Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 21
Outros sonhos e novos planos


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo! (De volta a ativa, agora definitivamente...)
No próximo capítulo já teremos de volta outras cenas de ação, ok? Espero que gostem. :)
E a propósito, ganhamos outra recomendação! Ana Laura Granger Jackson, MUUUUUUUITO obrigada, quase tive um treco ao vê-la.



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Foi nessa noite que tive meu segundo sonho importante.

Não tinha certeza como ele começara – acho que nunca temos – mas, do ponto em que lembro, eu estava no meio de uma cidade. Não era uma cidade que eu conhecia, pelo menos não em minha memória. Definitivamente não era nos Estados Unidos, e também não Londres ou qualquer local britânico que eu já tivesse visitado.

De qualquer forma, dava para notar que se localizava na Europa, julgando pelas ruas e construções. Grande parte dos prédios eram históricos e havia vários monumentos dedicados à mitologia grega, além de diversos restaurantes e pontos turísticos. Seria possível que eu estivesse de fato na Grécia?

Enquanto vagava pelas ruelas, no horizonte podendo perceber o mar, passei por uma placa que denunciou onde eu estava. Ortígia, pequena ilha onde localizava-se o centro histórico de Siracusa, uma comuna – ou cidade, mesmo, se preferir – da região da Sicília, Itália. Siracusa era uma cidade que sempre tive vontade de visitar, mas que nunca tivera a oportunidade. Era até fascinante que eu estivesse em sonho em um local que nunca vira em minha vida além de fotos em guias turísticos.

Antes que pudesse notar ou fazer qualquer coisa, vi-me em outro lugar, completamente diferente de Ortígia.

Estava agora debaixo d’água. Dentro de um mar, na realidade, e eu nadava cada vez mais às suas profundezas. Conseguia respirar normalmente e, percebi, que estar submersa parecia até me dar mais forças. Trazia-me uma serenidade inexplicável; uma paz que de certa forma não conseguia ter em terra firme. Consegui também me localizar: eu estava no Mar Jônico, que banha o leste da Sicília. Coordenadas
38° 6′ 4″ N, 18° 17′ 41″ E. As vantagens de ser filha de Poseidon, pensei.

Permaneci a nadar, e continuei por tempo o suficiente para começar a pensar o porquê de realmente estar fazendo aquilo; se eu parasse para pensar soava um tanto estúpido, ficar apenas nadando e nadando. É um sonho, minha segunda voz chamou a atenção, desde quando sonhos têm de fazer sentido? Desde que descobrira ser a porcaria de uma semideusa e que sonhos em geral têm um significado muito grande para eu prevenir o mundo de entrar em colapso, talvez.

Não tive que ficar aturando o que minha consciência irritante dizia por muito mais tempo, já que logo depois vi ao longe a silhueta de um homem que também nadava, na parte mais profunda do mar. Nadava, não, na verdade. Ele parecia flutuar na água e na areia do chão ao seu redor, seu corpo parecendo emanar poder e autoridade. Ao me aproximar, porém, tive a impressão de que o poder emanado pelo homem era algo enfraquecido e muito menor do que outrora. Com um baque, percebi que aquele era Poseidon.

Nadei em sua direção, sentindo meus pés tocando a areia e os corais.

– Poseidon? – perguntei, ao chegar perto o suficiente. Ele se virou e me encarou. A princípio seus olhos expressavam dúvida, mas momentos depois expressaram reconhecimento. Ele se lembrava de mim, mesmo que talvez a última vez que houvesse me visto de fato, eu ainda fosse bebê. Frações de segundo após o olhar de reconhecimento, veio o de arrependimento. Resolvi mudar as palavras, mas ainda com a mesma pergunta. – Pai?

Poseidon se aproximou de mim, e pôs uma das mãos em meu rosto.

– Hermione – disse ele. – Hermione Jean. Que bom que atendeu o meu chamado.

– Estou aqui de fato, ou isso é apenas um sonho?

– Os dois, na verdade.

– Por que me chamou? Pensei que para o bem do mundo olimpiano você teria que me ignorar.

Poseidon suspirou.

– Chamei-a porque queria que você soubesse que a ignorar é o que eu menos gostaria de fazer. Mas você sabe porque devo fazer isto, filha.

– Por que o mundo corre perigo por causa do seu exílio? – perguntei, mesmo sabendo a resposta. Ele assentiu. – Mas... eu vi o momento no qual o senhor se exilou, por meio de outro sonho. Não foram os outros deuses que o expulsaram, você saiu por vontade própria. Por quê?

– Era a única alternativa, não tive outra escolha. Ou eu saía ou eles a matariam, Hermione Jean. A história entre os olimpianos e os bruxos é muito extensa, e muito sangrenta. Depois do tratado de paz que fizemos, há muitas centenas de anos, tudo que os deuses gostariam é de esquecê-la, fingir que nunca aconteceu. Fingir não enxergar os bruxos, como se eles não existissem. E funcionou por um longo tempo, tanto que a grande maioria da comunidade bruxa não sabe da presença da mitologia grega atualmente.

Poseidon não falou mais além disso, mas pude ouvir a frase implícita no fim do parágrafo. Estávamos em paz, Hermione, até você nascer.

– O senhor deveria perceber que ter me matado antes de tudo seria muito mais fácil do que se exilar só agora – falei, e Poseidon me olhou de forma repreensiva.

– Não somos assassinos, Hermione Jean – meu pai respondeu, e levantei as sobrancelhas, dizendo em um único olhar que não era bem aquilo que as histórias da mitologia diziam. – Vale lembrar que eu nunca me envolveria com uma bruxa, o tratado após a guerra era bastante claro em relação a isso. Sua mãe era apenas uma mortal, sem qualquer sangue mágico. Sabe qual era a probabilidade de envolver-me com ela e o fruto do nosso amor adquirir sangue e genes de outra espécie, minha filha? – Balancei a cabeça em negação, não conseguindo olhar nos olhos dele. – Praticamente nula. Era para ser absolutamente nula, mas agora sabemos que nisso não é bem verdade, porque você é a exceção.

– Então por que isso aconteceu? – questionei. – Por que eu sou essa anomalia?

– Não sabemos – o olhar de Poseidon parecia o olhar de um homem derrotado. – Talvez haja uma razão, talvez não. É muito provável que haja uma, no fim das contas.

– E por que você não diz aos deuses que minha mãe é trouxa e meramente uma mortal? – voltei a perguntar, levantando um pouco minha voz e sentindo o sangue subir à cabeça. – Você não quebrou tratado ou cláusula alguma, não se envolveu com nenhum bruxo!

Eram muitas perguntas, muitas dúvidas correndo dentro de minha mente.

– Minha filha, acha mesmo que Zeus vai ser racional o suficiente para pensar nisso? – Poseidon respondeu com outra pergunta, agora retórica. – Acha que eu já não disse isso? Zeus, quando irritado, não consegue ver a razão nem se ela estiver a um palmo do seu rosto.

– Mesmo em momentos como esse, quando o mundo bruxo e olimpiano estão prestes a entrar em colapso?

– Especialmente em momentos críticos como esse. Zeus sempre perde a cabeça nos piores momentos, e agora também não é exceção. Fico muito feliz que sua missão seja para convencer os deuses a trazer-me de volta, de qualquer forma.

– Alguém teria que fazer isso um dia, não? – murmurei, e os cantos dos lábios de Poseidon se repuxaram em um pequeno sorriso. – Antes que seja tarde demais.

– Sim, sim. Só... não se esqueça de uma coisa, Hermione Jean. Posso estar exilado do Olimpo, mas não significa que eu a esqueci ou que eu esteja a ignorando. Nunca faria isso com algum filho meu.

– Mesmo com sangue bruxo? – Meu pai assentiu.

– A presença de sangue mágico não faz com que você deixe de ser minha filha. Vá, agora. Você e seus amigos precisam da maior sorte possível. Estarei esperando que você me liberte, minha filha.

– Aqui? – falei, fazendo uma última pergunta. – No Mar Jônico? Próximo à Ortígia, Sicília?

– Sim – disse ele, e pude sentir como se uma onda de poder houvesse vibrado em sua voz, por um breve instante. – Apenas tome cuidado em sua jornada. Perigos a esperam, principalmente em minha ausência. Muitos querem tirar proveito disto, aqueles titãs... adeus, por enquanto. Lembre-se de qual lado você está.

Fiz que sim com a cabeça. Poseidon aproximou-se, pôs as mãos em meus ombros – não havia ainda reparado como ele era alto, próximo de mim – e depositou um pequeno beijo em minha testa, fazendo-me acordar.

Abri os olhos e vi-me ainda deitada na cama do quarto do hotel.

Já havia amanhecido e as cortinas estavam abertas, deixando a luz do sol iluminar o cômodo. Annabeth não estava mais na cama de casal que dividíamos e não vi Percy (ainda bem, um pedaço de meu consciente pensou). Sentei-me na cama. Harry ainda estava no quarto, de pé, arrumando a mochila próximo à cabeceira.

– Os outros já desceram para tomar café da manhã – disse ele, pondo um pedaço de pergaminho dobrado na mala. – É melhor você se apressar.

– Harry – comentei, apontando para o pergaminho dobrado que ainda conseguia enxergar, enquanto ele fechava o zíper. – É o Mapa do Maroto?

– E se for? – disse, parecendo indiferente. Levantei as sobrancelhas. – Algo errado com ele?

– Não, claro que não – falei. – É só que eu achei que você teria deixado lá no Acampamento, já que a missão não é tão longa.

­– Achei melhor trazer – disse Harry, dando de ombros. – Sei lá... quando dá tempo eu gosto de ficar vendo ele. Lembra um pouco de casa.

– Vendo se Gina está bem? – perguntei, lembrando do ano anterior quando Harry abria o Mapa nas noites em que acampávamos. Ele assentiu.

– Luna também. E Neville. E o resto do pessoal, você sabe. Eu... gosto de quando vejo o nome de algum conhecido. Faz lembrar que as vidas deles continuam as mesmas, enquanto a gente está aqui.

– Tentando salvar o mundo – completei.

– De novo.

Nós rimos.

­– Parece que nunca vai acabar, não é? – Harry continuou. – A constante necessidade de salvarmos o mundo. Profecias e tudo o mais. Quando finalmente parece que encontramos paz, vem toda uma bola de neve caindo em cima da gente outra vez. – Concordei, em silêncio, as imagens do meu sonho voltando à mente. – Talvez ano que vem a gente descubra a existência de, sei lá, deuses nórdicos. Quem sabe exista uma profecia que nos faça ter de achar o martelo do Thor ou algo do tipo.

– Seria fascinante, sem dúvida – falei. Harry sorriu.

– Acho bom você se arrumar logo, Mione – disse ele. – Se não a Thalia te amaldiçoa com algum poder de Zeus pelo atraso e o Ron come o buffet do café da manhã por inteiro.

Permiti-me a soltar uma risada baixa.

– Por que não me acordou mais cedo, então?

– Eu bem que tentei, mas você dormia feito pedra. Parecia estar demais, o seu sono, do jeito que você nem se mexia – ele respondeu e eu revirei os olhos. Fazia tempo que não presenciava um pouco do sarcasmo de Harry Potter. – Algo interessante aconteceu lá, pelo menos?

– Tive outro desses sonhos importantes – disse eu. Harry levantou o olhar para mim, agora parecendo mais sério. Eu ficava mais grata em pensar que pelo menos ele entendia a seriedade em sonhos profetizantes.

– E? – Ele se aproximou de mim agora. Seus olhos verdes faiscaram, e, pela primeira vez em meses, permiti-me a olhar mais de perto sua cicatriz. Suspirei.

– As coisas não estão muito bonitas. – Harry assentiu. – Acho melhor eu contar para todos vocês lá embaixo.

Assim que terminei de me arrumar, Harry e eu descemos juntos para tomar o café da manhã. O resto do nosso grupo estava sentado à uma mesa mais afastada, e ainda comiam. Ron, naturalmente, comia uma montanha, enquanto buscava explicar aos outros entre garfadas como uma partida de Snap Explosivo funcionava.

– Legal – murmurou Thalia, parecendo meio impressionada, mesmo após ter tido uma pequena estadia em Hogwarts.

Sentei-me à mesa, com um prato de frutas e uma pequena fatia de bolo.

– Que demora, hein, Hermione? – disse Annabeth.

– Foi mal – disse eu, após tomar um gole de suco. Meus olhos caíram por um instante em Percy, do outro lado da mesa, que pareceu desviar discretamente o olhar do meu. – Demorei um pouco mais para acordar. Por causa de um sonho.

Enfatizei bem as últimas palavras, o que deu efeito. Os olhos de todos se recaíram sobre mim com certa intensidade, até os de Percy. Expliquei o que ocorrera e como fora minha conversa com Poseidon.

– Titãs? – perguntou Ron, engolindo a comida. – Vocês não tinham dito que derrotaram eles há algum tempo, em Manhattan?

– Derrotamos Cronos e seus seguidores próximos – disse Annabeth, séria – mas naturalmente aqueles não eram todos. É natural haver muito mais no Tártaro, e agora que um dos Três Grandes enfraqueceu e se retirou, eles devem estar esperando apenas o momento certo para tentarem sair de lá. Devem estar ganhando independência.

– E esse negócio de Poseidon estar na Sicília? – perguntou Nico. – Temos que sair agora de nossos planos e ir atrás dele?

– Não – respondi. – Pelo menos não ainda. Pelo que entendi, temos ainda que tentar convencer alguns dos outros deuses pelo país, como era nosso plano original. Se tivermos sucesso, vai ser mais fácil para Poseidon voltar. Ele quer voltar, obviamente, só está esperando o momento certo, que é quando Zeus se convencer e o permitir novamente no Olimpo.

Não mencionamos a questão de eu ser uma “anomalia”, nascida meio-sangue e que por alguma razão adquirira a capacidade de ser bruxa, mesmo que nunca tivesse alguém na família com sangue mágico, mas sentia que estava ali implícita no ar de alguma forma. Tal questão por enquanto não era importante; teríamos que resolver o problema de trazer Poseidon de volta primeiramente, depois poderíamos nos preocupar melhor com o mundo bruxo colidindo com o olimpiano.

Sem mencionar que agora tínhamos ideia que possíveis seguidores de Cronos tentariam nos impedir de concluir a missão, o que não era um pensamento que nos agradava muito.

Mas, pelo menos, já sabíamos onde Poseidon se encontrava.

Terminamos de comer, e agora observávamos um ao outro, atentamente.

– É melhor sairmos daqui logo e ir direto para a Filadélfia, então – disse Ron. – O que estamos esperando?

Levantamos e fomos à recepção para fazer o check-out. Então, com as mochilas nas costas e armas empunhadas nos cintos, saímos, sem saber o que nos esperava e o quanto as coisas piorariam.


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Notas finais do capítulo

Reviews fazem bem.