Life Of Death - Ritual das Quatro Luas escrita por Soumanomiya


Capítulo 7
Hortênsia




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UMA ESPIADA NA MINHA PERSONALIDADE

1)Trato todas as almas que ceifo como se fossem meus filhos

2)Não sou sádico ou cruel. Chego até a preparar as almas para o Juízo Final.

3)Mas há aqueles que me irritam, e então tomo medidas drásticas

4)Mas faço isso porque os amo e lhes quero bem

5) acho que uma das mais belas invenções Dele são as flores.

Apenas um dia restando para o Festival da Lua Nova, que Gabriel me aconselhou a ir. E nenhuma informação do porque Zack ser especial, sendo que uma grande parte de sua arvore genealógica estava desaparecida. Muitas preocupações em minha cabeça e ainda assim eu trabalhava.

Houve um incêndio em um prédio; os bombeiros haviam controlado o fogo, mas o prédio estava para ruir. Era hora de eu entrar em ação. Passei pela multidão imperceptível como sempre, exceto pelo meu hálito gelado.  Os bombeiros gritavam alguma coisa sobre corpos, sobreviventes e desaparecidos; eu iria achar todos.

Entrei nos escombros incandescentes. Devia estar muito quente, mas não existe calor no Limbo. Subi as escadas e entrei em um quarto totalmente queimado pelo fogo. Lá encontrei o primeiro corpo. Um garotinho de uns 6 anos. Era hora da colheita.

(Uma pequena informação: Não preciso de foice para ceifar uma alma. A foice é só para as almas mais difíceis.) Toquei na testa dele e sua alma saiu lentamente pela boca. Uma nuvem prateada e brilhante. Tomei-a em meus braços. Prossegui para o próximo quarto; o lugar estava soterrado pelos escombros. Dei um jeito e cheguei ao local da colheita. Uma mãe abraçava um bebê. Beijei a testa da criança e tomei a alma dos dois. Foi solene.

O prédio tremeu e um grande pedaço desabou. Segui até os destroços e os escalei. No 3º andar o encontrei agonizante. Tomei minha foice e acabei com o sofrimento do senhor de 78 anos.

Foi então que a vi. A garota tinha os cabelos empapados de sangue e poeira, suas roupas estavam cinzas e queimadas e seu rosto estava ferido e desfigurado; um ferro atravessava seu abdômen. Para qualquer um ela seria um amontoado de carne, sangue, pó e sofrimento, mas eu bi outra coisa: seus olhos. Verde-azulados campo hortênsias e profundos como um imenso campo dessas flores. Quando dizem que os olhos são espelhos da alma, não estão brincando; através daqueles olhos de hortênsia eu pude ver a alma dela.

A alma é difícil de mudar. Não importa o quanto mude a beleza física, a alma permanece a mesma. E no mar de hortênsias eu vi a verdadeira beleza da garota. Uma beleza amarga, pois aqueles olhos imploravam para eu levá-la e acabar com a dor excruciante. Ajoelhei-me do lado dela e sussurrei:

-Desculpe, mas ainda não é sua hora.

E neste momento os bombeiros entraram para resgatá-la e eu dei meia volta e parti.

Mas meu trabalho ainda não havia acabado. Pulei em uma das ambulâncias e segui do lado do passageiro moribundo. Os paramédicos se esforçavam para mantê-lo vivo, mas eu tenho mais lábia que os paramédicos então eu pude convencer o homem a vir comigo. O único som que restou na ambulância foi o do bip constante do monitor de batimentos cardíacos. Chegamos logo ao hospital. O defunto seguiu para o necrotério e eu fui para a ala dos queimados.

Não vou entrar em detalhes, mas levei 8 almas naquele hospital. Não me importo e quantos eu deixei para trás, mas segundo os noticiários houve 15 sobreviventes. Não a levei também. Mas a visitei uma segunda vez.

Ela estava deitada na cama, cheia de canos e gazes cobrindo seu corpo. Seus olhos estavam fechados. Sentei-me ao lado dela, e fiquei a houver sua respiração. Acho que ela ouviu a minha, pois abriu os olhos. As hortênsias de miolos negros pousaram sobre mim. Ela me via além do limbo. Isso queria dizer que ela estava mais morta do que viva naquele instante. Tive pena e vontade de levá-la. Mas seu nome não estava marcado no Livro naquele dia. Ao invés disso eu disse:

-Durma agora. Pois dormira durante um longo tempo. Talvez eu venha lhe visitar.

Eu a sentiela perguntar com os olhos: “Quem é você?”

-Meu nome é Azry. Sou apenas um visitante. Não vou te fazer mal.

“O que você quer comigo?”

-Seus olhos, sua alma é muito bonita. Fascina-me. E raramente eu fico fascinado com coisas humanas.

“Eu vou morrer?”

-Não, não vai. Não ainda. Ainda não é sua hora. Mas eu hei de lhe visitar novamente.

“Eu quero morrer. Estou com dor”. Uma lagrima escorreu de seu olho.

-Eu sei que dói, mas não a nada que eu possa fazer. Durma agora apenas, pois há de aliviar a dor.

E me aproximei dela e sussurrei: “Bons sonhos”. E ela fechou os olhos novamente. Aproximei-me da janela onde havia um pequeno vaso com terra. Pousei meu dedo na terra seca e ela se umedeceu no instante. E então fiz nascer um ramo de hortênsias azuis. A Morte não tem só o poder de destruir, mas de criar também. Deixei as flores ao seu lado e parti.

Quando cheguei em casa, Zack me perguntou onde eu estava. Eu havia prometido estudar com ele naquela tarde. Disse que tive que trabalhar e ele compreendeu. E então disse:

-Hoje a noite nós vamos no shopping comprar roupas novas. Eu odeio fazer compra, mas são ordens de minha mãe. Ela disse que temos que estar vestidos direito para o Festival.

-Eu não preciso de roupas. Eu posso mudar a aparência das roupas do meu corpo com um estalar de dedos.

-Você é mesmo sortudo. – e ele disse com um tom de sarcasmo. – agora vamos estudar que eu não quero reprovar na prova.

Eu não queria estudar. Ainda assim estudei.  Mas eu queria é mais ir para o Limbo e ficar lá para sempre. Já tinhas vários problemas na minha cabeça, e agora os olhos de hortênsia não saiam da minha mente.  O que podia ser esta sensação que dominava o meu peito? Por que não conseguia esquecer a imagem daqueles olhos? As emoções humanas me confundem. Tenho que confessar: dormi mal aquela noite. 


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