A Vida Artificial de Dênis escrita por hakeshy


Capítulo 3
O namorado de Alexa




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Li alguns livros ótimos de romance. Shakespeare me deixou com muito medo, mas depois de ler uns quatro livros dele eu tirei a conclusão: Eu me destruiria pela Alexa! Morrer para os humanos é deixar de viver. Descobri isso lendo. Nós máquinas não morremos, então eu me destruiria e não deixaria mais vestígios meus. Porém não seria tão simples assim. Mesmo eu sendo um modelo comum, eu era patenteado, o que significava que eu era único com a minha aparência. Eu fico orgulhoso toda vez que me lembro disso. A palavra “único” me deixa feliz e extasiado.

No porão além de ótimos livros eu achei um em especial, de auto-ajuda em relacionamentos. Era uma edição de 1951, muito antiga, mesmo. O livro se chamava “Os caminhos da conquista” e dava passos para conquistar o coração de uma mulher. Bingo! O que eu precisava! Era só eu conquistar o coração da Alexa e ela seria minha para sempre, e eu iria satisfazer a minha vontade própria! Vamos ver o que tem nesse livro...

O primeiro capítulo falava de flores. “Mulheres adoram flores e seu perfume. As rosas vermelhas são ideais para quem está apaixonado ou um admirador secreto”. Se eu fosse admirador secreto seria muito óbvio e minha mãe desconfiaria, resolvi confiar em mim. Guardei todas as páginas do livro na minha memória e fui ver o que poderia ser feito no dia seguinte. Sentei na sala e fiquei terminando de ler tudo o que dizia o livro. Agora eu sorria involuntariamente, além de ter que espantar alguns mosquitos que antes não me incomodavam. Minutos depois, Papai chegou com Alexa.

- Boa noite papai! Boa noite Alexa! Voltaram juntos?

- Boa noite filho! Vejo que o médico te fez muito bem. Ela me ligou e eu resolvi ir buscá-la, para retornar comigo.

- Oii meu maninho gostoso! – Ela me deu um beijo na bochecha, e estas coraram na hora. Eu fiquei o que a minha irmã chamava de “fofo”

- Papai a mamãe já fez o jantar. Alexa você vai comer?

- Irmão, no seu software, mudaram o jeito de você me chamar? Olha nos seus arquivos. – Ela se sentou na minha frente. Geralmente eu a chamava de maninha, mas não era confortável falar isso pra ela agora, que eu sabia que a amava.

- Não. Aqui consta “maninha”.

- Por que você não me chama de maninha então?

- Por que eu tenho vontade própria.

- Amor! Filha! – Mamãe chegou, abraçando o papai e logo em seguida a minha irmã.

- É muito estranho ver ele com sentimentos. – Disse papai.

- Você se acostuma. Agora não podemos controlá-lo tanto, e algo está me preocupando.

- O que amor?

- Depois a gente conversa. Vem comer. Filha você já comeu, certo?

- Sim mamãe, eu comi alguma coisa com o meu namorado Jordan.

Eu senti vontade de descobrir o endereço dessa pessoa e conversar com ele sobre o que eu sentia para que ele se afastasse dela. Era o mais indicado a fazer, embora alguns registros da internet me mostrassem que eu também poderia bater nele ou mandar matar. Acho que a ironia era algo novo pra mim.

- Ah sim. Então estamos indo jantar. Filho, vá pro seu quarto!

- Certo mamãe. – Ela não especificou que horas eu deveria ir, eu gostava quando ela fazia isso. Fiquei mais tempo conversando com a Alexa.

- Alexa, como foi a noite?

- Foi muito boa! Nós fomos comer comida japonesa, ele é super legal. Acho que eu quero ficar com ele por muito tempo!

- Pra sempre? – Eu estava ficando preocupado.

- Hoje em dia nem existe mais essa coisa de pra sempre maninho. – Ela ligou a televisão de plasma.

- Estou feliz por que você não quer ficar com ele pra sempre.

- Bobo. Ninguém vive pra sempre. Er.. só você.

Fiquei triste. Muito triste. Quis retirar-me na mesma hora, e foi o que eu fiz.

- Mamãe mandou eu ir pro quarto.

- Boa noite maninh.. você..está..chorando?! – Ela falou muito surpresa.

- Amn? O que? – Escondi rapidamente o meu rosto. Tinha água nele! Eram lágrimas! Eu chorei na frente de uma mulher, tecnicamente isso não é muito bom, nem mesmo para algo como eu. Ela pegou o lenço dela e enxugou o meu rosto.

- Por que você está chorando?

- Não quero responder essa pergunta.

- Por que não?

- Minha vontade própria não deixa, então eu não quero.

- Tá, até ai eu sei, mas tem que ter motivos.

- Não quero falar sobre isso, preciso ir dormir.

- Certo então, boa noite meu grande, te amo.

- Eu também. – Eu iria falar que a amava mais, só que não estava na hora certa, eu tenho certeza disso.

Fui andando devagar até o quarto e me deitei. Eu não sabia o que estava sentindo. Misturava tudo dentro de mim, ódio do namorado, amor pela Alexa, ciúmes do namorado, feliz pela Alexa. Eu sempre processei uma coisa de cada vez, mas assim não dá. Antes que eu entrasse em curto circuito, eu fechei os olhos e “dormi”.

Pensei em algo perfeito pro dia seguinte...


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Notas finais do capítulo

Continuo?
;**