Vamos, converse comigo, diga-me seus sonhos. Pergunto-lhe quais são e você me dirá cada detalhe por mais insignificante que este seja, pois isso transforma um livro interessante, saber as verdades por trás da escrita. O escritor. A fama. O sonho, que o motivou a chegar ao topo, pena que a realidade sendo deixada para trás, se torna dolorosa para um escritor que vive dos sonhos, este seria o carma a ser carregado, mas como uma jovem inocente, que nunca nem mesmo realizou o seu maior sonho, poderia lidar com tantos mais.

 __Pois não moçinha? –Uma velha senhora muito gentil de óculos perguntava por traz de um balcão enorme.__Qual deles você gostou?!

__Deles? –Eu apontava para um monte de livros extremamente sujos de poeira em cima de uma estante alta de mais para mim.

__Sim, Deles qual você quer alugar? –Ela se levanta da poltrona e anda ate onde o livro estava.

__Bem...

Estava em duvida, Qual dos livros iria levar, nenhum me agradava, e a maioria já havia lido antes, Pois é, sou uma caçadora de livros antigos, adoro tudo o que eles têm a nos dizer, tantas historias antigas, romances, dramas, mistérios, tudo me atraia constantemente, principalmente os que faziam nossa imaginação voar pelos ares sem ter motivo de volta.

Corria então os olhos atentos á qualquer coisa que chama-se minha atenção, usava um óculos gigantesco, quase igual ao da velha , sapatos pretos , meias, e um blusão imenso que tampava qualquer curva do meu corpo, mesmo não estando no inverno, assim prendendo nas roupas a bela mulher que ali havia escondida.

__Vamos, escolha, se esta em duvida pode escolher Dois, se quiser... –Ela disse sorrindo para mim.

Eu olhei para ela, confusa, coloquei as mãos sobre a cabeça como se estivesse pensando, uma verdadeira pesquisadora curiosa, interessante poder ser testada naquele momento.

__Ah! –Meus olhos logo encontraram o que eu queria.

__Qual?! –A velha perguntou percorrendo os olhos para todos eles.

__Aquele ali! –Eu levantei minha mão e apontei para o mais alto de todos.

__Nossa como você foi encontrar este!

 Ela pegou a escada, e foi subindo por ela ate chegar ao meu livro. O mais sujo, de capa dourada e um cadeado segurando suas folhas caídas e soltas.

 __Nossa, deve ser um dos mais antigos, veja, a editora nem deve existir... –Ela desceu da escada e foi me entregando o livro impaciente.

 Eu olhava deslumbrada, como se ele fosse um livro de bruxarias interessante a ser lido.

__Lindo não é?

__Sim! –Respondia imediatamente.

 Logo fui junto com ela preencher a fixa de locação.

 __Sabe... –Enquanto preenchia a folha ela se virou para mim e foi falando.__Você é a primeira moça que vem aqui, sabia? –Ela sorria.

__Por quê? –Perguntei enquanto arrumava meus óculos.

 __Você é especial menina, acho ótimo que você venha nesta pequena livraria toda semana pegar um livro grande como este... –Ela me entregava a folha junto com uma caneta.

 __Bem... –Peguei a folha e fui escrevendo meu nome na linha de baixo.

‘’Hinata hyuuga’’

 __Lindo nome! –Ela olhava como eu escrevia rapidamente e com uma ótima ortografia.

__Obrigada... –Sorria para ela, entregando a folha um pouco envergonhada.

 __Você deve ter muitos amigos, parece ser tão educada...

__Hum... –Eu abaixei minha cabeça, peguei o livro e sem responder, fui ate a porta.

__Espere!Disse alguma coisa errada meu anjo? –A velha era única que me tratava bem em toda minha vida.

__Na-não, tudo bem... –Com um olhar ligeiramente triste, eu sorria para ela, indo até a porta, com o cabelo escorrido pelo rosto, escondendo os óculos que assim escondiam meus olhos prateados.

 Eu á deixei me olhando ir embora, de cabeça baixa andando pela calçada, com todos passando a minha volta sem nem ao menos, me ver, alguns esbarravam em mim e seguiam seus caminhos como se eu fosse invisível.

 __Pena não ser como você livro, dourado e maravilhoso... –resmunguei.

 Enquanto esperava o ônibus, sentada no banco, resolvi folhear um pouco meu novo livro , ele tinha 547 paginas contadas , sem nenhum desenho somente a escrita fazendo com que eu imagina se tudo que se passava ali dentro ..

‘‘A vida  resumida em sonhos ‘’ Este era o nome do meu livro. Autor desconhecido, pelo seu estado estava lá na prateleira a um tempão sem ser locado, eu procurei seu ano de impressão mais não achava nada, somente seu nome, nada mais, era muito estranho um livro sem dono, sem escritor, sem historia.

__Ei! Garota!

__Hum? –Eu levantei meus olhos sobre os imensos óculos, e via Três meninos rabugentos.

__O que é isso?! –O mais gordo perguntou.

__É... Só um livro! –Eu o apertei ao peito, com medo daqueles idiotas o rasgarem.

__Me deixa ver! –O magrelo se aproximava de mim, e estendia o braço.

__Não, não é interessante pra vocês! –Eu me encolhia ao banco, meus óculos embaçavam.

__Olha só, a menina esta com medo de você seu feioso, olha ela é uma gatinha medrosa!–O mais alto dos três se aproximava de mim e agarrava meu livro.

__Solte! Solte! –Eu lutava contra ele, a qualquer custo não deixaria levarem ele de mim.

__Ei, segura ela por traz... –Ele gritou para o gordo que estava parado.

Ele veio atrás de mim me segurando com força.

 __Sai daqui! –Eu gritava, tentando me soltar daqueles braços gordos.

__Solta você! –Eles estavam rasgando o meu livro, além de estarem me machucando.

 Eu percebia que o gordinho estava aproveitando para pegar nos meus seios.

 __Seu idiota! –Eu voltei para traz, dando uma cabeçada no gordo ousado.

E com um chute forte no que estava á minha frente, o ônibus chegava, eu saia correndo enquanto o moço abria a porta do ônibus.

__Garota volta aqui!  -Eles gritavam correndo atrás de mim.

Eu corria segurando meu livro, as pessoas todas olhando para mim, então eu pulei rapidamente dentro do ônibus, os meninos estavam se aproximando, mas o moço fechou a porta, antes deles, chegarem até mim. Eu os deixei parados na calçada , enquanto o ônibus partia, eu os encarava, um pouco triunfante e raivosa, e eles riam da minha cara, das minhas roupas, de tudo o que eu era. Uma medrosa.

 __Tudo bem?-O motorista perguntou, depois de presenciar tamanha correria.

__Hã... –Minha voz não saia, eu estava ofegante depois de correr, e aquelas roupas pesavam muito.

__Entra... –Ele disse.

__Sim, obrigada... –A inda ofegante e assustada eu passei minha carteirinha e entrei rapidamente.

 Fui ate o fundo. Todos olhavam para mim enquanto eu entrava. Aquilo me assustava e cada vez mais eu apertava o livro em meus braços.

Meus óculos gigantes embaçados, minha blusa frouxa suada, e minhas meias de fora, era o que se dizia CDF e NERD da sala de aula, eu gostava de ler porque nos livros eu me imaginava a melhor, a mais bela, a mais forte, esquecendo assim, a realidade em que eu vivia, era como uma forma de deixar para sempre o que eu era, ou por algumas horas.

 Eu me sentei no banco no fundo do ônibus ao lado da janela, e podia reparar que já estava de noite, e de que amanha teria aula bem cedo. Só de lembrar aquilo já me entristeceu. As pessoas não gostavam de mim naquela escola, eu era deixada de lado por todos, meus únicos amigos eram falsos e eu sabia disso, pois já os ouvi falando horrores de mim, mas eu ficava quieta, quando estava triste chorava baixinho para que ninguém escuta-se. Havia completado 17 anos e nunca beijei na boca, nunca me apaixonei, e sempre estudei perto de casa, ficava ajudando minha mãe ou na biblioteca lendo o tempo todo, quase não saia para festas, muito menos com amigos, minha vida era péssima.

Logo, uma lagrima solitária percorria o meu rosto, rolando até cair no chão, enquanto eu observava com um olhar vazio o mundo que eu perdia lá fora.

 __Posso me sentar ao seu lado?

__Hum... –Estava detraída olhando pra rua , quando ao meu lado uma senhora muito elegante vestida em um casaco vermelho, de longos cabelos ruivos, me interrompeu.

__Sim... –Respondia sem me importar, dando espaço para ela se sentar.

__Que bom... –Ela suspirava.

 Então olhou para mim sorrindo.

__Vai ler este livro?

__Hã... Sim, vou... –Eu o coloquei sobre o colo, ainda tremendo um pouco, minhas mãos estavam geladas.

 Não podia deixar de reparar que a senhorita usava um guarda-chuva, e um chapéu na cabeça, ela sorria o tempo todo, muito elegante.

 __Posso ver? –Ela estendia as mãos.

__Bem... –Eu estava com medo dela roubá-lo de mim, depois do que eu passei agora a pouco, parecia ate que esse livro atraia a atenção de todos.

__Eu sou escritora, esta tudo bem... –Ela sorria.__Não vou roubá-lo...

Então eu lhe dei o livro, um pouco apreensiva.

 __Escritora?

__Sim... –Ela disse enquanto lia o titulo do livro__ A vida resumida em sonhos...

 Ela então parou e olhou para mim, admirada com a sua elegância, e com o rosto muito triste.

__Lindo não é?

__Sim, com certeza...

 Eu arrumava meus óculos, enquanto ela falava comigo, eu estava nervosa, aquela mulher era tão bonita, tão firme, tão independente, alem do mais uma escritora.

 __Daria um ótimo livro, não acha?

__Sim... Ainda vou lê-lo...

__Eu escrevo muita coisa, voltada ao ser humano, mais nunca pensei em escrever um tema voltado aos sonhos... Talvez seja porque, eu nunca achei a motivação certa...

 Ela falava calmamente, sorrindo olhando para o livro.

__Gosta de ler?

__Muito... Mas agora eu estou com medo de ir na biblioteca...

__Hum, não deve ter medo daquilo que gosta, mas, é escrever, já pensou nisso?

__Bem, eu não tenho como fazer isso...

__Porque?

__Não tenho tempo, nem computador para escrever...

__Hora mais quem disse que precisa de um computador! Os antigos escreviam com penas de tinta preta...

__Ah... –Fiquei envergonhada da minha ignorância, diante de uma escritora falando bobagens.__Desculpe...

Ela fechou o livro e o estendeu para mim, olhando fixamente para os meus olhos prateados profundamente, sendo a primeira pessoa a reparar que eles eram prateados.

 __Basta, um caderninho, um tema, e ótimas idéias... –Ela sussurrava.

Seus olhos eram quentes como um vulcão, me observando lá no fundo, dava para ver o meu reflexo em seus olhos, era como se ela estive vendo a minha alma, e os meus maiores desejos.

__Tenho de ir... -Ela se levantou pegou sua bolsa e foi até a porta.

Eu á olhava indo embora, elegante como sempre ela não olhava para o chão, olhava para frente.

Lá de fora ela andava acenando para mim e sorrindo, enquanto o ônibus partia.

__Espere, qual seu nome?!-Eu fui até a janela, tentando chamá-la. 

Mas em um passe de mágica ela não estava mais lá, simplesmente sumiu,desceu do ônibus e sumiu.

__Nossa, vocês viram, ela, ela...

 Eles me olhavam como se eu fosse doida.

__Não tem mulher nenhuma ali garota... –Um homem fazia que não com a cabeça, e todos me ignoravam.

Resolvia então me calar, ficar em silencio como sempre.

Então eu vi um papel entre as folhas do livro, me escorei no banco, abri o livro e lá estava escrito.

 ‘’Autora: Caçadora de sonhos ‘’ 

 Meus óculos caíram pelo nariz, meus olhos brilhavam, minhas mãos suavam, meu cabelo preto escorria pelo rosto, aquilo havia me despertado uma ótima idéia.

Continua.