Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 18
Piquenique com uma deusa


Notas iniciais do capítulo

É, eu ainda estou aqui.
Eu basicamente descobri a razão pelo atraso constante de minha escrita, e agora que comecei a corrigi-lo, espero que as coisas sejam mais rápidas agora.
Espero que gostem (para os que ainda acompanham).



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Todos nós suspiramos de alívio ao ver tanta comida em nossa frente, distribuídas naquele piquenique montado pela deusa Héstia (ainda parecia inacreditável que uma deusa como ela assumiria forma de uma simples criança) em um canto no Monte Olimpo.

– Sentem-se – repetiu ela, ao ver nosso primeiro olhar de hesitação. Ainda que minha boca salivasse de fome, toda essa situação não deixava de parecer bizarra aos meus olhos. – Não há o que temer. Não farei mal algum a vocês. Comam a vontade.

Eu, Harry, Ron, Annabeth e Thalia acabamos por nos sentar, ao lado de Percy e Nico, que a essa altura já devoravam seus sanduíches.

Passamos os próximos cinco ou dez minutos apenas focados na comida, em silêncio absoluto. Meus olhos encaravam apenas o sanduíche de atum em minhas mãos, não levantando o olhar para os outros. Aquele silêncio quebrado ocasionalmente pelo barulho da mastigação e o crepitar do fogo era, de certa forma, constrangedor.

Annabeth resolveu se manifestar:

– Hã, desculpe-me Lady Héstia, mas... poderia nos dizer o que a trouxe aqui? E onde estão os outros deuses?

– Não há o que se desculpar, Annabeth Chase – disse a deusa. – Eu sempre estou aqui, mesmo que nem sempre eu seja notada. Sou a deusa dos laços familiares, sou basicamente eu quem, no fim das contas, há de segurar tudo. – Annabeth abriu a boca para falar, parecendo constrangida, como se sentisse que insultara a deusa de certa forma. Héstia, porém, apenas levantou a mão, sem interromper o que já começara. – Não se preocupe, é até típico que as pessoas não me notem, quando estou aqui ao redor dos outros olimpianos. Não faço muito esforço para que essas pessoas cheguem a me notar, afinal. Mas uma coisa você pode ter certeza: eu sempre estarei onde a situação me chamar. Você apenas deve procurar por trás da fogueira.

Annabeth assentiu com força, encolhendo os ombros.

– Sim, entendo... – disse ela, e sua voz estava mais baixa. Pigarreou baixinho, como se estivesse nervosa, e ousou perguntar: – E os outros deuses...?

– Partiram – disse Lady Héstia, seus olhos avermelhados e infantis brilhando com a luz do fogareiro. Ela percebeu o choque que tomou conta de nossos rostos. – Não todos, antes que vocês se desesperem, e definitivamente não por muito tempo. Cada um foi para seu lado, continuando a construir suas “vidas de mortais” e criando mais semideuses para que no futuro eles tenham outros legados. De tempos em tempos isso acontece, é até natural. Nem sempre todos estão presentes aqui, juntos e ao mesmo tempo, se querem saber. Isso é uma ilusão que muitos de vocês parecem ter, o de encontrar todos os deuses a sua disposição aqui no Monte Olimpo. Cada um tem seus próprios afazeres além de ficar apenas sentados em seus tronos gigantes.

– Do jeito que você fala, tudo isso que está acontecendo não soa tão urgente como estamos fazendo parecer – não pude deixar de observar.

– Mas é. Não se enganem quanto a isso. Os deuses podem estar tentando retomar suas vidas normais fora do Olimpo, porém não é como se estivesse dando certo. A maioria quer apenas se esquecer do perigo em que eles colocaram o mundo, ao fazerem Poseidon ir embora. Eles perceberam que estavam errados ao ficar do lado de Zeus, mas agora querem apenas cobrir a ferida com um pano.

– São orgulhosos demais para admitir o erro – murmurou Thalia, parecendo ficar enjoada e colocando seu copo de suco de lado.

– Orgulhosos ao ponto de ignorar o fato que o mundo poderá entrar em ruínas se Poseidon não voltar logo? – perguntou Harry, incrédulo.

– Não é algo proposital, Harry Potter – disse Lady Héstia. – Deuses são geralmente vistos como aqueles seres supremos, perfeitos em todos os aspectos. Mas não somos. Talvez já tenhamos sido, há muito tempo atrás, mas a partir do momento em que passamos a nos envolver com humanos, a essência humana – essa essência cheia de falhas, erros e emoções – acabou sendo absorvida. Somos poderosos, sim; podemos ser vistos como divindades, sim; mas no fim do dia somos apenas meros retratos das almas mortais.

Todos ficamos quietos, e tudo o que fizemos pelos dois minutos seguintes foi nos entreolhar, com aquele silêncio pesado nos engolfando. Pude ver nos olhares de meus amigos, pelas rugas fincadas em suas testas, o ar de preocupação. Não era para menos. O fim do mundo já estava praticamente confirmado.

Pare de ser pessimista, Hermione; aquela voz interior e irritante apareceu em minha mente. Pelo menos nesta ocasião ela estava me encorajando a ser algo melhor, o que a quase deixava menos irritante do que de costume.

Quase.

– Quer dizer que o exílio foi apenas uma barreira a mais erguida pela essência humana dos olimpianos? – perguntei, não me controlando muito bem e dando uma grande ênfase em “essência humana”. Héstia notou, e os cantos de seus lábios pequenos se levantaram em uma espécie de sorriso. – Ok. Entendo. O que significa que nosso trabalho em convencê-los a trazer Poseidon será ainda mais redobrado.

– Ou não – disse a deusa. Franzi as sobrancelhas, e, novamente, ela percebeu minha inquietação. – Não acho que seja necessário buscar convencer a todos os deuses. Nem todos estão de acordo com Zeus. Acho que, na realidade, nenhum está de acordo com ele.

– Então por que ninguém discordou de Zeus no momento do exílio? – interrompeu Percy.

– O orgulho é e sempre será a nossa maior fraqueza. – Suspirei de frustração com a resposta. – Sei que essa resposta não parece ser suficiente, e não a culpo por isso, Hermione Granger. Não há como entender os deuses, assim como às vezes não há como entender os humanos.

– Então é necessário convencer apenas Zeus? Não foi isso que o Sr. D. havia dito lá no Acampamento, não é? – perguntou Ron.

– Zeus é a peça importante que vocês devem ir atrás nessa missão – respondeu Héstia. – Mas seria bom, talvez até essencial, se tentassem conversar com alguns outros.

– Os que estariam mais propensos a concordar com Zeus – completou Annabeth. A filha de Atena desviou seu olhar de Lady Héstia, para dessa vez encarar a todos. – Poderíamos ter pelo menos uma breve ideia de quais desses deuses estamos falando? Hermione?

Pude reconhecer a pergunta implícita nos olhos de Annabeth, por trás desse simples “Hermione?” Era mais ou menos como: “Hermione? Há, por acaso, alguma possibilidade de você lembrar em seu sonho, algum deus idiota o suficiente para concordar com o mais idiota ainda Zeus e ignorar o fato que sua simples escolha poderia condenar o mundo?" Talvez não exatamente nessas palavras.

– Bem – pigarreei – em meu sonho apenas Zeus e Poseidon discutiam... os outros estavam todos tensos e quietos. Mas houve um deles que, de certa forma, concordou com Zeus. Talvez não exatamente, mas ele deixou explícito que todos eles sabiam que o que Poseidon fizera violava um dos tratos mais importantes da história. – E esse “o que Poseidon fizera”, era eu. Lembrar-me desse fato aumentava ainda mais aquela náusea em meu estômago. – Acho que era Hermes. Não tenho muita certeza.


No fim das contas, acabamos por nos decidir quais seriam os deuses que procuraríamos. Não seriam apenas aqueles com maior possibilidade de concordar com Zeus, mas também alguns que nós poderíamos ter maiores chances de sucesso. Achamos que as melhores opções para procurarmos primeiramente seriam Apolo, Atena e Hermes, porque de acordo com Percy eles eram os mais fáceis de lidar. Depois viriam os mais difíceis (de acordo com Percy), tanto de lidar quanto de suportar, que seriam Ares, Hera, Hades e o principal, Zeus.

Após traçarmos a parte básica de nossos planos, nos despedimos de Lady Héstia e embarcamos em nossa jornada. Ela não deixara explícito onde cada um dos deuses que procuraríamos estava, mas não era como se esperássemos que ela nos dissesse. A deusa nos assegurava, no entanto, que grande maioria deles buscava não ficar muito longe do Monte Olimpo. O que nos deixava bem aliviados, já que nos dava a possibilidade de procurar apenas aos arredores do estado de Nova York, sem termos de nos distanciar muito. Não precisaríamos viajar até a Califórnia, por exemplo.

Mesmo que não desse a localização exata, Lady Héstia acabou dando um bom ponto de partida:

– Procurem pelo amor fraternal – dissera ela. – Não está assim tão longe daqui.

A princípio ficamos confusos, mas acabamos não perguntando por mais detalhes porque sabíamos que ela provavelmente não diria mais do que isso.

Estávamos agora caminhando pela Quinta Avenida, que a esse horário da tarde estava cheia. Pessoas passeando, pessoas com pressa, carros trafegando, táxis amarelos dando carona e Nova York em mais um dia normal. Era estranho pensar que, enquanto nós sete estávamos tentando salvar o mundo, a vida simplesmente corria como deveria correr. Ninguém ali sabia o que poderia acontecer caso fracassássemos, ninguém ali parecia ter a noção do perigo, ninguém ali se importaria caso soubessem.

O que estávamos fazendo agora não era o acontecimento do século. E mesmo que fosse, mesmo que nos próximos dias o caos começasse a atacar e a natureza percebesse que Poseidon fora embora, nenhum daqueles mortais saberia a verdadeira razão. Uma desculpa seria inventada para cobrir todos aqueles acontecimentos, e nós sete permaneceríamos apenas como agentes na sombra.

Esse pensamento me fez sentir incrivelmente pequena.

– Não acha, Hermione? – a voz de Thalia me despertou de meus próprios devaneios.

– Hã, o quê? – perguntei, confusa. Thalia me olhou com um ar de repreensão. – Desculpa, eu não estava prestando atenção.

– É, nota-se. – Senti meu rosto esquentar. – Eu estava dizendo que nós deveríamos alugar um carro, porque não vai dar muito certo ficar só andando para lá e para cá. Mesmo que Lady Héstia tenha dito que não iremos nos distanciar muito, é sempre melhor ter um carro do que ter de pegar ônibus ou trens.

– E também depende do que Lady Héstia considera como “não muito longe” – disse Harry. – E se não dá para aparatarmos...

– Ah, sim, claro – falei, ainda meio perdida em minha mente. – Ótima ideia.

Olhei para o lado, e vi que Nico me observava de um jeito engraçado. Não parecia que ele tinha apenas treze ou quatorze anos. Tentei desviar o olhar, mas acabei encontrando os olhos claros de Percy. Não ajudou muito.

– A propósito – retomei a palavra, aproveitando para desviar o rosto e esconder minhas bochechas que quase ardiam de tão quentes. – Vocês têm alguma ideia do que possa significar o “procurar pelo amor fraternal”? Annabeth?

Ela deu de ombros, pegando seus cabelos loiros e retorcendo as pontas, em sinal de frustração.

– Estive pensando, mas ainda não faço ideia. Quer dizer, o que pode significar? Há muitas possibilidades.

– Ela não quis dizer o sentimento em si, não é? – disse Ron. – Por mais que os deuses parecem sempre gostar de falar em enigmas, não é o que parece agora. – Todos agora ouvíamos com atenção. – Não... não poderia ser que ela estivesse falando em um sentido literal? Um lugar, talvez?

Annabeth parou de repente, como se uma luz acabasse de ter sido acesa em sua cabeça, sua boca se abrindo em um ligeiro O.

– É isso! Um lugar! Não muito longe daqui... – ela estava totalmente entusiasmada. Seus olhos cinzentos se arregalavam a cada pensamento que parecia passar por sua cabeça. – Vocês saberiam traduzir “amor fraterno” para o grego moderno, não?

Philos seria amor – disse Thalia – E adelphos seria irmão, o que por mais que seja uma tradução crua, dá uma ideia.

– Agora, vocês não acham que há uma cidade, não muito longe daqui, que soe um tanto parecida com essas palavras?

Todos paramos para pensar, tentando acompanhar o raciocínio de Annabeth.

– Hã... Filadélfia? – arriscou Harry. – Não fica muito longe daqui, fica?

Annabeth apenas sorriu com satisfação.

– Filadélfia – a palavra saiu de minha boca. Nunca me sentira tão bem pronunciando o simples nome de uma cidade. – Popularmente conhecida como a Cidade do Amor Fraternal. E daqui de Nova York dá apenas umas cinco ou seis horas de carro até chegar lá. Annabeth, isso é incrível!

Todos apenas sorrimos um ao outro, com uma pontada de esperança.

– Parece que temos uma chance – disse Percy.

– Pelo menos desta vez. – comentou Nico. – Vamos então pegar logo esse carro e cair fora de uma vez dessa cidade.

E pela primeira vez, eu não me senti tão mal por ter resolvido embarcar nessa missão.


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Notas finais do capítulo

Meio enche linguiça, mas com informações importantes.



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