Bati na porta. O cheiro de pão eixava a manhã mais bonita.

Frederick abriu a porta. Suas pupilas dilataram e ele deu um passo para trás. Como se eu fosse machucá-lo. E então reuniu toda a coragem que podia encontrar e voltou um passo à frente, me olhando nos olhos. Sorri.

"O que você quer?" - Perguntou, como se tivesse que dar comida a um pobre morador de rua. Não lembrava dele tão rude assim.

"Vê-la"

"E aquela história de 'é proibido, por isso tem que ficar com ela'?"

"Que se dane. Onde ela está?" - Falei, passando pela porta.

"No quarto." ele disse, com um suspiro. Corri até o cômodo que ele apontou.

Sentada sobre um tapete rosa, estava minha menininha. Seus cabelos desgrenhados brilhavam ao sol matinal que vinha da janela. Montava um prédio alto com pecinhas de LEGO. Sorri para ela e me ajoelhei ao seu lado

"Olá" - Falei  - "Que bonito o seu prédio!"

Ela me olhou e sorriu

"Como você chama?" - Ela me perguntou

Arregalei os olhos. Ela sabia falar?

"Quantos anos você tem, querida?"

"Eu perguntei primeiro."

Eu tive que rir. Esperta desde pequena.

"Meu nome é Atena."

"E o meu é Annabeth. Eu tenho assim" - Disse ela, me mostrando dois dedinhos.

"Sabe, Anna, quando você crescer, você vai fazer prédios altos, lindo, que todos vão admirar" - Falei, me sentando no tapete junto com ela enquanto jesticulava  -"E então, eu vou ficar muito orgulhosa."

"Quem é você?" - Ela perguntou, levantando com relutância os olhos das peças de montar.

"Você vai saber quando for mais velha, querida" - Falei, dando um beijo nos seus cabelos loiros. "Aproveite bastante até lá."

Levantei e fui até a porta. Apoiei a cabeça no batente, olhando fixamente para ela. Era linda e esperta, desde pequena. Uma lágrima rolou pela minha bochecha enquanto eu a observava construindo prédios com bloquinhos toscos de montar.

'Se o mundo soubesse quanta inteligência há sob aqueles fios loiros...' mumurei, enquanto minha forma deixava de ser sólida e minha essência voltava ao Olimpo.

Não vou negar que usei toda minha força de vontade para conseguir sair daquele quarto. Sair de perto dela, do feitiço de seu cheirinho de bebê, deixar de ouvir ela falar aquelas palavras, fazendo com que meu coração se contorcesse em cada sílaba. Sair da presença da pequena Atena.