Just Harry escrita por The Escapist


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/116808/chapter/2

Harry acordou e sentiu seus lençóis sendo puxados mas se recusou a abrir os olhos. Sirius foi até a janela e abriu as cortinas, a claridade invadiu o quarto e Harry praguejou baixinho com a cara escondida nas almofadas.

— Bom dia, Sr. Potter. — Harry não se mexeu; Sirius foi ao closet e pegou o uniforme da escola, colocou em cima da cama. — Imagino que o senhor saiba que está atrasado. — Harry tinha puxado os lençóis de volta. — É claro que a decisão de agir como criança é inteiramente sua, o meu trabalho é garantir que você chegue na escola na hora certa. — Sirius arrancou o cobertor e Harry finalmente se levantou; seus cabelos rebeldes e despenteados e uma cara de poucas de poucos amigos. — Quer ajuda com o banho, senhor?

— Você consegue ser uma pessoa extremamente irritante, Sirius. — Harry bufou, divertindo o mordomo. — Você não acha que escola é uma coisa inútil?

— Sempre achei, senhor. — Sirius deu um pequeno sorriso, depois olhou para o relógio e fez uma cara séria para Harry. O garoto foi para o banheiro arrastando os pés e reclamando; Sirius o deixou sozinho para se arrumar, voltou dez minutos depois trazendo uma bandeja com o café da manhã; encontrou Harry calçando os sapatos.

— A Srta. Weasley telefonou. — Harry levantou a cabeça, com uma expressão surpresa, embora não fosse surpresa Giny telefonar, ela tinha ligado algumas vezes nos últimos dias e em todos ele pediu para lhe dizer que não estava, sem saber exatamente porque estava evitando Giny, já que Hermione não deixara nenhum sinal. Mas, como era o primeiro dia de aula, não tinha como fugir.

Harry comeu apenas uma maçã, colocou a gravata e vestiu o terno; apanhou a mochila.

— Boa aula, Harry.

— Obrigado, Sirius.

Desceu para a garagem e parou indeciso entre ir para a escola de Ferrari ou de Ranger Hover; como ia passar na casa dos Weasley para buscar Giny, era possível que também desse carona ao Ron; decidiu ir de Ranger Hover. Conectou o Ipod e escolheu um álbum de Jay-Z para ouvir. Dez minutos depois virou à esquerda na rua dos Weasley; de longe avistou Giny e seus inconfundíveis cabelos ruivos, lisos soltos e brilhantes.

Parou o carro junto da calçada e baixou os vidros; Giny sorriu, guardou o espelho na bolsa e entrou; antes que Harry abrisse a boca dois braços voaram no seu pescoço e a garota lhe beijou.

— Senti saudade — disse ela abrindo um largo sorriso.

— Eu também. — Harry esperou que ela reclamasse da mentira, mas Giny voltou a beijá-lo.

— Eu senti muita saudade. — Harry riu, quase tinha esquecido como era ficar com Giny. — Ok, vamos para a escolar, e eu quero que você me conte tudo que aconteceu nas férias. Sabe, seus pais foram terríveis te obrigando a ir pra Escócia, aposto como você quase morreu de tédio, não foi? Harry?

— É, sim, foi entediante, muito.

— Eu também não m diverti tanto.

— E, ahm, cadê o Ron?

— Ele já foi, você não vai acreditar, ele comprou um carro, quer dizer, ele diz que é um carro. — Harry se concentrou em dirigir enquanto Giny contava todos as novidades, o que tinha acontecido, as fofocas das férias. Definitivamente ele quase esquecera como era ficar com Giny.

***

Harry xingou quando procurou uma vaga no estacionamento e encontrou a sua ocupada. Ele olhou bem para o carro estacionado ali, o dono daquela lata velha ia se arrepender. Acontece que o dono de um Ford Mustang vermelho de tinta desbotada, provavelmente devido à velhice, tinha estacionado o seu carro entre as máquinas Audi, Mercedez, etc. Harry encontrou uma vaga já no fim do estacionamento, ao lado de um Anglia azul.

— A nossa escola virou o ferro velho, agora? — disse irritado, Giny mordeu o lábio. — Aquele é o Ron? — Harry apontou para um garoto alto de cabelos ruivos quase na altura dos ombros, que conversava animadamente com outros dois colegas. — Eu vou falar com ele. Vejo você depois, ok?

— Ok. — Giny beijou Harry novamente e foi para dentro da escola. Ele caminhou até os colegas.

— Hey, Ronald Weasley. — Deu um abraço no amigo cobrindo-o de tapinhas nas costas. — Finingham, Thomas. — Cumprimentou os outros dois com um aceno.

— E aí, Harry? — Os quatro colegas conversaram por cinco minutos, falaram das férias. Simas Finingham parecia ansioso para contar sobre o mergulho com tubarões ou coisa do tipo, mas Harry não estava interessado e normalmente quando ele não se interessava por um assunto, os colegas não falavam dele.

— E o que houve com a Ferrari? — perguntou Dino Thomas. — Não quer dizer que já enjoou dela?

— Não, eu só quis variar um pouco.

— Eu vou ganhar um Porsche — disse Simas. — Só preciso de algumas notas boas. — Harry viu que seu amigo Ronald mordeu o dedo tentando controlar o riso, o que ele mesmo não conseguiu fazer; era óbvio que seria mais fácil o professor de Química deles dançar mambo no pátio da escola que Simas tirar algumas notas boas.

— A propósito, Weasley, sua irmã disse que você comprou um carro... — disse querendo mudar de assunto, mas viu as orelhas de Ron ficarem vermelhas.

— Bem, é verdade.

— E cadê a máquina? — Ron, está passando mal?, pensou Harry, já preocupado com o vermelhidão no rosto do amigo. Ron olhou desconfiado para o Ford Anglia. — Ah, esse é o seu carro? — O azul desbotado contrastava com o preto luminoso da Ranger de Harry. — Ele olhou para Dino e Simas, ambos pareciam prestes a cair na risada e Ron, definitivamente, ia ter um AVC. Harry balançou a cabeça. — É sério, cara? Ei, essa pintura, aposto que é a original?

— É...

— Incrível. E o motor?

— Não é nada mal.

— Eu só acredito vendo, claro.

— Eu deixo você dar uma volta depois da aula. — Harry deu uma risada junto com Ron, os outros dois não demoraram a se sentirem excluídos da conversa dos amigos. — Eu pretendia reformá-lo, sabe, só que eu acabei gastando toda a minha grana na Califórnia.

— Seu pai te deu o carro?

— Não, eu tirei o dinheiro da poupança.

— Da faculdade?

— A proposta era irrecusável.

— Seu pai ficou furioso?

— Um pouco mais que furioso?

— Então tudo bem. Você sabe quem é o idiota que estacionou na minha vaga?

— Neville Longbottom, eu acho.

— Longbottom, quem é?

— Um nerd, míope, que anda olhando para os pés.

— Estuda aqui?

— Na nossa sala.

— Sério? — Harry deu uma risada e os dois amigos foram para dentro da escola.

Ron contou sobre as férias na Califórnia. Harry estava em dúvida se contava sobre Hermione, tinha vontade de falar nela, ter um pretexto para dizer seu nome e olhar aquela foto tirada com o celular. Mas Ron é irmão gêmeo de Giny, talvez não fosse uma boa ideia, e como Hermione agora era só uma lembrança, era preferível que fosse uma lembrança só sua.

XXX

HERMIONE estava sentada no banco do carona no carro do pai, roía as unhas e balançava o pé freneticamente. Pela janela via os colegas chegando à escola, cumprimentando-se reencontrando-se, todas pareciam tão amigas.

— Hermione, calma — disse o Sr. Granger, sorrindo carinhosamente para a filha.

— Eu estou calma.

— É só uma escola, como qualquer outra, ok?

— Ok, está bem, eu vou entrar.

— Boa sorte, querida.

— Obrigada, papai. Tenha um bom dia. — Hermione recebeu um beijo do pai e pegou a mochila, desceu do carro e deu um último aceno, o Sr. Granger sorriu e foi embora.

Hermione se virou para o prédio e suspirou, caminhou lentamente pelo gramado na direção da entrada, observando atentamente todos os detalhes. À primeira vista a Hogwarts School não parecia diferente de outra escola, mas à medida que entrava, Hermione percebia que não era verdade. O prédio era ladeado por gramados verdes, quadras de tênis, vôlei e basquete e uma piscina olímpica.

Hermione entrou no prédio e teve a impressão de estar num clube; o saguão tinha sofás e pufes bem arrumados, alguns alunos sentados conversando; uma TV de plasma enorme na parede estava ligada na BBC; tinha também uma mesa de sinuca e uma de pebolim, e mais para a direita estava a lanchonete. Com certeza muito diferente da escola pública de Liverpool, pensou Hermione.

Os alunos passavam por ela sem parecer notar sua presença, o que ela considerava positivo, afinal, precisava passar entre eles para chegar às salas de aula, se pudesse não chamar a atenção seria mais agradável. Ela sentiu um empurrão nas costas e um garoto alto e forte murmurou um pedido de desculpas irritado, se afastando rapidamente.

— Sem problemas — disse, e ao se virar voltou a esbarrar em alguém; dessa vez várias folhas de papel voaram das mãos de uma garota. — Oh, me desculpe.

— Não tem problema. — A menina que tinha os cabelos muito loiros e a pele branquíssima, sorriu e se abaixou para ajudar Hermione a juntar os papéis.

— “Profeta Diário” — Hermione leu numa das folhas. — O que é?

— O jornal da escola. Eu sou Luna Lovegood, editora-chefe. — Luna estendeu sua mão para Hermione.

— Hermione Granger. E eu sou, ahm, novata.

— Legal. Quer me ajudar a distribuir o jornal?

— Claro — Hermione respondeu na dúvida; leu o título da manchete no jornal, “Aquecimento global é sua culpa”; o texto, assinado pela própria Luna Lovegood, apontava uma série de atitudes banais que as pessoas faziam toda hora e que estavam entre as causas da emissão de CO² na atmosfera, além de criticar duramente as pessoas que não tinham nenhum pingo de consciência ecológica. — Interessante.

— Profeta Diário — Luna disse entregando o jornalzinho a um colega; mas o garoto amassou a folha e jogou praticamente nos pés dela; Hermione ficou indignada, apanhou a folha e botou na lixeira. — Acho que você entendeu!

— Sai da frente, Di-Lua! — Hermione se impressionou porque Luna sorriu para o garoto que estava sendo tão grosseiro com ela, e por sinal era o mesmo que esbarrara nela há pouco tempo.

— Vejo que você continua gentil como sempre, Wood.

— Maluca — o garoto disse e se afastou.

— Bom, bem vinda a Hogwarts, Granger — disse Luna, reparando na cara assustada de Hermione. — Não se preocupe, nem todos são como o Wood. Ele é até legal, para dizer a verdade. — Luna deu de ombros.

— Ele é legal?

— O cara tem o cérebro de uma ameba, não é estranho que ele não consiga se comunicar com humanos. — Hermione deu uma risada, aprovando o sarcasmo de Luna, e contente pelo fato de a primeira pessoa a conhecer na nova escola ser ela.

Hermione logo descobriu que estava na mesma turma que sua recém amiga e enquanto caminhavam para a sala, as duas continuavam distribuindo o Profeta Diário.

***

Harry deu um tapa na cabeça de Ron quando o amigo contava, cheio de si, que tinha ficado com duas garotas de uma só vez na Califórnia.

— Qual é, Weasley, guarda essa para o Simas e o Dino.

— Eu tô falando sério, Harry.

— Sei! Quer dizer que você transou com duas americanas, na mesma noite?

— Fala baixo, Harry... Na verdade, foi na mesma hora, um “ménage a trois”.

— Eu fiquei tão feliz quando perdi a virgindade?

— Poxa, Harry, qual é! E você?

— Eu o que?

— Como você se divertiu na Escócia, quer dizer, alguma escocesa ou escocesas? — Harry encarou o amigo tentando fazer uma expressão de indignado.

— Minha namorada é a sua irmã, Ronald.

— Eu sei, Harry... E sei também que você não é nenhum santo! Sério, pode me contar, eu não vou dizer nada para Giny... Bem, antes com outra que com ela... — Harry tossiu e Ron ficou vermelho.

— Eu, só, fiz coisas chatas, na Escócia — Harry disse e Ron tratou de desconversar; se seu melhor amigo andava transando com sua irmã, ele preferia continuar na ignorância.

— Ih, olha lá, a Di-Lua fez uma amiga — disse batendo no braço de Harry e apontando para as duas garotas que distribuíam panfletos perto da porta da sala de aula.

— Profeta Diário. — A garota entregou a folha a Harry e levantou a cabeça, seu sorriso era o mesmo da última vez que Harry a vira. Hermione teve a impressão de que o tempo estava parado, estava cara a cara com o garoto que pensou que nunca mais veria e não sabia o que fazer. Harry tampouco teve qualquer reação.

— “O aquecimento global é sua culpa”, eu não vou dormir mais, não é, Harry? — Ron debochou recebeu um olhar fuzilador de Luna.

— Vamos para a aula, Granger — disse e entrou na sala. Hermione a seguiu, mas ainda olhou para trás, porém não falou nada com Harry. — Idiotas.

— Quem? — Ao invés do sorriso que deu quando Wood lhe chamou de maluca, Luna parecia realmente irritada.

— Potter e Weasley, os dois patetas. — Luna ficou olhando os dois entrarem na sala e sentarem-se, já tinha se acalmado e sorriu. — Perto dos dois, o Wood é um gentleman — cochichou porque nessa hora um professor entrava na sala.

Hermione olhou de lado e encontrou Harry encarando-a, mas isso não durou muito, o professor chamou a atenção de Harry, a quem chamou de “Sr. Potter” e o garoto voltou a olhar pra frente. À Hermione limitou-se a lançar um olhar gelado. Ela agradeceu por não ter sido obrigada a se apresentar na frente da turma, mas talvez tenha cometido um grande erro na sua primeira aula. Quando o professor escreveu uma fórmula errada no quadro, ela o corrigiu. Para Hermione isso não era nada demais, qualquer um podia errar e o professor também podia se enganar, e não havia problema em informá-lo do erro, por isso não entendeu porque os colegas pareciam prender a respiração.

— Você está me corrigindo, Srta. Granger? — O professor fitou a garota com seus olhos negros, e ela finalmente entendeu a gravidade do que acabara de fazer. Infelizmente quando leu o currículo dos professores de Hogwarts, o de Severo Snape só destacava o seu talento catedrático em Química.

— Não senhor, eu só...

— Acha que sabe mais que o professor? — Ela sentiu as bochechas vermelhas, e os olhos dos colegas fixos nela.

— Claro que não, senhor, me desculpe, eu só... — Hermione baixou a cabeça, lembrando que seu pai sempre dizia que não adiantava discutir quando se estava em desvantagem, obviamente o professor sabia que tinha cometido um erro, mas não se permitiria admiti-lo em frente à turma toda.

Ela ficou quieta, anotando tudo e só olhou de lado duas vezes a aula inteira, e em ambas encontrou os olhos verdes de Harry lhe olhando, esboçou um sorriso, mas se sentiu ridícula quando ele desviou o olhar sem corresponder ao sorriso.

— Essa garota nova, a Granger, deve ser maluca não é? — Hermione se virou para trás quando saía da aula; o garoto que disse isso estava falando com Harry e o amigo dele. Ela não se importou, voltou a se virar e saiu atrás de Luna.

— Ela anda com a Di-Lua, é claro que ela é louca! — disse Ron. — Ei, Harry, você tá legal, cara? Harry?

— Hum?

— Pela visto o Snape vai pegar muito no seu pé esse ano, pelo menos você já vai ter companhia quando ficar de castigo. — Ron bateu no ombro de Harry, mas ele não parecia ter prestado atenção a nada. — Que deu em você, cara?

— Eu vou encontrar a Giny, falo com vocês depois.

Harry deixou os amigos e saiu à procura de Giny, que tinha ido na frente com as amigas; antes de encontrá-la, porém, deu de cara com Hermione no corredor. Eles quase se esbarraram um no outro.

— Desculpa — disseram ao mesmo tempo; quando Hermione pensou que ficariam ali parados um de frente para o outro sem dizer nada, Harry falou.

— Hermione, ahm, por que você fez de conta que não me conhecia?

— Eu não fiz, você fez!

— Não, eu não, eu só... acho que fiquei meio bobo por te ver aqui.

— É, eu também fiquei um pouco, muito, surpresa.

— Que coincidência, não é?

— Aham. — Hermione não entendia, ele estava ali com o mesmo sorriso, os mesmos cabelos pretos rebeldes, os mesmos olhos verdes, mas parecia existir um escudo separando os dois. Ela não sabia como, mas havia naquele garoto algo de muito diferente do Harry que conheceu na Escócia.

— Harry? — Harry virou a cabeça, Hermione o acompanhou, Giny Weasley estava parada, olhando para os dois. — Hey, eu estava te procurando. — Ela quase correu para abraçá-lo e beijá-lo na boca.

— Eu também estava te procurando.

— Então me achou. E você quem é?

— Essa é a Hermione... — Harry tentou parecer natural e agir como se Hermione fosse uma amiga apenas, mas isso não adiantou, Giny olhou com desdém para a outra garota, e Hermione parecia magoada. Harry lembrou que nunca tinha lhe contado que tinha namorada, agora ela sabia.

— Oi — disse Giny, sem nenhum esforço para parecer simpática, e se virando para o namorado, falou: — Vamos, Harry? — Pegou na mão dele e quase precisou puxá-lo. — Tchau, Hermione. — Harry só conseguiu acenar, mas ainda olhou para trás enquanto se afastava de braço dado com Giny.

Hermione teve a sensação de levar um chute no estômago; havia realmente algo de muito diferente entre aquele Harry e o garoto que ela conheceu na Escócia.

— Ele tem namorada.

— Quem tem namorada? — Hermione ouviu a voz de Luna e se deu conta que tinha falado em voz alta. — Ei, Granger, tudo bem com você? Hermione?

— Ah, estou ótima.

— É impressão minha ou você parece se sentir mexida pelo Harry Potter?

— É impressão sua, Luna.

— Você já conhecia o Potter? — Hermione não respondeu e o seu silêncio não convenceu Luna. — Onde vocês se conheceram? — Hermione pensou que a colega estava começando a ser indiscreta e passar dos limites, elas não se conheciam suficiente para falarem sobre garotos.

— Eu já falei que não o conheço.

— Ah, me desculpa, Hermione, eu pensei que você pudesse estar interessada nele.

— Por que você pensou isso, Luna?

— Porque é isso que acontece, você sabe, todas as garotas acabam se interessando por ele, eu fui com a sua cara desde o início, então pensei que poderia te avisar.

— Avisar?

— Que se você se interessar pelo Harry precisa esperar na fila.

— Ah, obrigada Luna, e não se preocupe eu não tô interessada em ninguém, muito menos no Harry Potter. — Hermione não ficou chateada com Luna porque sentiu que a garota estava realmente querendo ajudar, embora tenha sido sincera demais para o gosto de Hermione, que já tinha percebido que Luna era uma pessoa que fala o que pensa e isso certamente é preferível a qualquer tipo de mentira ou falsidade.

Idiota era como Harry estava se sentindo, ele queria ter falado com Hermione e explicado tudo, por outro lado o que poderia dizer a ela, que tinha esquecido de contar sobre a namorada? Ele tinha mentido, isso era um fato, e Hermione não parecia o tipo de garota que aceitava uma mentira daquelas numa boa. Estava metido numa confusão e não tinha com quem conversar. Como não resolveria sua vida amorosa de uma hora para outra, Harry preferiu resolver outro assunto na saída do colégio.

— Ei, você é Longbottom? — perguntou a um garoto um pouco magro e com aparência de doente que tentava abrir a porta do carro; o garoto deixou as chaves caírem; Giny que estava ao lado de Harry deu uma risadinha fresca. — Neville Longbottom?

— Sou eu... — respondeu o garoto quase gaguejando.

— Amanhã eu não quero ver o seu carro na minha vaga, ok?

— Sua vaga?

— Minha vaga. — Neville olhou para os lados, aparentemente algumas pessoas estavam achando divertido ver o Harry Potter ridicularizar o nerd por causa da porcaria da vaga no estacionamento.

— Desculpa, eu não sabia que era exclusiva.

— Agora sabe.

— Sim senhor, não acontecerá de novo, senhor — Neville falou e Harry percebeu o tom irônico na voz do colega.

— Você está me zoando, Longbottom?

— Claro que não, sir. — Neville se divertiu com o sarcasmo, mas ele mesmo pensou que o outro ia lhe dar um soco, mas Harry não agrediu o colega, a sua decisão de não “quebrar a cara do nerd” era mais por Hermione estar assistindo a cena junto com praticamente todo o colégio, do que pela consciência de que não seria legal arrumar uma briga logo no primeiro dia.

Ele foi para o próprio carro, se sentia ridículo, mas não por ter deixado que um idiota como aquele Longbottom tirasse onda com a sua cara, mas por que tinha discutido por uma bobagem, era ele quem agia como idiota, afinal, vai ver o tal Longbottom é um cara legal, talvez ele goste de Star Wars, pensou, mas não tinha como saber por que não o conhece e nem lhe deu chance de conhecer.

Harry simplesmente se sente superior a pessoas como Longbottom e Luna Lovegood e são essas atitudes mesquinhas que o tornam popular. Harry deu um soco no volante, tentando expulsar o “diabinho” que sussurrava aquelas coisas na sua cabeça.

— Aquele Neville é um idiota — Giny disse e Harry percebeu que não tinha escutado nada do que ela falara desde que chegaram ao carro. — Então não fica assim. Eu queria matar as saudades, o que você acha da gente fazer alguma coisa à noite?

— O que por exemplo?

— Ah, Harry, não sei, você não tem nenhuma ideia?

— Tem o dever de Química para fazer.

— Você prefere o dever de Química?

— Qual é, Giny, claro que não. Mas eu posso dizer aos meus pais que vou estudar na sua casa.

— Ok, eu tenho umas coisinhas de Química para te ensinar, algo que o Snape não faz ideia. — Giny deu um sorriso jocoso e Harry a beijou; o carro estava estacionado em frente à casa dos Weasley, e ele só se separaram do amasso quando ouviram o ronco do motor do carro de Ron. Harry viu a amigo pelo retrovisor — Então, você não quer entrar para dizer “oi” a mamãe? Aposto que ela vai adorar te ver.

— Eu preciso ir para casa, mande um beijo para a senhora Weasley.

XXX

O maior defeito da Hogwarts School, na opinião de Harry pelo menos, era a quantidade de dever de casa; estavam apenas no primeiro dia, tinham tido apenas duas matérias e já havia muita coisa para estudar. Três páginas de exercícios de Química — a prática leva a perfeição era o mantra do professor Snape — e uma redação de no mínimo três laudas para ser escrita em francês. Logo a ideia de dizer que ia estudar na casa dos Weasley foi por água abaixo; mesmo que não houvesse a namorada, os pais sabiam que a casa dos Weasley era o último lugar no mundo onde Harry estudava.

E o que deixou o garoto ainda mais irritado foi que seus pais estavam resolvidos a lhe impor limites, estabelecendo dias e horários para sair de casa. No jantar daquela noite ele foi informado de que só poderia sair à noite uma vez por semana. Tiago tentou convencer o filho de que eles queriam que ele tivesse um bom desempenho na escola. Harry reclamou e fez cena, mas não ligava, o fato de seus pais darem uma ordem não significava que ele obedeceria cegamente, por isso não precisava discutir aquele assunto no momento.

Talvez ter uma desculpa verdadeira para não ir à casa de Giny tenha sido uma coisa boa, afinal, ele deveria se preparar para a conversa que teria com a namorada.

Sentado no seu quarto, resolveu apenas a primeira folha de exercícios de Química, decidiu passar para a redação; escreveu dez linhas e parou. Normalmente falava e entendia francês razoavelmente bem, mas em escrever não tinha muita habilidade; largou o caderno e a caneta, não estava com a cabeça para francês, então lembrou de Hermione.

Ligou o computador e ela lhe sorriu na tela, a mesma foto que tirara com o celular agora servia como pano de fundo no seu notebook. A Hermione da foto, com os cabelos loiros e os olhos cor de mel lhe ameaçava jogar uma uva; Harry fechou os olhos e lembrou daquele dia, aquele beijo. Essas lembranças pareciam estar em outra vida.

— Quem é a garota, senhor? — Harry quase deu um pulo da cadeira ao ouvir a voz de Sirius, que colocou uma bandeja em cima da mesa.

— Poxa, Sirius, você poderia fazer um pouco de barulho.

— Desculpe, não foi minha intenção assustá-lo. Trouxe o seu leite. — Harry riu, até quando Sirius iria tratá-lo como criança, afinal?

— Obrigado, Sirius.

— Não há de que, senhor. Ela é muito bonita.

— Quem?

— A garota na foto.

— É, ela também é incrível.

— Mas você tem a Srta. Weasley? — Era uma pergunta retórica e Harry apenas balançou a cabeça — Está confuso e não sabe de qual das duas gosta?

— Acho que eu não fui legal com a Hermione, a garota na foto.

— O que você fez?

— Eu menti para ela.

— Mentiras não são legais.

— Não... o que eu faço, Sirius? Eu não queria magoá-la.

— Um pedido de desculpa não resolve?

— Não sei.

— Não vai doer se você tentar, Harry; todo mundo erra, você sabe, errar é humano e perdoar é divino; você errou, se arrependeu, diga isso a Hermione e ela vai entender. Mas você tem que ser honesto com ela, e com a Srta. Giny também.

— Parece tão fácil.

— A maioria das coisas são fáceis, mas nós temos a mania de complicar. Bom, é melhor você terminar o seu dever, e não demore a ir dormir. Se precisar de mais alguma coisa, me chame.

— Ok, obrigado, boa noite, Sirius.

— Boa noite, senhor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!