Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 38
A Morte e suas terras: parte II


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que ia começar a postar regularmente, hã? :3



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Quem ousa entrar nos domínios da Morte? – a voz rouca, gutural e sibilante que ecoou pelo salão vazio da funerária subiu pelos meus ossos e fez-me prender a respiração.

Eu sentia o subir e descer de meu tórax juntamente com a pulsação frenética de meu coração martelando em meus ouvidos. A fala pareceu ficar presa em minha garganta, meus olhos não conseguiam se desviar das criaturas que cada vez mais se aproximavam de nós.

Havia cinco delas; de pele e asas negras, dentes pontiagudos que mais pareciam pequenas lanças e unhas pontudas e compridas. Uma delas emitiu um barulho agonizante, entre um silvo e um grito estrangulado de raiva. Suas vozes, por mais que roucas, eram agudas e raspantes. Uma arma pontiaguda – aparentava ser uma espécie de espada – pendia da cintura de cada. Seus cabelos compridos e negros caíam por seus ombros e desciam por protuberâncias em seus peitos que assumi serem seios.

O que mais me assustara não era o fato de serem monstros ou pelo ranger que cada uma emitia da boca, mas aparentarem ser tão... humanas, apesar da monstruosidade. Tão diferentes de qualquer um dos monstros com que havíamos lutado anteriormente. Como se algum dia pudesse ter existido nelas um traço de humanidade.

Talvez, pensei, essa humanidade tenha vindo das milhares de almas que elas devem ter ceifado. Talvez seja um reflexo, como em um espelho. Eu não sabia quem elas eram nem o que queriam, mas a impressão de serem ceifadoras – quem sabe subordinadas da Morte – foi forte demais para ignorar.

Por um momento, ficamos todos parados nos encarando. O restante do grupo estava tão congelado em seus lugares como eu. As criaturas se posicionavam um ao lado da outra, flutuando a poucos metros do chão, as grandes asas negras subindo e descendo em lentos movimentos, ainda emitindo seus ruídos guturais, mas não nos atacaram.

Provavelmente estariam esperando que nós as respondêssemos.

Olhei para Annabeth; seus olhos cinzentos estavam arregalados e não piscavam, quase como se ela mesma estivesse com medo de ousar fazer tal coisa. Olhei para Percy, então Harry, então Ron, Thalia e por último Nico. Ele respondeu o olhar.

Comecei a apontar as criaturas para ele com a cabeça, em movimentos retesados, duros e quase imperceptíveis. Eu levantava as sobrancelhas e assentia, encorajando-o silenciosamente para ser aquele que as respondesse. A boca de Nico se contraía e seu cenho franzia, como se perguntasse “por que eu?” Lancei-lhe um olhar impaciente; no fundo, ele sabia muito bem o porquê. Eu não queria arranjar outra luta e estávamos no domínio da Morte – como filho de Hades, Nico era a melhor opção para uma tentativa de comunicação.

Outro daqueles gritos agonizantes foi emitido, seguido de uma exclamação da primeira criatura:

Respondam! – o sibilar de sua voz lembrou-me de Nagini. Os pelos de minha nuca estavam arrepiados.

Não foi Nico quem acabou por se pronunciar, mas Thalia:

– Vocês são as atendentes desta funerária? – perguntou. Cobri a boca com as mãos, quase pedindo-a para que se calasse. Não o fiz, porém; Thalia estava apenas querendo criar uma conversa amigável. Era claro o medo presente em sua voz. – É um atendimento bem... inovador, eu diria.

Vocês não são meros clientes, muito menos mortais! – o terceiro monstro respondeu. Sua voz era idêntica ao do outro. – Sinto o cheiro de meio-sangues de longe.

Ele emitiu um som mais baixo, como se estivesse puxando a saliva para dentro da boca com a língua, deixando seus dentes mais expostos do que nunca. Veio flutuando em nossa direção, tão subitamente que quase cambaleei para trás. Meu coração martelava no peito.

Todo o grupo recuou uns dois passos para trás. A fenda que a criatura devia chamar de boca abriu-se em uma espécie de sorriso; cruel e sangrento. Quem sabe percebeu nosso terror e até se divertia.

– Somos meio-sangues, de fato – disse Nico. Tentava manter sua voz confidente, disfarçando um leve rastro de medo que a fazia tremer. Tirou sua espada negra da bainha e mostrou-a aos demônios. – Sou filho de Hades. Viemos em paz. Posso assumir que vocês são as Queres, irmãs de Tânatos? Gostaríamos de falar com ele.

As criaturas pareceram se entreolhar, silvando entre si.

Sobre? – perguntou a Quer que antes sorrira.

– Um assunto muito importante – disse Nico. – Relacionado ao futuro da humanidade em si. Seu irmão pode desempenhar um papel muito importante para o restante da história.

A Quer emitiu um sibilo que aparentava transmitir um certo escárnio e sarcasmo. Por alguma razão, foi o som mais assustador.

“O futuro da humanidade em si”. Vocês semideuses não se cansam! Acham que tudo o que é de importante no Olimpo revolve em torno de seus estômagos. Tânatos, Tânatos! – em sua voz parecia haver um tom de remorso. A humanidade presente nele percorreu outra vez pelos meus ossos, arrepiando-me. – Sempre ele... Tânatos é quem vai ser importante para vocês? Pois saibam que ele nada seria sem nós. O mundo nada seria sem nós.

As Queres nunca me pareceram tão medonhas quanto neste momento.

É por nossa causa que a humanidade permanece em seu ciclo constante.

Eu... não quis ofendê-la – murmurou Nico.

Não faz diferença – a Quer deixou o assunto de lado. – No fim das contas, vocês sempre virão em nossa direção. E Tânatos não está aqui para atendê-los.

A mudança de assunto foi tão brusca que tive de piscar com força, até a ficha cair.

– Como assim? – perguntei repentinamente, por um segundo esquecendo-me do medo que gelava minha alma. A Quer tornou seu olhar para mim. Bem como a boca, seus olhos pareciam ser fendas; profundas, amareladas e de pupilas finas.

Mas em pouco tempo ele volta. Vocês podem aguardá-lo na sala de espera.

Meus amigos trocaram olhares preocupados outra vez. Seria seguro?

Definitivamente não, consegui a resposta pelo simples modo de como nos fitávamos. Mas devíamos correr o risco. Não havia o que fazer – conversar com Tânatos era a última esperança.

– Tudo bem – disse Nico.

As Queres nada falaram, apenas deram as costas e flutuaram para a direção oposta a que estavam, indicando que devíamos segui-las.

Começamos a andar atrás delas. Assim que elas estavam mais à frente, virei-me para Nico e ergui as sobrancelhas. Minhas feições simplesmente expressavam medo e dúvida. Ele entendeu o que eu silenciosamente perguntava. Inclinou-se em minha direção, enquanto andávamos.

– São espíritos representativos da Morte – murmurou o filho de Hades. – Representam a morte prematura e violenta, o destino cruel e inevitável. Ares costuma levá-las em seus cortejos quando vai para os campos de batalha. Não brinque com elas, Hermione. Enquanto Tânatos representa a morte tranquila, são as Queres que ceifam os que estão nas guerras. Devoram suas almas e levam-nas ao Mundo Inferior.

Meu coração batia tão forte que parecia até ter parado. O bolo em minha garganta era imenso.

– Ker, Stygere, Anaplekte, Nosos e Akhlys, são elas – tornou a dizer Nico – Destruição, Ódio, Morte Rápida, Doença e a Névoa da Morte. Elas...

Pus a mão em seu ombro, sentindo-me enjoada.

– Pare – falei.

Ele parou, assim que chegamos à “sala de espera”. Era tão escurecida quanto o salão principal e trazia aquela mesma sensação de vazio e mal-estar. A Quer que falara conosco apontou para que sentássemos em um pequeno sofá que lá havia. Por mais que suas feições fossem exatamente as mesmas das de suas irmãs, o brilho medonho em seus olhos amarelados e o pequeno sorriso cruel que expunha seus caninos deram-me a impressão que esta era Ker – a Destruição personificada.

Tudo aparentava estar começando a ficar bem. Talvez elas não nos matassem, pelo menos não hoje (no fim das contas, todos seríamos pegos por elas, não?). Senti minha pulsação aos poucos se acalmar, bem como minha respiração.

O grupo inteiro se espremeu no sofá. Seria cômico se não fosse tão assustador a princípio. Sentei-me em uma das pontas. Senti a perna e o braço de Harry contra os meus; ele estava esprimido entre mim e Ron.

Por alguma razão Ker acabou por se situar mais próxima de nós três, o que foi a nossa ruína.

De repente, Ker inspirou profundamente – o ruído de sua respiração parecia um aspirador de pó defeituoso – e soltou o grito de raiva mais agonizante que eu jamais ouvira. Sua voz aguda e rouca parecia rastejar e gorgolejar por suas cordas vocais antes de ser emitida pela fenda que era sua boca.

Seus olhos amarelados e finos tornaram a olhar Harry e Ron com extrema violência. Suas feições contorciam-se do que eu chamaria de ódio, outros sibilos e silvos foram emitidos por sua boca. O cabelo escuro caía pelo rosto e sua pele cor de piche.

Ainda gritando, voou em nossa direção com uma imensa rapidez. Com suas garras, pegou Harry e Ron pelo colarinho e puxou suas faces de modo a que quase as encostassem com a sua própria.

Ker enfiou então seu rosto próximo ao pescoço de cada, como se estivesse cheirando-os ou prestes a arrancar suas gargantas com os dentes. Eu, Percy, Annabeth, Nico e Thalia já havíamos nos levantado e empunhado as armas. Ker olhou para suas irmãs e passou a sibilar ainda mais, falando com elas em sua própria língua. Não entendi o que ela disse, mas bom não foi, pois as outras Queres passaram a nos olhar da mesma forma – ódio, sede por sangue e morte.

Harry e Ron se debatiam, tentando livrar-se do aperto de Ker, que ainda emitia sons horríveis e enlouquecedores. A criatura apertou as unhas contra os ombros de cada, fazendo-os berrar em agonia.

– Pare com isso! – gritei, sentindo o desespero começar a correr por meu sangue. Involuntariamente empunhei a varinha. – Pare com isso, pare!

Era possível ver um filete de sangue brotando dos braços de Harry. Ainda segurando-os, Ker tornou-se para Nico:

Mentiroso! Vocês não são meio-sangues! Esses dois fedelhos são bruxos! – e soltou-os, jogando-os contra a parede. Harry e Ron caíram com um estrondo, inconscientes. Tentei correr em sua direção, mas Ker logo se jogou para cima de mim.

Suas garras alcançaram meu pescoço e o enlaçou, prendendo meu corpo contra o seu e a parede. Suas asas batiam com força e meus pés não encontravam o chão. Seu toque era frio e pegajoso, de sua boca saía um cheiro de sangue e podridão. Seus dedos apertavam meu pescoço cada vez mais, sufocando-me.

Você também é bruxa! Bruxa e meio-sangue! Vocês são traidores!

Eu tentava balançar a cabeça em negativo, mas a cada vez que acontecia, a pressão em meu pescoço parecia aumentar. Uma ardência percorreu um ponto próximo à minha mandíbula; senti o sangue quente começar a escorrer. A fenda que Ker chamava de boca encontrou minha pele, os dentes pontiagudos e sua língua molhada e pegajosa roçaram o corte. Berrei tanto de dor como desespero, e Ker me soltou. Escorreguei pela parede e caí no chão com um baque; uma pontada de dor subiu por meu joelho. Agarrei com a mão a região do pescoço que a Quer lambera, não conseguindo evitar chorar profusamente.

Olhei ao redor, ainda com a mão contra o corte no lado do pescoço – não fora na garganta e graças aos deuses não era fatal – e percebi que meus outros amigos tentavam lutar com as irmãs de Ker. Não daria certo, pensei. As Queres eram espíritos da morte, não se podia vencer a morte.

Harry e Ron pendiam contra a parede. Haviam retomado a consciência, mas estavam fracos e muito machucados. O sangue que escorria pelas feridas abertas pelas garras de Ker empapava suas camisetas.

– Hermione... – Harry gemia de dor, tremendo no chão. Parecia prestes a ficar inconsciente outra vez.

– Harry – respondi, arrastando-me para perto dele e de Ron. O machucado em meu pescoço doía, bem como minhas pernas. Meu rosto ardia. Enxuguei as lágrimas; não podia deixar que elas deixassem minha vista turva. Harry estendeu a mão, querendo segurar a minha. Respondi ao gesto, mas antes que nossos dedos pudessem se encontrar, senti as unhas compridas e curvadas de Ker agarrarem a gola de minha camiseta.

– Hermione! – gritou meu melhor amigo quando nossas mãos perderam uma a outra.

Ker me arrastou pelo chão para longe deles e se debruçou sobre mim; uma gota de saliva escorreu por uma de suas presas e pingou em meu rosto, misturando-se com as minhas próprias lágrimas que voltavam a descer.

Traidora! – exclamou. – Escória!

Sua boca abriu-se em O, muito maior do que uma boca normal e aparentando tanto ser um abismo sem fundo que quase tive uma vertigem. A fenda pela qual seus dentes saltavam era enorme e lembrou-me da boca de um dementador.

Ela vai arrancar minha alma com a própria boca, pensei. Tudo ao meu redor parecia começar a escurecer. Ker bateu minha cabeça no chão e ergueu-a novamente; tudo piscou e saiu de foco momentaneamente. Meu crânio latejava.

A irmã de Tânatos passou as pernas por meu corpo, de modo a ficar sentada em cima de mim. Suas asas negras agitavam-se furiosamente e seu rosto se contorcia horrivelmente. De sua boca saíam mais berros, ainda mais agudos e guturais do que antes. Cerrei os olhos com força e tive de cobrir os ouvidos com as mãos.

Tão repentinamente quanto a luta havia começado, ela parou. Tanto o calor do hálito de Ker como o peso de seu corpo haviam saído de cima de mim. Os únicos sons na sala eram os gemidos de dor de Harry e Ron – e provavelmente do restante do grupo – juntos das minhas próprias arfadas.

Uma mão agarrou a minha, puxando meu corpo para cima, tentando me levantar. Acompanhada desse toque – tão frio como o de Ker, porém muito mais gentil – veio uma voz masculina, que eu nunca ouvira antes:

– Vamos, levante-se logo.

Meus olhos abriram propriamente, por mais turva que minha visão continuasse. Um homem que eu nunca vira, de cabelos e olhos castanhos, aparentando ter uns trinta anos, permanecia murmurando isso para mim.

Levantei-me e por pouco não caí novamente, se ele não houvesse me segurado. Observei o meu redor. Todas as Queres haviam desaparecido, só havia o homem. Harry e Ron permaneciam deitados, sofrendo; Percy, Nico, Thalia e Annabeth levantavam-se. Pareciam atordoados, como se, assim como eu, não entendessem porcaria alguma que estava acontecendo.

– Se vocês não quiserem ser pegos por minhas irmãs novamente, deveriam se levantar mais rápido – o homem que segurava minha mão disse.

– Tânatos? – murmurei. Ele assentiu.

– De nada.

Ele soltou minha mão e me empurrou levemente para a frente, em direção à porta. Fez a mesma coisa com Percy, Thalia, Annabeth e Nico.

– Você está nos ajudando? – perguntou Annabeth, levemente fraca. – Por que, se as Queres são suas irmãs?

– Elas estão perdendo o controle com toda essa guerra que pode eclodir, por causa de Poseidon e dos bruxos e etc. Estou ficando um pouco cansado disso. Já não basta eu ter de colher tantas almas todos os dias. Fiquei sabendo que vocês queriam minha ajuda.

– Sim – falamos.

– É sobre Poseidon? A possível guerra com os bruxos?

– Perto disso – disse Percy. – É sobre seu sobrinho.

Tânatos pareceu revirar os olhos momentaneamente.

– Assuntos de família – murmurou – sempre isso. O que é que Morfeu fez desta vez?

– Longa história – respondeu Thalia, enquanto Tânatos fazia um gesto para levantarmos Harry e Ron e pô-los no sofá. Os dois estavam inconscientes outra vez. Tânatos crispou os lábios ao ver a quantidade de sangue que os dois perdiam. – Basicamente, tem um titã louco querendo fazer uma espécie de revolução para acabar com os Olimpianos, aproveitando o fato de Poseidon estar exilado. E Morfeu está nessa jogada.

– Morfeu sempre foi propício para o lado dos titãs, fazer o quê – disse Tânatos. Olhou para nós, como se esperasse que disséssemos mais. – O que, é só isso? E o que vocês acham que isso tem a ver comigo?

– Nós esperávamos que você pudesse nos ajudar.

– Fazendo o quê? – o olhar dele era incrivelmente cético.

– Sei lá! – Thalia soava impaciente. – Nós meio que esperávamos que você também soubesse. Estamos mais perdidos do que nunca.

– Nota-se.

– É que Morfeu tem nos colocado em armadilhas recentemente. É provável que seja para nos levar até Pallas – disse Annabeth. – Acreditamos que esta região de Baltimore tem forte influência de seu sobrinho. Tanto Pallas como Morfeu tem nos feito de gato e rato, e uma informação que conseguimos era uma pintura sobre você e seu irmão, Hipnos.

Tânatos ergueu as sobrancelhas.

– Todos os deuses e representações míticas estão sendo envolvidos nesse conflito, senhor – falei, sendo o mais cortês possível. – Mesmo que você não queira, você vai acabar se envolvendo. Contra ou a favor dos titãs, não importa! E quando os bruxos se envolverem, vai ser ainda pior...

Tânatos abanou as mãos, como se já houvesse ouvido essa história vezes o suficiente.

– Acha que eu não sei? – perguntou. – Todos já sabem, minha querida, é só uma questão de tempo. É só que eu queria ter tido um pouco mais de tempo para me decidir quando entrar... – suspirou e esfregou os olhos com as mãos. Pôs elas, então, na cintura. – Tudo bem, eu posso ajudar vocês. Nunca fui com a cara do Pallas, mesmo.

Suspiramos de alívio. Meu rosto esboçou um sorriso de agradecimento.

– Posso tentar falar com Hipnos ou Morfeu, sei lá. Posso dar informações a vocês ou algo do tipo, tanto faz.

– Muito obrigada, de verdade – disse eu. Estava realmente grata – tanto pela futura ajuda quanto por nos ter livrado de suas irmãs. Elas vão ficar do lado dos titãs, não é? Não acho que Ker tenha ido muito com a minha cara.

– Depende da situação – falou Tânatos. – Temos nossas divergências. Se ficarão com os titãs, não sei, mas definitivamente contra os bruxos.

Ficamos em silêncio por um tempo, quebrado então pelo próprio Tânatos:

– De qualquer forma, há um preço a se pagar.

Nico retesou-se ao meu lado. Seus lábios crisparam.

– Que seria? – perguntou o filho de Hades, a voz endurecida. Senti um calor nervoso percorrer minha espinha temporariamente. Tânatos lambeu os lábios e olhou para o sofá, onde Harry e Ron estavam deitados.

– Eu ajudo vocês e os Olimpianos, dou todas as informações que precisem e posso ajudá-los no campo de batalha quando quiserem – esfregava as mãos uma contra a outra. – Em troca, fico com os dois bruxos ali.

Meu corpo pareceu congelar.

O quê? – foi o que saiu de minha garganta. Os olhos castanhos de Tânatos nunca me pareceram tão nojentos.

– Ou isso, ou estou fora – disse ele.

Olhei para meus amigos. Todos estavam tão incrédulos como eu. Senti meus olhos ficarem turvos outra vez e um calor subir por meu rosto. Tive a vontade de socar aquele homem. Seu sorriso era pequeno e condescendente.

– Olha, nós podemos renegociar... – Annabeth começou a dizer e foi interrompida por Tânatos.

Ou eu fico com os bruxos, ou esqueça!

Ótimo! – gritei – Então esqueça!

– Você sabe que não é bem assim – disse Tânatos. – Você sabe que não tem como você desistir da proposta, porque vocês precisam de mim. Precisam de alguém que entenda como o verdadeiro mundo olimpiano funciona, fora da casinha que é o Acampamento Meio-Sangue.

– Não vou abandonar meus dois melhores amigos à sua mercê – meus punhos estavam cerrados. O sangue de minhas veias latejava em meu crânio. – Você não pode fazer isso!

– São negócios, minha querida! Você paga o que deve pelo que quer.

Não consegui resistir; quando tomei consciência de mim mesma, minha mão já havia desferido um tapa em seu rosto. Senti os braços de Percy e Nico agarrarem-me por trás. A raiva foi substituída pelas lágrimas que não consegui segurar. O sangue em meu pescoço já havia começado a coagular; meus olhos passaram a arder e soluços irromperam por meu corpo.

– Não faça isso comigo – falei, minha voz pastosa e embargada. – Por favor... eu não posso perder meus melhores amigos!

– Você não devia ter feito negócios com a Morte em primeiro lugar – disse Tânatos. – É o preço que se paga, minha querida.

Ele afagou meu rosto com as mãos. Afastei-as com um tapa e no calor do momento joguei-me em cima dele, esquecendo todo o racional e apenas querendo arrancar seus olhos do mesmo modo que ele arrancava de mim meus amigos.

Meu corpo enfraqueceu, minha visão ficou novamente turva e escurecida. Pude ver com o canto de olho a fúria no rosto de cada um de meus amigos restantes. Um sorriso travesso percorreu o rosto de Tânatos, antes dele colocar o dedo indicador em minha testa e eu perder a consciência.


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Notas finais do capítulo

Honestamente, eu achei esse capítulo meio blé, mas enfim. Com ele entramos na última fase da história!



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