Dados Viciados escrita por DarrenShanLover


Capítulo 5
Campanha! "Deixe Meu Dia Sinistro"


Notas iniciais do capítulo

E aqui está o próximo cap (ORLY?)
Espero que gostem!!



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            Levantei bruscamente, ofegante. Meu coração estava disparado e eu estava suando frio. Vasculhei o lugar com os olhos, em pânico. Eu estava deitada numa cama familiar, com a coxa de retalhos de sempre cobrindo minha cintura. A luz que entrava pela janela indicava que o dia acabava de raiar. Eu.... estava no meu quarto?

            Levei a mão à nuca. Nada, nenhum corte, nenhum rastro de sangue.

            Soltei um suspiro de alívio e me joguei de volta na cama. “Parabéns, Verity! Foi tudo um sonho. Quem mandou alugar Jogos Mortais VI semana passada?” repreendi enquanto ria de nervosismo.

            - Ver!!! – minha mãe chamou do andar debaixo. – Você vai se atrasar! Vai perder o horário do ônibus e não vou ser eu quem vai te levar para a escola!!

            - Já acordei, mãe! – respondi àquele otimista “bom dia”.

            - Anda, então! Troque-se e vem comer logo alguma coisa!

            - Já vou!

            Ainda rindo do meu pânico, escolhi uma calça jeans e peguei uma camisa do uniforme da escola. Vesti-me rapidamente, escovei os dentes, calcei um par de tênis qualquer, peguei minha mochila da escola e desci para o café da manhã.

            Lá embaixo, minha mãe estava colocando mais suco de laranja para meu irmão menor, Pedro, que, para variar estava reclamando porque queria Guaraná logo cedo.

            - Vai te enjoar o estômago. – mamãe repreendeu.

            - Não vai não! Eu sou forte.

            - Aham... – eu disse, enquanto sentava-me à mesa.

            Meu pai estava imerso no mundo da economia, com o nariz enfiado no jornal. Comia um pão com mortadela, seu favorito.

            - Bom dia, Verity.

            - Oi. – respondi simplesmente.

            - Aqui, Ver, pão na chapa com manteiga.

            - Valeu. – eu disse, enquanto enfiava logo o pão goela abaixo.

            Tinha acabado de ver o relógio e eram quase sete horas. O ônibus passava na esquina de casa ás sete e cinco, exatamente. Se eu perdesse, não tinha mais como ir para a escola. Meus pais saíam para trabalhar e meu irmão ficava na casa de um amigo que levaria ele para a escola mais tarde.

            - Tô indo. – anunciei quando terminei de comer o pão.

            - Ok, - mamãe disse. – não se esqueça de agradecer à Isa e ao Tiago.

            Franzi o cenho.

            - Como assim? – perguntei.

            - Não se lembra? Você e seus amigos não tinham combinado de no cinema ontem? Você dormiu no caminho de volta e seus amigos tiveram que te trazer nos braços.

            Quase cai sentada na cadeira depois daquela. Então, não tinha sido um sonho, afinal? Mas, se eu não sonhei com tudo aquilo... eu devia estar morta, não devia? Passei a mão na nuca de novo, checando se realmente não havia nenhum ferimento, checando se eu não estava em algum tipo de viagem ou ilusão pós-morte.

            Nããão. Talvez... talvez eu só estivesse vendo filmes demais... Só que... eu não me lembro exatamente de ter ido ao cinema...

            - Eu... vou agradecer. – eu disse, finalmente.

            - Uhhh, você veio no colo do Tiago, não foi? – Pedro começou. – Aposto que fingiu que tinha dormido de porpósito.

            Não estava com disposição o suficiente para pensar em uma resposta decente. Simplesmente corrigi:

            - É propósito.

            Em seguida, saí correndo para o ponto de ônibus.

            O Sol estava ardido. Minha avó sempre dizia que quando isso acontecia, com certeza iria chover mais tarde. Devia haver uma campanha para deixar o dia mais sinistro o possível!

            Quando pude ver o ponto, o ônibus que eu pegava abria as portas e apenas dois passageiros entravam. Corri mais rápido, só faltava agora eu perder o ônibus. O motorista pareceu não ter me visto e, mesmo eu gritando para que me esperasse, manobrou o veículo e logo deixou o ponto.

            Então lá estava eu, sozinha no ponto de ônibus, numa rua deserta, tendo que andar até a escola... Legal...

            Olhei no relógio, sete e sete. “Humph, coincidência...” pensei. A escola começava  sete e vinte, se eu andasse rápido, poderia entrar na primeira aula.

            Já que não havia mais o que se fazer, botei os fones de ouvido do meu Mp4 e me pus a andar em passadas largas. O caminho não era tão longo, mas me deu tempo o suficiente para pensar no que estava ou havia acontecido.

            Eu, com certeza, não tinha morrido. Afinal de contas eu estava andando para a escola, em carne e osso (e mais um quilo de  cadernos nas costas, aquilo pesa!). Mas.. também não pode ter sido um sonho, poderia? Parecia tão real...

            Será que eu tinha sonhado tudo aquilo voltando realmente do cinema? Não... Eu me lembro claramente agora, eu tinha mesmo combinado de se encontrar com meus amigos na praça... Lembro tinha usado essa história de cinema para esconder o verdadeiro propósito do encontro, meus pais não me deixavam andar sozinha por aí á noite.

            Bom, com certeza, Isa e Tiago saberiam de alguma coisa. Eu perguntaria a eles assim que pusesse os pés na escola, e não descansaria até receber uma resposta!

           

²²²

            Minha escola não era exatamente grande, mas também não podia se dizer que era uma escola pequena. Era uma das melhores escolas da região (o que não é lá grande coisa quando se está falando de uma cidade pequena), o que significava que era uma escola cheia de frescuras...

            O saguão de entrada estava vazio, eu devia estar muito atrasada. Com isso, subi as escadas correndo até o segundo andar, onde ficavam as salas dos oitavos anos (sétimas séries).

            Cheguei ofegante ao fim da escada. A primeira aula era... história. Putz, a professora não deixava entrar tarde na aula. Bom, não custava tentar. Eu duvidava que ela deixaria (lembra daquela greve?), mas, mesmo assim eu não gostava de perder matéria, principalmente numa que eu precisava de nota.

            8º ano D. Pronto, havia chegado. Tomei um pouco de ar antes de entrar na sala, arrumei o cabelo e a roupa e bati na porta.

            Não demorou muito até que Flávio atendeu. Aliás, Flávio sempre atendia ou fazia as coisas para o professor. Ele era magro, tinha cabelo ralo bem do tipo “eu não tenho corte, mamãe decide como eu uso o cabelo”. Muito nerd, mas esse não era exatamente o problema.

            Ele era o maior puxa-saco. Existe até um padrão. É bem assim: acabou a aula, ele junta o material da professora e leva até a classe em que ela terá de ensinar. Em seguida, volta rápido para a nossa sala e fica esperando o próximo professor na porta. Quando o próximo profs chega, ele pega o material e acompanha o professor até a mesa, aí ele conta uma piadinha nada a ver e o cara ri para não deixar ele sem graça.

            - Oi, Verity. – ele disse, com aquela pose “peito para frente, barriga para trás”.

            - Oi... – respondi.

            Entrei na sala e ele fechou a porta às minhas costas. Todo mundo estava olhando para mim, como era o esperado.

            - Escuta aqui. – disse a professora de história. – Qual é essa de chegar atrasada? O pessoal da portaria te deixou entrar?

            - Deixou. – respondi apenas.

            - Hm. – ela murmurou. Então, disse num tom quase sarcástico. – Então senta logo em algum lugar e vê se não atrapalha a aula, hein?

            Encontrei um lugar perto de Kiara, que estava gesticulando para que eu me sentasse ao lado dela. Ela estava sorrindo como se tudo estivesse normal. Aliás, todos estavam agindo como se tudo estivesse normal. Bruno e Gabriel estavam fazendo algum desenho no caderno, Carol estava boiando... Bem, talvez nem todo mundo.

            Olhei na direção de Isabela, ela estava sentada no canto da sala, lá no fundo. Estranho, ela costumava se sentar com a gente, não tinha ninguém com quem ela tivesse intimidade, lá. E Tiago, no outro canto, exatamente na mesma situação.

            - Que coisa feia, hein? Chegando tarde. – Kiara desviou minha atenção.

            - Há, há... – ri sarcasticamente.

            Em seguida, ela fez uma careta e voltou a prestar atenção na aula.

            Mesmo não querendo perder matéria, eu não conseguia prestar atenção na aula. Eu tinha muitas dúvidas na cabeça. E justamente as duas pessoas que poderiam me dar alguma resposta estavam, aparentemente, evitando contato com qualquer um da classe.

            Peguei-os olhando para mim em intervalos durante a aula de gramática, a segunda aula. Olhavam com ar de suspeita e até receio. Com certeza eles estavam escondendo alguma coisa... E, assim que batesse o sinal do recreio, eu iria descobrir....

           

***

            Parecia ter demorado um século, mas, finalmente, o sinal tocou. Nem ao menos me dei ao trabalho de guardar minhas coisas que estavam em cima da carteira ou pegar meu Mp4, mesmo assim, não fui rápida o bastante. Tanto Isabela quanto Tiago já tinham descido para o pátio.

            - Nossa, você não vai nem me dar um “oi”? – Kiara perguntou, surgindo do nada.

            - Ah, oi! – eu disse, abraçando-a.

            - Ele é tããão perfeito!! – sussurrou, obviamente falando do Tiago. 

            Tava na cara que ela não sabia de nada, nem sobre o suposto cinema ela comentou. Então, quem realmente sabia de alguma coisa eram minha melhor amiga e o amor da minha outra melhor amiga...

            - Vamos indo? – eu perguntei, querendo alcançar qualquer um dos dois o mais rápido o possível.

            - Ok, espera só eu pegar meu lanche.

            A esta altura, já não havia ninguém na classe, todos haviam descido. Kiara foi até sua mala e retirou de lá um saco plástico com um iogurte e um lanche, andou calmamente até mim. E eu que estava querendo ir embora rápido!

            Mas, enfim, quase empurrei a coitada escada a baixo, e, finalmente, chegamos no pátio.

            Agora, o problema era achar a Isa. O pátio estava pipocando de gente, não se podia nem pensar em chegar perto da cantina, que já era um inferno por si só, e, justo naquele dia, parece que um monte de gente resolveu comprar lanche na escola.

            Os meninos estavam criando um montinho perto da mesa de pebolim, como sempre, gritando um monte de palavrões e torcendo. Quando não faziam isso na quadra, jogando futebol mesmo, faziam ali, com os bonecos, como se já não tivessem futebol o bastante.

            O nosso grupo estava sentado perto da escadaria que dava para a quadra, não costumávamos ficar ali, mas, naquele dia, as quadras estavam vazias, já que não tinha jogo nenhum durante o recreio.

            Eu sei que Isa sempre comprava na cantina e, se eu estivesse certa, se ela soubesse algo e não queria me contar, então ela estaria bem inacessível ali...  Porém, também não via Tiago em nenhum lugar... Droga...

            - Tá boiando, flor? – Kiara chamou minha atenção.

            - Hã? – perguntei.

            - Tô te falando pra gente se encontrar com as meninas.

            - Ah, ok. Não consegui te ouvir.

            - A vá... – ela ironizou.

            - É que você é tão pequena – brinquei, era muito divertido encher o saco dela – que eu não consegui te ouvir daí de baixo.

            - Há, há... Rachei... – ela disse, sem emoção, com as palavras pingando de sarcasmo. – Bora.

            Ela agarrou meu braço e atravessamos o pátio até nossas amigas. Kiara me contava um monte de coisas, mas eu mal prestava atenção, não tirei os olhos dos outros alunos, era impossível que Isabela e Tiago tivessem simplesmente evaporado.

            -“Run away! Run away! I’ll attack!!”– e essa era a Gabriela, cantando os pulmões fora em pleno pátio.

            Ela era alta, de cabelos encaracolados, usava óculos e amava, amava MUITO 30 Seconds to Mars, principalmente o cantor, Jared Leto. Não largava o Ipod, tipo, nunca, só faltava os fones criarem raízes.

           Carol estava lá também, conversando com Raquel, a melhor amiga da Gabi. Raquel tinha altura mediana, olhos e cabelos castanhos, muito leal e desencanada.

            -  “Run away! Run away!” – Gabriela gritava.

            - “Go change yourself!!!” – completei. Depois, me virando para as outras, disse. – Oi, pessoas!

            - Oi, gente. – Kiara cumprimentou.

            - Oi. – devolveram.

            - Ou, vocês viram a Isa ou o Tiago? – perguntei.

            - Vi não. – Carol respondeu enquanto Raquel apenas balançou a cabeça negativamente.

            - Devem estar se pegando no banheiro.  – Gabi brincou, tirando os fones de ouvido.

            - Uhum é, claro. – Kiara tratou de dizer, sarcástica.

            - Você esqueceu, não se fala do amor dela assim, gente. – Raquel relembrou Gabi.

            - Ah, vai se ferrar. – Kiara disse, rindo.

            - De boa, não vi mesmo eles. – Gabriela corrigiu, séria agora.

            Deixei uma expressão cansada tomar conta do rosto. Era impossível que ninguém tenha os visto! Sentei do lado da Carolina, desconsolada, e vasculhei novamente o pátio á procura dos dois.

            Carol também não havia comentado nada sobre ontem, minha única chance eram Tiago e Isa mesmo... Aquilo estava me matando, eu era a curiosidade em pessoa, odiava aquele clima misterioso.

            - Que aula tem depois do intervalo? – Raquel perguntou.

            Carol fez uma cara de tédio mortal e respondeu:

            - Educação Física.

            - Eu mereço! – Raquel suspirou.

            “Perfeito”, pensei. Eu não tinha que ficar parada em um lugar só durante a aula de educação física, e, como Isa estava tirando umas notas meio baixas (acredite, é possível) nessa matéria, ela tinha que aparecer. Não ia ficar fugindo de mim assim, pra sempre.

           Quanto ao Tiago, não tinha tanta certeza, ele adorava Educação Física, todos os meninos adoravam, mas, sei lá...

            Gabriela voltou ao seu Ipod, Carol e Raquel continuaram conversando sobre o que estavam falando antes da mim chegada e a de Kiara, e esta começou a comer calmamente seu lanche.

            Normalmente eu estaria ouvindo meu Mp4 com ela e a gente estaria discutindo quais músicas a gente tocaria na banda do colégio no ano que vem. Só que aquele, com certeza, não era um dia normal.

            Não conseguia ficar parada lá, sentada olhando o povo indo e vindo. Sim, eu sabia que era só eu ter um pouquinho de paciência e o intervalo acabaria, começaria a aula de educação física e eu poderia falar com a Isabela ou o Tiago. Mas paciência é uma coisa que eu não tenho.

            - Vou ao banheiro. – anunciei, pelo menos eu podia andar e um pouco e, de quebra, ver se a Isa não estava lá.

            - Ok, vou junto. – Kiara disse.

            Eu não via problema nenhum em ela vir comigo, mas sabe quando um alarme interior começa a apitar dizendo que aquilo ia dar merda? Pena que eu nunca fui muito de seguir esses tipos de coisa.

            Então, dei de ombros e me levantei, andando em direção ao banheiro. Kiara guardou seu lanche e me seguiu.

            Não tinha muita gente lá. Umas meninas do sétimo ano fofocando sobre um fulano que tinha se recusado a ficar com alguém, havia uma garota do primeiro colegial e só. Nada da Isabela. Não sei porque fiquei desapontada, não esperava achá-la lá de qualquer jeito.

            Já que eu estava no banheiro, dei uma penteada do cabelo, que estava todo armado.

            - Não acredito que você veio até aqui só pra fazer isso. – Kiara comentou.       

            - Vai me dizer que você veio aqui só pra me acompanhar? – disse, olhando firme para ela.

            Não queria tocar no assunto do por que eu tinha vindo aqui, basicamente, porque estava com paciência em falta e arriscando encontrar Isabela. Ela iria desconfiar que eu tinha algo importante para falar com a Isa e não iria parar de perguntar  o que era.

            Kiara deu um sorrisinho e, retirando um lápis de olho da bolsa, anunciou:

            - Culpada.

            Em seguida, tratou de reforçar o preto dos cílios. Ela não era de fazer isso, quer dizer, não duas semanas atrás. O motivo? Tiago, é claro.

            - Por que será que você, de repente, resolveu vir sempre com lápis na escola? – perguntei ironicamente.

            - Não sei... – ela disse, assoviando, imitando desenhos animados quando estão tentando esconder alguma coisa.

            - Pois é. – carreguei a voz de sarcasmo. – Não faço a mínima idéia. Vamos embora?

            - Vamos. – concordou.

            Estávamos na porta do banheiro quando, de repente, Kiara disse, na maior inocência:

            - Ou, olha lá os dois.

            Apontou para a biblioteca, que tinha a entrada virada para o pátio.

            Bem na porta, lá estavam Isa e Tiago, conversando.


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Notas finais do capítulo

REVIEWS!!!! E então? O que vocês acharam? Deixem-me saber o que vcs acham que vai acontecer!