Living Fast escrita por Angie


Capítulo 1
Dying young




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Domado pela nostalgia. Esta é a minha atual realidade.

Minha mente se afoga em memórias da qual eu não faço questão de lembrar. O esforço que eu fiz durante todos esses anos para afastá-las mostrou-se agora ter sido em vão.

Minha mãe, uma sacerdotisa, foi assassinada misteriosamente. E meu pai, um guerreiro ninja, morreu enquanto tentava proteger seu povo.

Presenciar a morte dos meus pais sem conseguir salvá-los foi desconcertante. Apesar de todo aquele treinamento, numa situação como essa, eu provei ser um incompetente. Um inútil. Prometi a mim mesmo que isso nunca mais aconteceria, eu não deixaria acontecer.

Mas aconteceu.

Escondi meus sentimentos para que ninguém os encontrasse. Tornei-me um anti-social, um insensível. Um rabugento, como ele dizia.

Sem consentimento do senso comum, eu matava as pessoas sem remorso. Era um assassino aos olhos das leis do meu país.

Fui exilado.

Essa foi a conseqüência dos meus atos.

Sozinho e descomprometido com o resto do mundo eu esqueci o que me era realmente importante. Ser um ninja já não era mais do meu interesse. Eu queria apenas ser o mais forte possível. Ou até mesmo o impossível.

Os fantasmas do meu passado não me influenciavam mais, pois eu tinha um novo desejo: vingança.

Vingança por terem me expulsado do meu país, vingança por terem me tirado a minha única herança.

Vingança. Afinal, tudo sempre se resumiu a isso. E Fei Wang Reed era o único responsável. Eu não desejo nada além de vingança.

Ainda mais agora.

Aquela esfera azul na boca daquele que tanto confiávamos; seu corpo reagindo violentamente àquele veneno; a primeira vez que ouvi seu verdadeiro nome, que me atingiu como um assovio do vento; a sua fraqueza ao aceitar a derrota; meu braço sendo decepado por apenas um golpe. Lembranças iam e vinham em minha mente.

O último sorriso estampava-se em seu rosto pálido, branco como a neve que o rodeava. Não era um sorriso falso como os anteriores. Este era sincero. Expressava felicidade e alívio, como se ele esperasse por isso há muito tempo.

Eu sei que esperava.

Aos seus olhos essa era a única forma de fugir do seu passado.

A cor do sangue em contato com os seus cabelos loiros davam um grande contraste. Seu único olho dourado quase ficara invisível ao lado daquele buraco negro que estava destapado.

Seu corpo imóvel e sua cabeça decapitada eram as duas últimas peças do quebra-cabeça que completariam a minha vida. Mas agora elas estavam perdidas no meio de tantas outras que não faziam parte do contexto.

Equivoquei-me ao pensar que tinha destruído tais sentimentos que assombravam o meu passado. Na verdade, eu os havia ignorado. E naquele momento eles necessitavam de liberdade.

Meu corpo não sabia reagir de fronte àquela cena. Meu corpo petrificou-se, meus olhos queimavam, minhas mãos tremiam e um suor frio escorria por todo o meu corpo.

Senti-me desmoronar. Meus joelhos sentiram o forte impacto ao chegar ao chão. Minhas mãos foram de encontro a você, que estava por todas as partes. Agarrei seus cabelos com força e abracei sua cabeça contra o meu peito.

Durante tanto tempo fiquei sem chorar que não pensei ser capaz de fazer tal ato novamente. Não sentia as lágrimas, quando as percebi estas já encharcavam os cabelos onde meu rosto se afundava.

As lembranças daquela noite acabavam com um urro de desespero. Tudo ficara preto e eu não me recordava de mais nada. Cego, aquela esfera dourada centralizava-se no meio daquela escuridão como se fosse um desejo inalcançável.

Assim como você.

O pôr-do-sol fez com que o céu azul se tornasse alaranjado, quase dourado. Troca de cores tão distinta, tão comum. Esta, por sua vez, comparava-se a dolorosa mudança que ocorrera na sua vida.

Estiquei-me. Senti meus músculos se contraírem e depois relaxarem. Ficar sentado no telhado do palácio durante muito tempo fez com que meu corpo reclamasse.

Soube de imediato que alguém me vigiava. Não precisava procurar pelos olhos do espião, ser um ninja tinha lá suas vantagens.

Era a princesa Tomoyo.

Desde o dia que voltei da minha jornada entre as dimensões comecei a freqüentar lugares desertos. Todos os dias, durante o pôr-do-sol, eu subia até o telhado e ficava pensando em tudo o que aconteceu. E a princesa me olhava sempre da mesma janela. Eu reconheço a sua preocupação, mas não há nada para falar.

Levantei-me e me despedi do sol como de costume. Virei-me de costas para o mesmo e senti o seu calor acariciar meu corpo sutilmente. Imaginando ser o seu corpo no meu, fechei meus olhos para poder desfrutar melhor deste momento. Suspirei ao lembrar-me do seu verdadeiro calor. Poderia dizer que era tão forte quanto o do sol, se não maior.

Ao abrir os olhos vi que os últimos raios de sol ainda eram visíveis. Assim como a sua sombra.

Virei-me tranqüilamente e não o encontrei. Como sempre.

Porque quando estou no sol eu vejo a sua silhueta programada pelo mesmo. Mas você nunca está lá quando eu me viro.

Como poderei seguir em frente?


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