Life Of Death - Ritual das Quatro Luas escrita por Soumanomiya


Capítulo 6
Sombras.




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POR QUE O AZRAEL ATRAVESSOU A RUA?

Pra ceifar a alma do adolescente de 16 anos que bebeu, roubou o carro do pai, ultrapassou o limite de velocidade e caiu pelo acostamento, decapitando-o e deixando a namorada tetraplégica.

Uma Sombra tecnicamente não existe, mas isso não a impede de “existir”. Sombras são aberrações na Realidade. Não são criadas por Deus, logo não deviam existir, mas existem. Como elas só existem quando eu falho em ceifar uma alma, cabe a mim destruí-las. Ai é que eu entro em ação.

Uma Sombra se aproximou demais, desferi um golpe certeiro e a Sombra desapareceu em luz. Luz é o oposto de sombra então faz sentido ela desaparecer em luz quando “morre”. Mas uma só não significava nada. Havia uma 50 nos cercando. Zack estava encolhido atrás de mim gritando e tentando acordar do “pesadelo”.

-Você não está sonhando, Zack!

-Eu devo estar! Isso é um pesadelo!

-Patético...

Três se aproximaram e eu girei minha Foice e eles desapareceram. Mas aquilo estava ficando complicado. Antes enfrentar sombras não seria problema, mas agora eu tinha que me preocupar com o Zack e comigo mesmo, pois agora eu era vivo. Se uma Sombra ataca e domina uma alma, a alma fica contagiada com os sentimentos ruins e amplificados que a Sombra carrega em si, fazendo a alma se quebrar e gerar novas Sombras. As Sombras são vírus do Limbo.

-Zack!? Você já atirou antes?

-A-atirar!? Com uma a-arma!? – a voz dele tremia de pavor das Sombras

-Sim! Você já atirou antes?

-Já... já fui em um estande de tiros... mas não tenho boa pontaria. – aparentemente ele ficou animado com a minha pergunta.

-Isso serve. É hora de usar a artilharia pesada. – Parei de espantar as Sombras que se aproximavam e ergui minha foice. Tentei me lembrara de como foi que fiz aquilo quando ainda era anjo e quando me lembrei eu repeti o método. A Foice brilhou com uma luz mórbida e desapareceu na nuvem negra. A nuvem se dividiu e se espalhou em volta das minhas mãos. E então tomaram a forma de duas armas. Duas armas customizadas que eu há algumas décadas atrás. Eram pistolas negras com adornos de caveira. Linhas em espiral de um tom de verde água mórbido circundavam toda extensão do cano. Era mais 10 vezes mais forte que a mais forte pistola dos mortais e tinha um recuo mínimo. Eram leves também. Perfeita para combate.

-Pegue esta. É só mirar e puxar o gatilho. Tente não me acertar. E nunca atire de olhos fechados!

-Maneiro!

-Fique perto de mim! E fique de costas pra mim! Atire apenas naqueles que chegarem mais perto! Nós não vamos tentar derrotar todos, mas apenas abrir caminho!

Começamos a atirar nas sombras. Elas voavam no ar e desapareciam num clarão. Começamos a avançar lentamente pelo terreno da construção. Tenho que dizer que Zack não atirava tão mal, mas não era dos melhores. Posso jurar que os vinte primeiros disparos dele forma as cegas. Mas as Sombras não diminuíam. A cada minuto mais sombras apareciam. Zack me perguntou:

-De onde elas estão vindo Azry!? Por que estão atrás da gente!?

-Você ter morrido e ressuscitado deve ter a atraídos! Uma anomalia no Limbo as atraiu!

-Desse jeito não vão acabar nunca!

-Acredite! Podia ser pior! Podia haver Gyt... – e então todas as Sombras pararam de avançar. Um uivo fez os gemidos e choros pararem. Um uivo de arrepiar os cabelos do homem mais corajoso. Zack choramingou ao meu lado. – Eu e minha grande boca! Zack! Temos que correr! Agora! – mas Zack não ouvia. Estava paralisado de medo. Fiz a única coisa que podia: dei um tapa na cara dele. – Acorda! Temos que sair daqui!

-Que... que... barulho foi esse?

-O uivo de um Gytrash!

-G-gytrash!? Q-que é i-isso!?

-São entidades do Limbo! Esses espectros vasculham o Limbo a procura de almas penadas e as guiam erroneamente pelo Limbo, levando-as a lugares perigosos ou até mesmo as atacando, fazendo elas se tornarem Sombras! Eles devem estar atrás de você.

-Atras de mim!? Azry! O que vamos fazer!?

-Me de a arma! Vamos dar o fora daqui!

Zack em entregou a arma. Era hora da ação. Os uivos dos Gytrashs ficaram mai alto, e agora podia ouvir também um relinchar. E então eles aparecerem. Pra quem nunca viu um Gytrash deixe-me descrevê-los. Imagine o maior cão preto que você já viu ou ouviu falar. Imagine os olhos daquele cão brilhantes e vermelhos como fogo. Agora imagine que em volta das patas desse cão existe uma nevoa branca eterna. E imagine também que esse cão não é feito de uma substancia material, mas sim de uma espécie de nevoa negra muito densa que se comporta um pouco como água, girando e pulando num turbilhão em forma canina.  Às vezes eles também tomam a forma de cavalos ou mulas então use essa mesma descrição, mas mude o cachorro pra um cavalo.

-Venha Zack! Temos que chegar em um lugar seguro!

-Por que você simplesmente não me manda pra mundo dos vivos!? La é bem seguro!

-Não posso! Por algum motivo você foi trazido de volta e tenho que descobrir o “porque”. Tenho que te manter aqui no Limbo comigo! Tenho que te levar ao meu “lugar secreto”! Venha! 

Enquanto nós corríamos, eu ia atirando no Gytrashs. Sem errar sequer um tiro eu is despachando os Gytrashs para longe. Ao serem atingidos eles se dissipavam e voavam em direção céu pra sabe se lá onde. Começamos a correr em direção ao cemitério. Eu sabia que seria arriscado, pois os Black Shucks, os “macho alfa” dos Gytrashs rondavam os cemitérios. Mas era a nossa única chance.

Atirava usando todos os estilos possíveis. Por cima dos ombros, por baixo das pernas. Uma arma pra cada lado, cruzadas e “x”, etc. Mas cada vez mais Gytrashs apareciam. E eles não desistiam; corriam por cima dos muros, pelos telhados das casas, e os cavalos estavam atrás da gente em alta velocidade. Estávamos quando chegando quando fomos cercados. Os Gytrashs formaram um circulo em volta de nós impedindo a passagem.

-Azry? – ele ofegava e tremia. – O que vamos fazer agora?

-Esperar que as intenções deles sejam benignas... ou senão... estamos fritos.

Zack engoliu seco. Era muito esperar que os Gytrashs estivessem com intenção benigna, pois isso não acontecia freqüentemente, principalmente com almas no Limbo. Mas não éramos almas, então talvez tivéssemos uma chance. Tenho que dizer a verdade, aquela foi a primeira vez em toda a minha existência em que rezei com fé e não com certeza. Quando se é anjo você reza com a certeza que Ele está lá e está te ouvindo, mas agora era humano e não conseguia entender as intenções Dele.

Mas parece que minhas preces foram atendidas pois os Gytrashs que estavam diante do cemitério se afastaram abrindo caminho e um Black Shuck apareceu. Os Black Shucks são similares aos Gytrashs, mas mesmo na forma de cachorro eles tem o tamanho de um cavalo. Ele então se aproximou, latiu e fez uma espécie de reverência canina indicando que era para a gente segui-lo. Nunca é bom confiar em um Gytrash ou um Black Shuck que te convida para segui-lo pois eles costumam enganar suas vitimas as levando para lugares terríveis e as fazendo se perder mais ainda. Mas era nossa única chance.

-Vamos Zack. Não tenha medo.

Nós o seguimos em silencio. Já tinha anoitecido e o cemitério estava coberto por nevoa que eu não sei dizer se era natural ou causada pelo Black Shuck.  Ele nos guiou até uma cripta grande e diferente de todas as outras do cemitério. Ela estava mais afastada das outras e no fundo do cemitério. Era decorada com anjos com feições estranhas e usando túnicas. Eram representações artísticas minhas. Aquela era uma cripta muito especial pois era a entrada para o lugar onde devíamos ir. Abri a grande porta de metal gravada com símbolos da morte gentilmente. Quando entramos o Black Shuck rosnou e uivou. Ei sabia que ele queria dizer que da próxima vez que nos encontrássemos ele não ia estar com boas intenções. Fechei a porta.

-Onde estamos Azry? Por que estamos dentro de uma cripta velha?

-Aqui é um portal pro meu reino criado pelos Ankoù. No mundo mortal aqui seria um mausoléu normal, mas muito antigo, talvez o mais antigo, onde a energia espiritual das pessoas que aqui foram enterradas é muito grande.

-O que é Ankoù?

-Logo saberá. – murmurei então as palavras certas e as paredes do mausoléu começaram a brilha e se partiram. Então já não estávamos mais no mausoléu, ou até mesmo no Limbo, mas sim em um lugar similar a um castelo.

-Que lugar é esse?

-É o Centro de Operações dos Ceifadores. A Necrópole. – expliquei então que eu não era a única morte que existe, mas tenho subordinados que me ajudam a ceifar as pessoas pelo mundo. Aqui seria o lugar onde eles vivem, colhem informações sobre os “falecentes” e planejam suas colheitas. Pois eles não tinham o Livro da Vida e Morte então eles precisam de outros meios para localizar suas vitimas. Antigamente eles usavam listas escritas a mão por mim, mas agora têm até um computador central para isso.

A Necropole é como um grande castelo de pedra cinza com milhares de portas e salas. Na “sala do trono” está o Necromputador que tem armazenado no seu HD infinito a informação de todas as pessoas que já viveram e ainda vivem. Muitas das portas dão em vários portais espalhados pelo Mundo Mortal e as outras dão salas como os quartos dos Ankoù residentes, a sala do Recursos Humanos (que não devia ter este nome já que ninguém que habita o castelo ainda é humano), o salão de reuniões e a Igreja que quase nunca é visitada.

                                             

-Por que viemos aqui?

-Porque precisamos descobrir como você é importante. Shini!!

-Mestre você voltou!!!  – Shini apareceu. A Morte de tamanho reduzido. Shini é um Shinigami, mas não igual aqueles que aparecem nos animes, mas um Shinigami de verdade criado por mim. Na verdade Shinigami não existiam até um rakugoka no leito de morte me contar em seu sonho a história Shinigami. Da imagem do seu sonho eu criei o Shini, um ótimo ajudante. - O que deseja mestre!?

-Shini, acesse o Banco de Dados e procure tudo sobre Zachary Gillenhall e sua família.

-Sim mestre! A propósito mestre, finalmente consegui um encontro com Becky do RH. Ah sim! Ela disse que tem um recado importante pro senhor.

-Ah sim...vou verificar.

-Azry? Por que você quer verificar minha vida? – Zack perguntou. - Como vai fazer isso?

-Por um motivo desconhecido e muito importante, o Senhor achou que você seria mais importante aqui do que lá em cima. Nós vamos descobrir por que. E o nosso Banco de Dados tem informações sobre toda a sua vida e de quase todas as pessoas que já pisaram na Terra.

-Invasão de privacidade... – ele disse meio frustrado.

-Não existe privacidade quando se lida com anjos. Shini, achou algo?

-Mestre, o histórico de vida dele é 100% normal, mas há algo muito estranho na arvore genealógica. Quando chega no decavô por parte de mãe, os dados são nulos. É como se dai pra cima não existisse família.

-Por algum motivo esses dados não estão ai. Se o decavô dele já viveu então as informações tem que estar ai. Tome o Livro e faça um backup de dados. Corrija todos os erros encontrados.

-Mas senhor! O ultimo backup demorou 110 anos!

-Faça esse ser mais rápido! Isto é de extrema importância. Use todos os artifícios necessários para acabar isso o mais rápido possível!

-Ok senhor... – Shini estava visivelmente desapontado. Odeio tratá-lo daquele jeito, mas o caso era de extrema urgência.

-Vamos Zack. Vamos ver o que a Becky quer.

Chegamos ao RH. Uma sala cheia de arquivos com uma única escrivaninha no meio e um telefone. Becky, uma garota vestindo uma roupa do século XV estava sentada na mesa. Ela era mais como uma secretario do que chefe do RH, pois ninguém usava o RH, já que os meus subordinados não ousariam reclamar.

-Quem é ela? – Zack perguntou. - Por que ela está aqui?

-Becky é uma Ankoù. Ela trabalha aqui.

-Ela é um Ankoù? Pensei que os Ankoùs seriam mais como o carinha lá de baixo.

-Não, Ankoùs são... eram humanos normais. Mas na hora de eu levá-los eles resolveram apostar suas vidas comigo com um jogo, ou brincaram comigo ou me deixaram muito irritados sempre conseguindo fugir de mim. Quando eu os apanho, fico com as almas deles até cumprirem certa pena, ou até o tempo da aposta expirar, ou até chegar o dia do Juízo Final. Becky ali, eu ganhei ela depois que ela passou 4 anos fugindo de mim. Agora ela é minha até o século XXIII. O nome verdadeiro dela é Elizabeth.

Aproximamos-nos dela e ela disse: - senhor, você tem um recado do Miguel. Ele disse pra você tomar cuidado no futuro próximo e se preparar para algo grande. Só isso.

-Certo.. só isso – eu disse virando os olhos - Becky, onde estão os outros Ankoùs?

-Hora senhor, com sua ausência eles estão trabalhando dobrado.

-Compreendo... Bem Zack! Agora que terminamos por aqui, então acho que devíamos ir pra casa e esperar o Shini terminar o backup.

-Certo... queria mesmo comer alguma coisa. Morrer me deu uma fome.

E então nos partimos. Zack com a barriga vazia e eu com a preocupação pelo aviso do Miguel.


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