O ataque foi rápido. Em um momento, Ronan e Arme estavam em sua casa, conversando. No outro momento, sombras surgiam de todos os lados e puxavam a garota. Ronan não tinha tempo para pegar sua espada, e por isso, saltou para dentro das trevas quando as sombras começavam a sumir.

Dentro da escuridão, ele era alvo de diversos golpes, e não podia defender-se ou esquivar deles.

– RONAAAN!! – ele só podia escutar a voz de Arme chamando-o.

Foi então que ele percebeu que estava caindo em um local cheio de árvores. Um bosque. Tentou retardar sua queda batendo nos galhos das árvores, mas não conseguiu. A força do impacto causado pela queda quebrou uma costela do rapaz e o fez perder a consciência.

Ele acordou com os pingos da chuva caindo em seu rosto. Estava deitado de barriga para cima, e sentia-se muito enfraquecido. Mesmo com o som da chuva, ouviu uma porta se fechar com estrondo e decidiu levantar-se.

Apoiou-se no tronco de uma árvore e berrou por ajuda.

– TEM ALGUÉM AÍ?! – foi a resposta que obteve, reconhecendo a voz de Ryan.

Ronan moveu os braços na direção das vozes e ouviu Elesis falar:

– TEM ALGUMA COISA ALI! VAMOS LÁ!

Ele começou a andar na direção dos amigos, bem devagar, para que eles não se assustassem com sua presença repentina, embora o rapaz não fizesse a menor idéia de onde estivesse. Por fim, Sieghart e Ryan se aproximaram. Pareciam prontos para lutar. Ronan sorriu assim que os viu e perdeu a consciência novamente.

Acordou no dia seguinte com as vozes dos amigos o rodeando.

– Você deu alguma poção de cura pra ele, Mari? – Lass sussurrava.

– É claro que sim! – a voz de Mari se mostrava bastante indignada – você acha que eu deixaria os ferimentos dele em aberto?

– Eu... – Lass começou, mas foi interrompido por Elesis, que perdeu a paciência.

– Dá pra parar de duvidar? Olha, ele tá acordando!

Ronan abriu os olhos e recebeu um grande abraço de Amy no mesmo momento. A garota não sorria, parecia muito diferente da Amy habitual.

– O que aconteceu, Ronan? – Jin bateu no ombro do rapaz, que ainda dava tapinhas carinhosos nas costas da dançarina – você apareceu aqui do nada, ferido...! 

– Certo, certo, pessoal... vamos dar um tempo pra ele respirar... – Sieghart ia abrindo espaço entre o círculo que havia se formado, enquanto Lire abria as venezianas para deixar a luz do sol entrar.

– Lá embaixo te explicamos o que aconteceu. É só descer as escadas – Ryan foi o último a sair, deixando a porta entreaberta.

Ronan estava sentado à mesa, tomando o café da manhã e ouvindo o que os amigos lhe contavam. De como eles tinham sido selecionados, quem era o novato e onde estavam. Depois, foi a vez do rapaz contar o que havia acontecido. Dio apareceu na cozinha nesse momento. Pela primeira vez, parecia que alguém não tinha desconfiança nenhuma do demônio.

– Ah, é você o cara que eles trouxeram pra dentro ontem? Eu sou Dio – e estendeu a mão para Ronan, que o cumprimentou cordialmente – você vai nos contar o que aconteceu?

Ronan moveu a cabeça em sinal afirmativo e começou a contar. Minutos depois, todos no ambiente encontravam-se em estado de choque.

– Como assim? Sombras? – Ryan estava desesperado – temos que treinar contra essas coisas!

– E temos que salvar a Arme! – Amy protestou, ignorando os comentários de Ryan.

– Mas ainda temos que treinar. Não sei se minha magia pode dar conta de seres que nunca enfrentamos antes – Mari estava com um livro apoiado na mesa e o revirava febrilmente.

– Talvez... alguém já tenha lutado contra essas coisas. O que você acha, Dio? – Jin estava com os braços cruzados, e ao dizer o nome do garoto, todos automaticamente se viraram para Dio.

– É, talvez... mas não sei... essas coisas podem ser algo que não exista aqui, não é mesmo?

– Tá, tá, já chega! De qualquer forma, o Ryan tá certo e temos que treinar! – Elesis levantou-se, decidida – vou pegar a minha espada e quem quiser treinar, vem comigo!

Sieghart usou a lâmina da espada para se proteger das flechas que a arqueira lançava contra ele; Ryan tentou atacar a irmã, mas ela foi defendida por Jin, que deu um soco tão forte que derrubou o druida em cima de Elesis, que lutava contra as partículas jogadas por Mari. Lass esquivava dos ataques de Dio saltando pelos galhos das árvores, porém, o demônio foi derrubado por Amy, que chutou as costas do rapaz.

Ronan assistia a tudo de longe, pois fora proibido de treinar enquanto estivesse se recuperando do que acontecera, tanto física quanto mentalmente. Ele ainda estava processando o que o lutador havia falado para ele momentos antes de sair para treinar: “– Tome cuidado com o Dio.”

– Mas por que raios eu tenho que tomar cuidado com ele? Não vejo nada de mais, só um cara que não tá pronto pra contar o que sabe, se é que sabe de algo...

Porém, seus pensamentos logo foram tomados por uma preocupação muito maior: Arme. Com a namorada desaparecida, ele não fazia a menor idéia do que fazer. Não tinha pistas de onde ela poderia estar ou se estaria bem.

Mas quanto antes se recuperasse, melhor. Poderia salvar Arme e ajudar os amigos a desvendar o mistério que Dio escondia, não importando o preço.

Porém, no local em que os amigos treinavam, várias sombras começaram a cercá-los, todas sem formas definidas. Ao ver aquilo, Ronan correu o mais rápido possível na direção do bosque. Aquelas eram as mesmas sombras que haviam levado a feiticeira e ele tinha que descobrir o que haviam feito com ela.