Os Anjos da Minha Vida escrita por Brigith


Capítulo 1
Capítulo 1 - Angeline Marie Gray


Notas iniciais do capítulo

Então, aí está o primeiro capítulo.
Espero que vocês gostem.
Beijos e boa leitura!

P.s: A capa é provisória, só até eu ter meu computador de volta e poder fazer uma melhor.



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Novamente eu estava caminhando por aquela rua escura, novamente com um sentimento ruim dentro de mim. Dobrei a esquina, sabendo muito bem o que me esperava. Eu queria não ir, mas eu não podia, algo indefinido puxava-me para lá, mesmo contra vontade.

Assim que dei o sétimo passo ele apareceu. Eu não conseguia ver o rosto, mas sua postura rígida já era o suficiente. Ele nunca falava nada. Ficava sempre calado. Em um silêncio amedrontador.

- Estou perdida... – comecei a gaguejar, mas logo me calei ao vê-lo erguer o dedo indicador e levá-lo até os lábios, então ocultos pelas sombras. Tremi.

Ele começou a se aproximar e eu recuei. O rapaz soltou uma sonora gargalhada e com passos rápidos, colocou-se na minha frente.

Gritei e senti que voltara a realidade.

Por que esse sonho vivia repetindo-se? Era normal uma pessoa ter apenas um pesadelo, repetido durante todas as noites? De qualquer forma, ninguém nunca me considerara muito normal. Talvez eles estivessem certos, afinal.

Olhei para o relógio ao lado de minha cama. Cinco e meia da manhã, de novo. Suspirei, pensando em como meu relógio biológico era extremamente pontual.

Levantei, indo para meu banheiro e mirando-me no espelho. Eu não era a garota mais linda do mundo – ainda mais ao acordar –, mas também não era a mais feia. Meus cabelos eram negros e lisos, embora eu usasse algumas mechas anis. Os olhos eram tão escuros quanto uma noite sem luar. Os lábios eram naturalmente rubros e as sobrancelhas estavam precisando urgentemente de uma pinça.

Sinceramente, para mim a aparência estava em segundo plano, afinal, quem eu tinha para agradar? O meu eu lírico? Acho que não.

Abri a torneira e lavei o rosto, para “acordar” um pouco mais. Voltei para o quarto e coloquei o – horrível – uniforme da escola, reparando na marca de nascença que ostentava em meu pulso. Já haviam falado que eu tentara suicídio, por sua aparência de cicatriz.

Voltei ao banheiro, passando a maquiagem. Então, - pegando um pouco de dinheiro que estava em cima do bidê – desci para o primeiro andar, que estava silencioso, meu pai sempre saia às quatro da manhã, e minha mãe só acordava as oito.

Pegando minha mochila, saí de casa e – como sempre – fiz meu caminho até uma lanchonete nada longe de minha casa e razoavelmente perto da escola.

Chegando lá, fui até o balcão e pedi meu costumeiro café e minha quase sagrada empadinha, mas quando fui sentar no lugar onde sentava todas as manhãs, notei que algo estava diferente. Dois garotos que aparentavam ser da minha idade estavam sentados lá, conversando. Infelizmente notaram que eu os encarava curiosamente e fitaram-me constrangedoramente.

Forcei meus pés a se moverem e sentei em outra mesa, ignorando os garotos e me amaldiçoando por dentro, enquanto rezava para que eles não fossem da minha turma; os dois usavam o uniforme do meu colégio, legal, hein?

Tomei meu café da manhã o mais rapidamente que consegui e assim que terminei, paguei o que devia ao balconista e fui para a escola, sem olhar para os estranhos garotos.

Com certeza ainda devia ser bem cedo, por volta de seis e quinze da manhã, mas minha escola abria cedo também, havia dias em que eu chegava até antes disso.

Depois de uns dez minutos caminhando eu finalmente cheguei. Praticamente corri até a sala de aula e chegando lá, sentei no meu costumeiro lugar no fundo da sala. As classes eram duplas, mas, felizmente, eu conseguira sentar sozinha. Talvez minha estranheza afastasse as pessoas.

Puxei da mochila um livro qualquer, para poder esperar o tempo passar e, acreditem, ele passou bem depressa, embora a as leis de Newton não fossem exatamente fascinantes.

Depois de um tempo, várias pessoas entraram na sala e eu deduzi que não ouvira o som do sinal, ás vezes isso acontecia. Quase ninguém me cumprimentou, salvo Hayley, que sempre era muito simpática.

O professor logo entrou na sala e começou a falar sobre tantas coisas ao mesmo tempo que eu quase não consegui anotar a matéria. Mas com certeza não perdi muitas coisas, já que ele não falou por mais de cinco minutos antes de ser interrompido por uma forte batida na porta.

Um Sr. Candly muito irritado abriu a porta e disse, com tom de negação irritada na voz:

- Atrasados no primeiro dia de aula.

Mesmo não podendo ver quem estava lá fora, percebi que deu de ombros, pois o rosto do professor avermelhou-se de raiva.

- Entrem logo, não temos toda a eternidade. E se atrasarem novamente, não serei tão bonzinho.

Assim, os dois estranhos garotos da lanchonete entraram na sala de aula. Olhei para os dois lados e quase chorei. Na sala só havia dois lugares vagos: ao meu lado e ao lado de um garoto chamado Gabriel. Que beleza!

- Seus nomes, por favor. – pediu o Sr. Candly, rapidamente.

Devo dizer que todas as garotas de minha sala estavam boquiabertas e olhando-os com admiração. Certo, admito que eles eram um tanto quanto bonitinhos, com seus cabelos morenos em contraste com sua pele alva, sem mencionar os olhos, que, mesmo de longe, era possível perder o fôlego quanto a eles. Um dos rapazes tinha os olhos azuis celestiais e o outro garoto exibia um lindo par de olhos verdes tom de mar. Tudo bem, eles eram bonitos, mas isso não queria dizer nada... eles provavelmente eram idiotas. É sempre assim.

  - Eu sou Paul, e este é o meu irmão, Adam. – disse o garoto de olhos verdes, com uma voz que indicava tédio.

- Certo, sejam bem vindos ao Colégio La Salle. Sr. Adam, sente-se ao lado de Angeline, por favor. E você pode sentar-se com Gabriel, Sr. Paul.

Suspirei e tirei a mochila de cima da cadeira que ele ocuparia, sem muita animação.

Os irmãos dividiram-se, cada um indo para o lugar designado pelo professor.

Adam sentou-se em silêncio e puxou os livros para cima da classe sem nenhuma palavra. Virei-me para frente, não seria eu a puxar papo. Para depois falar sobre o tempo ou algo pior? Não, obrigada.

Forcei minha mente a prestar atenção nas palavras do Sr. Candly, que explicava uma matéria particularmente espinhosa. Já meu “parceiro” não estava nem ai para a aula, ou era o que parecia.

Durante todo o período de aula que antecedeu o almoço não trocamos uma única palavra. Nada. Por mim não fazia muita diferença, não era como se eu falasse muito em dias normais.

Quando o sinal indicando o almoço fez-se ouvir eu me levantei rapidamente, assim como ele, indo para a cantina.

Adam e o irmão pareciam alheios a tudo e a todos, como se estivessem em um mundo totalmente particular.

Almocei e fui dar uma volta, para espairecer. Olhei para a tela de meu celular. Cinco chamadas perdidas, nossa, isso sim que era milagre.

Mesmo que eu quisesse retornar as ligações, eu não poderia, por que uma das regras mais rígidas de minha escola era a proibição do uso de celulares. Se Heloísa sonhasse que eu levava o meu para o colégio eu estaria realmente encrencada.

Todos sabem que em qualquer instituição existe uma ou mais garotas que se acham as donas de todo o mundo e um pouquinho mais – do universo, quem sabe -. Fazem tudo sem remorso ou medo, mas a verdade é que, no fundo, elas não passam de meninas mimadas/inseguras que não sabem se virar sozinhas para nada, por isso precisam de um bando de “seguidoras” (burras) para fazerem o trabalho sujo por elas. Assim era Heloisa Campbell. Ela era a típica Barbie. Era linda, meiga (só com os garotos, claro) e não tinha cérebro. Ah! E me odiava – por algum motivo que eu desconhecia – com todas suas forças de jararaca. A Barbie contra a esquisita. Típico.

Rapidamente guardei o celular, fui para a sala pegar meus materiais e comecei a andar até a quadra já que os últimos tempos seriam de educação física.

Eu sempre chegava antes de todos, por isso fiquei tão surpresa ao notar que, desta vez, não estava tão adiantada assim. No meio da quadra estavam os dois alunos novos, treinando basquete, por um momento me deixei parar e admira-los, digo, suas jogadas. Seus movimentos eram precisos e extremamente rápidos, os dois riam e pareciam estar se divertindo imensamente.

Parei de encará-los e me encaminhei até o vestiário feminino (não sem notar os seus olhares de desdém) para trocar de roupa. Devo dizer que odiava profundamente o uniforme de ed. física de minha escola, pois era aberto demais. Um short e uma regata. Uma droga!

Quando saí do vestiário a quadra já estava começando a encher e vários alunos corriam para colocar o uniforme antes de o professor chegar, mas como eu já estava pronta, apenas sentei na arquibancada e fiquei olhando meus colegas correndo para lá e para cá.

Não demorou muito para o professor chegar e pedir a atenção da turma.

Explicou novamente algumas regras básicas do voleibol e dividiu a turma em duplas. Por eu ser muito sortuda, acabei fazendo dupla com Heloisa, que também não ficou nada feliz, tendo em vista que ela estava tentando a todo o custo chamar a atenção de Adam, sem sucesso. O que devo dizer? Ela não estava costumada a ser rejeitada, ainda mais com um gelo total. E isso não melhorou em nada seu já horrível humor.

- O que? – perguntou ela, com sua voz irritante – Eu não vou fazer dupla com essa garota de pulso cortado.

Aquilo fez todos se virarem para mim e em seguida para ela, inclusive os dois novatos.

- Heloisa, Heloisa... – falei, sorrindo forçado – Sempre soube que você não tinha cérebro, mas achava que você tivesse audição. Pelo jeito estava errada.

- Quem você pensa que é? Srta. Vandinha Adams? – perguntou ela, o rosto avermelhando-se.

Eu bufei e revirei os olhos.

- Você é tremendamente patética, não consegue enxergar nada além de beleza exterior. E, a propósito, isso – mostrei-lhe meu pulso, assim como para as pessoas ao nosso redor – é uma marca de nascença. Se você não tem cérebro para assimilar tal coisa, duvido que tenha neurônios para entender a palavra respeito.

O professor se manifestou, embora parecesse conter um sorriso.

- Agora já chega. Se você não queria fazer dupla com Angeline, bastava ter falado, Heloisa. Não quero ouvir mais nenhum insulto de nenhuma das partes. E parem de comportar-se feito crianças. Com quem cada um senta nas aulas? Tanto faz. Quero as mesmas duplas. AGORA! E sem reclamação.

Sem comentários. Primeiro era a Jararaca, agora o mudo. Perfeito.

Não me mexi, esperei ele vir até mim e devo admitir que fiquei surpresa ao descobrir que ele não era mudo. Sim, fui irônica.

O fato é que ele me cumprimentou, e, sinceramente, sua voz me causou arrepios. Seus olhos azuis me causaram arrepios. Ele me causou arrepios e ponto.

- Olá, parece que vamos ser parceiros por um tempo, não é, Angel?

- Bem, eu... – preciso dizer que gaguejar devia ser proibido por lei? – Angel? A única pessoa que já me chamou assim foi...

Ele sorriu de lado, assustadoramente.

- Seu pai? Eu sei, mon ange.

Tremi. Ele sabia? Impossível. Meu pai nunca me chamara de Angel na frente de ninguém, sem mencionar o fato de que ninguém fora minha família (é claro, eu não tinha amigos) sabia que eu falava francês.

- Você... veio de onde? – perguntei, embora minha questão verdadeira fosse “você é deste planeta?” acho que não pegaria muito bem. Mas se fosse observar, assustar as pessoas também não é muito educado.

- Diretamente de seus sonhos. – respondeu ele, dando um sorriso cínico.

O analisei, ele não podia estar me “trovando”. Não. Nem pensar.

- Uhum. – falou, ainda sorrindo. Eu franzi o cenho. – Eu estou cantando você.

- Você não é mudo. Mas é um perfeito idiota.

Adam tombou a cabeça para o lado.

- E você é daquelas que preferem os opostos. Mais e menos. Música clássica e rock. Harry Potter e Romeu e Julieta.

Seus olhos azuis faiscaram para mim, deixando-me desconfortável.

- Se você sabe tanto sobre mim, devia saber que em meus sonhos você jamais habitaria. Só se em pesadelos. – retruquei, chateada.

Como se fosse possível, seu sorriso tornou-se ainda mais sombrio e sua resposta gelou de uma forma inexplicável todo o meu corpo:

- Foi exatamente daí que eu saí. De seus piores pesadelos, Angeline Marie Grey.


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Notas finais do capítulo

E aí? *-*