Admirável Mundo Novo escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 5
Capítulo 4




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          Foi com cuidado que Yoshiki desfez o bonito laço que fechava o envelope decorado que ele havia acabado de receber pelo correio, dentro de um outro envelope comum e que continha seu endereço numa caligrafia corrida que ele não reconhecia; poderia ser tanto de Hide como da sua futura esposa. O convite para a recepção do casamento, no entanto, havia sido feito com grande cuidado e capricho, as letras douradas dos nomes dos noivos brilhando sob a luz do abajur que estava ligado logo do seu lado.
          O texto do convite era objetivo e educado, convidando familiares, amigos e companheiros de trabalho a celebrarem a união. Hide era provavelmente shintoísta e seu casamento deveria ocorrer apenas na presença de parentes e amigos muito íntimos, de forma que era natural que ele fosse convidado apenas para a recepção. Se a sua memória não estava lhe pregando peças, todos os integrantes do BUCK-TICK eram naturais da província de Gunma, mas a cerimônia ocorreria em Tokyo mesmo. O baterista se viu desejando que ela fosse fora da capital... Fazia algum tempo que ele não saía da cidade.
          O loiro se levantou da beirada da sua cama, caminhando até uma cômoda cheia de gavetas de onde ele retirou papel e uma revista para servir de apoio, voltando à sua cama e pegando uma caneta que se encontrava sobre o seu criado-mudo para escrever a sua resposta, confirmando a sua presença no evento que iria acontecer no final de maio. Dobrando a sua carta e saindo em busca de um envelope não utilizado pelas gavetas mais próximas, Yoshiki fez uma notal mental para lembrar de separar uma boa quantidade de dinheiro novo para entregar na festa; ele provavelmente teria de ir ao banco e tarefas rotineiras como essa, normalmente delegadas à sua secretária, poderiam facilmente ser esquecidas se ele não anotasse isso em algum lugar também.
          Satisfeito quando ele havia endereçado seu resposta a Hide e também havia feito um recado para ele próprio a respeito do presente do casamento, o loiro se permitiu voltar para a cama, deitando sobre o colchão macio e encarando o teto do seu quarto que se encontrava majoritariamente imerso nas sombras, salvo por um pedaço iluminado pelo abajur que estava sobre seu criado-mudo. Erguendo preguiçosamente o seu braço esquerdo, o ex-baterista viu que ainda era cedo: a noite mal havia passado das nove horas e ele ainda tinha muito tempo para trabalhar em casa com mais documentos, pesquisas e dados de todos os tipos que ele havia trazido da Extasy, mas seu ânimo não estava focado na gravadora.
          Esse pequeno detalhe, por si só, já era um grande indício que Hayashi Yoshiki, sempre obecado pelo trabalho, não estava se comportando como sempre. E uma análise fria e calculista desse fato poderia traçar as origens de tudo a uma manhã de início da primavera que havia sido marcada por uma ligação telefônica resultante de um curioso engano, mas o loiro não tinha vontade de se aprofundar nessa questão. Pelo menos não naquele momento.
          Os devaneios do produtor foram interrompidos pelo barulho do seu celular, cujo som curto e vibrante indicava a chegada de uma mensagem de texto. Franzindo o cenho, o músico se virou na cama, rolando até o criado-mudo oposto para alcançar o aparelho e abri-lo, vendo que o autor da mensagem era um número que havia se tornado familiar nos últimos dias. Ele não sabia por que Atsushi não havia ligado diretamente para ele, no entanto; por mais que ele se mantivesse atualizado com a maioria dos lançamentos de eletrônicos, Yoshiki não era da geração que havia nascido grudada a um celular e utilizava mensagens para qualquer coisa ao invés de simplesmente ligar, assim como o vocalista moreno.
          Apertando uma das teclas, o conteúdo da mensagem logo apareceu em letras pretas vibrantes contra o fundo branco do seu celular:

          "Yoshiki-san, não sei se já está dormindo, então estou mandando essa mensagem. Fechamos um kyabakura em Kabukicho para Hide como uma despedida de solteiro e estamos convidando vários amigos e conhecidos dele para irem. É surpresa, então ele não sabe de nada. Me avise se quiser ir, ne? Sakurai."

          Um riso curto porém genuíno escapou dos lábios do pianista. Ainda sorrindo, ele apertou os comandos que o colocaram em linha direta com o moreno, seu sorriso aumentando alguns milímetros ao ouvir a voz ligeiramente espantada mas predominantemente alegre de Atsushi do outro lado:
          - Yoshiki-san! Acordei você?
          - Iie, havia acabado de responder ao convite de Hoshino-san.
          - Aa, ele enviou. Ainda bem, acho que as minhas ameaças surtiram efeito então... - o vocalista riu do outro lado da linha, sendo que Yoshiki acreditava que o homem mais novo estava em casa ou em algum lugar mais silencioso; quase não havia ruído ao redor, salvo por alguma sirene de carro de polícia ao longe e o que pareciam ser papéis sendo movidos.
          - Ameaças? - o loiro inquiriu, rolando para o centro da sua cama e ficando de barriga para cima, ocupado em observar as sombras no teto enquanto continuava falando ao telefone - Minha presença é tão sofrível assim que foram necessárias ameaças?
          - Iya, Yoshiki-san! Hide é anormalmente esquecido... Tive que criar um meio de ter certeza que ele mandaria o convite.
          - Certo, certo. Vou lhe dar o benefício da dúvida, Atsushi-san.
          - Arigatou, ne. Quanto à festa, acha que poderá comparecer?
          - Você não me disse nem quando nem o horário, Atsushi-san.
          Um pequeno momento de silêncio se seguiu entre eles então. Enquanto Yoshiki continuava sorrindo em silêncio, ele se pegou desejando que aquela conversa estivesse sendo travada pessoalmente; ver Sakurai Atsushi embaraçado e com um lever rubor no rosto era uma coisa rara.
          - Essas gravações estão me deixando louco. Gomen pelo esquecimento, Yoshiki-san... A festa vai ser hoje mesmo, fechamos o local a partir das dez horas. É o local onde gastamos parte dos nossos primeiros ganhos com o BUCK-TICK, então é... Nostálgico.
          - Estou impressionado.
          - Impressionado?
          - Eu não lembro como ou onde gastamos o que recebemos assim que o X Japan começou... Mas lembro da dor de cabeça do dia seguinte.
          Os dois homens riram por algum tempo, mas logo o mais velho dos dois retomou a conversa:
          - A despedida de Hoshino-san veio em boa hora. Não consigo me concentrar no trabalho e ter companhia para beber vai ser mais interessante.
          - Perfeito, Yoshiki-san! Vou apenas confirmar com mais pessoas e posso passar no seu apartamento depois, se quiser.
          - Imagine, Atsushi-san. Não temos nenhum débito de caronas a ser quitado.
          - Você não está em Omotesando? É caminho para Shinjuku.
          - Atsushi-san, não é que eu não aprecie a sua boa-vontade... Mas a sua insistência me faz acreditar que você tem segundas intenções.
          O breve período de silêncio na linha fez um sorriso de triunfo voltar ao rosto do baterista. A curva nos lábios de Yoshiki só aumentou quando uma pequena risada veio do outro lado, confirmando as suas suspeitas.
          - Estou preocupado, Yoshiki-san. Eu não achava que era tão transparente.
          - Você não é; posso lhe assegurar que o lado enigmático da sua personalidade está tão forte quanto antes... Mas gosto de pensar que sou bom em ler as pessoas.
          - Wakatta. Bom, se aceitar minha carona, eu vou ter de dirigir... E estando ao volante, eu me controlo melhor em relação às doses de shochu e copos de cerveja.
          - Mas é a festa de Hoshino-san, seu amigo. Não quer que eu lhe ofereça uma carona para poder beber despreocupado?
          - Ah, Yoshiki-san... Não acho que seja uma boa idéia. Acredite em mim quando digo que se eu beber demais... As coisas podem sair do controle.
          Os dois homens terminaram combinando a carona para quarenta minutos mais tarde, mas Yoshiki não podia deixar de repassar a última frase de Atsushi na sua cabeça... E imaginar todos os sentidos que aquela declaração poderia assumir.

          Quando o pequeno elevador abriu as portas no sexto andar, o barulho que vinha de dentro do local alcançou os ouvidos dos dois músicos. Yoshiki seguiu o vocalista atrás do corredor estreito, que eventualmente se ligava a uma porta de vidro não muito grande, protegida por um funcionário que parecia ser um guarda-costas do estabelecimento e uma moça alta, esguia e vestida com roupas provocantes e um sorriso inocente. Atsushi conversou com ela por rápidos momentos e os dois passaram imediatamente para o lado de dentro, sem qualquer reação da garota do lado de fora diante do quilate da fama que cada um possuía; o baterista poderia dizer que admirava aquele profissionalismo.
          Vários convidados já ocupavam o local que não era tão pequeno quanto o pianista havia suposto inicialmente; apesar da entrada do prédio não ter quase nenhum espaço e do elevador ser quase um cubículo que mal carregava quatro pessoas, o ambiente era amplo, com mesas rodeadas por cadeiras ou sofás separadas entre si por uma boa distância, além de um bonito bar e um palco central onde havia uma máquina de karaoke logo do lado, por enquanto não sendo utilizada. O moreno guiou o produtor até uma mesa que estava desocupada:
          - Yoshiki-san, por favor sinta-se à vontade. Vou ver como U-ta está se saindo com Hide, já que ele e Imai ficaram encarregados de trazê-lo sem criar suspeitas.
          - Obrigado, Atsushi-san. Se puder ajudar de alguma forma...
          O vocalista apenas sorriu e piscou um olho, retirando-se dali e sumindo entre as pessoas que chegavam a todo o momento. A iluminação do kyabakura havia sido mantida como deveria funcionar no dia-a-dia, suficiente para que os clientes conseguissem escolher a hostess que mais lhe chamava a atenção e encontrassem seu copo com bebida, mas também guardando uma certa penumbra que facilitava o anonimato e a privacidade de cada um. As hostess já circulavam por entre as mesas, oferecendo drinks, ouvindo histórias ou apenas fazendo companhia. Não por acaso, todos os convidados para aquela despedida de solteiro organizada para o guitarrista do BUCK-TICK eram homens.
          Yoshiki escolheu tirar seus óculos escuros, prendendo-os na gola da camisa azul escura que usava naquele momento. Como havia vindo de carro com Atsushi e o local obviamente tinha um aquecimento eficiente para que as funcionárias pudessem trabalhar com roupas reveladoras e provocantes, ele não havia trazido seu casaco consigo. O loiro pediu uma cerveja gelada para si quando uma das hostess apareceu ao lado da sua mesa, notando que ela havia lhe reconhecido mas havia prontamente se colocado no controle e tratado-o como um cliente normal.
          Enquanto o pianista esperava pela sua bebida, ele se deixou amparar pelo sofá preto às suas costas e observou o local, encontrando o perfil inconfundível de Kiyoharu algumas mesas mais a frente, além da figura de Nishikawa Takanori não muito distante do outro vocalista. Yoshiki também lembrava dos nomes de alguns executivos da BMG e da Sony que estavam ali, representantes da gravadora do BUCK-TICK e que ele havia encontrado algumas vezes na qualidade de fundador da Extasy.
          De repente, as luzes se apagaram por completo e as conversas pararam, todos ficando no mais completo silêncio. Yoshiki se virou na direção da única fonte de luz que havia sobrado juntamente com os outros convidados, observando a figura alta de Hoshino Hidehiko entrando pela porta de vidro com os olhos vendados e sendo guiado por um U-ta muito sorridente, Imai logo atrás dos dois com uma expressão de desinteresse ou então de grande calma; o loiro não tinha como saber de tão longe.
          - Yutaka, eu estou sem enxergar nada há...
          - Quarenta minutos, eu sei. Quer ficar quieto, Hide-kun? Estamos quase lá.
          - Quase onde?
          - Você perguntou isso mais de dez vezes e ficou sem resposta. Acha mesmo que ele vai responder agora, Hide?
          - Você também poderia ter me contado, Imai.
          - O Imai não vai contar nada, Hide.
          - Atsushi? - o guitarrista parecia confuso com o som da nova voz, parando no escuro assim que o baixista havia desaparecido entre as sombras, com os outros convidados. O vocalista fez um sinal com as mãos que Yoshiki não entendeu, mas ele logo voltou a falar:
          - Veja com seus olhos, Hide!
          A venda que até então estivera cobrindo os olhos do músico foi retirada pelo moreno em um gesto espalhafatoso, juntamente com a volta da iluminação e os gritos calorosos de todos os presentes. Hide parecia em estado de choque, admirado com o local, a quantidade de gente e, sobretudo, levando tempo para se acostumar a enxergar de novo com alguma claridade. Yoshiki ria sozinho, agradecendo com a cabeça à garrafa de cerveja gelada que havia sido colocada na sua frente juntamente com um copo alto, não perdendo tempo em se servir. O líquido cor de âmbar mal havia tocado seus lábios quando uma figura familiar se sentou à sua frente com animação incomum; era difícil ver Atsushi dando risada e sendo caloroso daquela forma na frente de tantas pessoas que não eram exatamente seus fãs.
          - Hoshino-san ficou realmente surpreso. - o baterista comentou com um sorriso, oferecendo o copo que tinha em uma das mãos para o outro, que aceitou. Conforme ele estendeu o braço para entregar a cerveja ao moreno, os dedos de ambos se tocaram brevemente; foi tempo suficiente para o loiro notar que a atitude do organizador da pequena festa havia passado para o seu exterior e que as suas mãos estavam cálidas também.
          - Hai, estou contente com o sucesso. - ele replicou, esticando-se sobre o sofá que ele havia clamado para si naquele momento preguiçosamente, quase como um gato. Ele tomou aproximadamente dois goles da bebida antes de devolvê-la ao dono com um agradecimento, permanecendo na posição espaçosa sobre a mobília depois, apenas observando as funcionárias e os convidados. Os olhos de Yoshiki, que se ocupava novamente com a cerveja, estavam completamente presos em Atsushi.
          - Atsushi-san...?
          - Diga, Yoshiki-san.
          - Você está com um... - o loiro não conseguiu evitar um sorriso após colocar o copo de volta sobre a mesa de madeira, usando uma das mãos para fazer um gesto próximo ao rosto, indicando que o vocalista havia ficado com um pouco da espuma da bebida ali, formando um bigode branco e bastante engraçado.
          - Aa! - o outro exclamou, mudando ligeiramente o modo como estava sentado para conseguir tirar um pequeno espelho portátil do bolso, discreto como o seu proprietário. Atsushi abriu o diminuto objeto retangular e de cor preta, erguendo-o com a mão esquerda de forma a conseguir enquadrar seu rosto no reflexo e rir dele por alguns segundos. Yoshiki o acompanhou na pequena gargalhada, mas o riso morreu na sua garganta quando a língua do vocalista deixou o interior da sua boca para retirar a espuma branca que havia sobrado, lambendo os próprios lábios por completo ao final e dando um sorriso inclassificável para o baterista que havia assistido a todo o processo do outro lado da mesa.
          - Arigatou por me alertar, Yoshiki-san.
          - Disponha. - o pianista comentou, erguendo o copo na direção do outro homem antes de tomar mais um gole para umedecer a sua garganta que havia secado rapidamente nos últimos segundos. De repente, um homem engravatado que o produtor não conhecia chamou pelo moreno, que se desculpou e levantou da mesa para conversar com o indivíduo em questão. O loiro pensou em procurar Hide e felicitá-lo pelo casamento, mas o guitarrista encontrou-o primeiro.
          - Hayashi-san!
          - Hoshino-san. - o ex-integrante do X Japan abriu um sorriso, levantando-se da mesa que ocupava e trocando um aperto de mão caloroso com o futuro noivo, que acabou por abraçá-lo depois - Eu estava prestes a procurá-lo para agradecer pelo convite para a recepção. Já respondi e amanhã mesmo envio pelo correio.
          - Não precisa se apressar, Hayashi-san. Eu e Mayumi ficaremos muito felizes em poder contar com a sua presença. - ele falou com um sorriso genuíno, gastando alguns segundos para olhar ao redor, aparentemente emocionado e maravilhado com a quantidade de presentes que a sua banda havia conseguido convidar em tão pouco tempo para a festa surpresa - Doumo arigatou por ter vindo hoje também! Ainda não acredito que eles fecharam este local...
          - Atsushi-san me contou o significado dele ao telefone. - o loiro confidenciou com um meneio de cabeça, vendo o outro arregalar os olhos e rir logo em seguida - Disse a ele que vocês são muito sortudos... Eu mal lembro de como fizemos nossa primeira comemoração no X Japan; seria incapaz de fazer algo assim para meus amigos, se fosse necessário.
          - Acchan tem excelente memória para algumas coisas... É realmente impressionante. - o guitarrista concordou, apertando as mãos do baterista mais uma vez - Arigatou novamente por ter vindo, Hayashi-san.
          - Eu é que agradeço pelo convite, Hoshino-san.
          O homenageado da noite se despediu com um sorriso, cumprimentando os ocupantes da mesa vizinha e assim sucessivamente. O produtor voltou a se sentar, sentindo que o ambiente esquentava gradualmente com o álcool que ele ingeria e com a quantidade de pessoas que estavam ali dentro também, circulando e se movimentando a todo momento. Quando uma das funcionárias se aproximou para retirar a garrafa que estava praticamente vazia, ele pediu uma garrafa de shochu para si, momentaneamente distraído com a hostess que havia se retirado para notar que o sofá à sua frente havia sido ocupado por alguém.
          - Hayashi-san, não esperava vê-lo por aqui.
          - Imai-san, como vai? - o outro respondeu o cumprimento curto que o guitarrista líder da banda havia feito com a cabeça com um semelhante - Eu só soube da festa hoje, pouco depois das nove horas. Atsushi-san se ofereceu para me dar uma carona até aqui, inclusive.
          - Interessante. - o outro replicou, pedindo uma dose de sake para a hostess que havia acabado de trazer a bebida de Yoshiki e não aceitando um pouco do shochu que o baterista havia acabado de lhe oferecer - Atsushi e Toll ficaram responsáveis por ligar para as pessoas, na verdade. Estou surpreso de ver que chamaram outros músicos, também.
          - Refere-se à Kiyoharu-san e Nishikawa-san?
          Imai concordou com a cabeça rapidamente, seu olhar penetrante voltando ao produtor que tinha diante de si depois de acenar rapidamente para alguém que lhe havia reconhecido do outro lado do ambiente:
          - Acredito que mais gente esteja por chegar, na verdade. Toll deve ter telefonado para todos que participaram do nosso tributo.
          - Ficou excelente, se me permite o comentário. - o loiro falou depois de ter engolido a primeira dose da sua bebida, sentindo ela queimar de forma mais forte a sua gargante do que a cerveja que estivera lhe entretendo até então - E a idéia dos shows realizados com cada um dos convidados especiais também foi muito perspicaz.
          - Arigatou. - o homem canhoto agradeceu, novamente por meio de um gesto breve de cabeça - Foi idéia minha.
          O baterista não teve tempo de dizer mais nada, a luz do ambiente sendo diminuída sensivelmente. Tanto Yoshiki quanto Imai se viraram na direção da porta, mas os barulhos de alguém ao microfone logo atraíram a atenção de ambos e da maioria dos convidados para o palco com a máquina de karaoke que, até então, estivera discretamente em silêncio e sem qualquer utilidade. Sobre o palco estava ninguém menos que o próprio Sakurai Atsushi, que sorria para quem provavelmente era Hide, localizado mais próximo do palco.
          - Peço desculpas por interromper a conversa de vocês... Mas temos uma máquina de karaoke aqui e eu lembro, que naquele fatídico dia que estamos rememorando, ficamos felizes de descobrir que uma música nossa havia sido incluída nas máquinas... E é justamente essa música que eu ofereço para Hoshino Hidehiko, nosso incrível guitarrista!
          Yoshiki se lembrou da música no momento em que os primeiros acordes criados pela máquina se fizeram ouvir no local: JUST ONE MORE KISS, se ele não estava enganado, havia sido bem-sucedida graças também a um comercial na época do seu lançamento. O baterista gostava daquela canção, mas ele se surpreendeu ao ouvi-la na voz atual do moreno; assim como outros vocalistas, Atsushi sempre havia sido muito talentoso, mas sua voz havia adquirido um timbre mais distinto, bonito e cristalino com o passar dos anos, além dele ter aprendido a colocar um pouco mais de volume no seu trabalho. Assim sendo, a música que chegava aos ouvidos do ex-integrante do X Japan era familiar mas, ao mesmo tempo, algo completamente novo.
          O vocalista ficou o tempo todo de costas para a grande tela de LCD que exibia imagens aleatórias de flores, pessoas e paisagens e onde a letra da música podia ser acompanhada, recusando-se a recorrer a qualquer tipo de apoio para cantar algo cuja letra havia sido composta por ele mesmo. Yoshiki observou, hipnotizado, o modo como Atsushi colocava sentimento naquela letra apropriadamente romântica em função do casamento que estava para acontecer, seus gestos combinando com as palavras que deixavam seus lábios e o seu olhar sempre brilhando, como se enxergasse além do óbvio e conseguisse atingir as pessoas na platéia.
          Por diversos momentos, o baterista sentiu que o moreno olhava para ele, cantando na sua direção, mas tão rápido quanto a sensação vinha ela logo se dissipava e Atsushi andava um pouco pelo pequeno palco, brincando e apontando para alguns dos convidados que ele enxergava nas proximidades graças à iluminação que estava sobre ele. No entanto, quando a música já havia ultrapassado todo o seu refrão e estava na sua estrofe final, o moreno parou, erguendo o braço que ele tinha livre e apontando na direção do estabelecimento, acertando com precisão a localização do produtor antes de falar as últimas frases em inglês da letra:
          - I want you to kill me... God knows I lost my heart.
          Ele sussurrou a última palavra da canção e saiu do palco sob os aplausos e gritos da maioria dos presentes, passando o microfone para uma das hostess que se propôs a cantar uma outra música do BUCK-TICK. A iluminação do local, no entanto, havia sido restaurada e o volume do karaoke diminuído; não havia dúvidas de que aquela ambientação criada para a primeira música havia sido especialmente feita para Atsushi.
          - Também acha isso interessante, Hayashi-san?
          A voz de Imai fez com que o loiro piscasse e deixasse de observar o palco, já desocupado pelo vocalista há alguns minutos. Ele virou na direção do outro músico que dividia sua mesa, encontrando sua garrafa de shochu e aproveitando para tomar mais uma dose antes de falar novamente:
          - Acho o quê interessante, Imai-san?
          - O modo de cantar de Atsushi. - ele respondeu, sua dose de sake já terminada em algum momento que o pianista não havia visto. De repente, ele se levantou da mesa, ajeitando algumas rugas no tecido da sua roupa antes de olhar o produtor de um jeito que poderia ser descrito como perfurante, apesar da sua aparência calma e seu semblante de provável apatia ou desinteresse - Você não sente como se fosse a única coisa no universo quando ele canta?
          O guitarrista se afastou antes que o outro homem pudesse responder qualquer coisa, mas aquilo não importava. Mesmo que Hisashi Imai tivesse toda a noite, Yoshiki simplesmente não teria conseguido encontrar uma resposta para aquilo.



Continua...


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Notas finais do capítulo

Mil perdões, mas este capítulo tem trocentas notas culturais e cronológicas! :x

1. Antes de mais nada: até onde eu sei, a prática de "despedidas de solteiro" no Japão não existe, mas já encontrei em fóruns na internet sugestões de locais para elas. Acho que não é um hábito existente entre os japoneses, mas não duvido que ele seja incorporado um dia, diante da "ocidentalização" do país. Eu tomei a liberdade de imaginar uma despedida mais ou menos crível para o universo da fanfic e que, na minha opinião, poderia acontecer. A festa surpresa se dá em um hostess club, chamado pelos japoneses de "kyabakura" (mistura de "cabaret" e "club"); em um hostess club, homens pagam para beber e usufruir da companhia das hostess, mulheres que se empenham em fazer companhia, cantar no karaoke, ouvir o que os clientes têm a dizer e tudo mais, essencialmente ocupando o posto que as geishas tiveram um dia. Elas se encarregam do entretenimento dos clientes, não havendo nenhuma nudez ou sexo nesses locais.
2. Kabukicho é uma das regiões de Shinjuku, uma das maiores regiões de Tokyo. Enquanto Shinjuku tem alguns de seus setores dedicados aos negócios e edifícios altíssimos de companhias multinacionais, outras partes de Shinjuku são notáveis pela sua vida noturna - incluindo motéis, bares, host e hostess clubs, a maioria deles em Kabukicho, que é também um local de prostituição na capital japonesa. É um local conhecido como "a cidade que nunca dorme".
3. Coloquei Yoshiki morando dessa vez em Omotesando, uma avenida longa e cheia de árvores e lojas de marca. A avenida de Omotesando dá, eventualmente, na famosa estação de trem de Harajuku, sendo que essa avenida e a rua Takeshita são as ruas mais famosas dessa região para compras. A título de curiosidade, eu fiz o percurso da estação de trem de Harajuku até Omotesando e elas são muito próximas, mas completamente diferentes! Você sai de uma rua cheia de lojas de roupa de VK para cair em frente a uma casa linda ocupada pela Ralph Lauren. xD Surreal.
4. Para terminar as notas culturais, shochu é uma bebida alcoólica muito comum no Japão, só que destilada (ao contrário do sake, por exemplo). Assim sendo, ela pode ser classificada como mais fraca que whisky ou a vodka normal, mas é mais forte que o vinho e o sake.
5. Detalhes cronológicos agora: a história se passa, atualmente, em abril de 2007, de forma que alguns fatos que ocorreram de verdade estão sendo retratados aqui, mas em momentos diferentes da realidade. O casamento de Hide, por exemplo, foi em 2006 - e não em 2007, como na história. O álbum em que a banda está trabalhando é o "Tenshi no Revolver", lançado em 19 de setembro de 2007 (meu aniversário! ) e cuja data não será alterada na história. E, finalmente, o álbum tributo a que Yoshiki e Imai se referem é o PARADE ~RESPECTIVE TRACKS OF BUCK-TICK~, que teve vários artistas (entre eles Kiyoharu, abingdon boys school, rally, J, BALZAC e outros) fazendo covers de músicas do B-T em homenagem aos 20 anos da banda. Durante o ano, a banda tocava sempre com um dos artistas desse CD nos shows, eventualmente fazendo uma apresentação com todos os participantes que durou o dia todo - o BUCK-TICK FEST 2007 ON PARADE, que ocorreu em setembro de 2007 e que ainda não aconteceu na fanfic.



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