Peter Jansen e o Ladrão de Chapinhas escrita por gui_brs
Eu sempre quis ser um Sangue Bom. É cheio de momentos eletrizantes e legais. E, portanto, se você está lendo isso porque acha que pode ser um Sangue Bom, meu conselho é o seguinte: Vá em frente, não seja um covarde nerd. Desconfie de absolutamente todas as histórias absurdas que seu pai ou mãe contam sobre seu nascimento. Eles estão mentindo. A propósito, se você realmente for um Sangue Bom, use desodorante. Os monstros nos acham tão fedidos, mas tão fedidos que querem nos matar por isso. É sério, use um desodorante bem forte.
Meu nome é Peter Jenson, sou um Sangue Bom e estudo na escola pública Yuppie, para crianças problemáticas. Se eu sou uma criança problemática? A resposta é ‘não tenha dúvidas’. Tenho dislexia e transtorno do déficit de atenção, mas esses são meus menores problemas.
Minha turma de 6ª série estava fazendo um passeio ao museu de história natural de Manhattan. 32 pequenas pestes e dois professores, o Sr. Austin e a Dona Doninha. O Sr. Austin era nosso professor de latim que ensinava mitologia grega. – É, era uma escola pública, fazer o quê – Ele era paralítico, mas tinha o movimento das pernas, fraco o bastante para não sustentar o corpo em pé. Por esse motivo, ao invés de usar uma simples e normal cadeira de rodas, ele pedalava um pequeno triciclo metálico. Era uma cena tristemente cômica. Ele era um cara legal, que mais parecia um mendigo limpo.
A Dona Doninha era uma senhorinha de meia idade que fedia a salame. Suas pernas eram finas e tortas. Ela era insuportável. – até porque era minha professora de matemática – Eu não conseguia ficar muito tempo a olhando.
Como eu ia dizendo... Eu e o resto de minha turma estávamos em um daqueles típicos ônibus amarelos de passeio. Nina Boboca – uma menina que eu odiava – jogava pequenos pedaços de sua lasanha do almoço no pescoço de meu amigo, Geroven. Como Geroven era um menino estranho e reservado, sempre era alvo de alguma comida voadora. Eu olhei para Nina Boboca com um olhar de ‘eu te odeio’, mas a dona Doninha lançou-me um olhar duas vezes pior. – Só para constar, a dona Doninha amava tanto Nina quanto me odiava – E eu fui obrigado a deixar meu amigo levar lasanha no pescoço.
Ao desembarcar do ônibus, o tédio era insuportável. Fomos para dentro do museu.
– Existem doze deuses olimpianos – Dizia o Sr. Austin, parado com seu triciclo em frente a uma estátua de um homem comendo um bebê. Ninguém prestava atenção no velho. – Entre eles os três irmãos: Zeus, Poseidon e Hades. Lendas dizem que os deuses desciam e tinham filhos com mortais. Essas crianças eram chamadas Sangues Bons. Aqui temos a estátua de um dos grandes Sangues Bons. Perseu... – O Sr Austin percebeu que ninguém prestava atenção nele. – Querem saber... Hora do almoço! – As crianças retardadas deram gritinhos e saíram correndo para a parte da frente do museu.
Geroven comia uma maçã. Eu dava uns beliscões em um sanduíche de peixe – que ainda estava se mexendo – e jogava no chão para os pombos que não apareciam. O clima estava horrível, eu nunca havia visto um céu tão preto.
Nina Boboca chegou com sua gangue de meninas mongolóides para me perturbar.
– Hm, seu sanduíche parece estar delicioso – Nina debochou.
Eu tentei nem dar bola. Conhecia muito bem Nina, ela queria que eu me incomodasse, ou ficasse irritado. Apenas a ignorei. Tentei ignorar. Olhei para um pequeno banheiro químico, a uns 20 metros, que fedia à beça.
– Quer saber, ele realmente está delicioso. – Eu taquei o sanduíche na cara da desgraçada. Aí que aconteceu o inesperado. Nina foi parar com a cabeça – não me pergunte como – dentro do vaso do banheiro químico. Eu fui até lá tirar um sarro da cara dela. Fiz questão de desafogar a sua cabeça. – Calor, não é?
As amigas de Nina estavam rindo da cara dela.
– Você me paga, Peter Jensen! – Nina cuspiu um litro d’água no chão. – E correu para o outro lado da rua, onde havia um homem vendendo melancias. Ela comprou uma e parou no meio da rua para tentar acertar uma em mim. Foi aí que aconteceu. Um caminhão de mudanças passou por cima da desgraça. A melancia se espatifou junto com seus miolos. É, era uma vez Nina Boboca.
O Sr Austin viu o que aconteceu, mas não deu a mínima. Continuou comendo seu saquinho de amendoins e lendo seu livro comprado em algum Sebo.
Geroven saiu de perto quando a dona Doninha chegou lá, me chamando para conversar. (Enquanto isso se juntara um grupo de meia dúzia de pessoas para ver Nina Boboca ir para o brejo.)
Dona Doninha me conduzira até um dos salões vazios do museu. Como andava rápido a infeliz. Ela usava uma horrível jaqueta de couro preto e calças coladas. Seu cabelo castanho estava preso em um rabo-de-cavalo – se ela pusesse um par de óculos, viraria um motoqueiro e tanto –.
– Eu sei o que você fez, queridinho. – Ela fedia à café frio. – Devolva-o Peter Jensen – Ela esticara a mão, esperando que eu a devolvesse algo.
– Olha dona Doninha, acidentalmente provoquei a morte de uma garotinha ruiva irritante. Eu posso ser qualquer coisa, mas ladrão eu não sou! Ladrão não!
– Não adianta mais fingir, Peter – A fonética dela era muito irritante. Ela pronunciava ‘adzianta’, ‘Doninhan’, ‘finzir’, assim por diante. – Sabemos que você roubou a chapinha – Ela pôs uma ênfase e tanto na chapinha.
– Eu? Uma chapinha? Pra quê? Não preciso disso! Já tenho o cabelo liso, e...
– Morra, ‘queridzinho’ – dona Doninha deu um grito e avançou em minha direção.
O Sr. Austin entrou pedalando o seu triciclo tão ferozmente que eu pensei que ele iria capotar se fizesse uma curva ou diminuísse a velocidade drasticamente. Como um homem que nem andar consegue, pedalava tão rapidamente? Fiquei me perguntando isso, por uma fração de segundo, e desviei da lhama que a Dona Doninha me jogara. De onde ela tirou uma lhama?!
A lhama passou voando, atingiu o Sr. Austin, que, como eu previa, capotou com o triciclo...
– Percy! – O Sr. Austin jogou uma caneta para mim. Putz, a última coisa que eu queria fazer naquele momento era um teste... E, ei... Meu nome é Peter, não Percy...
– Na verdade... É Peter, Sr...
– Ah, que se dane! – Ele deu de ombros. – Fure-a com a ponta da caneta!
Eu fiz o que ele mandou... Com uma caneta na mão eu era indestrutível! Porra! Era uma caneta! Como ia matar aquela coisa? Enfim, o mais inesperado aconteceu... Quando a ponta da caneta furou a Dona Doninha, a tinta saiu e se espalhou pela corrente sanguínea dela. Ela deu um grito e pronunciou um “Nãããããão” antes de cair no chão e começar sua fase de metamorfose... De monstro estranho e com fedor de café e salame, ela virou um saco de 5 kg de areia de gato. Que final feliz para a dona Doninha... Que final feliz... Ainda bem que não foi comigo.
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