar por que está suspirando tanto?

Droga, ele estava suspirando? Que ótimo, agora podia ser comparado com uma mocinha apaixo... Não, ele não estava apaixonado! Eram só amigos, não eram?

Quem ele queria enganar? Se pudesse voltar atrás, se tivesse aceitado os sentimentos de Iori, agora seriam bem mais que amigos.

Havia jogado tudo aquilo fora por culpa de Seiya. Sorrindo-lhe de modo diferente, depois o chamando para saírem, até mesmo as conversas entre eles parara de ser tão profissional e passara a ser mais pessoal. Havia mesmo se deixado enganar, pensando que o outro estava gostando de si. Deixara-se levar, pensando que com o tempo também gostaria do outro e com isso esqueceria Iori, para que pudessem voltar a se tratar apenas como amigos... Mas então o loiro viera até ele, dizendo que não queria apenas amizade, que era algo mais. Se tivesse notado antes... se tivesse esperado mais um pouco...

Mas, se não fosse pela intromissão do baixista, se não tivesse aceitado estar com ele, mesmo que por pouco tempo, será mesmo que Iori diria tudo o que sentia? Talvez, apenas quando notou que estavam perdendo um ao outro é que ele encontrara a coragem para confessar.

_ Ai! – encarou novamente a avó, que parecia estar se divertindo, torturando-o daquela forma. Massageou a cintura, perguntando-se de onde a velha tirava força para beliscar daquele jeito.

_ Já que não vai me contar quem é que está te deixando tão aéreo, só me responda uma coisa... – olhou intrigado para a senhora, temendo o que ela poderia perguntar – O que está fazendo aqui, que não foi procurar essa pessoa especial?

_ Co-como? – ele estava fazendo compras com a família, não era óbvio? Eles vieram para a capital para passarem um tempo juntos. Estava ali apenas porque eles queriam sair e conhecer a cidade.

_ Querido, você sabe que nós não ligamos pra essas festas ocidentais. Só viemos pra cá porque achamos que você ia ficar sozinho. – acariciou seu rosto, vendo-o amenizar a expressão – A data é mais divertida quando comemorada com pessoas que amamos...

_ Mas... – não podia simplesmente sair dali, deixando-os sozinhos. Seria muita falta de consideração.

_ Seus irmãos podem nos acompanhar e depois voltamos para seu apartamento. Vá se divertir! – apertou sua bochecha, como fazia quando era criança, deixando-o mais sem graça.

_ Tem certeza? – ainda havia tempo de concertar tudo... se ele corresse...

_ Claro que sim! Espero que tenha comprado um presente... – comentou em tom divertido, vendo-o arregalar os olhos – Aproveite que as lojas estão abertas e tome cuidado.

Acenou em concordância, jogando as chaves do carro e da casa nas mãos de um dos irmãos, correndo para fora da loja em busca de um presente.

* * *

Não pensou duas vezes antes de tocar a campainha, mal esperando recuperar o fôlego depois de ter corrido uma longa distância. O metrô não passava ali perto e não podia deixar seus avós voltarem a pé para seu apartamento, enquanto ele vinha no conforto do carro.

Ouviu barulho do outro lado da porta, risos de criança acompanhado de algo caindo ao chão e depois o som da fechadura sendo destrancada.

Prendeu a respiração, olhando para a porta e pensando o que falar. Se fossem os pais dele, pediria para chamar o loiro, assim teria mais tempo para pensar, mas se fosse o...

_ Iori! – o loiro ficou parado com a porta entreaberta, encarando-o surpreso, os lábios fartos entreabertos, puxando o ar pesadamente.

Ele estava lindo, com uma camisa branca de mangas que iam até os cotovelos, um cachecol sob os ombros e calça jeans justa com algumas fivelas. Coturnos para completar o visual e os cabelos soltos e repicados ainda estavam meio úmidos, mostrando que ele saíra a pouco do banho.

_ Jun? – passara a tarde toda pensando no outro, que agora estava tendo alucinações? Sacudiu a cabeça, afastando aquele pensamento absurdo, abrindo mais a porta e deixando-o ver a bagunça dentro da casa – O que está fazendo aqui?

Pergunta errada! Era o que ele mais queria e agora pedia uma satisfação? Onde estavam seus modos?

_ Ahm... Iori, eu... Feliz Natal! – baixou o rosto e estendeu o pacote que tinha em mãos, tentando ignorar a ardência que sentia em sua face.

Um instante em silêncio até que sentiu o presente ser tirado de suas mãos, fazendo-o sorrir minimamente ao ver que o loiro havia aceitado, mas foi surpreendido ao ser puxado contra seu corpo, recebendo um abraço.

Ficou estático, sentindo os braços do maior em torno de seu corpo, aquecendo-o mais que o sobretudo que usava. E o perfume que ele usava o embriagou, deixando-o desnorteado.

_ Feliz Natal pra você também! – respondeu com um sorriso enorme na face, sentindo-se meio bobo, mas completamente feliz. Não importava o que havia levado Jun até sua casa, o importante é que estavam juntos agora.

E sentiu seu sorriso aumentar mais ao ser correspondido, os braços do menor circulando-o e pousando as mãos em suas costas, aproximando mais seus corpos.

Agora estavam completos.

_ Vão congelar se ficarem aí fora. – ouviram uma voz de mulher, separando-se num pulo e olhando encabulados para dentro, dando de cara com a mãe do loiro – Chame seu amigo pra jantar com a gente.

_ Ah, claro. – virou-se para Jun, sorrindo sem graça e esperando que a mãe saísse de perto para poderem conversar. Pareciam dois adolescentes pegos no flagra – Acho que ela não te reconheceu... Vai ficar pra jantar com a gente, não vai?

_ Podemos conversar antes? – sentiu que tremia um pouco, mas não era pelo frio – Só... dar uma volta...? – mordeu o lábio inferior, sorrindo de canto ao receber um aceno afirmativo.

_ Já voltamos. – Iori avisou para ninguém em especial antes de fechar a porta, tomando a frente na caminhada.

* * *

O parque estava todo enfeitado, as árvores repletas de luzes em seus galhos, que só tornavam a imagem mais surreal com a neve que caíra durante a tarde. Caminharam sem rumo certo, percorrendo a pequena trilha, enquanto escolhiam um lugar mais afastado para se sentarem.

Durante o caminho não trocaram muitas palavras, mas Iori conseguiu entender porque Jun havia saído correndo daquele jeito. Seus avós ligaram quando estavam na entrada da cidade, avisando que iriam passar alguns dias com ele.

Realmente era um bom motivo para se desesperar. A casa, normalmente vazia, teria quatro pessoas a mais. Era muita coisa para arrumar em tão pouco tempo, mesmo para alguém elétrico como Jun.

_ Vamos ficar aqui. – o loiro apontou para um banco a frente, retirando a neve que se acumulara ali antes de se sentar. Abraçou-se para tentar se aquecer, esfregando os braços e praguejando mentalmente por ter se esquecido de se agasalhar.

_ Tudo bem? – olhou preocupado para o maior, pousando as mãos em suas costas, num leve carinho.

_ Eu não sabia que estava tão frio aqui fora. – comentou sorrindo de seu descuido, sentindo o frio aumentar agora que haviam parado de caminhar – Hei, não precisa!

Jun estava retirando o próprio cachecol e colocando-o nos ombros no maior, sorrindo gentilmente.

_ Se você ficar doente eu vou ficar preocupado e vou me sentir mal por ter tirado você de casa. – chantageou, vendo o loiro aceitar o agasalho.

O frio parecia deixá-lo mais bonito. Seu rosto, normalmente pálido, agora ostentava as maçãs do rosto avermelhadas e seus lábios carnudos e entreabertos deixavam o ar sair, formando pequenas nuvens de fumaça.

_ Iori... – suspirou fundo, sentando-se corretamente ao lado do loiro, de modo que não precisava encará-lo enquanto falasse – Sobre o que aconteceu antes... com o Seiya e o que eu te disse... é...

_ Ele só queria brincar com você? – questionou em tom sério, de um modo protetor, como se fosse capaz de acabar com o outro se o tivesse magoado.

_ Não. Bom... acho que eu entendi errado. Eu me iludi, sabe? – não sabia bem como explicar, talvez fosse carência, ou só vontade de se sentir amado, ou tentando esquecer o que sentia pelo amigo mas não queria assumir.

_ Você não gosta dele? – Iori levou a mão até o queixo de Jun, obrigando-o a encará-lo.

_ Não. Somos só amigos. – sentiu o olhar do loiro varrendo sua alma, tentando tirar alguma informação oculta dali.

_ E... sobre nós? – nada mais importava, era somente aquilo que ele queria saber desde o início. Não precisava de desculpas ou explicações.

_ Eu... – sentiu seu rosto esquentar muito, tentando desviar o olhar, mas sendo impedido pela mão de Iori.

_ Jun... – parou de falar, tentando se acalmar e por os pensamentos em ordem.

Não podia pressioná-lo! Só precisava ouvir um sim ou um não, mas não iria forçá-lo a decidir naquele instante se não estivesse preparado. Ele esperara tanto, não ia machucar esperar mais um pouco.

_ Não queria estragar nossa vida. Eu tinha medo de magoar você e acabar estragando tudo. – desatou a falar tudo que o incomodava – Eu via o jeito que você olhava pra mim e para o Seiya, mas tinha medo de falar algo e acabar com nossa amizade. Ela é importante demais pra mim! Então, quando você tomou o primeiro passo eu fiquei confuso, eu queria aceitar, mas ainda tinha medo de dar errado e perder você. Então eu...

Parou de falar ao sentir os lábios do maior roçando nos seus, arregalando os olhos e sentindo sua face esquentar novamente.

_ Se... ainda quiser aceitar... É um risco que eu gostaria de correr, porque eu sei que vale a pena. – sussurrou contra os lábios de Jun, levando a mão até sua face e acariciando – Estar com você é a única coisa que eu quero nesse momento.

_ Eu também... – murmurou em resposta, entorpecido demais para elaborar uma frase maior.

Lentamente, o loiro voltou a aproximar os lábios, roçando de leve e sentindo o menor fazer o mesmo, prolongando aquele ínfimo instante antes de se entregarem por completo.

Iori então tomou os lábios do menor com urgência, segurando em sua nuca enquanto aprofundava o beijo, tão sedento e sôfrego, puxando-o para mais perto de si, sentindo os braços de Jun envolvendo seus ombros.

A contragosto, Iori afastou-se quando precisou respirar, mas manteve Jun colado ao seu corpo, enlaçando sua cintura e sorrindo ao vê-lo deitar a cabeça em seu ombro.

_ Feliz Natal, Iori-chan. – desejou baixinho, sorrindo contra o corpo do maior, enquanto fechava os olhos e acariciava suas costas, recebendo também um afago em seus cabelos.

_ Feliz Natal, Jun-chan... – meu Jun, completou em pensamento, olhando para o céu e suspirando feliz.


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Notas finais do capítulo

* FIM *



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