Admirável Mundo Novo escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 4
Capítulo 3




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          Os dedos longos de Atsushi deslizavam pelas palavras escritas apressadamente em uma folha de papel, seus lábios transformando as linhas poéticas em sons. Franzindo o cenho, o letrista principal do BUCK-TICK inclinou o corpo apenas o suficiente para agarrar uma borracha que estava na mesinha ao lado do sofá, apagando um conjunto de seis palavras antes de rabiscar o papel novamente.
          Com a mão livre, o moreno retirou um éclair vistoso de uma caixa de papelão que lhe fazia companhia no sofá, mordendo o doce sem perder o foco na letra que compunha; o creme do recheio, no entanto, era saboroso demais para que o vocalista conseguisse não fechar os olhos, entregando-se momentaneamente à iguaria francesa com um suspiro de contentamento.
          Ao se concentrar novamente na letra, Atsushi percebeu que um pouco do creme havia caído sobre as suas anotações e murmurou um palavrão imediatamente, tentando salvar seus papéis com a ponta dos dedos que retiravam o recheio da superfície da folha. A campainha do seu apartamento tocou quando vocalista tinha acabado de lamber o resto do creme que ficara na sua mão.
          Encarando a porta com uma expressão de surpresa, ele se levantou do sofá e apoiou as folhas na mesinha em que estivera usando de depósito para lápis extras e borracha. Limpando os dedos melados na calça jeans velha que usava, Atsushi correu até a entrada do seu apartamento, batendo-se mentalmente por estar descalço e pisar naquele chão gelado de início de primavera.
          - Imai! - o outro sorriu ao espiar pelo olho mágico, girando a chave duas vezes e retirando o trinco superior da porta - Daijoubu?
          - Daijoubu. - o guitarrista replicou, entrando no apartamento quando Atsushi lhe deu espaço para tanto. O vocalista fechou a porta e pulou o pequeno degrau onde o amigo havia se sentado para tirar os sapatos, voltando a pisar em carpete de madeira e sentindo-se mais confortável na ausência do frio sob seus pés.
          - O quê está fazendo aqui? Não esperava a sua visita surpresa.
          - Queria saber se estava melhor... - o outro respondeu após se levantar, colocando suas botas de inverno viradas para a saída conforme os bons costumes - Toll me disse que sua voz estava esquisita no telefone quando ligou para dizer que não iria hoje ao ensaio.
          Os olhos negros do moreno traduziram uma confusão temporária, dissipada junto com um aceno de cabeça por parte do vocalista momentos depois. Sorrindo, Atsushi gesticulou para que Imai lhe acompanhasse de volta à sua sala de estar, sentando-se novamente no sofá enquanto o outro homem se apossava de uma zabuton que até então estivera encostada contra a parede.
          - Não foi nada. Eu aproveitei para ligar para o Toll quando estava escovando os dentes... E eu aposto que ele deve ter achado que era culpa do resfriado. A minha voz até que está normal, para ser sincero... - o mais novo dos dois homens se espreguiçou contra o sofá, não contendo um bocejo sonoro; afinal, estavam apenas Imai e ele e não era necessário seguir todas as regras de etiqueta à risca - Não sinto muito o cheiro dos alimentos e ocasionalmente minha cabeça dói... Mas eu decidi ficar em casa mais para compor do que me poupar do tempo.
          O homem de cabelos curtos assentiu com a cabeça, em silêncio. Seus olhos de repente caíram sobre a caixa que estava ao lado do colega, exibindo o nome de uma santa francesa que dava o nome a confeitaria em letras garrafais no papelão.
          - Você esteve na Saint-Étienne?
          - Hmmm? - o outro indagou, virando a cabeça para acompanhar a linha de visão do colega e compreender a pergunta - Ah, sim! Yoshiki-san e eu estivemos sexta-feira por lá e na saída eu comprei uma caixa de éclairs para vocês... Mas era sexta-feira e como não fui ao ensaio hoje eu achei que seria perigoso deixá-los para comer depois. Quer me ajudar na árdua missão de devorá-los?
          Imai observou o amigo por alguns segundos; o sorriso brilhante que havia acompanhado a sugestão tentadora do vocalista só reforçava uma opinião que ele havia formado há alguns dias: Atsushi andava mais bem-humorado e disposto do que o normal para aquela época do ano cheia de gravações, trabalho duro no estúdio e dores de cabeça adicionais que sempre advinham da produção de um álbum.
          O moreno estava mordendo mais uma das bombas recheadas com creme quando o guitarrista limpou a garganta, afrouxando o cachecol que tinha no pescoço e encarando o amigo com uma postura relativamente séria para uma visita entre velhos conhecidos:
          - Já conseguiu trabalhar nas letras?
          - Hai, hai. Fiz algum progresso hoje. - Atsushi concordou com a cabeça, depositando a metade intocada do doce de volta na caixa e se levantando do sofá com as letras que havia lambuzado sem querer mais cedo. Sentando-se ao lado do outro homem mas no chão, o vocalista lhe passou os papéis com a sua caligrafia, ocupado em lamber novamente o creme excedente dos seus dedos.
          - Estou vendo... - o outro murmurou, passando os olhos concentrados pelas letras do colega. A maioria ainda estava sem título e inacabada, mas o tema comum a todas elas era a felicidade e a necessidade de viver a vida com a máxima intensidade possível - Suas letras estão anormalmente...
          O moreno sorriu de leve para o outro músico:
          - Felizes?
          -...É. Por mais estranho que isso seja.
          - Não é estranho. Acho que está na hora de seguir um rumo diferente de novo. - o vocalista explicou, espreguiçando-se languidamente enquanto Imai continuava lendo as suas criações mais recentes com atenção - Meu lado gótico está satisfeito por enquanto.
          Mal Atsushi havia acabado de fazer sua afirmação quando seu celular começou a tocar, o som da Toccata e Fuga em Ré Menor de Bach chegando aos ouvidos dos dois homens. O moreno se levantou imediatamente, correndo na direção do som que parecia vir do seu quarto; sozinho na sala, o guitarrista revirou os olhos antes de suspirar.
          - O quê você dizia sobre o seu lado gótico estar saciado?
          - Imai!
          Depois que o telefone foi atendido, o mais velho ouvia apenas a voz abafada do vocalista no seu quarto; as palavras chegavam entrecortadas e era difícil entender do que se tratava, mas a ligação foi breve e Atsushi logo voltou para a sala, sentando-se novamente ao lado do amigo depois de guardar o celular no bolso da calça.
          - E então?
          - Estou surpreso com a mudança, mas acho que depois dos últimos singles... É compreensível. - o guitarrista torceu os cantos da boca para cima e devolveu as letras para o outro homem - Fale assim que possível com Toll para acalmá-lo.
          - Daqui a pouco eu ligo para ele... Eu preciso de um cigarro e não sei onde está meu maço. Procurei em todas as minhas calças e não encontrei. - o moreno fez um muxoxo, se levantando de novo e deixando suas anotações na mesa ao lado do sofá, junto à borracha e lápis utilizados. Inclinando-se de leve, ele pegou o último éclair da caixa, estendendo-o na direção do amigo - Tem certeza de que não quer?
          O moreno estava no meio de uma batalha para convencer o outro músico a comer o doce quando seu celular tocou de novo. Fechando a mão de Imai ao redor da bomba recheada de creme, Atsushi correu para pegar a caixa de papelão onde a comida havia ficado acomodada até então, acabando com qualquer opção que o mais velho dos dois teria para devolver o éclair. Somente quando o guitarrista acabou mordendo o doce é que Atsushi decidiu atender seu telefone, já por volta do que seria o quarto toque.
          - Moshi moshi. Aa, Yoshiki-san, genki desu ka?
          O anfitrião sumiu para dentro da sua cozinha, mas dessa vez o local era propício para ecos e a conversa chegava até Imai, que se viu deliciado com o doce apesar dos seus protestos iniciais; ele nunca havia sido muito fã de cremes açucarados e pratos com níveis de glicose nada saudáveis.
          - Ajudou bastante sim, Yoshiki-san; tem certeza de que não precisa dele de volta? - a voz aveludada de Atsushi voltou a ficar mais perto e o vocalista ressurgiu na sala, livre da embalagem da doceira e usando a sua mão livre para arrumar o cabelo escuro que não havia penteado naquela manhã, mas que mesmo assim lhe conferia um semblante indiscutivelmente atraente - Aa, sou. Me ligaram agora pouco e meu carro ficou pronto, então vou buscá-lo dentro de meia hora. Quer passar por lá então?
          Tendo acabado de comer seu éclair, Imai tentou afastar sua mente da conversa que ouvia, procurando por guardanapos para limpar as mãos. Não achando nada, o guitarrista foi até o banheiro do corredor do apartamento, encontrando o maço do vocalista sobre a pia, totalmente esquecido.
          O mais velho dos dois homens voltava com os cigarros pelo corredor quando quase esbarrou no moreno, que havia acabado de desligar o aparelho e ia na direção do seu quarto:
          - Aa, gomen... Meus cigarros!
          - Estavam no banheiro... Você realmente esquece do mundo quando se concentra em alguma coisa. - o outro comentou enquanto devolvia o maço para o seu dono legítimo, acompanhando o amigo até seu quarto relativamente bagunçado - Você disse que seu carro ficou pronto?
          - Hai, ficou. Aquela primeira ligação que eu atendi enquanto você olhava as letras era da oficina... Estou indo buscar o carro.
          - E como você vai até a oficina? - Imai perguntou, encostando-se contra uma cômoda de mogno onde o vocalista apoiava os presentes favoritos que ele havia ganhado dos fãs ao longo dos anos - Está frio para ficar andando de estação em estação até chegar lá... E já são quase cinco horas.
          - Eu sei, eu sei. Imai, você às vezes fala que nem a minha mãe. - o moreno replicou com um sorriso, sentando na cama enquanto calçava seus pés com meias e trocava de camisa, colocando uma malha mais quente; ele nem se preocupou com o fato do outro homem estar ali, assistindo - Yoshiki-san vai me levar, não tem problema.
          - Hayashi-san?
          - Hai. Quando saímos da Saint-Étienne ontem nós decidimos conversar mais um pouco em um bar que ele conhecia... Eu falei algo sobre o próximo álbum e sobre como precisava me inspirar e ele me emprestou um dos seus livros de mitologia grega. Ajudou bastante.
          Os olhos do guitarrista estavam presos na figura do outro homem, que agora retirava um par de botas pretas do armário; Atsushi não havia trocado a calça jeans descolorida que usava, mas o seu suéter preto era novo e de muito bom-gosto, possuindo uma gola charmosa que deixava em evidência a pele clara e tentadora do moreno. Olhando o relógio prateado que carregava no pulso, o vocalista murmurou um palavrão.
          - Estou ficando atrasado! Imai, você leva as botas lá pra frente para mim?
          O outro músico concordou com a cabeça, dando espaço para que o amigo passasse correndo por ele e se trancasse no banheiro. Imai deixou as botas do amigo na parte reservada para os calçados, ele mesmo recolocando seus sapatos de volta. Atsushi apareceu momentos depois, seu cabelo negro penteado e com um de seus perfumes característicos preenchendo o ar da sala de estar.
          - Vamos? - o vocalista sorriu, calçando as botas com a rapidez adquirida ao longo de anos de uso, retirando as chaves do carro de um suporte na parede e agarrando um casaco de inverno preto que também estava pendurado - Não quero que Yoshiki-san fique esperando por muito tempo no parque.
          - Hai, vamos. - o outro assentiu com a cabeça e apertou o cachecol ao redor do pescoço antes de sair para o hall, observando o amigo que trancava a porta do seu apartamento - Como foi mesmo que você e Hayashi-san começaram a conversar?
          - Por engano. - o moreno replicou enquanto descia as escadas que o levariam até o térreo, olhando de tempo em tempo para trás para se certificar de que Imai estava acompanhando sua explicação - Eu disquei para o seu celular no dia do acidente e acertei o dele sem querer! Incrível, não?
          - Incrível. - o outro concordou, sua falta de entusiasmo passando desapercebida pelo amigo.

          - Sua assinatura por favor, Sakurai-san.
          - Aa, claro.
          O moreno pegou a caneta oferecida por um dos funcionários da oficina, riscando rapidamente seu nome no campo indicado para tanto. Devolvendo o objeto emprestado com um sorriso, o vocalista andou na direção em que seu veículo havia sido deixado por um dos manobristas do local, Yoshiki logo aparecendo ao seu lado na breve caminhada.
          - Eles não levaram nem mesmo uma semana para consertar todo aquele estrago.
          - Não, não levaram. Eu não sabia que oficinas eram tão competentes, Hide vive reclamando dos problemas que ele tem quando precisa de alguma coisa. - o vocalista esboçou um sorriso para a sua companhia pela tarde enquanto abria a porta do motorista, gesticulando para o outro músico se acomodasse no banco do carona - Eu sei que ele deu a entender que eu era um péssimo motorista naquele dia em que esteve no estúdio, mas em minha defesa eu posso dizer que ele já se envolveu em batidas bem piores.
          - Eu acho que Hoshino-san não tem um rosto tão conhecido, apenas.
          - Rosto conhecido? - o moreno replicou, ligando o carro e constatando com prazer que tudo parecia funcionar bem, além do tanque de combustível estar cheio - O que quer dizer?
          - Ora, Atsushi-san. - o loiro respondeu, erguendo os óculos escuros que utilizava no rosto de forma a apoiá-los no alto da cabeça, lançando ao outro músico um olhar que misturava descrédito com diversão enquanto o dono do veículo guiava o mesmo para a rua - É claro que o serviço do conserto foi rápido porque você é Sakurai Atsushi. Você é o rosto mais conhecido da sua banda.
          - Hmmm... Duvido que os mecânicos sejam muito interessados no cenário do rock japonês.
          - Atsushi-san, sua modéstia me espanta. Você honestamente acredita que sua posição como estrela não influencia acontecimentos cotidianos?
          Parando o carro no primeiro sinal vermelho que pegaram ao sair da oficina, o moreno teve tempo de encarar o outro músico com um semblante pensativo. Passando uma das mãos pelo cabelo, o vocalista parecia estranhamente tímido aos olhos do baterista; acostumado a ver trechos de performances no palco e a observar ensaios fotográficos, a faceta mais reservada de fora dos shows de Atsushi era um contraste interessante e que poucos tinham a chance de conhecer.
          - Eu acho que deve ter alguma influência sim. Você está provavelmente certo, Yoshiki-san. É que eu... Não queria que fosse dessa maneira. - o moreno replicou com o mais leve dos rubores no rosto, tão fraco que o pianista teve dúvidas a respeito da sua existência - Eu não sou melhor do que ninguém parece receber um tratamento especial.
          De repente, a constante resistência que o vocalista do BUCK-TICK demonstrava em aceitar que ele era o alvo de muitos olhares pela rua e em estabelecimentos comerciais fez todo o sentido para o loiro. Sentindo seus lábios se curvarem para cima involuntariamente, o mais velho dos dois homens aproveitou o longo farol fechado para aproximar-se do outro, apoiando sua mão no ombro do moreno.
          - Atsushi-san, você é uma pessoa especial. Todos nós somos, de alguma forma. - o vocalista agora encarava o loiro com atenção incontestável - A única diferença que existe entre você e o mecânico que consertou seu carro é que mais pessoas reconhecem essa sua característica do que no caso dele; é uma conseqüência natural de se trabalhar no campo em que escolhemos, Atsushi-san, possuindo mais destaque na imprensa do que outras profissões.
          Um breve período de silêncio se seguiu dentro do carro enquanto o moreno engatava a marcha para colocar o veículo novamente em movimento, seu perfil com a mesma expressão reflexiva que Yoshiki havia observado antes. Atsushi andou alguns metros, entrando no prédio onde o outro músico havia estacionado seu carro mais cedo e de ambos andaram até a oficina mecânica.
          - É uma perspectiva diferente das coisas.
          - Provavelmente. - o baterista concedeu, balançando a cabeça de maneira afirmativa quando os dois já se encontravam parados no interior do estacionamento. O carro do próprio ex-líder do X Japan estava duas vagas para a direita - Mas como tudo na vida, também há o outro lado: maior exposição e reconhecimento demandam maiores responsabilidades e cobranças.
          - Isso é inquestionável. - o moreno concordou, tirando o cinto de segurança e se acomodando na sua poltrona de modo a ficar meio de frente para o outro músico - Todos nós já passamos por isso em algum momento.
          Yoshiki assentiu em silêncio novamente, recordando momentos particularmente dolorosos para ele. Por ser uma figura de relativa notoriedade, a sua dor quando da morte de um de seus melhores amigos havia sido muito pior: não havia como sofrer incógnito em um parque ou fazer uma visita discreta ao túmulo de Matsumoto Hideto. Seu emocional estava devastado e, ainda sim, ele se via na obrigação de ir a público falar de sentimentos que nem mesmo ele compreendia direito.
          - Yoshiki-san?
          - Gomen, Atsushi-san. - o outro replicou, saindo do seu pequeno devaneio - Me desculpe, falou alguma coisa antes?
          - Não, nada... Mas parece que provoquei algumas lembranças ruins para você. Me desculpe.
          - Não, não. Não se preocupe com isso. - o loiro sacudiu a cabeça negativamente, dando ênfase às suas palavras e sorrindo depois - São apenas lembranças. Mas como disse antes, você mesmo admitiu ter passado por momentos ruins que toda celebridade enfrenta... Então você não precisa se culpar por algo que é a contrapartida dessa fama que você possui. É o mero equilíbrio de qualquer situação que vivemos.
          Foi a vez do moreno balançar a cabeça de forma afirmativa, manifestando a sua compreensão do que Yoshiki dizia. Uma expressão mais alegre finalmente iluminou os traços harmônicos do vocalista, que tomou uma das mãos do outro homem entre as suas e as apertou de leve:
          - Arigatou, Yoshiki-san.
          - Não precisa agradecer, Atsushi-san. É sempre um prazer conversar com você.
          - Digo o mesmo. - o moreno replicou, apoiando as suas mãos sobre os seus joelhos - Posso lhe oferecer uma carona de volta para casa ou alguma coisa? Sei que seu carro está parado aqui, mas parece deselegante não retribuir o seu favor.
          - Não está me devendo absolutamente nada, Atsushi-san. - o baterista assegurou o outro homem com uma piscada de olho e destravou a sua porta, descendo do veículo com movimentos rápidos - Espere apenas um momento, vou buscar algumas coisas no meu carro.
          - Hai, hai.
          O pianista recolocou os óculos no rosto, andando rapidamente até o seu próprio carro e abrindo o porta-malas. Embora estivesse um pouco bagunçado com peças de roupa, objetos aleatórios e caixas de papelão vazias, ele logo achou o embrulho que procurava, aninhando o volume em um dos braços enquanto fechava a mala. Atsushi havia aberto o vidro do lado do motorista, recebendo o pacote das mãos do outro músico com uma expressão de interrogação.
          - Do que se trata, Yoshiki-san?
          - Meu material padrão de inspiração. - o outro abriu um largo sorriso do lado de fora, apoiando-se na lataria do carro para conversar melhor - Você disse que aquele livro sobre mitologia grega havia ajudado, correto? Eu reuni alguns dos livros e textos que eu costumava ler quando tinha problemas para compor... Incluí alguns filmes também; eu sei que temos gostos diferentes, mas podem ser de alguma valia.
          - Gostos diferentes... Bom, segundo o que você mesmo me disse mais cedo, eles podem muito bem ser complementares. - o moreno sorriu, colocando o embrulho no banco que Yoshiki ocupara até poucos momentos atrás - Tem certeza absoluta de que não vai usar nada disso?
          - Não, não no momento. - o loiro frisou a última palavra com um ar misterioso, algo que ganhou uma exclamação de surpresa e divertimento do vocalista:
          - Eu disse que você andava misterioso.
          - Não por muito tempo, garanto. Mas não se preocupe, eu prometo que lhe contarei tudo eventualmente... Pode me devolver as coisas quando quiser.
          - Okkei. Ah, Yoshiki-san, Hide vai se casar em algumas semanas... - ele fez uma pausa e abriu um sorriso malicioso - Ele finalmente conseguiu fazer a pergunta definitiva para a sua noiva. De qualquer forma, isso vai causar uma pausa temporária nos nossos trabalhos para o álbum e, conseqüentemente, nas letras. Me avise se surgir algum imprevisto.
          - Sem problemas, Atsushi-san. Mande meus cumprimentos a Hoshino-san. - o baterista acrescentou, afastando-se do veículo e preparando-se para ir embora - Boa sorte com as suas letras!
          - Arigatou. E quanto a Hide, eu vou exigir pessoalmente que ele lhe mande um convite. - o moreno piscou um olho e ligou o motor, ajeitando o cabelo rapidamente com a ajuda do espelho retrovisor - Prefere receber o convite em casa ou na Extasy?
          - Em casa. Eu lhe passo meu endereço depois.
          - Hai, hai. Até mais então, Yoshiki-san. Eu ainda vou pensar em como retribuir seus favores e a conversa de hoje.
          - Não precisa fazer nada disso, Atsushi-san.
          - Eu não faço as coisas porque preciso, Yoshiki-san; faço porque gosto.
          O vocalista piscou um olho, causando uma breve risada por parte do outro músico. O loiro saiu de onde estava e ficou próximo do carro vizinho ao de Atsushi, dando mais espaço para que o outro manobrasse. O moreno saiu de ré da vaga com facilidade, buzinando duas vezes para se despedir em definitivo e rumando para a saída da garagem.
          Yoshiki suspirou, voltando ao seu próprio carro logo depois. Os pequenos encontros com o outro belo músico estavam se aproximando de algo que o pianista poderia definir como uma agradável rotina, fazendo com ele percebesse a grande vontade que tinha dentro de si de voltar a participar de uma banda como nos anos áureos do X Japan, e, sobretudo, na importância crescente que o moreno assumia como um companheiro de ofício e uma prazerosa companhia.


Continua...


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