Shiki Fuujin escrita por Pitty-chan


Capítulo 4
Parte Quatro


Notas iniciais do capítulo

Yo! Desculpem a demora para essa parte, a questão é que eu não escrevo essa fanfic em capítulos e sim em mini capítulos. Isso porque ela começou sendo postada no orkut, na comunidade "Yondaime - Quarto Hokage". Sendo assim eu estava esperando ter conteúdo o suficiente para postar um capítulo inteiro.

Agradeço todas às reviews! Muito obrigada mesmo por estarem acompanhando! Este deve ser o penúltimo capítulo, então, por favor, permaneçam comigo por mais um tempinho!



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E é assim, Naruto. É este o ponto em que a minha vida acaba e a sua começa. Talvez fosse poético dizer que nós éramos tão ligados, tão parecidos, tão unidos, você tão meu filho e eu tão seu pai, que a linha da sua vida teve que emendar-se na minha. E por esse motivo nós não poderíamos jamais coexistir.

 

Para que você vivesse, eu não poderia estar vivo.

 

Mas seja isso real ou não, finalmente te disseram a verdade, e agora você segura a capa flamejada nas mãos e se pergunta por quê. Neste exato momento você olha para trás e se pergunta o motivo de tudo.

 

Quer saber a razão? Quer saber a causa? Aposto que ninguém nunca pôde te explicar, pois até hoje ninguém entendeu a razão de eu ter feito o que fiz. Você quer saber o motivo? Ele é mais simples do que parece.

 

Porque eu te amo.

 

“Precisamos de um espião ANBU dentro do Clã Uchiha.”

 

Eu disse, finalmente me virando contra a luz da janela da sala Hokage, meu olhar oscilando entre os rostos dos quatro conselheiros administrativos da vila - Sarutobi-sama, Danzou, Homura e Koharu.

 

Depois de toda a minha obsessiva reunião de informações e descobertas, eu me vi entre a cruz e a espada. Era fato que eu já me decidira que teria uma base concreta antes de sair acusando quem quer que fosse. Porém, e se eu estivesse realmente certo, e Uchiha Fugaku não fosse o real líder da rebelião? E se fosse realmente quem eu pensava ser...? E se ele planejasse atacar Konoha em breve? Era preciso fazer algo. Era preciso encontrar uma maneira de obter informações sobre os eventuais planos deles envolvendo o destino da vila.

 

E qual seria o primeiro passo? Contar com a opinião dos sub-líderes de Konoha? Apesar de eu ainda não ter a mínima intenção de confiar ao conselho a informação de que Uchiha Madara estava decididamente vivo, algo precisava ser feito no meio tempo.

 

Porém, ao contrário do que eu esperava, os rostos deles não mostraram surpresa pela minha súbita sugestão de espionagem a um clã aparentemente fiel de Konoha. Danzou simplesmente dirigiu um sorriso torto a Sarutobi-sama, e eu pude jurar que eu havia acertado um dardo inflamado no Sandaime pela simples menção do assunto.

 

“Sou da mesma opinião, e esta já teria entrado em vigor não fosse a negativa de nosso Terceiro. Porém, creio eu que ao invés de ser um ANBU, este espião precisa ser alguém de dentro, pois o pior inimigo é o inimigo íntimo.”

 

As palavras de Danzou vieram entusiasmadas demais pro meu gosto, me fazendo crer que ele estava esperando por essa deixa há muito tempo. O fato de querer usar um membro do próprio clã para traí-lo não estava nos meus planos iniciais, e de forma instantânea me incomodou terrivelmente, apesar de, de certa maneira ele estar com razão. Para um espião ter sucesso ele precisa ser em primeiro plano confiável ao alvo.

 

“E quem seria esta pessoa?”

 

À minha pergunta Homura olhou inquisitivamente para Sarutobi-sama, e tendo recebido sua confirmação, me respondeu.

 

“Um dos prodígios do clã, Uchiha Shisui.”

 

Isso fez as minhas entranhas retorcerem. Não era nem de perto o que eu havia pensado quando estava originalmente estudando as possibilidades do meu Dossiê Uchiha.

 

“O quê?!” O choque me fez levantar da cadeira e bater com as mãos no tampo da mesa. “Mas ele é só um garoto! É ainda mais novo que Kakashi!!”

 

“Sim, porém, é a escolha certa. A própria rede de informação da sua ANBU descobriu que Shisui foi selecionado por Uchiha Fugaku como agente disfarçado, não? Devemos crer que ele é o cabo das informações internas que estão vazando? Se der tudo certo, para nós ele será como um perfeito agente duplo.”

 

Continuei a olhá-lo, incrédulo. Minhas mãos contraídas em punhos, como se eu estivesse prestes a bater em alguma coisa, embora não soubesse ainda no que.

 

“O melhor cão de caça é aquele que é totalmente leal. Como ainda é um garoto, seus ideais e mente são capazes de serem moldados e convencidos.”

 

“Ele ama a vila, e não é apegado às divisões entre os clãs... Em longo prazo podemos usar isso a nosso favor.” Koharu emendou.

 

Dirigi meu olhar estarrecido ao Sandaime, totalmente parado, ainda de pé, incapaz de voltar para a cadeira. Os punhos ainda contraídos.

 

“Moldado? Convencido? Usar... a nosso favor?” Ele não disse nada em resposta, apenas continuou me olhando, visivelmente rígido. “O conselho só pretende usá-lo e... quando ele não for mais necessário, jogá-lo fora? Vocês fazem idéia do inferno que esse menino terá que viver?!”

 

“Qualquer shinobi deveria sentir-se orgulhoso em servir a Konoha por meio de sacrifício. Ainda mais em se tratando de um Uchiha, normalmente não confiável.” Homura disse, sua voz monótona.

 

“Não.” Trinquei os dentes involuntariamente, meu tom categórico. “Eu não concordo. Enquanto eu for Hokage, jamais permitirei que sacrifiquem uma criança em prol de uma causa da qual ela não tem culpa.”

 

Dito isto, Danzou me fuzilou com o olhar. Se olhar matasse, ali eu cairia morto. Koharu dirigiu-se a mim novamente.

 

“Yondaime, o Hokage é aquele que hasteia a bandeira de sangue, e não quem é a própria bandeira de sangue.” Ela tomou minha mão direita na sua, usando força nos dedos para abrir meu punho em palma novamente. “É ele quem escolhe os que sujarão as mãos para manter a vila segura, não é ele quem suja suas mãos. Konoha não pode ter um pedestal manchado de sangue. Escolher a quem irá sujá-las em seu lugar... isso que é pedido de você.”

 

Enquanto ela falava, senti a tensão crepitando pelas paredes, uma sensação de engano subindo pela minha garganta. Era isso que queriam de mim? Que eu sacrificasse outros pela minha vila? Não era este o meu dever? Não era o dever do Hokage salvar Konoha? Um Kage não deveria ser quem protegeria sua vila a qualquer custo? Mas o que eles estavam me dizendo era totalmente o contrário da filosofia do Shodai.

 

Retirei minha mão da dela de forma descortês, enojado pela minha própria falta de visão. Eu havia sido inocente demais.

 

“Querendo ser piedoso você está fugindo da realidade. Se não é capaz de fazer isso, nunca houve em você o pré-requisito para ser o Quarto.”

 

“Por essas e outras sempre fui contra o fato de um fedelho ser ordenado o líder da vila...” Danzou sussurrou vitorioso, alto o suficiente para que metade do País do Fogo ouvisse.

 

Mantive-me imóvel, tentando não mergulhar para sempre nos tacos de madeira. Quanta ingenuidade.

 

“Não. Não permitirei que joguem mais uma criança no redemoinho do inferno. Eu já vi mortes desnecessárias demais. Eu já vi gente sofrendo inutilmente o bastante em todos esses anos de guerra.” Como um flash, minha mente me trouxe uma imagem de Obito. Meus olhos foram instintivamente direcionados para a gaveta em que eu guardara o dossiê. “Por isso não posso permitir. Mesmo que eu esteja vagando entre a realidade e os meus ideais, não vou deixar que destruam a vida de mais ninguém.”

 

O olhar de Danzou enviou faíscas elétricas ininterruptas em direção ao meu, dignas de Chidori.

 

“Há essa altura você já deveria saber que o preceito de Konohagakure é sacrifique um e salve milhares. Hashirama-sama tinha consciência disso quando decretou que a ANBU os espionasse. Se não for capaz de fazer algo assim... não pode ser um Hokage.”

 

Existe algo que eu sei...

 

Existe uma razão pela qual não haverem mais sacrifícios assim...

 

Para salvar Konoha de Madara e dos Uchiha, não pude permitir que meu sacrifício fosse um garoto inocente. O equívoco original havia sido a proposta de união de interesses feita aos Uchiha por Konoha. Desde o começo havia erros, erros esses que foram continuamente somados por gerações... Apesar de que naquela época, qualquer um veria que mesmo no princípio os Uchiha e os Senju haviam sido como água e óleo.

 

E sendo assim, para quê tantos mártires? Essa vila não devia ter se acostumado a erguer-se sobre vidas de pessoas, ainda mais quando já houve tantas mortes. Gente demais já havia se sujeitado à auto-renúncia inutilmente, sem que nada de fato mudasse.

 

Quantas pessoas mais seria preciso que morressem para que os homens percebessem que pessoas demais já haviam morrido? Quando pararíamos de usar carne, lágrimas e sangue como pavimento para que tivéssemos futuro? Mas se mesmo assim fosse necessário, se realmente fosse preciso um último holocausto... Naquele dia eu já havia decidido.

 

Meu sacrifício seria eu.

 

“...o preceito de Konohagakure é sacrifique um e salve milhares.”

 

Tic, tac, tic, tac... Respiração congelada no escuro. O tempo em slow motion, tão devagar quanto câmera lenta. O ar tão denso que poderia ser cortado com uma kunai. Sons diabólicos, sons das profundezas do inferno. Uma risada mórbida. O som da morte. O som...

 

O som esmagador do silêncio.

 

Meus olhos vagaram sobriamente ao redor, a sensação de letargia perpetrando novamente. O cheiro do fogo do altar sendo montado em holocausto. O sentimento de desespero, de tentar fazer com que a dor de ter que abandonar meu próprio filho parecesse menos real, convencê-la de que adquirisse menos razão para existir.

 

Evitá-la e negá-la. A partir do momento em que a proclamasse ela passaria a existir de verdade.

 

Minhas mãos ainda contraídas uma palma contra a outra, o olhar ainda selado com o da Kyuubi. Até que os sons malignos se traduziram em uma voz sombria e gutural que enunciou apenas uma frase.

 

“Qual é o seu sacrifício?”

 

Tic, tac, tic, tac... O tempo em slow motion. O ar denso. O nada da escuridão roendo meus nervos como um cachorro roendo um osso. Minha voz saindo estrangulada sem que eu pudesse fazer nada quanto a isso.

 

“Meu sacrifício sou eu...”

 

Realmente, morrer é algo dramático.

 

Porém, em certa época eu não pensaria muito a esse respeito. Para ser sincero, eu estava com minha atenção focada em outra coisa completamente diferente desde a reunião com os conselheiros. E isso era tão verdade que volta e meia Kushina e eu discutíamos o fato de eu estar ou não totalmente, irrevogavelmente, inexplicavelmente obcecado. Exatamente como naquele dia.

 

“...e eu comprei o enxoval todo laranja! O que você acha, Minato? Laranja é uma cor linda, não é?” Kushina disse mal se contendo de excitação, segurando um macacão infantil de um coral cegante nas mãos. Resisti ao impulso de colocar meus óculos de sol para então conseguir olhar diretamente para a pequena peça de roupa, mas calculei que se eu o fizesse ela provavelmente ficaria ofendida. Era quase hilário observar a palheta de cores bizarra que sua mãe tinha em mente para as paredes do seu quarto.

 

“Sim, claro...” Eu concordei sem muito entusiasmo, minha atenção ainda conectada aos problemas da vila – agora facilmente correlacionados com o nome ‘Uchiha’. Além do mais, creio que admirar enxoval de bebê não seja uma coisa essencialmente masculina. A única coisa que os pais realmente admiram nesse processo todo são os filhos em si, e bom... Você ainda não havia nascido.

 

Sentado na quina da cama eu tentava manter ao menos o subconsciente ligado nos comentários dela sobre os macacões espalhados sobre a colcha, para que pudesse ao menos dizer alguns ‘a-hã’ em horas estratégicas. Ali eu percebi que precisaria ter dois cromossomos X para entender tamanha excitação.

 

Ela seguiu discorrendo sobre tecidos, sapatinhos, meiinhas, babadores, mamadeiras, chupetas... E eu aproveitei para ir me recostando na cama. Todos os problemas que giravam dia e noite na minha cabeça já me impediam de dormir direito. Eu não conseguira ter uma noite inteira de sono desde que começara a desenvolver o Shiki Fuujin, e em contrapartida, ter que lidar com os Uchiha e mais todas as funções administrativas da vila estava me deixando completamente exausto.

 

Então fui recostando, meio zonzo de sono. E recostando... E recostando… E dormi, enquanto uma pequena parte consciente da minha mente me dizia que Kushina não ficaria feliz em perceber que passara alguns minutos falando sozinha.

 

Mas de repente o pensamento sumiu, e era um sonho.

 

Porém, ao mesmo tempo em que eu sabia que se tratava de um sonho, algo parecia gritar que ele era real o suficiente para querer me dizer alguma coisa. Talvez a forma de o meu subconsciente me contar o que tinha capturado nas entrelinhas.

 

Olhos vermelhos... Olhos vermelhos de sharingan?

 

Tentei olhar mais de perto, mas minha visão estava estranhamente desfocada. Por mais que eu estreitasse os olhos e tentasse reconhecer as feições daquela pessoa, dali parecia quase impossível. As únicas coisas que eu conseguia distinguir com certeza eram o vermelho dos olhos e seu sorriso, tão largo que parecia machucar seu rosto.

 

Continuei me aproximando. Cada passo que eu dava para frente o portador do sharingan dava para trás. Seria Shisui? Ou quem sabe Obito? Mas como eu poderia me lembrar de Obito com olhos vermelhos, se eu nunca o vira assim?

 

Ele morrera antes que eu o visse com sua kekkei genkai. Sonhar com Obito não me parecia tão inesperado, mas sonhar com Obito com sharingan nos olhos era meio inútil e sem sentido. Mesmo dormindo eu procurava encontrar algum tipo de lógica para estar sonhando aquilo.

 

Vendo que a tentativa de aproximação não tivera sucesso, procurei questionar a figura à minha frente, perguntá-lo se ele se tratava mesmo do meu ex-aluno. E se fosse, o que ele estava fazendo no meu sonho? Porém, logo que abri a boca uma pressão estranha se formou nos meus lábios. Eu não conseguia falar. Nenhum som saía de mim.

 

Olhei de novo para o Uchiha crendo que ele tinha algo a ver com isso, e de uma expressão neutra o que vi estampado nas sombras do seu rosto me chocou. Os olhos vermelhos estavam estranhamente não amigáveis, cheios de algum segredo que eles não pareciam querer compartilhar. Seu sorriso agora era irônico e sarcástico.

 

E então ele sumiu.

 

Inesperadamente e contra toda a minha razão, isso me incomodou. Algo que me dava a certeza de que aquele homem de olhos rubros era um presságio ruim, e que se eu o deixasse agir livremente me tiraria tudo o que me era precioso. Uma coisa impensável e embasada em absolutamente nada, mas que me fez muito sentido na hora.

 

Comecei a correr loucamente. Parte de mim tinha consciência que meu corpo físico estava exausto e tratava de me manter sempre passos atrás do Uchiha, o que era consideravelmente inédito para mim. Eu sempre era mais rápido que qualquer um. Sempre. Mas ao que parecia, meu sonho estava ignorando essa parcela da realidade, tão elementar quanto a lei da física que nos mantém grudados no chão.

 

Logo eu o perdi de vista, e comecei a vagar sem rumo no meio do nada. Ainda nenhum som saía da minha boca. Ainda eu não conseguia correr mais rápido.

 

Foi então que avistei. No meio de uma área devastada estava a pequena casa em que eu e Kushina morávamos. Cansado demais para pensar se aquilo ainda era sonho ou se eu finalmente tinha acordado, entrei pela porta, sendo recepcionado pela visão mais estranha que já havia visto na vida.

 

Apesar de nada ter mudado do lado de fora, o vazio gritava pelas nossas janelas brancas. Não havia nenhuma sensação da presença de Kushina ali dentro. Não havia sensação de presença alguma. A casa estava solidamente ali, mas isso significava pouco, pra não dizer que não significava nada.

 

Algo sobre isso me desesperou.

 

Corri para a janela, e olhei novamente pra fora e pelo caminho em que eu havia vindo. Agora eu podia ver Konoha totalmente devastada e deserta, as cinzas entregues ao vento. Não havia absolutamente ninguém, nada além da destruição.

 

Um relance e o homem dos olhos vermelhos surgiu novamente, apenas para desaparecer outra vez atrás de mim.

 

Eu o segui como pude, deslizando pelo corredor, e me lembrando vagamente que apesar do corredor se chamar corredor, Kushina não gostava que ninguém corresse por ele ou arruinaria os tacos de madeira clara. A súbita e exótica lembrança foi facilmente empurrada para o canto mais obscuro da minha mente enquanto eu voltava a correr, ouvindo sons abafados vindos do seu futuro quarto. Os primeiros sons do sonho inteiro.

 

Despontei pela porta do quarto cuidadosamente pintado de laranja, entrando de supetão. Como um ninja experiente eu deveria saber que nunca se deve encarar um inimigo de frente sem um plano, sem nem ao menos avaliar as condições e as estratégias alternativas. Nunca se deve fazer algo tão estúpido como chegar assim, anunciadamente. Mas logo eu percebi que se eu não fizesse alguma coisa depressa, em breve não haveria um motivo bom o suficiente para que eu não fosse estúpido.

 

“Finalmente nos encontramos, Yondaime Hokage.”

 

A voz veio do homem de olhos vermelhos, que agora parecia livre de sombras e completamente visível a mim. Ele usava uma armadura carmesim antiga, seus cabelos muito negros eram compridos e se arrepiavam na parte de trás. Em uma das mãos ele segurava um bebê que chorava pelos pés, de cabeça para baixo. Na outra segurava um hitaiate de Konoha. Imediatamente o reconheci como uma das estátuas gigantescas no Vale do Fim.

 

“O q-...?!”

 

Me forcei a dizer algo, percebendo que finalmente conseguia falar. Mas a visão grotesca à minha frente me calou, me fazendo apenas continuar olhando fixamente nos olhos de sharingan. Algo meio idiota, diria eu, dado que esta sempre foi a principal fonte dos jutsus de ilusão do Clã Uchiha. E eu não estava particularmente ansioso para provar algo do gênero sem oferecer resistência.

 

Mas eu estava em um sonho. Meu sonho. Eu devia comandar ele, não? Ali era eu que devia decretar quem fazia o que, não é? Não? Ou será que desde o princípio eu já estava em um genjutsu?

 

Foi então que desviando da atração magnética do sharingan, meus olhos caíram sobre o bebê que ele segurava. Ele debatia-se em uma tentativa vã de soltar-se, chorando com toda a força que podia -, uma visão que deu uma paulada tão forte dentro de mim que imediatamente comecei a sentir a dor irradiando por todos os meus nervos. Todos os meus instintos paternos despertaram como se eu tivesse colocado o dedo na tomada.

 

Avancei como um relâmpago furioso atingindo um pára-raios, mas antes que pudesse chegar até ele o homem levantou uma mão em menção de me parar.

 

“Decida com cuidado antes de fazer a sua escolha.”

 

Teme, o que está dizendo?!” O ódio brilhou no meu olhar. “Devolva o meu filho! AGORA!”

 

Até que eu finalmente entendi o que o portador do sharingan queria dizer. Em sua outra mão jazia o hitaiate.

 

“Quem você realmente quer salvar?”

 

Era isso que ele queria: que eu escolhesse entre você e a vila. Escolhesse entre a pessoa que mais amei na vida e a Konoha que jurei proteger com tudo o que eu tinha.

 

“Nada pode substituir meu filho. Nada vale mais do que ele, nem mesmo Konoha.” Eu disse, a dor irradiando pelo meu peito, e mesmo no sonho quase me impedindo de respirar.

 

“É mesmo? E por quê?”

 

Por quê? Como assim, por quê? Não é óbvio? 

 

Por uma fração de segundo eu hesitei, e o homem sorriu sarcasticamente para mim. Até que sem qualquer aviso, um demônio em forma de raposa surgiu atrás dele, e ele deixou que abocanhasse ambos de uma vez só.

 

Naquele momento eu não soube separar direito se as lágrimas e o grito haviam sido dentro ou fora do sonho.

 

Por quê? Isso é óbvio demais, Naruto. Não sei como ninguém entendeu.

 

Porque eu te amo.

 

“NÃO!” Eu gritei histericamente, levantando da posição deitado direto para a posição de pé, alterando a inércia de forma tão absurda que por certo tempo o planeta pareceu ter esquecido-se de se mover.

 

“Minato?! O que foi?!” Kushina gritou de volta, alarmada, jogando pelos ares o que quer que fosse que ela estava segurando.

 

“Naruto! Mada-..., a Kyuu-...!” Eu parei de me explicar considerando que estava perdendo tempo precioso, abrindo a porta e saindo do quarto que nem um foguete; o que mesmo para mim não fez o mínimo sentido. Mas isso era última coisa para qual eu ligaria no momento.

 

Kushina veio correndo logo atrás de mim, nós dois deslizando pelo corredor até eu finalmente contemplar o quarto de paredes corais completamente vazio. Não havia Madara, nem Kyuubi, nem hitaiate de Konoha. Muito menos bebê.

 

Ofegante, eu caí de joelhos contra o umbral da porta, minha respiração irregular, o coração batendo desgovernadamente contra meus pulmões.

 

Mesmo hoje você ainda pergunta por quê?

 

Porque eu te amo.

 

“Minato... O que foi? O que houve...?” Ela tentava fazer censo do que eu conseguia dizer entre as curtas tragadas de ar, sem sucesso. Minhas palavras ainda histéricas demais para fazerem algum sentido. “Foi só um pesadelo.”

 

“E-eu-eu sei...” De joelhos eu a segurei pela cintura, comprimindo meu rosto contra a barriga dela. Você aparentemente não gostou da minha intromissão no seu espaço, e me chutou - o que me fez sorrir em meio ao choro descontrolado. “Agora eu sei...”

 

Algum tempo se passou até que eu conseguisse me acalmar e recuperar meu autocontrole shinobi. O que me assustou, pois eu nunca, jamais, em hipótese alguma havia passado por uma situação que me fizesse sair de mim daquele jeito.

 

Esse negócio de ser pai não é brincadeira. Devia ser altamente contra-indicado pra gente com tendência a ataques cardíacos.

 

Como Jiraiya-sensei veio nos fazer uma visita, sentamos todos na sala de estar, eu tentando prestar atenção na conversa, inutilmente. Volta e meia meus pensamentos voavam para longe, tentando lembrar do pesadelo que tinha de forma inesperada fugido da minha memória. Eu sabia que havia sido alguma coisa a ver com Madara e com você. Mas não conseguia mais me lembrar o que.

 

“Você tem andado distraído ultimamente. Aconteceu alguma coisa?”

 

“Não, nada...”

 

Ah, isso estava mexendo com a minha cabeça. Literalmente falando. Talvez eu só estivesse ficando muito paranóico. Talvez os Uchiha fossem totalmente inocentes, Madara estivesse descansando em seu túmulo há mais de oitenta anos, e eu estivesse cavando um buraco desnecessário, como um tatu cego.

 

Mas fosse cego ou não, o tatu havia achado alguma coisa. Alguma coisa que não teria encontrado se não fosse tão fundo.

 

“Quando está querendo esconder algo, sim. Ele não sabe mentir. A que eu sou grata, porque sempre sei quando está tramando alguma coisa.”

 

Kushina me dirigiu um olhar significativo. Eu sabia que ela só estava fingindo estar tudo bem porque eu estava tentando agir como uma pessoa normal para meu sensei, e ela não queria afundar meu barco. Mas para mim o círculo havia se fechado, e agora tudo parecia apenas um eco – um eco vazio, destituído de sentido, de significado, ou interesse.

 

Um interesse que só seria recuperado no dia seguinte, em uma luta da qual eu já sabia desde o princípio que não poderia sair como vencedor.

 

Por isso... Por isso meu sacrifício só podia ser eu. Entendeu, Naruto?

 

Quebrei o contato visual com a raposa por um momento, me virando para encarar o ser atrás de mim. O Shinigami era algo totalmente diferente do que eu jamais havia visto, algo que faria mesmo um homem adulto gritar de medo. Mas não a mim.

 

Não porque eu era mais forte ou mais corajoso. Não porque eu era especial em algum sentido. Não tinha nada realmente a ver comigo. Era simplesmente pelo fato de que ali eu já havia tomado a minha decisão. Eu já havia emitido minha própria sentença na corte ninja, por ter escolhido você em detrimento de Konoha.

 

Eu estaria mentindo para mim mesmo se quisesse dividir meu motivo para fazer o que estava fazendo em duas partes. Como Hokage, eu não queria admitir a minha motivação mais forte, mas era algo que eu não podia mais esconder. As pessoas suspeitariam.

 

Observei enquanto o deus da morte sorria maliciosamente para mim, e o espectro da minha alma se projetava entre nós, envolto em seus cabelos prateados. Ele levantou uma mão com um terço de contas, se preparando, e um arrepio gelado me passou pela espinha, mas foi logo defasado pelo torpor da letargia.

 

Eu voltei a olhar para meus olhos refletidos nos da raposa como se eles pertencessem a outra pessoa, seu choro alto ecoando em algum lugar paralisado da minha mente. A raposa-demônio praguejava. Fechei os olhos, enquanto a sensação estranha de dormência começava a se alastrar novamente.

 

As palavras da Kyuubi correram na minha cabeça sem som, como se eu as estivesse lendo ao invés de estar ouvindo-as. Até que eu cheguei a uma parte onde todas estavam escritas em letras maiúsculas, e a urgência do conteúdo me golpeou como uma bigorna na cabeça, me fazendo ter a sensação de que eu fora empurrado e caíra estatelado no chão. Porém, abrindo os olhos, eu vi que estranhamente ainda estava de pé.

 

A raposa rugiu ameaçadora novamente, as correntes se soltando de forma gradativa.

 

“Tu não poderás me selar em si mesmo! Eu sou deus! Sou exaltado entre as nações! Meu chakra é infinito e temido nos confins da terra!! MORRERÁS, HUMANO!”

 

Fator quatro: Separação de Chakra

 

Eu tive que sorrir, dado à insinuação da raposa. Eu sabia quem eu estava enfrentando, eu tinha consciência do que estava fazendo. Eu sabia muito bem que não sobreviveria. Que tipo de ameaça é capaz de coagir um homem fadado a morte?

 

A única coisa que eu tinha em mente era o meu pesadelo, agora relembrado. Eu não permitiria que Madara jamais colocasse suas mãos na Raposa de Nove Caudas novamente. E só havia uma maneira de fazer isso.

 

“Você tem razão, seu chakra é grande demais para ser selado apenas no meu corpo.” Eu confessei. “Além disso, você conseguiria se libertar facilmente com tal poder. Porém, chakra e corpo trabalham juntos, exatamente como o Yin e Yang. Sendo assim...” Olhei novamente para você no chão, e comecei a fazer uma longa seqüencia de selos. “Eu vou separá-lo em dois, para que nunca possa se libertar…”

 

Agora eu me lembro bem. Isso remonta nos meus tempos de ANBU, onde um dos membros do meu esquadrão era um homem que usava uma máscara de águia.

 

Nós nunca mostrávamos nossos rostos durante o serviço, mas qualquer um de nós reconheceria facilmente sua austeridade como sendo padrão de um dos membros do tradicional Clã Hyuuga. Hyuuga Hizashi – o gêmeo do shinobi que me anunciara a Kyuubi.

 

Lembro de observar durante algumas missões em como os movimentos dele eram leves, fluidos, quase como se fossem incapazes de infligir dano. Não eram golpes duros e brutos. Não eram pancadas de força. Eles eram de uma forma fascinantemente flexível, quase gentil. Quase como uma dança.

 

“Não seja ridículo.”

 

Ele disse, fazendo uma careta ao ouvir meu comentário e jogando a máscara para um lado qualquer. É até engraçado comparar a forma como as pessoas se comportavam ao meu redor antes que eu me tornasse Hokage.

 

“É verdade. Se eu já não tivesse experimentado o Jyuuken na pele, juraria que se tratava de balé ou algo assim.”

 

Recebi um soco amistoso no braço, o que tornou irresistível a piada de que eu preferiria mil vezes um golpe normal como aquele a ter meus tenketsus tampados. Hizashi assentiu com a cabeça e prometeu que se um dia viéssemos a nos atracar em uma batalha irracional ele tentaria ter piedade da minha corrente de chakra.

 

Consta nos parâmetros toscos de Jiraiya-sensei que existem três coisas que não se deve fazer em uma briga:

1)    Xingar a mãe;

2)    Puxar o cabelo;

3)    Zoar com os tenketsus alheios.

 

“Mas, falando sério, é uma pena que o estilo dos Punhos Leves seja restrito ao seu clã. Quem sabe as possibilidades que eu teria se pudesse somar o Jyuuken aos meus dotes fabulosos...?” Eu disse, com uma falsa falsa modéstia, e o Hyuuga me olhou descrente. “Imagine só como os exércitos adversários me anunciariam, ‘Corram para as colinas, lá vem o relâmpago dourado bailarino de Konoha!’”

 

Eu sei que Hiashi quase morreria do coração se ouvisse uma coisa dessas, mas diferente de seu irmão gêmeo, Hizashi levou na brincadeira. Ele era um dos poucos que não ostentava o exibicionismo Hyuuga como uma medalha olímpica, apesar de ser quase tão estóico quanto qualquer um deles.

 

“Você é impossível.” O ANBU da Águia lamentou, em uma tentativa falha de não rir. “Não acho que precise de mais um título bizarro adicional... Os inimigos já fogem rápidos como gazelas o suficiente quando vêem a sua sombra chegando.” Ele parou por um instante, percebendo algo. “E o que diabos você pensa que sabe sobre o nosso estilo, caro Lince?”

 

“Não muito.” Confessei, lembrando de retirar a máscara branca de lince para qual ele apontara quando se dirigira a mim. “Só o que... todo mundo sabe.”

 

“Que seria?”

 

“Que se chama Jyuuken, o taijutsu de punhos leves. Usado lado a lado com o doujutsu byakugan... E...” Desisti levantando as mãos e me rendendo. “Isso é tudo o que sei.”

 

Ele pensou durante um momento, considerando se deveria me explicar ou não. É bem provável que fosse seguramente advertido a manter os segredos Hyuuga portões adentro... Porém, por um segundo, pude jurar que vi um brilho de rebeldia em seus olhos brancos. Logo após Hizashi começou a concentrar chakra nos dedos da mão esquerda.

 

“O que faz a diferença no Jyuuken é que os jutsus estão enquadrados dentro do princípio do Hakke.”

 

Franzi as sobrancelhas, demonstrando pouco ou nenhum entendimento.

 

Hakke?”

 

“Exato, os ‘Oito Trigramas’, também conhecidos como ‘Oito Sinais de Divinação’. Esse era um sistema muito usado pelos antigos para adivinhação da sorte e leitura de presságios. Mas com o tempo, acho que o conceito foi reduzido a se tornar parecido com o do Maai, o espaço de ataque até onde com um passo você consegue atingir seu oponente.” A imagem de Hiashi executando o chamado Hakke: Rokujuuyon-shou me veio à cabeça instantaneamente. “Dizem que se o adversário entrar no círculo do Hakke é humanamente impossível fugir dos ataques.”

 

“Dizem?”

 

“Sim...” Ele abaixou a cabeça, pensativo e ligeiramente incomodado. “Para falar a verdade só sei o básico sobre os Hakkeshou, já que somente são ensinados para a Família Principal.”

 

De súbito, a curiosidade começou a me roer.

 

“Só para a Família Principal...”

 

Eu repeti, tentando manter minha voz no tom mais desinteressado o possível. Ainda não havia muito que eu compreendesse sobre a divisão extremamente incoerente e nada ética da família dele. A voz de Hizashi perdeu o tom amargo que ganhara e subiu uma oitava.

 

“Mas a questão é que o Hakke não é necessariamente dependente do byakugan. É apenas uma maneira diferente de enxergar as coisas.” Enquanto falava ele desenhou o diagrama Taiji - conhecido como símbolo Yin Yang - no chão de terra. “Você vê, por se basear no Hakke, o Jyuuken parte do princípio de usar a fluidez da corrente de chakra contra si mesma. Se considerarmos o chakra como sendo uma energia de dois pólos, como o Yin Yang, ela é estável e difícil de ser cortada por ser equilibrada.”

 

Decerto, isso fazia algum sentido. O princípio do Yin Yang era baseado no equilíbrio entre os desiguais. Mesmo sendo diferentes, os lados preto e branco possuíam uma semente do outro em si, se complementando, incapazes de existirem um sem o outro.

 

Sendo assim, se o equilíbrio fosse quebrado, se os pólos fossem separados e impedidos de coexistirem lado a lado, o que aconteceria? Se o chakra funcionava exatamente como o diagrama Taiji, se ambas as polaridades que eram responsáveis pelo equilíbrio fossem separadas, ele se partiria?

 

“Isso mesmo.” Hizashi respondeu. “É assim que funciona o Jyuuken. Somos capazes de partir objetos feitos de chakra e impedir a circulação das correntes de energia justamente porque com o Hakke somos capazes de separar as polaridades do chakra, e assim impedi-lo de se concentrar.”

 

Aquilo me acendeu uma luz.

 

Sabe, exatamente como nos desenhos animados, como quando um personagem tem uma idéia e lhe aparece uma lâmpada acesa sobre a cabeça. Enquanto caminhava para a Torre Hokage para apresentar meu relatório ao Sandaime, senti uma urgência de saber mais sobre o diagrama Taiji e os ‘Oito Trigramas’. Como se um dia se eu não o soubesse, isso desgraçaria tudo. Como sentar para fazer a primeira prova do Chuunin Shiken sem saber responder nem ao menos uma questão.

 

Devo confessar, era estranho. Desde que eu me tornara o Lince da ANBU, pra mim a vida havia se tornado uma questão de segundos, cada um deles minuciosamente esquadrinhado. E como se já não bastasse, eram tempos de guerra. Não se vivia muito como um ANBU a menos que se quisesse ver uma hora ou outra sua cabeça e corpo separados, há metros de distância um do outro.

 

Ser shinobi já era sentir a morte passando e sacudindo seus cabelos como o vento. Mas ser um ANBU era ver a morte. Era ver a morte de olhos bem abertos.

 

Sendo assim, naquela época eu já havia começado a queimar a vela em ambas as pontas. Passara a sorver o tempo como uma droga, mas não importava a quantidade, nunca era o suficiente.

 

Era como estar com síndrome de abstinência. Era como querer gritar em um lugar que exigia silêncio absoluto.

 

Quando me dei por mim me peguei desenhando o círculo do Hakke no papel do relatório. No centro o diagrama Taiji, o Yin Yang, seu círculo equilibradamente majestoso. Nas bordas os ‘Oito Trigramas’, a circunferência do Hakke delineando-se como um desenho infantil, sem uma real razão para existir.

 

Passei certo tempo mais observando o modo como os Hyuuga lutavam, e cozinhando a idéia do jutsu em banho-maria na minha cabeça. Antes mesmo de criar o Rasengan. Antes mesmo de começar a pensar nos princípios do Hiraishin no Jutsu. Antes de sequer sonhar em gerar o Shiki Fuujin. Aquele foi o primeiro jutsu que eu criei.

 

Usando como base o que Hizashi me dissera e muitas outras pesquisas em livros tão antigos quanto esquecidos, como o I Ching, o conceito da divisão completa de chakra se formou. Mas ironicamente foi pouquíssimo usado.

 

Uma coisa era fazer o que a elite Hyuuga fazia: separar e isolar pequenas partes da corrente de energia. Outra coisa completamente diferente era separar totalmente o chakra de uma pessoa. Somente a lembrança da única vez que eu o fizera me arrepiou os cabelos da nuca quando a memória me deixou e eu voltei forçadamente para o presente. A constatação do porquê o destino me causara naquela época a sensação de urgência.

 

Os olhos da Kyuubi se arregalaram e ela recomeçou a praguejar, se sacudindo com mais fúria ainda contra suas amarras. Se não estivéssemos dentro de uma ilusão de dimensão, temo que o planeta correria sérios riscos de sair de órbita.

 

Mas a ilusão não tocava o chão. Apesar de o monstro estar revolvendo todo o ar ao seu redor, o tremor não abalava o lugar onde você estava – ele não podia tocá-lo ou abocanhá-lo de surpresa, como fizera no meu pesadelo. Tendo isso em mente, continuei. Eu podia suportar as rajadas e cortes de vento sem problemas contanto que você ficasse ileso.

 

A curta seqüência de selos fluiu com facilidade, e uni ambas as mãos, abrindo-as logo depois emparelhadas lado a lado. Agora elas mostravam nas palmas o diagrama Taiji: o Yin Yang e a superfície da circunferência do Hakke, que se duplicava abaixo dos meus pés.

 

Não deixei tempo o suficiente de raciocínio passar. Eu sabia que esse jutsu causaria uma dor excruciante. Eu não deveria ter tempo o bastante para pensar em desistir dele.

 

Sendo assim, estiquei os braços para os lados opostos, separando a parte Yin da parte Yang. A pressão exercida foi como se eu estivesse tentando separar ímãs de polaridade inversa na marra. As duas partes se atraíam com tanta força eletromagnética que minhas mãos foram várias vezes forçadas a quase se unir de novo.

 

Não fiz caso disso.

 

Com um rompante de ignorância separei os lados de uma vez, o lado Yin – negro – na minha mão esquerda, e o lado Yang – branco – na minha mão direita. O diagrama Taiji partiu-se em pedacinhos.

 

Corri, fechando o espaço curto entre mim e a Kyuubi, seu rugido ensurdecedor penetrando nos meus ouvidos impiedosamente. A sensação era estranha. Como se ao invés de estar correndo em velocidade eu estivesse caminhando, meus passos indo vagarosamente na direção do monstro, quase como se eu estivesse andando debaixo d'água.

 

Foi apenas uma investida. Minhas palmas tocaram o couro do monstro com selvageria, marcando uma trilha no ar respingando sangue.

 

“Hakke: Chakra Wakedori!”

 

Assim como o Taiji nas minhas mãos, o chakra deixou as minhas keirakurei partindo em direção às correntes de energia continuamente renovável do demônio. Talvez se eu tivesse o byakugan poderia ter visto enquanto as duas polaridades se separavam, uma para cada lado dentro da raposa, seu chakra gigantesco se tornando inútil. Mas ainda assim querendo me fatiar como pizza à francesa com rajadas de Fuuton.

 

Heh. Eu queria ver a cara de Madara juntando os pedacinhos de seu monstro preferido se quisesse usá-lo de novo.

 

Ouvindo os urros da Kyuubi, a força começava a querer me esvair teimosamente, minhas pernas tremendo. Tentei de tudo para manter minhas mãos paradas e continuar executando o jutsu, enquanto esperava o momento em que dor agonizante explodiria por todo o meu corpo. Seu chakra era tão gigantesco que separá-lo era quase o mesmo que com força humana tentar dividir continentes por sua linha fronteiriça. Uma total loucura.

 

O monstro rugia enlouquecidamente, fazendo minhas mãos chacoalharem com o excesso de esforço. Eu podia ouvir ao longe o seu choro, e ele estava me deixando aterrorizado. Incomparavelmente mais aterrorizado do que com a poça de sangue que começava a se alastrar debaixo dos meus pés, e a fraqueza que começava a me fazer vacilar.

 

Foi então que com um estampido o processo terminou. O pico de chakra partido me empurrou três metros de distância, me fazendo cair desajeitadamente próximo a você.

 

Eu tinha dividido o chakra de um bijuu sem ter meu sistema nervoso despedaçado em frangalhos. Sem morrer de dor ou gritar. Eu não sabia dizer o que era mais forte, o alívio ou o choque. Fiquei parado no chão por três segundos esperando que algo viesse. Porque alguma coisa devia estar vindo. Se não fosse a dor seria a letargia. Eu esperei, mas nada aconteceu.

 

“O que está esperando?”

 

A voz no escuro me despertou, fazendo meus sentidos entrarem novamente em total alerta. Todos os outros sons haviam desaparecido. A Kyuubi havia sumido. Olhei ao redor, ainda sentado desajeitadamente no chão, a poça de sangue abaixo de mim tinha parado de jorrar. Tentei me levantar esperando a instabilidade que a hemorragia estava me causando, mas fui recepcionado com nada. Absolutamente nada.

 

Será que eu estava sonhando outra vez? Será que tudo não havia sido apenas um pesadelo louco e extremamente real, como aquele de antes? Uma hora eu acordaria. Acordaria aos berros e veria que apenas tinha adormecido outra vez, com Kushina desesperada tentando me acalmar. Minha Kushina. Minha Kushina viva. E os Uchiha apenas como a personificação do mal em meus sonhos. Talvez fosse tudo bobagem, delírios causados pelo estresse da vida de Hokage.

 

Porém, mesmo assim, só havia escuridão e silêncio ao meu redor. Um silêncio opressor, que me deixou ansioso. O que eu poderia fazer para acordar?

 

“O que está esperando aí?” A voz sussurrou de novo, me fazendo virar em um impulso em sua direção. “O que está esperando?”

 

“Ah.”

 

Foi tudo o que pude dizer. A imagem à minha frente era como um espelho - e um espelho muito estranho, devo acrescentar. Um par de olhos azuis vivazes, que apesar de me encararem de forma divertida estavam olhando hiperativamente para vários outros lugares ao mesmo tempo.

 

Fios arrepiados de cabelos loiros se misturavam em direções contrárias acima de um hitaiate preto de Konoha. Seu sorriso largo não era como o do homem de olhos vermelhos em meu outro sonho. Ele não machucava seu rosto, pelo contrário, apenas amaciava suas feições. De modo tão radiante que qualquer um sentiria uma vontade incontrolável e imediata de sorrir também.

 

Olhei-o de cima a baixo algumas vezes, incrédulo, enquanto ele apenas sorria de volta para mim. Mas o que diabos estava acontecendo?! Por que os meus sonhos nunca faziam sentido algum?

 

Aquele era Namikaze Minato por volta dos quinze anos de idade. Aquele garoto era eu. Até que uma única palavra tirou o chão debaixo dos meus pés.

 

“Otou-san?”

 


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Notas finais do capítulo

Minato-sama agradece que algumas pessoas estejam odiando-o menos por ter selado a Firefox no pobre protagonista. Porém, apenas reviews irão impedir que ele mate três quartos do elenco de "Naruto" por terem permitido que seu filho tivesse por melhor amigo um emo revoltado.