Sabe, eu até imaginei que um dia tudo poderia dar quase certo pra mim. Hoje, vejo que tudo não passou de simples delirio de amores por alguem que simplesmente era proibido pra mim. Estudo com Bruno faz três anos, mas o conheço a 4, devido à circunstâncias que possam ser descritas como sendo... o destino, ou não.

Não se preocupa não, Armand, isso é coisa de adolescente!

O que ele disse a mim, quando as coisas saíram de controle, ecoaram na minha cabeça por um mês exato, e descobri que eu deveria esquecer isso tudo e gostar de mulheres. Eu até tentei... Mudei meu cabelo, tudo em mim... As pessoas gostaram da minha mudança, mas Bruno, com seu jeitinho timido, infantil e doce, sempre dizia coisas que não fariam muito sentido a mim. No meu aniversário de 16 anos, fora no Strike 60, de boliche sabe... E, ele estava tão lindo, como sempre foi, desde que eu o conhecera. Enfim, o ano estava acabando, e eu estava me preparando pra ir para o quinto dia de aula de recuperação.

-Bom dia, tia Drica. - cumprimentei a mulher loira, que vem me acompanhando esses anos todos. - A gente ja vai ou vamos ter que esperar a Becca? - Becca é minha prima.

-Ela já ta vindo, filho... - ela me abraçou. - Tá mais bonito hoje, o que foi já?

-Sério? Tô bonito? São seus olhos!

Ela riu.

- Que nada... Já tomou café?

-Aham.

Esperamos Becca por mais 5 minutos... Cinco minutos que me fizeram pensar se Bruno ficara de Recuperação ou não. Ah, claro que não. Ele passou de ano direto... droga.

Ao chegar na escola, vi que muita gente ficou de recuperação, e quando  estava subindo a escada, lembrei de Caio, meu amigo que conheço vai fazer um ano... Ele é um cara muito legal e, tambem estou confuso sobre ele. Vivo brigando com ele pelo MSN, mas sei que ele me ama (como amigo, é claro). Caio é um garoto de 15 anos, ele é bem branco, e tem olhos... Cor de mel, talvez mais claro que o do Bruno, o garoto pelo qual sinto que estou apaixonado. Quando entrei na sala, fui logo falar com Anísio, um garoto baixinho e esperto que estudo faz três anos.

-Diz aê Zico - não sei de onde peguei esse apelido pra ele.

-Oi Armand... - disse ainda sem levantar da cadeira, estava parecendo muito triste...

-O que foi já? - perguntei, sentando ao lado dele.

-Nada.

-Quem nada é peixe!

-Eu nado e não sou peixe.

-Mas, também tem motivo pra explicar essa tristeza toda.

-Ah, ok. - ele se ajeitou na cadeira e arrumou o cabelo super cacheado que tinha. - Os gatinhos morreram!

-O que?!

-Os gatinhos da Mel!

-Como morreram? Assim, do nada? - perguntei, frustrado já.

-A Mel matou eles!

-Gata filha da puta! - sentei na cadeira e comecei a pinchar. - e o que voce fez?

-nada né. A gata não é minha, só os gatinhos que eram meus.

-Puta que pariu mesmo...

A aula começou e quando acabou o horário de Matemática, saí correndo procurando por Caio. Eu o encontrei na biblioteca, desenhando umas coisas. Resolvi assustá-lo. Mas, o filha da puta só deu um socão no meu braço.

-Ai, caio! Pega leve aê , irmão. - ele não falou nada, sempre me deixa no vácuo. Por isso que acho que amo ele, ele é muito fofo e... me doma.

-Bora sair daqui? Ir lá pro estacionamento? Eu liguei pro meu pai pra ele vir me buscar, não tõ me sentindo muito bem.

Silencio por uns instantes. Fiquei olhando para os olhos dele... São muito lindos, sabe?

-Ei, Caio, o que voce acha da gente sair? Tu, eu e o Thales?

-Ah, tá... Anda, vem!

Segui ele até o estacionamento, onde ficamos conversando e escutando musicas... Caio é uma pessoa muita engraçada, mas ao mesmo tempo muito enjoada ( pelo menos comigo, mas eu amo ele demais). De longe eu vi o carro vermelho do pai dele. E já estava falando isso pra ele, quando do nada le me abraçou do nada.

-Que foi?

-Nada ué u-u' - fiquei rindo. Ele é bem estranho as vezes. Não mais que eu, com certeza.

-Teu pai ja chegou.

-Oks. - ele se levantou, e eu o ajudei a juntar as tralhas de desenho. - Você entra no MSN hoje?

-Nem sei... Mamãe tem pegado muito no meu pé. Mas, se eu conseguir entrar, eu grito lá!

- Beleza. Tchau, Armand.

-Tchau.

Acenei "tchau" pra ele, e ajeitei meu casaco. Estava realmente frio aquela manhã. Fui pra casa andando mesmo, eu realmente queria tempo pra pensar