Aira Snape escrita por Ma Argilero


Capítulo 3
Memórias de Snape


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo editado em 02.01.13]
Tenho a certeza absoluta que querem saber como Severo teve uma filha.
Bem... aqui um capítulo dedicado a essa questão.
Obrigada pelos reviews.
Obs. narrado por Severo Snape.



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Minha vida é uma caixinha de surpresas e isso não posso negar. Sou a pessoa amarga que sou por tudo de ruim que aconteceu em minha vida.

Depois de xingar Lílian Evans de sangue-ruim e tentar me reconciliar com ela, desviei de vez para o lado das Trevas. Estava com raiva dela e do Potter, por tê-la me roubado. Como pude ser idiota de xingar a pessoa que eu amava?

•••

Havia terminado Hogwarts e não queria voltar para a minha casa e encontrar o idiota do meu pai (que de pai não tem nada). Hospedei-me no Caldeirão Furado e usava minhas economias e a herança da minha mãe - ela morreu e não deixou nada para meu "papai", somente para mim. O que era muito irônico, pois meu pai achava que era dono de tudo.

Não era barato bancar minha vida no Caldeirão Furado. Eu estava carente de galeões. Como minha mãe deixou a herença em dinheiro trouxa, tinha que ir àquele banco e depois fazer a troca no Gringotes. Uma rotina tediante e muito chata.

Todos os dias passava em frente a minha antiga casa, e observava atentamente a casa onde Lílian morava. Toda noite passava em frente a janela de seu quarto e via dormir, serenamente. Aproveitava e conferia se meu pai ainda estava vivo e se sentia saudade de seu filho mestiço - Se não gosta de magia, por que se casou com uma bruxa? Minha mãe contou a ele antes de casarem, portanto ele podia muito bem não ter casado. 

Olhei pela janela e vi o inútil jogado no chão, com uma garrafa de cerveja em mãos. Estava bebâdo e não acordaria tão cedo. Pensei na possibilidade de deixar um bilhete dizendo o quanto lhe odeio pela vida que tenho hoje.

Após alguns meses depois de mudar minha rotina, procurei Dumbledore em Hogwarts, queria o cargo de professor de Defesas Contra as Artes das Trevas, mas não havia vaga. Continuaria com minha vida monótona, procurando um emprego no mundo bruxo. O mundo trouxa nunca me agradou o bastante para viver nele.

Voldmort (aquela cobra pálida e asquerosa) chamou-me. Tive que ir a mansão dos Malfoy e ver o que ele queria com seu mais novo servo. Aparatei na sala e de cara vi a coisa repugnante, me observando.

Puxei minha capa para trás e sentei-me no sofá, esperando as ordens dele. Veio com o seu discurso de querer purificar o mundo... E todo aquele sermão chato que eu já conhecia de cor.

Era uma cerimônia para aceitar mais um novo comensal. Quem diria que Pedro Pettigrew se aliaria ao lado do mal? O amigo do Potter, do lobisomem e do Black. Fiquei pasmo, mas não demonstrei em minha expressão. Pensei que ele desistiria de se aliar, mas foi fundo e aguentou a dor de ferro em brasa em seu braço, sendo pressionado com magia e usado feitiços para penetrar a marca negra em sua pele para sempre. Pude sentir a dor novamente em minha pele e a ardência depois de ver Pedro com sua marca.


Não aguentava mais ficar trancafiado em meu quarto, lendo os mesmos livros que lia quando tinha onze anos. Saí de meu aposento e ao invés de ir ao Beco fui em direção à porta que me levaria ao mundo trouxa. Tinha que usar roupa trouxa. Pelo menos eram do meu tamanho, e adotei o preto.

Estava em devaneios, quando trombei com uma moça trouxa, que deixou suas sacolas caírem. Muito educado (mesmo que não pareça, mas sou educado), ajudei a moça a se levantar e lhe entreguei suas sacolas. Olhei o sorriso que ela exibiu. Sorriso lindo. Normalmente as pessoas quando me viam me ignoravam, mas ela não. Sorriu e colocou uma mecha de cabelo para trás.

Ela entrou em uma lanchonete e eu fiquei observando a rua movimentada por alguns segundos, até sentir pingos de chuva em meu rosto. Olhei para o céu e começou a chover forte. Eu poderia ter ido a um lugar vazio e ter aparatado em frente ao Caldeirão Furado, mas resolvi entrar na lanchonete. A última vez que estivera em um lugar desses, fora na minha infância, quando meus pais não brigavam. A lembrança de ter tido algo bom era pertubadora. 

O lugar estava cheio. Pensei em ir ao banheiro e aparatar, mas alguém poderia ver. Olhei para as mesas e vi a moça que ajudei, lendo o jornal trouxa e fazendo anotações em uma caderneta. Aproximei-me dela. Não sabia exatamente porque estava fazendo isso. Ela viu-me.

- Posso me sentar aqui? - Era a única mesa que não estava totalmente ocupada. Ela fez sinal e retirou a bolsa. Sentei-me na cadeira e observei a chuva, que era intensa.

- Parece que não vai parar de chover... - comentou mais para si mesma do que para eu ouvir. Olhei-a e vi seus olhos pairar sobre mim. Olhos azuis e muito brilhantes. - Obrigada pela ajuda...

Falta de educação não ter me apresentado de imediato.

- Severo Snape.

- Nome diferente, mas eu gostei - sorriu e virou a página do jornal.

Uma garçonete parou em frente a mesa e perguntou o que queríamos. Como não sou fã de comida trouxa, pedi café, a única coisa degustável naquele lugar.

Ela não havia se apresentado, estava mais interessada no jornal e em sua anotações. Olhei para a manchete Morte Misteriosa. Voldmort estava por trás disso. Não me senti bem em estar ao lado de uma trouxa, quando eu deveria odiá-la, mas como odiar a coisa mais meiga e doce que estava defronte a mim, lendo tranquilimamente?

- Desculpe - ela disse de repente, fazendo-me acordar de meus pensamentos. - Não me apresentei. Sou Hayley Thompson.

Apertei a mão dela e peguei meu café, que acabara de ser servido. Bebi tudo de uma vez, sem me importar se estava quente. Nem senti o gosto. Queria ver Hayley fazer suas anotações, estava fascinado em vê-la trabalhar no que quer que fosse.

- Pareço ter dezoito anos? - sorriu e mordeu a tampa da caneta de um modo que pareceu sensual a mim. Devia estar carente de amor, já que nunca beijei e nunca cheguei ao ponto.

Sorri. Primeira vez que sorri depois de tanta desgraça em minha vida. Ela jogou os cabelos negros e lisos para trás e guardou o jornal, a caneta e a cardeneta em sua bolsa.

- Não. Parece uma garota.

- Que idade? - curvou-se sobre a mesa, aproximando-se sobre mim. - Dezesseis? Quinze? Vinte?

Mas por que ela queria saber disso? Pra mim ela tinha a idade que me dissera.

Era estranho conversar com ela. Não me sentia triste em sua presença, mas feliz. Sua presença era reconfortante. A chuva acabou e ela me entregou seu número de telefone. Pensei em rasgar, mas guardei no meu bolso.

Voltei para meu aposento, com a mesma expressão séria que tenho que demonstrar para ninguém descobrir que sou um comensal da Morte. Devia ter ouvido Lílian e não ter me juntado a esse bando de pirados, que se acham o dono do mundo. Tranquei-me no quarto e retirei a roupa molhada e deixer secar naturalmente, enquanto observava minha marca no braço esquerdo, estava viva e a qualquer hora eu poderia sentir ela queimar, quando Voldmort me chamasse.

Novamente passei em frente a minha antiga casa e vi ele jogado no chão, mas desta vez não tinha garrafa na mão e sim uma faca e o chão estava embebido pelo seu sangue. Parecia que fazia dias que se suicidara. Fui em uma cabine telefônica e liguei para a emergência. Mesmo não gostando dele, tinha que ser enterrado com dignidade.

Vi a ambulância chegar e em menos de dez minutos ir embora. Entrei pela porta dos fundos usando o Alorromora e encontrei a casa em ruínas. O desgraçado a destruiu nesses quase dois anos desde a última vez em que nos vimos.

Deixei uma flor em seu túmulo e de minha mãe também. Sentia saudades dela. Como pôde me abandonar? Estava sozinho. Órfão de pais e de amor, por que as únicas pessoas que me amaram foram a Lílian (como amigo) e minha mãe.

A casa ficaria abandonada, então apossei do que era meu de direito. Não havia problemas em encontar com a Lílian, ela já estava casada e muito feliz com seu marido. Joguei qualquer coisa inútil daquele casebre deprorável. O único lugar que eu redecorei foi meu quarto. Olhei pela janela e vi pessoas passando tranquilamente.

Tinha um lugar para morar, mas meu dinheiro não duraria para sempre. Precisava de um emprego e rápido. Novamente procuro Dumbledore, mas nada de emprego. Estava começando a ficar desesperado. Como me manteria?

Estava vaguenado pela cidade, à procura de algo para fazer, quando esbarro em uma garota. Foquei paralisado ao ver que era Hayley Thompson. Ajudei-a novamente. Ela olhou penetrante em meus olhos. Após alguns segundos nos observando, ela agradeci e se afasta de mim.

- Você não me ligou - Com tanta coisa pra fazer e resolver acabei esquecendo disso.

- Perdi seu número.

Estava virando um exímio mentiroso.

Fomos a lanchonete e nos sentamos na mesma mesa que naquele dia. Pedimos as mesmas coisas, mas ela não leu e nem anotou nada.

Contei a minha busca por emprego e o desejo de ser professor. Seu olhar ficou triste e cabisbaixa disse:

- Meus pais querem que eu seja médica, mas eu quero ser jornalista - pegou minhas mãos. - É horrível quando as pessoas que deveria te apoiar, te ignoram.

Não falamos muito. Apenas sobre nossas expectativas. Não gostava de conversar com os outros sobre minha vida.

Levantou-se e deixou o dinheiro na bandeja. Fui atrás dela e puxei seu braço. Ficamos próximo um do outro. Sentia o calor do seu corpo ao meu. Em meio a multidão de pessoas, estávamos nos observando, quando ela se livrou de mim e foi andando. Corri atrás e na esquina lhe alcancei.

Andava ao seu lado, mas não dizia nada. Não queria dizer alguma besteira e fazê-la se sentir melhor. Não sei porque estou me importanto com ela, mas é difícil ver uma mulher tão linda como ela, triste.

Começou a chover. Como o clima gostava de mudar quando eu estava feliz!

Hayley estava ensopada e continuava andando, de braços cruzados e tremendo. Segurei seu braço e a virei. Estava frio e ela já demostrava sinal de que se ficasse mais tempo na chuva, ficaria doente.

- Minha casa é aqui perto. Vamos - passei meu braço em seu ombro e fui guiando seus passos até minha casa.

Subi correndo a escada e peguei toalhas e cobertores. Entreguei as toalhas a ela e ajudei-a a retirar seu casaco. Estava ficando doido, mas ela precisava da minha ajuda. Estava tremendo muito e mal conseguia retirar aquelas roupas encharcadas. Retirei minhas roupas, ficando somente de peça íntima. Retirei as dela, tentando não assustá-la, mas ela parecia não estar mais no mundo real.

A deitei no tapete e deitei-me ao seu lado, lhe abraçando. Cobri com os cobertores e com a varinha acendi a lareira. Abracei ainda mais Hayley e cheirei seu cabelo. Ela continuava tremendo, mas aos poucos seu corpo relaxava.

Ela dormiu em meus braços, de frente a mim. Passei a mão, delicadamente em seu rosto e Hayley acordou. Sorriu e eu fiz o mesmo. Ela se sentou e passou a mão pelos cabelos. Seu olhar parou em mim, deitado e somente de cueca.

Pensei que ela sairia correndo e gritaria comigo, mas não, deitou-se ao meu lado e levou seu corpo para mais perto de mim. Passou sua mão em meu rosto, beijei-a e olhei Hayley. Eu a beijei e senti a doçura e a delicadeza de sua pele na minha. Em pouco tempo estávamos trocando carícias ardentes: mordia sua pele e ela arranhava minhas costas.

Olhei seus olhos lindos e depositei um beijo em seu pescoço.

- Acho que estou apaixonada por você - ela me confidenciou.

- Eu também.

Nos amamos profundamente naquela noite. Senti pela primeira vez o que era ser amado e amar ao mesmo tempo. Enquanto eu e Hayley nos amavámos eu sentia felicidade e prazer em estar com ela. Beijei seus lábios e senti novamente ela me arranhar as costas.

Estávamos namorando e adorava sua companhia. Fui chamado por Dumbledore e fui ao Caldeirão Furado.

Ele passou por mim, subindo a escada, fui atrás e parei na porta, por onde ele havia entrado. Escutei Sibila Trelawney fazer uma profecia ao Voldemort. Tinha que contar ao Lord, mas antes disso voltei ao meu lugar e esperei Dumbledore.

O velho sentou-se na cadeira e olhou-me.

- Tem vaga para professor, mas não para Defesa Contra as Artes das Trevas. Tenho a de poções, o professor Horácio Slughorn aposentou-se - fitou-me - Sei que você é excelente em poções e seria um bom professor, Severo. 

Fazer o que? Aceitei o cargo de professor de poções e ao sair, fui em uma beco e aparatei na mansão dos Malfoy. Narcisa exibia sua gravidez, toda sorridente.

Contei a novidade a Voldmort, que achou interessante e me parabenizou por ser leal e ter informações. Como estava lislonjeado, contei que era o mais novo professor de poções em Hogwarts. Voldmort adorou saber que teria a mim na escola, pediu-me para ser espião dele.

Estava tudo dando certo em minha vida. Estava super feliz, mas não poderia demonstrar isso na companhia dele e dos outros comensais.

Após mais uma noite de amor com Hayley, ela me fez uma pergunta.

- Que marca é essa em seu braço? - Droga! Deveria ter usado um feitiço de ilusão nesta maldita e desgraçada marca negra.

Era a hora de contar a verdade. E seja o que Merlin quiser. Peguei minha varinha e fiz demonstrações.

- Sou bruxo, Hayley - ela me olhou espantada e pegou suas roupas, saindo apressada do meu quarto.

Não corri atrás dela. Hayley precisava absorver essa realidade. No dias seguintes fui visitá-la, mas Judith, mãe de Hayley, disse que ela não queria me ver nunca mais.

Fui a Hogwarts lecionar e espiar Dumbledore. Nas férias de inverno, procurei novamente minha paixão, mas Judith disse-me que ela estava casada e morando em outra cidade. Depois de saber disso, meu mundo caiu e fiquei sem chão. Como Hayley pôde me abandonar desse jeito?

Voltei a espionagem. Queria esquecer mais uma vez a dor de uma amor. Eu já era ranzinza com os alunos, fiquei pior e descontava minha frustação toda neles. Também era o mais novo diretor da Sonserina. Eu tinha poder e era maravilhoso sentir-se poderoso.

Minha marca queimou, enquanto lia um livro de feitiços para esconder minha marca, quando estivesse no mundo trouxa. Fui até ele e recebi a informação de que mataríamos Lílian, Tiago e Harry Potter. Implorei que não matasse a Lílian, mesmo não a amando mais, mas ela ainda era importante para mim. Pedido recusado e depois da tragédia e quase destruição de Voldmort, voltei para minha casa, abalado e mais triste do que nunca.

Passou-se quase dois anos depois de Hayley ter me abondonado. Fui procurar Judith e levei comigo a poção da verdade. Pinguei gotas suficientes em seu chá e fiz as perguntas que me atormentavam.

- Hayley está casada?

- Não. Menti para você, por que não queria que minha filha namorasse uma pessoa estranha.

Foi confirmado que ela se mudou, mas para cursar a faculdade.

- Ela está bem?

Sentia muitas saudades dela.

- Não. Morreu em maio do ano passado, depois de dar a luz a uma menina.

Fiz as contas mentalmente. Eu tinha uma filha? Perguntei em que diabos de cidade ela fora morar e onde estava minha filha. Após a informação que tive, procurei minha filha no instituto de adoção, mas para minha surpresa e decepção, ela fora adotada pelo casal Stwert.

Procurei eles. Queria conhecê-la e amar com todo meu amor. Bati na porta e vi a senhora Stwert, sorridente. Disse por quê da minha visita. Pedi para ver minha filha.

No quarto dela, aproximei-me do berço e sem premissão, peguei Aira nos braços. Seus cabelos e olhos eram negros, mas a feição era toda da Hayley.

Pedi a eles para me comunicarem duas vezes por mês tudo que acontecesse a Aira. Deixei o endereço da minha modaria e saí, deixando a única coisa preciosa que eu tinha.

Era melhor para a Aira ser criada por eles do que por mim. Que espécie de pai eu seria, sendo um comensal? Não quero esse futuro par ela.

•••

Agora ela está aqui em Hogwarts, tão crescida e cheia de energia e curiosidade. Fiz a escolha certa. É a hora de me comunicar com ela. Já tem idade para saber que seu pai lhe ama, mas não vou lhe dizer quem sou, ainda não. Mandarei uma carta explicando tudo à ela.


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Notas finais do capítulo

Mandem reviews se gostarem. Próximo capítulo em andamento.Preciso saber se estão gostando.