Memories Of a Nobody escrita por dona-isa
- Quero ser como ele, mamãe! - dizia um menino pequeno de olhos grandes, enquanto assistia na TV mais uma façanha do herói que conquistava a cidade e derrotando pela milésima vez seu arqui-inimigo: Lost Shadow.
- Sim, meu querido, você será como ele - ela concorda sorrindo.
No centro da cidade uma multidão apreensiva assiste regozijando-se com a cena do triunfo de Wonderman com o ultimo golpe sobre o inimigo. Ele agradece aos aplausos voando pelo céu da cidade com uma criança nos braços.
Sem que ele soubesse o garoto o admirava pela tela da TV arredondada que era o auge de vendas da época, seus olhos brilhavam, meio iluminado pelas luzes brilhantes da tela, meio iluminado pela alegria em ver seu herói favorito, mesmo estando preto e branco, era como se ele estivesse em carne e osso, olhando em seus olhos e agradecendo sua admiração.
- Querido, está tarde, você tem que ir pra cama, chega de TV por hoje.
- Mas mamãe...
Ela sorri, colocando as mãos na cintura, as unhas vermelhas dando contraste com o vestido de cintura marcada e o batom vermelho dando contraste com a pele e os dentes claros.
- Esqueça, você não irá me amolecer mais com esses olhinhos. Vamos! Vamos! Pra cama já! - ela diz se aproximando e lhe dando leves tapinhas no traseiro enquanto ele corre levantando os braços e imitando um jato.
Mas o que eles não esperavam é que alguém os visitaria.
A mulher olha apreensiva assim que batem na porta, uma batida alta, repetitiva e insistente.
- Papai voltou mais cedo? - o menino pergunta.
Ela não se move, somente observando a porta, sem tirar os olhos dela um segundo sequer. Até que então seus lábios carmins se movem rapidamente, sem desgrudar os olhos da porta.
- Jerry, vá pra seu quarto. Agora!
- Mãe...?
- Fuja! Fuja, Jerry! FUJA!
- Não vou te deixar aqui sozinha...
Era tarde demais, as batidas insistente haviam cessado e dado lugar à um arrombo absurdamente alto e estridente, junto com dois homens entrando feito uma manada de elefantes, indo em direção a mulher que os encarava com ferocidade.
- Parece que você está sozinha, benzinho. - um deles lambe os lábios e dá um tapa no rosto dela, que se agarra na parede e revida com um soco bem dado.
- Vocês não vão conseguir nada aqui, seus imundos!
- Não adianta, seu prazo já acabou, dê o que queremos e vamos embora, ou então teremos que usar a força...
O outro solta uma gargalhada gutural, dando uma cotovelada na testa da mulher a derrubando. Ela se arrastava olhando pra eles com uma cortina de sangue sobre os olhos.
Um deles se aproxima, se debruçando sobre ela e tapando sua boca enquanto o outro a golpeia mais uma vez na cabeça. Finalmente a deixando imóvel.
- Wonderman, nos ajude, Wonderman...
Risadas e murmurios seguidos de gemidos abafados seguiam-se sucessivamente, até que finalmente um tiro alto como um estalo ecoa por todos os lados.
- Vamos embora. - um deles murmura, enquanto se levanta e fecha o zíper da calça - Já está bem claro que o que queríamos não estava com ela.
O outro se levanta, pegando a arma, a limpando e guardando a novamente no cinto, olhando com prazer para o corpo estendido ao seu lado, se deliciando com as pernas semi despidas, voluptuosas e curvilíneas do cadáver pálido.
Ele se retira, mandando um beijo no ar e some pela porta.
O menino finalmente sai debaixo do balcão onde se escondera, mesmo o cobrindo por completo, fora impossível que ele não visse o que acabara de acontecer à sua mãe.
Os olhos ternos e amorosos dela, de repente petrificados, o observavam com pavor, tristeza e dor. Era exatamente o que eles causavam no menino.
Com a mão pequena e gordinha ele fechou os olhos intensos e castanhos da mãe.
- Onde estava quando eu te chamei... Wonderman? - o menino sussurrou, engolindo uma última lágrima.
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