Voando escrita por JoJo


Capítulo 4
Lilac, Charlie, Lisabeth, Lee e o corredor




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Pisquei algumas vezes rapidamente, fazendo meus olhos se adaptarem a luz do local. Eu estava deitada o chão, que era de terra batida, sendo observada de perto pela garotinha loira.

–Oi.- ela disse com sua voz fininha, como a de um passarinho.

–Oi. Oi?- falei e perguntei. Afinal, não era ela que tinha tentado me capturar junto com a maior?

–Ah,meu nome é Charlotte, mas pode me chamar de Charlie. E você seria...- perguntou, claramente se referindo a algum pseudonimo que eu teria. Olhei pra ela, pensando num nome legal...hm...

–Lilac- falei, pensando no episódio da ninfa da lavanda- Mas pode me chamar de Lil.

–Você é uma semideusa?

–Não. E você, é?

Ela assentiu veementemente, com orgulho e falou:

–Eu sou filha de Iris, a deusa das cores.- apontou para seus grandes olhos para provar, e vi que eles eram um verdadeiro arco-iris, mudando de cor. Sabendo que era semideusa, então o nome dela deve mesmo ser Charlotte... que bonitinho.

–Achava que ela era deusa do arco-iris.

Ela fez uma cara meio ofendida meio risonha, e balançou a cabeça como se falasse ago como "meros mortais".

–Nãaaaaao- prolongou a palavra- Olha só a palavra: arco-iris! Tá vendo? Até a palavra mostra que minha mãe fez o arco só pra ser o símbolo dela! Não é óbio?

–Hm... não. Nem um pouco.

Soltei um risinho, afinal, isso era definitivamente hilário. Ouvi algum tipo de discussão fora da sala. Aliás, só percebi agora que era uma sala. O que me faz pensar que aqui é um acampamento e que a discussão significava que alguém acreditava que eu era um monstro e alguém que eu devia ser humana.

–Vai demorar muito?- perguntei a Charlie.

–Espero que não, Lisabeth em geral é rápida, pode deixar.

–Lisabeth é a de cabelo castanho?

–É, ela mesma. Bem, tomara que ela não nos ouça conversando, senão talvez ela brigue.

Ela falou meio temerosa, mas seu tom demontrava que ela não conseguiria parar de falar.

–Esse acampamento é muito grande?

–É, eu, pessoalmente, acredito que seja o maior.- seu tom não abria espaço para dúvidas.

–O maior? É, porque eu já estive em um que parecia bem mais espaçoso.- tentei provocá-la, só por diversão. Sentei, afinal, não é nada confortavel conversar com alguém tão debaixo.

–Ah, querida, mas é aí que você se engana! Não tem NENHUM acampamento maior que o meu, e nunca vai haver, porque nós somos o com maior número de meio-sangues, humanos E seres mitológicos! E NEM adianta discutir!- falou ela, no seu modo mais ofensivo, mas ainda parecendo uma bonequinha fofinha.

Eu soltei uma risada baixa e deitei-me novamente, fechando os olhos, um sorriso no rosto.Era bom conversar, até mesmo discutir.

–Eu só tava brincando.- falei, imaginando o rosto de indignação dela, mas ouvi um riso e abri só um olho, vendo ela sorrindo e me encarando de um jeito estranho.

–Gostei de você.- sincera, essa Charlie, hein?

Escutei a porta abrir e virei meu corpo de lado, vendo Lisabeth e um garoto entrarem, encarando um ao outro com raiva. O menino tinha cabelos loiros como os sol e olhos castanhos, mais alto que eu e minha idade, uns 17.

E eu conheço ele! Oh meus deuses! Ele era meu melhor amigo! Eu já ia gritar o nome dele, mas parei, sabendo que não é seguro.

O nome dele é Kaylee, e ele sempre foi motivo de piada por causa disso, afinal, Kaylee é um nome unissex, mas é mais usado como feminino. Eu morria de pena, porque é um nome bonitinho.

–Meu nome é Lee.- ele falou olhando diretamente pra mim. Levantei-me em um salto, vendo Lisabeth entrar em posição de defesa, mas ele abriu os braços e me abraçou até eu ficar sem ar. Irônico o nome, afinal, era como eu chamava ele.

Nada nele havia mudado... até seu cheiro de minerais-tipo o cheiro de.. pedra- com menta era igual. Bem... ele estava mais malhado, mas nisso eu também tinha mudado, pois antes nossa vida era sedentária e fugir de monstros é um pouco mais cansativo que erguer o controle remoto, né?

–Meu nome é Lilac.- falei meio envergonhada, poderia ter escolhido um nome melhor. Ele riu alto e falou:

–Lil, lil, lil.- é, Lil era como ele me chamava antes( meu segundo nome é Lilith.)

–Lilac.- ouvi Lisabeth chamando minha atenção. Soltei-me do abraço dele e virei-me, encarando os olhos amendoados dela.- Você é bem-vinda para ficar aqui, apesar de eu continuar acreditando que você é um monstro.- resmungou encarando com olhos fulminantes Lee.

–Obrigada.- falei com o máximo de respeito possível.

–Lee vai te mostrar onde você vai ficar.- ela se virou batendo o pé e entrou na sala de onde havia saído.

Ele começou a me puxar pela mão para uma segunda saída da sala. Olhei para Charlie, que olhava para a cena confusa, e gritei um tchau, que ela respodeu baixinho.

Fora da sala havia um corredor simplesmente enorme! Fiquei imaginando o tamanho do acampamento, que, segundo Charlie, era o maior. E o mais interessante era que o corredor era ao ar livre, como se fosse um lugar fechado e ao mesmo tempo sem teto. Percebi rapidamente ser um encantamento, pois o céu no teto era azul e tinha nuvens fofinhas. Olhei para Lee, que me encarava com um sorriso maroto, e perguntei-me a quanto tempo ele estava lá, porque pelo jeito que Lisabeth tratava ele, ele era uma espécie de líder.

-Está gostando do lugar?-perguntou-me.

-Sim... há tempos não vejo um lugar tão amplo e um céu tão bonito.- falei, voltando a encarar o lugar.

Havia muitas portas e outros corredores. Cada porta parecia ser personalizada pelo dono, pois haviam portas de todos os tipo: feitas com cipós, amarelas, coloridas, brancas, portas de cofre, entre outras. As paredes eram brancas, mas em alguns lugares havia pilares gregos como decoração encostados nas paredes, além da moldura de gesso no teto.

Virei-me para ele, vendo que o sorriso tinha sumido, provavelmente pensando no que eu tinha acabado de falar. Agora ele tinha um olhar perdido, triste. Perguntei:

-O que aconteceu?

-Nada...tudo.

Eu entendi o que ele disse, então abracei-o,não do jeito alegre que tinhamos nos abraçado antes, mas sim de um jeito a consolá-lo e consolar-me.Senti o corpo dele balançar e lágrimas molharam meu ombro. Eu sempre soube que ele nunca fora forte, mas não esperava por isso. Isso me fez chorar, por tudo que eu perdi e que ele perdeu, depois dos malditos titãs destruirem o mundo como conhecíamos. Lembrei de todos que devem ter morrido e sofrido, lembrei do meu irmão perdido, da minha mãe e dos pais dele.

–Por onde você andava,Lil? - falou ele com a voz terrivelmente triste.

–Fugindo. Sempre.- sussurei no ombro dele.

Ele desfez o abraço e me segurou pelos ombros, encarando meus olhos.

–Pelo menos, agora você está aqui. - ele deu um sorriso fraco e limpou as próprias lágrimas com as costas da mão.Limpei as minhas também e falei:

–É, mas gostaria de ter estado aqui sempre.- ele arregalou os olhos com algum tipo de culpa e abaixou a cabeça, encarando o pé.

–Eu sinto muito.- falou.

–Pelo que?- perguntei inclinando a cabeça para o lado.

–Por não ter conseguido te achar...

–Tudo bem.- dei um sorriso simples.

Ele correspondeu o sorriso sem vontade e me abraçou pelos ombros e começamos a andar pelo corredor, até chegarmos em um corredor maior perpendicular. Ele apontou para a direita e disse:

– Lá é uma área de treinamento, uma arena.- e para a esquerda- Lá é o refeitório e a enfermaria. Os meio-sangues dizem que aqui foi feito nos modelos do Acampamento Meio-sangue,que era onde eles moravam, mas bem mais compacto. Apesar disso, aqui nós abrigamos cerca de 700 pessoas, contando com seres mitológicos,que é bem mais que eles abrigavam.- a voz dele tinha assumido um tom técnico, estranho.

Demos alguns passos no corredor da diretoria- de onde a gente veio- até chegarmos a uma parte que parecia um total labirinto, com muitos corredores finos que se bifurcavam.

– A quanto tempo você está aqui?- não contive minha curiosidade.

–Desde o início. No começo esse lugar era um refúgio para semideuses, mas eles abrigaram eu e mais dez pessoas comuns... daí eles começaram a abrigar mais e mais gente, e chegou a esse tamanho. Eu tenho certeza que só deu certo porque há uma divisão de trabalho rigorosíssima aqui, todos sem excessão trabalham na busca de comida, mas os menores e mais velhos fazem pequenos trabalhos aqui dentro.

–Wow... eu não parei num mesmo lugar por uma semana... ou um mês, no caso do acampamento de Ártemis.

–Mas...ela que criou?

–Ah, não não, é só um nome mesmo. Teria dado certo se fosse ela... É, todos estavam muito relaxados e sedentos de luxo...muitos sequestravam pessoas, torturavam até ter o nome e chantageavam a pessoa como um escravo...era horrível. A comida e as pessoas foram acabando desse jeito. Graças aos deuses eu fugi antes de me pegarem...

–É estranho ouvir algo assim... nunca aconteceu parecido aqui.

–Só pelo rigor que vocês tem, pode ter certeza...- encarei ele por um tempo.

–É.- ele olhou para o chão com cara de cachorro molhado. Eu ri. -Que foi?- perguntou franzindo o cenho.

–Você tá com uma cara de coitadinho...- ainda rindo.

–Hey, para.

–Tadinho de você.- peguei as duas bochechas dele e fiquei sacudindo.- Fofo,fofo,fofo.

Ele revidou, pegou minha bochecha e fez o mesmo. Depois de uns segundos largamos um ao outro e começamos a rir como retardados, com as maçãs do rosto vermelhas.

Ainda rindo, seguimos nosso caminho, passando pelos corredores estreitos e cada vez mais confusos, até que eu senti uma pontada na cabeça. Coloquei a mão na região e franzi o cenho. Parecia que algo queria implodir minha cabeça. Andei alguns metros, massageando a região. O ambiente ao meu redor não importava mais, além de estar esfumaçado pela dor.

Então a cabeça inteira latejou, e eu segurei-a com as duas mãos tentando fazer passar de uma vez.

–Lil?- virou-se para trás, vendo que eu tinha parado.- O que está acontecendo?

Dei de ombros e estava prestes a tropeçar quando ele me pegou. Fechei os olhos por uns segundos, depois abri-o novamente.

Onde era o corredor, agora existia um campo aberto, com o céu brilhante, azul com laranja, mostrando que era o pôr-do-sol. A grama verdinha estava florida, como na primavera, e haviam passarinhos voando por todo canto, mais no fundo havia um campo de morangos florescendo e mais perto haviam chalés coloridos diferentemente. Havia duas crianças correndo, uma adolescente atrás delas. Em outro canto, havia alguns adolescentes e adultos sentados conversando, como uma roda do livro. Pude observarum lago perto, mas qundo eu tentei me mexer... tudo se apagou novamente.

Abri meus olhos alguns segundos depois, minha cabeça ainda dolorida, mas só uma parcela do que era antes.

Lee estava me encarando preocupado, e deu um suspiro quando perguntei "tá me encarando por que?".

–Ok, o que acabou de acontecer?- perguntou.

–Bem, você acaba de roubar minhas palavras.

–Eu acho... que deveríamos ir para a enfermaria.

–É. Pode ser.- apesar de confirmar, no findo eu sabia que não era caso para hospital... só me restava saber o que eu diabos seria aquila crise estranha...


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