Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 29
Remédio para todos os males


Notas iniciais do capítulo

Não acontece muita coisa, mas ok. Depois de tudo que a Hermione passou, tem que ter um capítulo mais light para ela se recompor, certo? Seria muita crueldade não fazer isso, e olha que alguns leitores já perguntaram o que ela fez para mim para sofrer tanto desse jeito, haha.
Esse e o próximo capítulo realmente terão um teor mais leve, mesmo. Nem eu aguento ficar escrevendo tanta coisa ruim uma seguida da outra.
Dedicado à Anna, pela linda recomendação! :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/115076/chapter/29

– Você é Hermione, certo? – foi a primeira coisa que o rapaz me disse, assim que eu acordei.

Sentia-me um tanto desorientada. Por um breve momento, assim que meus olhos se abriram, era como se eu estivesse de volta deitada na cama do dormitório das meninas da Grifinória. Esfregando os olhos, estiquei-me para espreguiçar e a primeira coisa que veio à minha cabeça era quais aulas eu teria hoje em Hogwarts.

Quando meus músculos protestaram com a dor, eu voltei à realidade.

Eu não estava mais em Hogwarts e tudo o que eu havia passado nas mãos de William Wilson e Pallas veio à tona, trazendo-me outra onda de vertigem. As mãos daquele gentil rapaz que me ajudara no parque logo vieram ao meu alcance.

Agarrei seus ombros e fechei os olhos com força, até a tontura passar.

– É, sou eu – eu respondi, assim que momentaneamente consegui me recompor.

Recostei-me no travesseiro e olhei ao redor. Eu não fazia ideia onde estava, provavelmente eu desmaiara assim que escapara, no parque.

Era um lugar bonito e aconchegante o qual eu estava, pelo menos. A cama na qual eu estava deitada era macia e confortável. Olhei para meu próprio corpo e percebi que não mais vestia as roupas sujas e esfarrapadas dos últimos dias, mas uma espécie de camisolão. Eu estava limpa e cheia de curativos. Em uma pequena cabeceira recostada à cama, havia néctar e ambrósia.

O homem que me ajudara inclinou-se e pegou o frasco de néctar, levando-o às minhas mãos.

– Tome – falou. – Vai melhorar.

Apenas assenti e tomei um gole generoso. Logo eu não me sentia assim tão cansada.

– Obrigada – murmurei, ainda relembrando o que havia acontecido comigo. Pensei no parque e ter achado por um momento que eu estava delirando, ao pensar que aquele homem poderia ter pernas de bode. Ao olhar para ele (desta vez propriamente), meus olhos arregalaram ao ver que não, não era um delírio que eu tivera.

Ou talvez eu ainda estivesse delirando. Ele percebeu meu olhar levemente assustado, e sorriu de canto.

– Ah – disse ele. – Então quer dizer que você nunca conheceu um sátiro antes, hã?

– Ah... – foi o que eu consegui responder. Não, eu nunca havia conhecido um sátiro, mas assim que ele disse que era um, senti-me boba por não ter percebido antes. Sátiros tinham grande importância na mitologia grega, então senti-me um pouco idiota.

Pelo menos eu não havia chamado-o de fauno. Talvez o ofenderia.

– Eu sou Grover, a propósito – disse ele. – Grover Underwood.

O nome ligou uma luz em minha mente e fez uma memória que aparentava ser muito distante voltar a mim. Grover Underwood, era claro. Em Hogwarts, no Acampamento Meio-Sangue e em diversos momentos da missão, Percy e Annabeth haviam feito menções a ele. Grover era o elo que completava o trio que vivera tantas aventuras juntos.

Isso fez-me lembrar de Harry e Ron e uma dor aguda pareceu atingir meu peito, mas ainda assim acabei por sorrir involuntariamente. Grover percebeu e ergueu uma sobrancelha.

– Não é nada – eu falei, em resposta a seu gesto, balançando a cabeça e fitando minhas próprias mãos. – É só que Percy e Annabeth já me falaram muito de você. Já queria conhecê-lo há muito tempo.

– Se bem que não acho que você queria ter me conhecido nas circunstâncias em que acabamos nos conhecendo – disse ele, e era verdade. Prestes a morrer e depois de ter fugido de um cárcere privado.

Lembrei-me de Pallas jogando o cadáver de Annabel Lee às chamas. Preferi mudar de assunto.

– É... onde estamos? – voltei a olhar o cômodo ao redor. Era um quarto limpo e arejado, com grandes janelas que permitiam a vista de árvores do lado de fora. O local era definitivamente afastado da cidade e provavelmente no meio de uma clareira. O barulho dos pássaros e grilos, bem como o vento que ressoava nas folhas, era a única coisa que eu conseguia ouvir.

Era incrivelmente pacífico... senti uma grande vontade de dormir apoderar meu corpo.

– Um local para descanso, eu diria – respondeu Grover. Levantei uma sobrancelha, não esclarecia muito. – Afastado da cidade e do caos dos mortais. É uma espécie de enfermaria criada por Panaceia. Sabe quem é?

– Panaceia – murmurei. Meus olhos pesavam – remédio para todos os males. A deusa da cura, não?

– Neta de Apolo.

– Pois é.

Suspirei e olhei o sátiro ao meu lado. Ele era gentil e parecia de fato se importar com os outros. Eu gostara dele e entendia o porquê de Percy, Annabeth, Thalia e Nico também.

– Nossos amigos chegarão em pouco tempo – Grover voltou a falar.

– Como sabe?

– Eu tenho uma espécie de ligação mental com Percy. Sinto quando ele está em perigo, coisas assim.

– E ele está bem?

– Sim. Preocupado e procurando por você, mas todos estão bem. Foi ele quem me contatou por primeiro, assim que você desapareceu. Falou para tentar procurá-la, porque era muito provável que poderia ter saído da região de Filadélfia. Eu estava aos arredores do estado, então, por que não tentaria?

– E eu por acaso saí da região de Filadélfia?

Grover assentiu.

– Estamos apenas a alguns quilômetros de Baltimore, Hermione. – Baltimore, Maryland. William Wilson levara-me um estado abaixo do qual eu antes estava, a Pensilvânia. – Percy, Annabeth e os outros tiveram que viajar bastante, sabe como é. Eu tive muita sorte de encontrá-la por aqui. Tive de falar com algumas dríades e alguns membros do Conselho dos Anciões de Casco Fendido para me ajudarem a achá-la.

– E você consegiu, no fim das contas – ele deu de ombros. Suspirei novamente e senti meu tórax pesado. As pálpebras queriam se fechar outra vez – obrigada, Grover. De verdade.

– Não tem de quê, e você deveria voltar a dormir por mais um pouco.

– Concordo plenamente – ambos rimos por um instante. – Posso só fazer mais uma pergunta?

– Vocâ acabou de fazer uma, mas tá.

– Quanto tempo se passou? Desde que você me encontrou no parque, quero dizer.

– Um dia inteiro – fiquei aliviada ao ver que não era tanto tempo assim. – Eu a encontrei na manhã do dia dezessete. Agora é quase uma hora da tarde do dia dezoito.

Dezoito de setembro. O dia em que fomos ao cemitério, que também foi quando fui sequestrada por William Wilson e foi a última vez que eu marcara a data, era treze.

Concordei com a cabeça com o que Grover disse. Recostei-a novamente no travesseiro e uma brisa calma passou pela grande janela aberta do quarto, parecendo afagar meu rosto. Respirei fundo e fechei os olhos, não sabendo se por cansaço ou alívio de ter chegado ao fim quatro dias de sofrimento.


Ao acordar novamente, o céu ainda estava claro e um raio de sol iluminava minha cama, aquecendo-me. Pensei em Apolo, provavelmente rondando os céus com sua carruagem disfarçada de minivan e criando estúpidos haikus.

Tudo aquilo parecia ter acontecido há uma eternidade, e de certa forma era bom. Ajudava-me a afastar os maus pensamentos e os pesadelos com Pallas e o cadáver de Annabel Lee que aos poucos passavam a atormentar meus sonhos.

Desta vez eu estava sozinha naquele cômodo, portanto capaz de ficar absorta em meus próprios pensamentos. O ruído das folhas das árvores sendo movidas pelo vento parecia música aos meus ouvidos.

Eu já estava bem melhor e menos cansada, há muito eu precisava ter recebido esse descanso. As dores que antes se extendiam por todo meu corpo agora eram apenas breves resquícios.

Tomei mais um gole do frasco de néctar na cabeceira e saí da cama. O piso de madeira – incrivelmente polido, brilhante e marrom, ao contrário do piso pútrido da casa abandonada – estava gelado e estalou ao receber meus pés. Dirigi-me à porta, abri-a e logo me vi em um corredor. O lugar em que eu estava era de fato uma espécie de ala hospitalar para semideuses e outras criaturas mágicas, pensei. Contornei a extensão do corredor, até chegar em uma grande sala.

Nela havia tapetes e sofás, bem como grandes janelas que também haviam em meu quarto. Tudo parecia muito aconchegante e agradável, mas eu quase não prestei atenção nessas coisas, pois outra as desviaram de mim.

Meu coração pareceu dar um salto em meu peito ao ver o grupo de pessoas sentado em um dos sofás. De meu corpo irrompeu um soluço alto, e, involuntariamente comecei a chorar (teria sido pela saudade? Provavelmente. Presa na casa abandonada, eu não havia pensado o quanto sentira falta de meus amigos), cobrindo o rosto com as mãos.

Depois de tantas torturas em um período tão curto de tempo, aquilo parecia bom demais.

Os presentes ali levantaram-se sobressaltados e logo eu sentia seis pares de braços engolindo-me em um abraço apertado.

– Por Merlin, Hermione! – foi uma das poucas coisas que consegui distinguir, vinda de Ron, entre todo o coro de vozes de meus amigos. Chorei o máximo que pude, sentindo o toque de todos outra vez e soluçando. Eu não havia pensado que um dia poderia encontrá-los de novo, e talvez este foi um dos melhores sentimentos que já tive.

Não sei quanto tempo os abraços e choros duraram – no meio de tudo, percebi que até Annabeth e Thalia possuíam lágrimas nos olhos, ao enlaçar-me em seus braços avidamente – mas depois de algum tempo, Grover teve de interromper.

– Ei! – disse ele. – Sei que vocês passaram por coisa pra diabo, mas deixem a Hermione respirar!

Permiti soltar uma risada entre os prantos, enquanto aos poucos cada um me soltava.

– Eu não me importo, Grover, sinceramente – falei, enxugando o rosto. Senti de um lado Harry pegar e afagar minha mão, e do outro, um braço de Thalia enlaçar minha cintura.

– Nós ficamos tão preocupados! – exclamou Annabeth. Seus olhos cinzentos brilhavam, mas ela parecia não querer aparentar isso. Abriu a boca, como se fosse dizer algo (talvez perguntar o que teria acontecido comigo nos dias em que fiquei separada do grupo) e logo tornou a fechá-la. Tornou a abri-la alguns segundos mais tarde – Hermione... você está bem?

A suavidade em sua voz chegou a assustar-me por um momento. Seu olhar, quase sempre dterminado e confiante, aparentava uma leve timidez. Mais do que isso, havia ali cansaço. Até então eu não pensara no que eles poderiam ter passado nos últimos dias, olhei ao redor e percebi que o mesmo traço atravessava os olhos de todos.

Respirei fundo e acabei por fitar minhas próprias mãos. Não sabia se conseguiria dizer aquilo observando os olhares abatidos deles todos. Senti um calor subir por minha garganta e lágrimas se formarem. Não deixei que elas caíssem.

Balancei a cabeça, conforme a bile subia até minha boca.

– Não – murmurei, e minha voz soou mais aguda do que eu planejara. Pisquei com força repetidamente. – Não, Annabeth, eu não estou bem.

Ela assentiu, seus lábios formando uma tênue linha de entendimento. Forcei um sorriso, ainda assim, mas logo senti o choro escorrer por minhas bochechas.

Observei meus amigos; eles todos me viam com atenção e nada ousavam dizer. Percy deu um passo à frente e aproximou-se de mim. Segurou suavemente meu pescoço e puxou-me em sua direção, fazendo com que eu apoiasse a cabeça em sua clavícula. Agradeci profunda e silenciosamente o gesto. Um soluço indesejado irrompeu de meu peito.

– Talvez... talvez mais tarde eu consiga dizer algo – falei, hesitante. – Prefiro que não seja agora.

Acabei por soltar-me cedo demais do abraço. Esfregando os olhos e buscando mudar de assunto, virei-me para Grover, cuja expressão era séria porém solidária.

– Por quanto tempo dormi? – perguntei baixinho.

– Um dia a mais desde que você acordou pela primeira vez. Agora é manhã do dia dezenove de setembro.

Minha garganta pareceu fechar-se novamente, por alguma razão. Dezenove de setembro. Olhei agora para Harry e Ron – antigamente, eles sempre sorriam com certa traquinagem para mim durante esta data, mas hoje, seus rostos estavam tão sérios e seus olhos tão abatidos quanto os meus.

– Sabe o que é o dia dezenove de setembro, não é, Mione? – questionou Harry, trocando um olhar com Ron. Assenti, enquanto os outros nos fitavam em dúvida. – Pois é. Até antes de ontem, a gente não esperava conseguir te encontrar a tempo de hoje. Achei que nunca mais conseguiria te dar um feliz aniversário.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segredos Submersos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.