POV Autora

- FRANCES!!! - Gritou sua mãe, Karen. - Se você não descer agora eu vou gastar um dinheirão com um advogado, porque eu estou prestes a cometer um assassinato.

A garota se revirou na cama e deu uma olhada no relógio na sua mesinha de cabeceira. 06:15. Com um suspiro, virou seu olhar para a cama ao lado da sua. Estava tão arrumada que nem parecia que uma garota havia dormido ali. Claro, Helena já havia acordado. Ela sempre fora mais rápida que Frances. As vezes Helena brincava que Frances parecia uma morta, mas então a garota lhe dava uma razão para querer morrer.

Parecendo mais um zumbi que qualquer outra coisa, Frances jogou os lençóis para o lado e foi se arrastando até o banheiro. Ficou uns dez minutos debaixo do chuveiro e mais dez se arrumando para ir para a escola.

Ela desceu as escadas um pouco mais composta e com cara de alguém não morto, mas semivivo.

Sua mãe e sua irmã a esperavam para o café sentadas na mesa da cozinha. Eram apenas elas três na casa. Moravam em uma casa minúscula nos subúrbios da Califórnia. Uma construção baixa de dois andares. O segundo andar era pertencente a uma outra família. Eles não eram ricos, mas também não estavam passando fome, embora as vezes a mãe tivesse que trabalhar sete vezes mais para conseguir pagar o aluguel.

- Viu? Eu disse que ela estava viva. Me deve uma panqueca a mais. - Disse Helena enquanto pegava a caixa de leite na geladeira. Elas tinham que ficar se apertando na cozinha pequena, que apenas tinha espaço para a geladeira, o fogão, a pia e uma mesa pequena com três lugares.

Karen bufou alguma coisa e colocou outra panqueca no prato da filha loira.

Era uma mulher muito bonita. No auge dos seus quarenta e cinco anos, era uma alegria para os homens quando passava. Seus cabelos eram ruivos e seus olhos algo entre o verde e o azul. As filhas também haviam herdado a beleza da mãe, mas Helena um pouco mais que Frances. Não que isso a impedisse de sair com outros garotos. Fato que era muito mal interpretado por seu melhor amigo Jackson.

- O que vocês estão apostando agora? - Perguntou Frances.

Helena engoliu um bocado de comida e cobriu a boca com a mão antes de falar.

- Mamãe disse para eu ir ver se você tinha se afogado no sanitário, e eu disse que vaso ruim não quebra.

Frances mostrou a língua para a irmã e tacou uma das bolinhas do seu cereal nela.

- Ai. Sua nojenta! - Exclamou rindo.

Ela estava prestes a revidar quando uma buzina tocou a frente chamando a tenção das garotas. Frances deu um último gole no seu leite e pegou sua mochila, enquanto Helena dava um beijo e um abraço na mãe.

Elas já estavam saindo quando a mãe chamou Frances de volta.

- O que? - Perguntou a garota apressada.

Karen estendeu a mão, já sabendo que a filha não lhe daria um abraço nem um beijo. Frances deu um tapa na mão aberta da mãe elas fizeram um comprimento elaborado por elas mesma.

Com um último aceno, as garotas saíram pela porta e foram andando até o carro de Jackson que estava parado no meio fio. Ao contrário delas, ele era bem rico. Sua mãe trabalhava na bolsa de valores e seu padrasto era um neurocirurgião respeitado. Pouco se sabia sobre seu pai, que nunca estava presente na vida do filho.

Seu carro era nada mais nada menos que uma maserati quattroporte que ele havia ganho do padrasto no seu aniversário de dezessete anos. Eles haviam feito um acordo de que ele levava as menina para a escola e quando ele precisasse de ajuda elas o fariam. Mas também não era trabalho nenhum levar elas, já que eles eram melhores amigos. Mais de Frances, Helena tinha seu próprio grupinho.

- Oi, garotas. - Ele disse com a maior pinta de bad-boy por trás dos óculos escuros. Não que ele quisesse parecer, ele simplesmente parecia. Jackson estava bem nervoso. Helena achou que era porque o bairro em que estavam agora era um pouco barra pesada.

Ele começou a dirigir e logo já estava na metade do caminho para a escola. Falavam sobre a vida, sobre os professores, da vida dos outros, de tudo e de nada. Mas falavam principalmente de música. Jackson era o primeiro a ser convidado para reuniões de amigos na escola, devido a sua fama com o violão. Frances também não era nada mal, mas ela era a segunda e ele, o primeiro.

- Ei, quando você vai fazer um dueto comigo? - Perguntou Jackson sorrindo de lado enquanto olhava para a rua. - Podíamos cantar Lucky. Que tal?

Para quem não conhece a letra, Lucky tem o refrão tipo: estou apaixonado pelo meu melhor amigo. Coisas assim.

Mas Frances era rápida em réplicas e já estava costumada com as tiradas de Jackson.

- Tenho uma ideia melhor. Porque você não faz um solo de Boulevard of broken Dreams?

(N/A: Alameda dos Sonhos Despedaçados.)

- Ouch. - Disse Helena que trocava mensagens com um novo paquera.

- Ouch. - Repetiu Jackson estacionando na vaga dele. Não era bem dele mas todos entendiam que se estacionassem ali não viveriam tempo suficiente para contar o feito.

Eles saíram e logo uma rodinha de garotas animadas se formou ao redor de Helena a levando para longe. Jackson ainda estava com os óculos escuros, e ele era bem alto, isso fazia com que quase todas as garotas estivessem as seus pés. Frances começou a puxar assunto enquanto se encostava na porta do passageiro.

- Então... O que vai fazer nesse verão?

- Eu já te disse que tinha que ir para um acampamento de verão.

Frances chutou uma pedrinha da calçada.

- Isso é muito estranho. Esse acampamento. - Completou. - Você não pode ir a menos que seja convidado. Diz que já tem muita gente lá mas ainda continuam chegando mais pessoas. Ninguém sabe onde fica. Eles te chamam quando não é verão e você tem que ir mesmo assim. Que tipo de lugar é esse?

Jackson apena sorriu triste e acenou, entrando na construção.

Frances suspirou e foi para sua escola. Eram duas escolas, uma de frente para a outra. Não havia muita competição, já que uma dela era pública. Era nessa que Helena e Jackson estudavam, mas Frances tinha conseguido uma bolsa para estudar no colégio só para garotas California Hills. Isso a impedia de ficar nas mesma aulas que Jackson, mas não de vê-lo no intervalo, quando os dois fugiam e ficavam embaixo de uma amoreira no parque mais a frente das escolas.

Ela foi seguindo para a aula de inglês sem olhar muito para onde ia, e acabou esbarrando em uma garota.

- Desculpe. - Pediu enquanto se abaixava para ajudar a menina a pegar seu material. - Aqui. - Disse estendendo quatro livros grossos. Antes deu tempo para ver na capa:O livro da Mitologia.

- Obrigada. - Disse a garota seguindo seu caminho.

Frances não deixou de reparar que ela tinha uma mecha azul escura em seus cabelos completamente loiros.

Por destino ou azar, ela e a garota tinham a mesma aula agora, mas nenhuma da duas se falou, nem quando entraram na sala.

A aula foi passando e Frances olhava para a janela enquanto seus outros amigos faziam aula de educação física no outro colégio. Helena entre eles.

Ao lado do pátio haviam muitas árvores, incluindo a amoreira, onde dava uma vista tanto para o pátio quanto para o California Hills. Frances achou ter visto dois vultos que a olhavam no meio daquelas árvores. Mas então a professora fez uma pergunta e ela voltou sua atenção para a aula.

 ***

- Frances, Helena, temos que ir agora. - Chamou Jackson com urgência enquanto empurrava as garotas para dentro do carro. Ele lançava olhares nervosos para as árvores que antes Frances olhava da janela da sala.

Ele entrou e sem nem colocar o cinto, pisou com tudo do acelerador. O carro foi para trás com força enquanto ele olhava para o retrovisor e para as árvores ao mesmo tempo.

Frances nessa hora teve certeza que uma grande sombra as seguia enquanto outra continuava olhando para a garota da mecha azul que agora entrava em um carro preto, provavelmente indo para casa.

Jackson as surpreendeu indo para a estrada vazia, ao invés de levá-las para casa.

Um grande rugido fez com que elas gritassem. Jackson, já prevendo, abaixou o teto solar que a mãe havia mandado instalar e começou a mexer embaixo do banco procurando alguma coisa.

Frances e Helena viram um grande vulto com forma de pássaro a alguns metros de distância e se aproximando. Elas estavam aterrorizadas demais para falar, mas não o suficiente para que não gritassem quando o monstro avançou com tudo em suas direções.

Foi nessa hora que Jackson puxou uma arma semiautomática e explodiu bem na cara feminina daquela coisa híbrida.

Um pó dourado cobriu as meninas que gritaram ainda mais.

Jackson estava ofegante, mas conseguiu dar um sorriso enquanto pegava uma faca de bronze no porta luvas.

Frances recuou e Helena começou a choramingar no banco de trás.

- O que você vai fazer? - Perguntou temerosa.

Ele estacionou no meio fio e pegou a mão de Frances. Ela nem pensou em oferecer resistência, pois ainda estava em choque com o que havia acontecido.

Ele encostou a faca em sua mão e fez um pequeno corte. Jackson franziu os lábios e esticou a mão por trás do banco pedindo a mão de Helena. Ela lhe deu e ele fez a mesma coisa.

- Certo... pense assim. Essa é uma faca muito especial. Se cortar é ruim, se atravessar sem machucar é bom. Tó pra você. - E colocou a faca no colo de Frances.

- Então nós somos ruins? - Perguntou Helena.

- Não. Eu pelo menos acho que não. Talvez. - Ele se virou com um sorriso para Frances. - Parabéns, você vai conhecer meu acampamento. Agora nós vamos para para o aeroporto.

Helena fungou.

- Uma vez aquele garoto moreno de olhos verdes foi te visitar e você disse que era muito perigoso ir de avião.

Jackson riu com gosto.

- Relaxem. Eu vou estar com vocês. Nada vai acontecer. Afinal – Ele tirou os óculos revelando seu olhos azuis – eu sou o herdeiro do céu.

Ele piscou para Helena pelo retrovisor e pisou mais fundo.