Estava chovendo torrencialmente e eu estava andando na estrada, apanhando toda aquela chuva…tá, eu tenho 16 anos, eu tou a quilómetros de casa, eu preciso fumar, e eu preciso que essa puta dessa chuva pare…

Eh, eu estava andando na direcção errada a minha casa, minha mãe tinha me chamado de putinha, e eu não admito isso, então, eu bati a porta e sai…não sabia o que tava fazendo, mas sabia que para casa eu não voltava…meu pai me batia todos os dias, minha vida á definitivamente um total inferno… e eu não estava chorando nem entrando em depressão. Como eu sou? Eu sou assim: gorda, baixa, com espinhas e com o cabelo sempre oleoso…

O que eu tinha? Nada…minhas notas eram horríveis, meus amigos eram bosta que nem ligavam para mim, então, eu nem tinha amigos…

Quem me queria? Ninguém! Alias, quem queria uma menina gorda, com espinha, baixinha? Ninguém mesmo…alias eu internava quem quisesse…

Eu fumava…eh, eu esqueci de dizer…sabem como eu comecei a fumar? Muito interessante…eu gostava de um cara que estava sempre no bar em frente da minha casa…ele estava sempre fumando, então eu pensei, e como eu sou muito inteligente, eu comecei a fumar também para poder meter conversa com ele…e o que eu tive em troca? “ se toca menina…acha que algum dia eu ia gostar de você? Você é gorda!” bonito neh? Eh, todo o mundo adora ouvir isso…mas, como eu amei o primeiro, eu continuei, o que fez a minha mãe me amar ainda mais…

Hoje, quando minha mãe se embebedou e me deu um baita de um estalo, e me chamou de puta, eu jurei a mim mesma que um dia eu ia pisar nela, como ela pisou em mim todos esses anos…nela, e em todos os que pisaram em mim, que diga-se de passagem, não foram poucos não…

Agora eu estava aqui…na estrada, andando a quilómetros debaixo dessa maldita chuva que teimava em não passar…o que eu tinha? A roupa do corpo, um maço de tabaco encharcado, e cem dólares que eu consegui roubar de minha mãe antes de fugir…mas esse não estava molhada, não podia…mas eu tinha eles embrulhados em um pano, metidos dentro da carteira e metidos também nos seios mesmo…ali ninguem ia bisca-los…

E aqui estava eu…nem sei bem onde…nem sei bem como…nem sei bem nada…

Alias…eu sabia…

Eu sabia que um dia…eu ia ser mais…muito mais que isso…