Eu e Bill entramos no carro e ele disse uma coisa que me deixou totalmente sem chão e magoada:

-Você me decepcionou.

Naquela hora a única coisa que eu queria fazer era chorar. Mas eu não podia. Ou melhor, eu não conseguia chorar na frente dele. Seria humilhação demais pra mim. Eu tinha que me manter calma. Mas não com aqueles olhos reprovadores e magoados me fitando. Eu simplesmente não conseguia. Eu queria dizer alguma coisa, mas não saia nada da minha boca. Eu apenas conseguia olhar para baixo observar os movimentos nervosos das minhas mãos.

-Ally, por que você faz isso? – ele ainda continuou falando comigo. Parecia que ele queria me deixar pior, mas eu sei que não é isso. Eu sou a culpada. Ele não está errado, a errada aqui sou eu. Eu não conseguia encara-lo. Eu me sentia a pior pessoa desse mundo. Mas eu não podia ficar calada. Eu tinha que pelo menos tentar me explicar.

-Bill... eu... eu não sei. Não sou eu. Quando o seu irmão vem pra cima de mim eu simplesmente não consigo tira-lo de perto de mim... – sim, eu estava falando realmente toda a verdade. Do que ia adiantar esconder isso dele? Pelo menos ele vai ver que eu estou sendo sincera.

-Logo com o Tom? – eu sabia que ele estava magoado, afinal ele já havia me alertado sobre ele, mas eu insistia no errado, eu insistia em ser errada.

-Eu já disse, eu não faço porque eu quero, isso simplesmente acontece. – eu estava sendo o mais sincera possível. Acho que eu nunca fui tão sincera em minha vida. Mas eu precisava desabafar com alguém, mesmo que fosse alguém que eu conheci há pouco tempo. Mas eu não conseguia considera-lo um simples desconhecido. Eu via o Bill como um amigo que eu conheço há anos. Como um amigo de infância mesmo. Eu nunca conheci alguém que me passasse tanta confiança assim.

-Tudo bem Ally, eu percebo que a culpa não é sua... mas tente ficar longe dele. Eu estou falando isso pro seu bem, não quero te ver sofrer. – ele segurou em minhas mãos que ainda se mexiam freneticamente. Quando ele as segurou, eu parei de mexe-las e aquilo me acalmou de tal forma que eu não sei explicar. Eu senti como se ele fosse um anjo que estava ali realmente pra me proteger e pra me deixar melhor.

Bill on

Eu confesso. Eu deixei a Ally sair do restaurante com o Tom para testa-la. E meu coração doeu quando eu a vi ali, tão vulnerável deixando ser beijada pelo Tom. Eu não conseguia acreditar. Eu não sei o que eu estava sentindo dentro de mim, mas não era algo bom. A minha vontade era de esganar o meu irmão ali mesmo e... mas o que eu estou falando? Eu não posso ser assim. Eu tenho que parar com essas coisas. Pra falar a verdade eu já nem sei mais o que eu estou sentindo. Deus, o que fazer? É, eu preciso pedir ajuda Dele às vezes. Eu precisava me acalmar. Eu tinha que manter o controle, afinal eu era um anjo e não podia me descontrolar por qualquer coisa que acontecesse com a minha Protegida. Sim, é assim que nós anjos chamamos a pessoa que cuidamos.

Então eu apenas me limitei em olhar sério para os dois e dizer um “vamos embora” mais sério ainda. Vi que Ally se assustou quando eu disse aquilo. Posso dizer até que ela estremeceu, mas acho que eu estaria exagerando. Tom tinha aquele ar debochado de sempre e eu já me acostumei com isso, mas uma coisa que eu ainda não tinha me acostumado: ele sempre querendo acabar com as minhas missões. Por que ele não me deixa em paz? Pra que estragar tudo o que eu faço? É, realmente o que dizem que as pessoas boas sempre sofrem está certo.

Eu precisava conversar com a Ally, então eu resolvi ser simples e direto:

-Ally, por que você faz isso? – percebi que ela não conseguia me encarar.

-Bill... eu... eu não sei. Não sou eu. Quando o seu irmão vem pra cima de mim eu simplesmente não consigo tira-lo de perto de mim... – ela estava gaguejando. Mas eu podia ver que ela estava sendo sincera.

-Logo com o Tom? – sim, eu perguntei isso por um único motivo: eu estava magoado. Não sei como nem o porquê, mas eu estava.

-Eu já disse, eu não faço porque eu quero, isso simplesmente acontece. – ela estava prestes a chorar. Eu ainda não via o seu rosto, mas pela sua voz eu pude perceber. Então resolvi parar de pressiona-la.

-Tudo bem Ally, eu percebo que a culpa não é sua... mas tente ficar longe dele. Eu to falando isso pro seu bem, não quero te ver sofrer. – disse tentando ser o mais pacífico e transpassar o máximo de segurança possível para ela, afinal eu estava ali para protege-la e não para julga-la. Segurei firme em suas mãos, que não paravam de se mexer. Vi que com o meu toque ela pareceu ter ficado mais calma.

Chegando em casa, vi que Ally foi direto para o quarto. Apenas deu um sorriso fraco antes de fechar a porta. Tom por sua vez se esparramou no sofá e mantinha aquela expressão vitoriosa em seu rosto. Como eu não suportava aquilo.

-Por que hein Tom? Você não se cansa? – cruzei os braços e fiquei parado na frente dele.

-Me cansar? Eu me cansaria se eu não fizesse isso! É tão divertido, você nem faz ideia... – ele colocou os braços atrás da cabeça, se afundando mais no sofá.

-A minha vontade é de... Argh! – era melhor eu me calar e ir para o meu quarto para não falar ou fazer alguma besteira.

-Deus, eu preciso de ajuda! Por que eu tenho que viver com o meu irmão? Por que ele tem que estragar tudo que eu me esforço pra fazer? E por que eu me sinto assim em relação a Ally? Por favor, me dê uma resposta pelo menos! O Senhor sabe que eu quase nunca peço a Sua ajuda, mas agora é realmente necessário! Por favor... – eu praticamente implorava por ajuda do meu “chefe”, mas parecia que Ele não me ouvia. Então continuei falando mais algumas coisas até eu olhar pra minha poltrona...

-Pode falar.