Quarto dia de férias, pensei enquanto observava minhas malas prontas sobre a cama, nesse instante um suspiro ansioso vindo da porta me fez mudar o foco, vi então o lindo rosto bronzeado de Leah, minha colega de quarto e amiga me encarando séria, ela era contra essa viagem que eu resolvera fazer de última hora, sabia bem, mas já explicara, estava indo atrás de um sonho, de algo que eu não sabia se era real ou não, mas que de certa forma era meu maior desejo ultimamente, a felicidade, mesmo que fosse uma felicidade provisória, mesmo que fosse por apenas algumas horas, alguns dias, de qualquer forma essa era a intenção, pensei, ver pessoalmente, cara a cara essa pessoa com quem eu falava a meses, na verdade praticamente um ano, pela internet.

- Você está ficando doida! – ouvi dos lábios emburrados de minha colega de quarto e logo depois emendou me encarando: - E se seus pais ligarem para confirmar sua historia? Você não tem medo disso Bella?

Sorri antes de responder:

- Na verdade já pensei muito nisso, mas no momento não quero me preocupar, eles sabem que costumo fazer cursos nas férias, então, não vão se preocupar.

Ela me olhou de lado e ergueu as mãos num gesto de impotência e falando:

- Você quem sabe! Realmente não te entendo...- me encarou mais uma vez e se aproximando bem perguntou: - Quem é você e o que fez com minha amiga?

Soltei uma risada alta, uma risada como a que estava acostumada a ouvir quando conversava com ele pela web, eram os melhores momentos do meu estressante dia naquela bendita escola para moças, onde eu vivia a tanto tempo.

Leah me olhou de lado outra vez e parada na porta do banheiro falou:

 Definitivamente essa não é você, está mais parecendo a Alice Cullen do segundo ano. -
desta vez virei rosto para ela mostrando uma expressão enojada e falei:

- Nem me fale naquela metida, não quero nem lembrar que ela existe, depois do que aprontou com você, tem passada livre comigo. – Leah sorriu e me atirou um beijinho antes de entrar definitivamente no banheiro.

Fosse o que fosse, pensei, estava totalmente pronta para a maior loucura da minha vida, preparada para o que viesse. Ele e eu combinamos de nos encontrar em Forks, segundo andei pesquisando essa cidade fica bem perto de La Push, o local onde ele mora.

Suspirei e me joguei sobre a cama pensando que eu já não era mais nenhuma menina indefesa, talvez tivesse, como Leah vivia alardeando, pouco conhecimento da vida, talvez conhecesse pouco das pessoas e da realidade, afinal, mal saíra do meu mundinho falsamente encantado, em contraponto, sabia também que teria que preencher as expectativas de meus pais e me casar com alguém que estivesse a altura da minha família, e antes que isso acontecesse, queria ter ao menos uma história doida, ao menos uma loucura para lembrar, uma loucura que ficaria arquivada na minha memória indefinidamente, algo para lembrar para sempre.
E quem melhor para me proporcionar esse momento de loucura do que alguém, que como eu, estava ligado a convenções familiares, a tradições, que não poderia me cobrar nada e de quem eu não poderia cobrar nada, apenas momentos gostosos felizes e loucos.

- Ainda é um absurdo, você só sabe desse garoto o que ele lhe falou. – a voz de Leah ecoava na minha cabeça, eu sabia que ela tinha razão em estar apreensiva, afinal tudo que eu sabia sobre Jake, como eu o chamava, era o que ele tinha contado, nada mais, mas estava disposta a arriscar.

- Já é o bastante. – lembro de ter afirmado antes de concluir: - Confio nele como confio em mim, de alguma forma eu acredito, simplesmente acredito.

Sabia que ela não entedia essa certeza tão clara em mim, de que ele, esse garoto com quem eu me correspondia a tanto tempo era muito mais do que um mero amigo virtual, era minha ligação comigo mesma, com uma Bella que vivia abafada dentro de mim.

No inicio fora uma brincadeira, um momento de diversão, em outros momentos, de irritação, nos conhecemos numa comunidade destinada a discutir o personagem de um filme, no perfil dele tinha uma foto de um cachorro, soube depois que era o cão dele, já eu, tinha uma foto de quando era bem pequena, entramos num debate acirrado no meio de um grupo, logo depois os outros foram sumindo, até que restamos apenas nós debatendo o assunto, algumas vezes concordando, em outras discordando, então ele pediu meu e-mail, sem pensar duas vezes como faço sempre, dei, logo depois começamos a conversar com frequência quase diária, assuntos variados, nada particular, mas a facilidade de comunicação foi se intensificando, por fim, os assuntos foram ficando pessoais e muito íntimos. 

Ele sabe tanto de mim quanto minhas amigas, já deu palpite em assuntos importantes, já discutimos feio e ficamos vários dias sem conversar e quando ele não me procurava eu acabava chamando por ele, ou ao contrario, e tudo ia lentamente voltando ao normal entre nós.

Há alguns meses ele fez finalmente uma chamada de vídeo, eu aceitei sentindo meu coração acelerar a expectativa, vi então um rosto forte, bronzeado, emoldurado por cabelos escuros tão longos quantos os meus do outro lado, ele sorria abertamente, me contagiando.
Pela primeira vez pude vê-lo como realmente era, e apesar de tudo, confesso que não tinha exatamente criado uma imagem a respeito dele, mas com certeza aquela que eu via naquele momento, não me decepcionava.

Continuamos a conversar, agora num âmbito cada vez mais pessoal, contei a ele minha vida na escola, meus planos de futuro que não se realizariam se dependesse da minha família e ele foi direto, contou que sua família tinha uma tal linhagem e que seguindo a tradição deles, ele como único filho homem, deveria se unir no futuro a uma garota de uma outra linhagem importante e continuar seus costumes.

Concordamos assim que estávamos dividindo as mesmas angustias e medos, e que nossas vidas pareciam estar totalmente fora do nosso controle, constatar isso de certa forma nos aproximou, nos fez ficar mais unidos e as conversas varavam noites, mas eram tão gostosas e alegres que nunca me cansava delas e quase sempre ao desligar queria continuar conversando, vendo seu sorriso contagiante e seus olhos escuros que pareciam me completar.

Contei que tinha pouca ou quase nenhuma liberdade e descobri que ao contrário de mim ele ainda usufruía de muita liberdade, estudava numa escola pública na tal reserva em La Push, tinha condições de ir e vir para onde e na hora que quisesse, de fazer aquilo que desejava, uma vez perguntei a ele o pq do cabelo comprido, tradições foi a resposta clara, mas logo depois ele falou com sua voz rouca e forte:

- Essa é uma tradição que cumpro sem reclamar. - e a seguir abriu o seu imenso sorriso, me contagiando.

E então, um dia comentei que não queria ir para minha casa nas curtas férias de verão e ele falou:

- Vem para cá Bells, vou ficar feliz em receber você e meus amigos querem te conhecer.

Sorri e falei:

- Meus pais teriam um infarto se soubessem que tomei o rumo da casa de um garoto que conheci pela internet. 

Ele riu e voltou a falar:

- Eu ficaria muito feliz se você viesse...queria te conhecer pessoalmente...- não respondi, não me achava em condições de fazer isso, e ele não insistiu.

Mas, aquilo ficou batendo na minha cabeça por dias, semanas, entretanto, Jake não voltou a tocar no assunto, e nem eu, apenas continuamos conversando, então, num outro momento no meio do bate papo, ele se queixou que teria um compromisso importante naquele dia e que não se aprontara.

- Minha mãe vai ficar uma fera, ainda estou sujo de areia, só larguei a prancha e vim bater papo com você.

Nesse momento cheguei a ouvir a voz da mãe dele chamando, era um compromisso no tal lugar, com a pessoa que ele teria que se unir no futuro, de alguma forma não gostei disso, e ver o rosto dele me encarando antes da câmera desligar dando um até logo foi o pior, chorei por um longo tempo, sentindo que aquela conversa não poderia continuar, não nos levaria a lugar algum, mas ao mesmo tempo não conseguia evitar, eu desejava imensamente conversar com ele.

Após muito pensar decidi que era a hora de botar um ponto final nessa história e como estava em período de provas, trabalhos acumulados e atividades extras, isso serviu como desculpa, acabei me afastando da net e das nossas conversas, nunca senti tanta falta de uma coisa na minha vida como senti falta dele.

Em resumo, ficamos quase um mês sem conversar, o mês mais longo da minha vida e quando voltei a abrir meus e-mails havia várias mensagens dele, perguntando onde eu estava, se estava tudo bem, se não queria mais conversar com ele.

Foi difícil ler tudo aquilo e me manter indiferente como Leah insistia que eu ficasse, então, uma tarde, quando estava sozinha em meu quarto, lendo, cansada de tanto estudar, pulei na cama e abri meu not, fui direto para a net, logo uma janela piscou no canto da tela, meu coração imediatamente pulou junto, era ele, me chamando para uma conversa de vídeo. Recusei a chamada ou acabaria chorando, disse a ele que não tinha muito tempo para conversar, que estava em período de provas e estava estudando em dobro, minhas notas precisavam ser muito boas, Jake pareceu aceitar essa desculpa, mesmo assim comentou:

- Pensei que você não queria mais falar comigo. - notei que ele estava incomodado com meu sumiço e respondi que não era isso, expliquei que estava cheia de atividades e por isso me afastara totalmente da net.

Contrariando o que eu falara no inicio do nosso papo, a conversa que eu queria fosse curta, foi até quase a madrugada, ele tinha muitas coisas para contar, abriu sua web e pude ver o rosto bronzeado e matar minha saudade da voz rouca, havia um amigo na casa com ele, um tal de Jared, ele me cumprimentou e conversou um pouco também enquanto Jacob foi buscar um lanche, aproveitei esse momento e me despedi, mas o outro me garantiu que se eu saísse sem falar com Jacob, ele acabaria apanhando e eu seria a culpada por sua morte. 

Sorri divertida e esperei conversando mais um pouco, o garoto era muito legal e realmente, logo Jacob retornou, carregando um prato enorme cheio de sanduiches e uma garrafa de refrigerante nas mãos e nosso papo se intensificou.

Não falamos sobre sua visita a tal família, nem ele perguntou se eu queria ir até lá outra vez, achei que tinha desistido.
Mas, contrariando o que eu pensara, alguns dias antes de minhas férias começarem, quando mencionei o fato de estar pensando em fazer um curso de férias ele falou num tom de voz irresistivelmente convidativo:

- Vem para cá Bells. – suspirei ao ouvir o apelido que ele me deu, sorri levemente e respondi:

- Não posso Jake.

Ele insistiu:

- O que você tem a perder se vier?

- Nunca fiz algo assim na minha vida! – afirmei e ele emendou:

- Tudo tem uma primeira vez.

Encarei os olhos escuros que esperavam por uma resposta e falei:

- Pq você quer que eu vá?

- Pq não sei se teremos outra oportunidade... – continuei encarando aqueles olhos que me chamavam, pensando, talvez não houvesse uma outra oportunidade, afinal no ano seguinte eu estaria me preparando para a faculdade e depois...depois nossa vida de adulto nos chamaria e então, as obrigações tomariam conta de nós e dos nossos sonhos.

Acabei não aceitando nem recusando, fiquei de dar a resposta depois, precisava ainda organizar algumas coisas na minha cabeça. E assim, alguns dias depois, acabei aceitando, decidira que ao menos uma vez na minha vida faria uma loucura, mesmo que nunca mais vivesse fora dos padrões exigidos pela sociedade a qual eu pertencia.

Na nossa conversa seguinte, aceitei o convite e imediatamente ouvi um berro feliz, o sorriso imenso no rosto dele ao falar que eu não me arrependeria de ir, então, veio a segunda parte, tentei convencer Leah a me acompanhar, sabia que minha amiga iria com a família dela para a Europa, e ir para La Push comigo, com certeza seria uma aventura muito melhor, mas ela não aceitou, entretanto se prontificou a me ajudar com a desculpa do curso.

Então, a outra parte foi: dizer a minha família que iria para o tal curso de verão, aquele que eu já estava planejando, eles estavam acostumados a isso, que eu fizesse esse tipo de coisas, cursos de verão, por isso não estranharam, e pronto lá estava a senhorita Swan como a senhora Meyer, professora de literatura me chama pronta para enlouquecer numa viajem a um lugar desconhecido, para ver alguém que nunca tinha visto pessoalmente e que provavelmente nunca mais veria em toda a minha existência.

Vi minha amiga entrar no quarto secando o longo cabelo negro, a encarei por alguns instantes mais, e lhe falei: 

- E então? Vem ou não comigo?

- Não posso fazer isso Bella.

- Pode sim, e assim você fica ciente de que não me meti em encrenca. - esse era o maior medo dela

Pela primeira vez percebi um sinal de indecisão no olhar de minha amiga, era a hora de insistir e imediatamente fiz isso:

- Vamos Leah... pense bem, quando poderemos fazer isso outra vez? Nunca! É nosso último ano juntas aqui, vamos aproveitar...começar ele muito bem.

- O que vou dizer aos meus pais? – ouvi ela falar e pensei, estava quase lá, e respondi:

- O mesmo que eu. – ela sorriu de leve, pronto vi o espírito ativo e forte de minha colega, aquela que me defende de todas as confusões, que sempre tem as respostas na ponta da língua, surgir, e a resposta dela me convenceu que não estava errada.

- Está bem, eu vou com você.

Fiquei em pé e a abracei com força, feliz, feliz por estar indo encontrar Jacob e por ter minha melhor amiga comigo.

Leah e eu somos amigas a muito tempo, apesar de muito diferentes, física, emocional e de temperamento. Leah tem a pele bronzeada, os cabelos escuros, eu sou muito branca, totalmente desbotada, meus cabelos são castanhos, levemente avermelhados e os olhos em um tom muito comum, nada que chamasse a atenção chamasse a atenção como ela. 
Sua voz direta saiu me tirando dos meus pensamentos falando:

- Esse garoto tá afim de você!

Fui categórica em negar, não havia chance, ele era muito bonito para uma garota comum como eu, mas, se ele me desse bola, iria aproveitar o tempo junto dele, como disse antes, ter histórias para contar quando ficasse mais velha.

Leah riu e caiu sobre mim, me empurrando sobre a cama.