Um Reencontro entre Nós escrita por Karenine


Capítulo 5
Lembranças e ligações


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews *____* Por causa disso, resolvi postar mais cedo o cap. 5. Espero que gostem!

Esse cap. volta a ser narrado pela Pan do futuro. Boa Leitura!

Bjs



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Lembranças e ligações

            Seis anos haviam se passado desde minha viagem até o passado, e meu encontro com Pan. Eu sentia falta da minha filhinha, minha pequena Yuki, da minha mãe Videl, minha avó Chi-chi e de Bulma. Mas não poderia me dar por vencida, se não nunca veria Trunks novamente, sem contar que a Pan desse tempo, em que eu estava agora, sofreria a mesma dor que eu. Não queria que mais ninguém sofresse daquela forma.

            Estava morando na casa de Bulma. Era incrível como eu me dava bem com ela. Talvez ela desconfiasse que tinha me casado com Trunks, já que a Pan daqui acabara de se casar com o filho dela. Mas eu, sempre mantive a discrição. Não queria afetar muito mais o passado, do que minha presença já afetava. Precisava falar o menos possível sobre a nossa vida, para não influenciar demais nesse tempo. O que era para mim muito fácil, já que tinha aprendido a conviver na solidão.

            Vegeta era o único que nada perguntava. Eu simpatizava com o seu jeito. Parecia ser aquele que mais me observava, mas o que mais respeitava o meu espaço. E eu, que sempre tentava esconder, de todos, a dor de ter perdido quem eu mais amava, além de deixar minha única filha em outro tempo, agradecia ao seu silêncio.

            Um dia, porém, enquanto jantávamos, Bulma surgiu com uma coisa na mão, e se sentou ao meu lado.

            - Pan, essa é sua filha? – ela perguntou me mostrando a coisa que trazia na mão. Eu congelei. Era a foto que eu sempre escondia comigo, dentro das roupas. Uma foto de Trunks com Yuki nos braços. A primeira foto que tiramos assim que ela nasceu. Eu fiquei branca, senti meu sangue sumir de dentro do meu corpo, e por mais que abrisse a boca, nenhum som saiu dela.

            - Bulma! – falou Vegeta se aproximando de repente. – Não vê que a garota já tem problemas demais, mulher?

            - Não se meta, Vegeta! – ela falou e continuou olhando para mim. – Por que escondeu que tinha se casado com ele e tinham uma filha?

            Eu não sabia o que dizer, nem o que fazer. Imediatamente me lembrei de todos os acontecimentos que me levaram a voltar no tempo. Lembrei do choro da minha pequenina correndo perigo, enquanto eu inutilmente tentava protegê-la. Lembrei de Trunks aparecendo de repente e nos protegendo e por fim... Lembrei da dor, a dor insuportável de perdê-lo, e de deixar nossa filha.

            Não sei o que me deu. Meus olhos se endureceram, e eu levantei. Minha mão tremia muito, meu corpo parecia que estava levando um choque. Vi o olhar de Bulma ficar surpreso e o de Vegeta que continuava indiferente. Não suportei nada daquilo. Ela tinha mexido das minhas coisas, tinha arrancado minha privacidade, a única que eu tinha. Olhei para a foto na mão dela e me senti traída. Imediatamente andei até a porta de casa, e voei. Tudo que eu queria fazer era fugir e foi isso que fiz.

            Fui parar em um lago bem longe da cidade. Sentei-me no chão e, encurvando minhas pernas, chorei. Pela primeira vez desde que tinha visto Trunks morto em meus braços, eu dava vazão à toda aquela dor. Estava me sentindo tão sozinha. Tão deslocada... como se mesmo eu tentando tanto lutar, nada desse realmente certo.

            Deixei os soluços invadirem meu corpo, enquanto as lágrimas caiam. Foi quando um ki conhecido se aproximou. Era Vegeta. Eu não o encarei. Ele no passado era quase um segundo avô para mim. Eu o respeitava, e principalmente, evitava ser fraca na frente dele. Lembrava sempre de Trunks e do quanto meu marido o admirava como pai e como pessoa, e não pude deixar de admirá-lo, também.

            - Bulma está preocupada, portanto, pare com essa choradeira e volte. – foi o que ele disse.

            Não respondi. Achando que ele logo voaria para longe e me deixaria ali, em paz com a minha dor. Mas não foi isso que ele fez. Vegeta se sentou ao meu lado, olhando para o lago, e ficou assim por um tempo.

            - Já sabia que você era esposa do Trunks. – ele falou de repente, quebrando meus pensamentos.

            Eu estranhei aquilo. Como sabia? Eu havia sido cuidadosa para não deixar ninguém perceber. Acho que ele notou meu pensamento, porque deu um sorriso quase imperceptível.

            - Qual é? Acha que sou como Kakaroto? – ele perguntou. – Tava na cara que vocês eram casados. Percebi muitas semelhanças entre os dois. Sem contar que você não sabe disfarçar. Sempre quando tocamos o nome do Trunks do futuro, você fica quieta e seu olhar escurece... Só um idiota não perceberia! Não eu, o príncipe dos sayajins.

            Fiquei sem palavras para aquilo. Era por isso que Trunks o admirava tanto. Ele sempre estava nos observando, mesmo que não soubéssemos disso. De repente me senti uma idiota e corei. Ele se levantou e já ia saindo quando eu decidi contar tudo. Precisava colocar toda aquela dor para fora, ou ela me mataria.

            - Quando eles chegaram... – falei sem me virar, sabendo que ele havia parado de andar e me ouvia. – Estávamos dormindo... – engoli em seco e prossegui. – Meus poderes estavam muito fracos na época... eu ainda estava me recuperando do nascimento de Yuki...

            As imagens vinham na minha mente como flashs vivos e dolorosos.

            - Nós já sabíamos que eles estavam a caminho, e eu vivia com medo. Medo de algo que não sabia definir, mas Trunks sempre me dizia que tudo ficaria bem. – continuei, lutando contra as imagens. – Mas quando eles chegaram... eu sabia que nada ficaria bem novamente. – parei e olhei para o lago. – Trunks foi lutar contra eles, e me pediu para levar nossa filha a um lugar seguro. Fui para a casa de Bulma, o lugar mais seguro perto da minha casa. Lá, Bulma nos deu um quarto, para mim e minha Yuki, e toda a sua compreensão. Eu estava apavorada. Sentia que iria perder pessoas importantes para mim... e meu maior medo era perder meu Trunks...

            - Então, uma noite. – continuei falando, explodindo toda a angústia que tinha guardado em meu coração. – Um deles atacou a casa de Bulma. Eu peguei minha filha e procurei por minha sogra, vendo que boa parte de seu lar tinha sido destruído. Encontrei-a, e deixei minha filha com ela. Precisava lutar para salvá-las daquele ser que invadira nosso planeta. Mas ele... era invencível... – parei por um minuto sentindo todas as lembranças se agarrando a mim, e respirei fundo. Foi aí que percebi que Vegeta tinha se sentado ao meu lado, novamente. Talvez me dando forças para continuar. – Eu lutei com todas as minhas forças... mas era fraca demais para ele. E antes que pudesse fazer qualquer coisa, já tinha caído em seu jogo.

            - Ele disse que Trunks havia morrido, assim como todos os outros, e a minha fraqueza, a minha dor, trancou minha força para continuar. – permaneci falando. – Com pouco tempo de luta, já estava completamente destruída. Ele disse que mataria minha filha... Eu... tentei impedi-lo, mas não consegui mover meu corpo... Eu... – senti as lágrimas caindo. – Eu... senti tanto medo... – parei sem conseguir continuar, chorando copiosamente. Senti Vegeta colocar uma mão em meu ombro, mas não me importei. Precisava continuar falando. – Trunks... – recomecei contendo os soluços. – apareceu nesse momento, completamente ferido... atacando aquele monstro sozinho. E eu só pude vê-lo mais uma vez... porque meu corpo não me obedeceu mais.

            Fiquei em silêncio por um tempo, lembrando de todas aquelas imagens. A chuva caindo em cima de mim quando acordei. O corpo de Trunks caído alguns metros, morto. E o meu grito que arrancou minha sanidade e minha vida.

            Vegeta permaneceu em silêncio enquanto eu me recompunha da minha dor. Eu parecia como uma criança, uma criança ferida e cheia de medo, encurvada ao lado de um avô. Ele apertou meu ombro mais uma vez e se levantou. Caminhou um pouco para longe e se voltou de repente.

            - Eu sei o quanto você está sofrendo, garota. – começou a dizer naquele tom duro e calmo. – Mas se continuar chorando, não vai trazê-lo de volta. Não foi para isso que veio?

            Arregalei meus olhos e virei em sua direção, mas não consegui mais vê-lo, pois ele já havia sumido. Fiquei olhando para a escuridão por um tempo, até me sentir forte o suficiente para voltar. Então, seguindo seus conselhos, voltei para a casa de Bulma.

            - Pan, me perdoe! – gritou Bulma, assim que me viu entrando pela porta. – Eu não deveria ter mexido nas suas coisas! Não deveria ter insistido, eu sou tão idiota!

            Olhei para ela e sorri. Parecia até a senhora Bulma do meu tempo, só que mais jovem.

            - Não! Eu deveria ter contado tudo antes. – falei dando um pequeno sorriso. Sentia-me bem melhor depois de tudo. Pensei em agradecer ao Vegeta, mas desisti. Era melhor que ninguém soubesse.

            - Não! Eu que deveria ser menos enxerida! – ela falou e eu agradeci com a cabeça. – Mas vou dizer... vocês tiveram uma filha linda! – sorri em resposta e a abracei. Sim, nós tínhamos uma filha linda e, também, por ela, eu queria que Trunks voltasse.

           

**

            No dia seguinte, Pan já estava pronta para o treino. Nós já tínhamos chegado a nível super sayajin. Ela era bem mais forte que eu na sua idade, o que me dava visíveis esperanças. Talvez, ela conseguisse impedir que todas aquelas coisas ruins acontecessem.

            - Você está indo muito bem, Pan! – falei parando no ar. – Devo dizer que evoluiu muito.

            - Obrigada, Pan! – ela respondeu com outro sorriso. Era como se eu estivesse me olhando no espelho na melhor época da minha vida. – Podemos parar um pouco, então? Eu queria conversar com você.

            - Tudo bem. – respondi e pousamos debaixo de uma grande árvore. – Pode falar.

            Ela se encostou no tronco e me observou, cruzando os braços. Eu conhecia aquela atitude. Era a mesma coisa que fazia quando algo me incomodava. Suspirei já imaginando o teor da nossa conversa.

            - Você nunca me falou muito sobre o futuro. – ela começou. – Mesmo para mim. E nunca falou sobre o Trunks de lá, mesmo eu sabendo que vocês tinham se casado. Sei disso – ela completou, olhando para mim. – porque eu me casei com Trunks, e já tinha notado que o seu amor era o mesmo que o meu.

            Suspirei vencida. Sim, ela sabia de tudo. Aliás, eu percebia que não sabia esconder as coisas por muito tempo. Talvez fosse por isso que Trunks dizia que eu era como um livro aberto.

            - Certo, e o que você quer saber? – falei, finalmente, sentando-me e bebendo um pouco de água da garrafinha que tínhamos trazido.

            - Quero saber se vocês foram felizes, e se... – ela parou. Parecia procurar as palavras. – Se vocês tiveram algum filho...

            Eu a olhei com cuidado. Já tinha notado que, quando lutávamos, memórias minhas eram passadas para ela como flashs. Aliás, ela já tinha me perguntado sobre uma menina. Fechei meus olhos, pensando no que dizer, e decidi pela verdade. Afinal, daqui a alguns anos, era exatamente o que aconteceria.

            - Sim, tivemos uma filha... – falei, suspirando. – Ela se chama Yuki, e também sobreviveu.

            - Uma filha... – ela repetiu, olhando para seu ventre. – Quando ela nasceu?

            - Algumas semanas antes de invadirem a Terra.

            - Então... ela era muito pequena quando tudo aconteceu, e... – ela parou, arregalando os olhos. – Vocês estão sem se ver há 6 anos?!

            Encarei-a com pesar e afirmei com a cabeça. Sim, 6 anos sem ver a minha filha. Ela agora já deveria estar uma mocinha, pensei com saudade. Deveria estar tão linda...

            - Meu Deus... – ela falou. – Não sei se teria coragem de deixar minha filha sozinha...

            Continuamos nos encarando. Não fora bem coragem que me movera até aquele tempo... Fora medo, solidão, saudade, dor... Eu amava muito Trunks para agüentar ficar uma vida inteira sem ele. Acabaria sendo uma péssima mãe, mas isso eu não falaria.

            - Eu sei... – foi tudo que disse.

            Ela se calou e, sem que eu esperasse me deu um abraço apertado. Foi então que senti uma onda nos conectando, e todos os seus pensamentos começaram a entrar na minha cabeça, assim como os meus, começaram a entrar na dela. Milhões de imagens atravessaram minha mente... A montanha com Trunks, o noivado, o casamento, a noite de núpcias... Suas dúvidas, confusões e sorrisos... Enquanto na mente dela provavelmente estariam aparecendo tudo isso e mais algumas coisas que eu não queria que visse. Logo que pude, afastei-me quase bruscamente, mas tinha sido tarde demais. Pois seu olhar, petrificado e apavorado, já tinha visto tudo que eu não queria que visse.

            - Não... – ela balbuciou olhando para mim com horror. – Ele... Trunks...

            Virei de costas.

            - Agora sabe o porquê de eu ter vindo... – falei sem temer mais nada. O que eu poderia fazer, tudo tinha que vir à tona, mais cedo ou mais tarde. Melhor que fosse naquele momento, então.

            - Eu... eu não imaginava... – ela balbuciou. – Eu... não fazia idéia...

            Não contive a raiva que me dominou naquele momento. Como não fazia idéia?

            - Pensou por acaso que ele morrera dormindo? – perguntei, sentindo em minhas palavras navalhas que cortavam tudo pela frente. – Não, ele não morreu dormindo, Pan! Ele morreu para me salvar, para salvar a nossa família! E eu... EU NÃO FIZ NADA PARA SALVÁ-LO!

            Ela permaneceu em silêncio e eu prossegui, aproximando-me dela.

            - Sabe por que eu fui capaz de deixar minha filha sozinha? – perguntei quando cheguei bem perto. – Porque eu nunca seria uma boa mãe para ela! Eu estava destruída, estava morta, como ele. Eu... o tive em meus braços... sabe o que é isso, Pan? Ter seu amado Trunks morto em seus braços? Definitivamente... – falei mais baixo. – Não queira saber.

            E já ia dar meia volta e sair dali, quando senti sua mão me puxando. Virei-me e a encarei. Ela tinha um olhar diferente agora, mais determinado.

            - Obrigada. – foi o que disse. – Obrigada por vir até aqui e tentar mudar nosso futuro.

            Naquele momento tudo o que eu consegui foi dar um sorriso de alívio. De repente a culpa não parecia tão grande. Então, ela estendeu a mão em minha direção para que eu apertasse. Olhei para aquela mão estendida, e senti que pela primeira vez, talvez não estivesse tão sozinha no mundo. Segurei sua mão firme e a balancei. Uma ligação tinha sido feita entre nós, mas o mais estranho tinha sido o riso que pensei ouvir ao longe. Lembrava o riso do meu Trunks.


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