Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

esse é meu cap preferiado até agora. espero que vocês gostem dele tanto quanto eu.. estou me esforçando pra fazer caps maiores, mas não tenho tido tempo. boa leitura.



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- Prazer. – disse eu esticando a mão num cumprimento. Não sou ciumenta e se aquela Alanna duplamente dez (dez-bundada e dez-peitada) queria me provocar não era eu que iria ceder. Ela me olhou com cara de nojo por trás do desdém evidente recusando-se a apertar minha mão. Pouco liguei; apenas virei para Jake anunciando que ia ver o resto daquele acampamento e saí rumo às trilhas, que não passavam de um aglomerado de árvores onde mal se via o passeio. Ouvi passos me seguindo, mas não me virei, pois sabia quem era. Uma mão puxou meu cotovelo. Dei meia volta devagar e contra a vontade, ainda sem encarar meu primo. Sabia que não era culpa dele o fato dela estar ali, mas vê-la se oferecendo daquele jeito... Achei melhor sair de perto ou alguém voltaria para casa com um sorriso novo. - Zoey, olha pra mim – Jake pediu – Se eu soubesse que ela estaria aqui eu nunca... – ele parou por um momento, respirando fundo – Se você quiser nós vamos embora hoje mesmo. Não é tão tarde e deve ter quarto vazio em algum hotel... - Jake... – eu o cortei – Não tem problema. Ficar aqui ta ótimo. – tentei soar convincente. Pareceu que ele ia objetar, mas mudou de idéia de última hora. Voltamos em silêncio ao chalé que dividiríamos e aproveitei para tomar um banho. A água fria realmente me fez relaxar, mas quando eu saí do banheiro... Ou melhor: quando eu ia sair do banheiro, ouvi uma voz conhecida e parei com a mão na maçaneta. - Mas Jake... – Alanna ronronava; não havia melhor descrição para aquela voz falsa com excesso afeto. - Já disse que não. – se a voz de Alanna era um ronronar, a de meu primo era um rosnado. Ouvi a porta bater, esperei um pouco para não parecer que estava ouvindo e depois saí. Jake estava sentado na cama; a cabeça entre as mãos, cobrindo o rosto. Aproximei-me devagar, sem querer incomodá-lo até que cansei de ficar ali vendo-o como uma estátua e perguntei: - O que houve? Ele pareceu notar minha presença, porém foi breve na resposta: - Nada. Deixei passar essa e me deitei na cama, esperando. Uma hora ele diria, eu tenho certeza. Não demorou muito. Estava de olhos fechados quando senti a cama afundar ao meu lado. - Zoey? – ele sussurrou. Virei devagar, fitando-o. sua pele parecia pálida à luz do luar que entrava pela janela entreaberta e seu semblante era cansado. - To ouvindo. – eu o estimulei a falar, visto que ele apenas me olhava. Depois de um curto período ele falou: - Precisamos conversar. – senti meu sangue parar. Ele fez uma pausa, respirou fundo e depois continuou – A Alanna quer conversar comigo. Pediu pra marcarmos um dia para... Resolvermos nossas pendências. Eu não quero ir, mas ela é insistente. Queria conversar enquanto você estava no banho, então decidi marcar um outro dia, pra acabar logo com isso. Ela vai amanhã lá em casa. Vai voltar com a gente, afinal ela não mora longe da casa da minha mãe. - E a sua preocupação é...? – ainda não entendia o porquê de tanta preocupação. - Você não ta com raiva? – ele pareceu perplexo – Não ta chateada? Irritada? Não contive o impulso de rir. Era isso que o preocupava? Que alívio! - Não me importo. – falei quando consegui recuperar o fôlego – Pode ir. Ta tudo bem. – fui sincera. Não consegui prever o beijo que veio a seguir. Foi tão inesperado e tão intenso que só me lembro de ter deitado quando acabou e dormido sem ter tempo de pensar em mais nada além de que eu não queria que aquele dia acabasse (eu sei; isso foi clichê, mas quem liga?). Acordei. O sol forte em meu rosto e o vazio ao meu lado indicava, que já era dia e Jake havia acordado. Levantei me espreguiçando devagar, olhando ao redor tentando lembrar onde estava e por fim saí do quarto, rumo à cozinha, que era o próximo cômodo. Meu primo estava lá. - Bom dia. – eu o abracei por trás. Ele vestia um calção de banho e preparava o café da manhã para nós. Aproveitei esse tempo para tomar um banho. - Zo? – ouvi a voz de Jake abafada pela porta do banheiro. Resmunguei qualquer coisa e ele completou a frase – Coloque roupa de banho. Voltei ao quartinho e coloquei meu biquíni preto, depois fiz o desjejum e corri para a porta onde meu primo já me esperava, anunciando o programa daquela manhã: caiaquismo. Não seria uma manhã perdida (considerando meus talentos inexistentes para o esporte) se não fosse pela senhorita Pernalorga da Fonseca (perna fina e bunda seca) que resolveu aparecer com um pedaço mínimo de pano cobrindo apenas o essencial. - Jake... – ela cumprimentou melosa – E namorada. - Ex... – cumprimentei-a no mesmo tom. - Vão fazer o que hoje? – a xereta perguntou. - Nada. – respondi com os nervos à flor da pele ao mesmo tempo que meu primo dizia – Caiaquismo. - Ótimo. – de repente a lambisgóia estava super empolgada. Perfeito. Contive um grunhido de frustração enquanto à beira do lago a tal Alanna se escorava em Jake para subir no barquinho, com um biquíni ainda mais provocante que o da véspera. Só faltei rolar de rir quando ela sentou toda feliz, pegou o remo e depois fez uma careta ao ver meu primo e eu nos distanciarmos em direção a outro barco vazio com espaço apenas para dois. Remamos como loucos cada vez mais para longe dos gritos histéricos da lambisgóia que não sabia sair do barco até a melhor parte daquele passeio: a correnteza. O caiaque subia e descia com as ondas artificiais quebrando no lago que não era nada pequeno, mas a sensação era ótima, principalmente ao lembrar a cara de tacho da outra ao se ver sozinha com aquele remo sem conseguir sair do barco. Meu dia parecia promissor. A outra margem não se parecia em nada com o nosso ponto de partida. Enquanto a outra era acinzentada pelo cimento que lhe oferecia um ar de artificialidade, esta era rodeada por gramíneas não exatamente altas. Apenas o suficiente para parecer um campo. - Que comece a trilha. – Jake anunciou me puxando pela mão. Eu não fazia idéia de que horas eram até ver as sombras quase inexistentes abaixo de nós. – É quase meio dia – meu primo disse olhando seu relógio à prova d’água como se tivesse lido minha mente. Remamos por quase duas horas e eu mal sentia o cansaço que já deveria ter se apoderado de mim. Olhei ao redor tentando absorver a paisagem que eu julgava pertencer apenas a livros: flores crescendo numa campina, algumas árvores, mas nada muito denso e um longo caminho de terra batida que se perdia de vista ao longo daquela campina surreal. Caminhamos de mãos dadas e devagar, vendo as flores que desabrochavam aos poucos até finalmente (digo finalmente por estar sentindo fome) as árvores acabaram e como por milagre um pequeno parque apareceu à nossa frente. A pedra enorme que servia de mesa ficava no centro, e ao redor, alguns pedaços de madeira grossos o suficiente para suportar o peso de um adulto faziam o papel de bancos improvisados. Como por milagre, havia uma cesta na pedra. - O que é isso? – perguntei estupefata. - Só um piquenique. O pessoal daqui leva mesmo a sério. Tem até cestinha. – Jake debochou. - Eu achei lindo. – fui sincera. Aquilo tudo parecia um conto de fadas e eu, de uma maneira peculiar, era a princesa. Ri sozinha ao fazer a analogia, mas meu primo aparentemente não notou. – Mas para quê tudo isso? Não contive a pergunta. - Eu queria... Bom... Te amansar um pouco. Vi que você não foi muito com a cara da Alanna. Sinceramente, eu também a acho um entojo, mas prometi que daria a ela uma carona pra casa. E vocês vão ter que se aturar pelo menos três horas durante a viagem de volta. Estremeci ao pensar no tempo que passaria trancada no mesmo carro que a Maria Oferecida e descontei a raiva num dos biscoitos que encontrei na cesta, mastigando-o com força como se isso fosse fazê-lo se transformar na mulher que decidiu infernizar minha vida. Ficamos por lá um bom tempo, desfrutando uma tarde inteira só nossa, longe de olhares furtivos, telefonemas irritantes, más notícias... E sem medo que nos flagrassem. Perdi as contas de quantos foram os beijos ardentes e os assuntos postos em dia. Falamos sobre tudo desde minha escola (e não fiquei melancólica dessa vez ao pensar que meus dias em São Paulo estavam acabando) até o trabalho de Jake. Como no dia anterior, não lembrava da última vez que me senti tão relaxada e por tanto tempo. Meu primo massageava meus ombros enquanto passava em mim um protetor solar que havia dentro da cestinha. Primeiro os ombros, depois as costas, barriga, braços, demorando certo tempo nas mãos, voltando a subir até os ombros, pescoço, onde depositou vários beijos e por fim o rosto. E então eu retribuí o favor. Estava escurecendo quando decidimos voltar ao chalé e arrumar nossas mochilas. Tinha até esquecido o problema de nome Alanna até que ela resolveu acabar com a paz que inundara meu dia aparecendo na porta do chalé com um short tão curto que era um crime descrevê-lo assim. Tive vontade de perguntar onde estava o resto do pano quando Jake, que estava tomando banho, apareceu só de bermuda (e voltou imediatamente ao banheiro para vestir uma camisa quando viu que “tínhamos visita”). O carro pareceu abafado no momento em que me sentei no banco da frente. A lambisgóia ficou atrás do banco de Jake, afagando-o enquanto fazíamos o retorno para sair do acampamento e pegar a estrada para Americana. Meu primo voava, cortando todos os carros que conseguia. O sol não era mais visto, porém a lua ainda não aparecera. Quanto a mim? Estava para me jogar daquele carro. - Jake, será que posso ficar na sua casa? Só, tipo, uma meia hora? – Alanna perguntara. – Pra gente conversar. Aquela voz melosa já estava me irritando mais que o normal. - Não sei se hoje seria um bom dia pra nós... – Jake começou, mas a lambisgóia o cortou. - Não me diga que não seria um bom dia pra nós conversarmos. – ela ronronava – Você prometeu. – disse passando os dedos pelo pescoço do meu primo. Ele grunhiu qualquer coisa, mas concordou. Não passou muito tempo ela puxou conversa de novo: - De onde ela é? – o ódio embaçou minha visão. Como ela tinha coragem de perguntar sobre mim para outra pessoa sendo que eu estava a meros dois palmos de distância ouvindo cada palavra? - Por que você não pergunta a ela? – Jake rebateu. Ponto pra mim! Alanna se virou forçando um sorriso. - E você... - Zoey – completei entre dentes. - Tanto faz. De onde você é? - Não sou daqui. – fui branda. O que minha vida tinha a ver com aquela infeliz? - E tem quantos anos? – curiosa. - 16. - Novinha. - Como se conheceram? - Somos... Primos. A conversa ficou nessa lengalenga até chegarmos a Americana. Dei graças quando estacionamos e pude descer daquele carro. Não agüentava mais ouvir a voz daquela mulher. Pedi o molho de chaves a Jake, abri o porta-malas, peguei minha sacola de viagem e a mochila dele e corri para dentro da casa. Não era Alanna que queria conversar com ele? Pois teria bastante privacidade lá fora. Quase furei meus olhos e tímpanos quando ouvi a porta da frente bater e a lambisgóia rebolar para dentro seguida por Jake. O estardalhaço foi tremendo. Minha tia tratou de receber Alanna como se fosse uma rainha que estivesse se hospedando por lá. - Eu sabia que ele ainda vivia! – ela murmurava alegre pelos cantos enquanto eu ia à salinha do computador checar meu e-mails. Meus amigos tinham mandado notícias, mas nenhum deles, eu notei, falava da volta às aulas. Que bom. Sidney deve ter me achado louca. Respondi as mensagens com calma e estava quase terminando a última (um e-mail de Brad querendo marcar um dia para jogarmos videogame) quando senti minha cadeira ser virada. - Quem é esse? – a Maria Oferecida ronronou. - Um amigo. – fui seca. - Ele é bonitinho, não é? – ela analisava seu perfil. Encarei-a. - Se quiser, pode ficar com ele. Não ligo. Como eu disse, é um amigo. Ela deu de ombros. - Jake pode ser meio instável às vezes, sabia? – ela começou. Não fazia idéia do porquê desse assunto, mas fiquei na minha; não ia prolongar mais aquilo e algo me dizia que ela não calaria a boca se eu começasse uma discussão – Já te contei por quê ele me deixou? - Não e também não é da minha conta. Não faço questão de saber. – minha atenção estava voltada para o computador, terminando o e-mail para Brad. - Mas acho melhor contar. – a voz dela subitamente ficou séria, num tom que eu ainda não tinha ouvido ela usar – Jake é assim com todas. No começo é tímido e parece ter medo de te tocar, não é? Faz tudo o que você quer, sempre te colocando em primeiro lugar... Estou errada? - Não. – a resposta escapou de meus lábios. Como aquela estranha sabia o modo como meu primo agia comigo? Como se lendo minha mente, ela prosseguiu: - Como eu disse, já o namorei. Isso foi há o que? – ela parou como se contasse nos dedos – Dois anos? Por aí. – respondeu a própria pergunta – Tudo parecia maravilhoso. E foi aí que eu acordei. As outras começaram a aparecer, sabe? As que vieram antes de mim. – isso era o que? Um dejá-vù dela acontecendo comigo? - No começo – ela continuou – foi até engraçado. Ele deixava as outras plantadas praticamente fazendo fila atrás dele enquanto ia a algum lugar extremamente romântico só comigo.me fazia sentir segura e elevava minha auto-estima. Até que um dia eu o peguei com outra. – sua voz ficou sombria e me recusei a acreditar em meu primo traindo alguém. Mas ela ainda não tinha acabado: - Acho que você não acredita em mim. Provavelmente por ele ser seu primo – ela tinha percebido? – Então vim lhe oferecer a chance de tirar a prova. Te mostrar como estou falando a verdade, pois não quero que ele te engane por mais tempo para não sofrer como eu sofri. Esperei ela continuar, mas ela devia estar aguardando uma resposta à sua oferta, pois só continuou quando eu assenti. O que ela poderia fazer? - Ótimo. O que você tem que fazer não vai exigir esforço algum de sua parte. Basta baixar as persianas dessa janela. Eu vou lá fora conversar com Jake e você apenas espia por uma delas. Vamos ver se seu priminho é tão fiel quanto você alega. Ela se levantou da cadeira que havia puxado e saiu. Ouvi sua voz vinda da sala, chamando Jake para uma conversa ao lado do carro. Não demorou para que eu o visse atravessar a garagem até se apoiar no carro estacionado na calçada. Pude observar os dois conversando e Alanna era quem falava mais. Via seus gestos, mas não conseguia identificar as palavras. Meu primo, parado, expressava choque, mas ela disse mais alguma coisa e sua expressão, com certa relutância, se aliviou. Tentei entender, desejando estar mais perto para poder ouvir o que tinham a dizer, mas toda a racionalidade pareceu fugir de mim quando vi Jake tocando sua mão, depois, muito lentamente, afagando seu braço até o ombro, traçando a cursa de seu pescoço até a nuca enquanto sua outra mão enlaçava sua cintura trazendo Alanna mais para si. Foi como um soco no estômago. Tive que prender a respiração para conter o grito de dor e agonia que aquela cena me causava, principalmente quando Jake, meu Jake, traçou o contorno dos lábios da outra para em seguida envolve-los com os seus. Abraços com carícias que julgava erroneamente serem especialmente meus eram trocados com a mulher que era uma estranha para mim, porém a única que conseguiu abrir meus olhos. Seus corpos se encaixando com perfeição numa sintonia invejável a qual nunca pensei que pudesse existir com outra pessoa. Não conseguia ver mais nada; não queria. Alanna estava certa. Corri para a suíte pouco me importando se alguém ia querer entrar lá depois, tranquei a porta, me joguei na cama e chorei.


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Notas finais do capítulo

Espero reviews!!