Bokura no Love Style escrita por Shiroyuki


Capítulo 45
Capítulo 45 - Hanasanaide




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— O que você está fazendo com esse garoto de novo, Hanako?!?

— M-mamãe… - Hanako balbuciou, nem um pouco digna de crédito. Sua mãe estava com um semblante contorcido de irritação, assustador de uma forma que ela jamais havia visto antes.

— S-s-senhora Waka…Wakamiya… Eu sou… - Hikaru murmurou, com a fala dificultada pelo cansaço que sentia, somado ao embaraço e confusão.

— Eu sei bem quem você é garoto! Você é aquele que fez a minha filha chorar! – ela acusou, aproximando-se duramente.

— Não, mãe! Ele não é o Kaoru! – Hanako bradou, sem notar que o nome dele já não doía mais ao seu pronunciado – Esse é o Hikaru! Eu te falei que eles eram gêmeos!

— G-gêmeos? Oh, sim… gêmeos… - a mãe de Hanako recobrou a razão, diminuindo o ritmo. Hikaru tentou novamente dizer algo, mas foi interrompido por Hanako, que falava apreensivamente, rápido demais para ele acompanhar.

— Hikaru-kun está com febre, mãe! E ele me trouxe para casa na chuva o caminho todo, mesmo assim! Ele está piorando, e a culpa é minha…

— Tudo bem, leve o garoto para o seu quarto – a mulher disse, vendo o rosto da filha corar – Eu confio em você – ela sorriu, e Hanako corou mais ainda. Hikaru, por sorte, não parecia estar prestando atenção suficiente para entender – Eu levo alguma coisa para baixar a febre, um remédio, um chá… vou ligar para a mãe dele, também. Com essa chuva, ele vai ter que passar a noite aqui! – ela informou.

Hanako deu para a mãe o número de Donatella, e então içou Hikaru por um braço, amparando-o com o ombro, para leva-lo para cima. Ele tossiu algumas vezes, o que só a deixou ainda mais alarmada.

— Não precisa, eu consigo caminhar sozinho, Coelhinha… - ele protestou, embora nem mesmo tivesse forças para se afastar.

— Você já fez muito por mim, Hikaru-kun… - Hanako sussurrou, sem que sua mãe, ocupada ao telefone, ouvisse – Deixe-me cuidar de você, dessa vez, tá bem?

— C-certo… - Hikaru respondeu, corando ainda mais furiosamente, e tossindo ao mesmo tempo, preocupando Hanako.

Levar Hikaru para cima foi mais difícil do que parecia. Ele era realmente pesado… e o fato de que a respiração incrivelmente quente ficar batendo em seu pescoço não ajudava. Na verdade só a deixava ainda mais preocupada, por que aquela maneira ofegante e lenta de respirar não era natural.

Depois de finalmente conseguir subir as escadas, Hanako avançou com Hikaru pelo corredor até seu quarto, e deixou que ele desabasse sobre sua cama. Era tão estranho vê-lo ali, naquele lugar… e ao mesmo tempo, não era nem um pouco. O único garoto que já esteve ali antes… foi Kaoru.

Hanako balançou a cabeça, tentando afastar esse péssimo pensamento, e então ajeitou os travesseiros ao redor da cabeça ruiva. Terminou de tirar a camisa molhada dele, e também suas meias, e o cinto da calça. Isso era realmente embaraçoso, mas Hikaru estava tão desconcertado pela febre que nada disso parecia abalá-lo, o que era de certa forma um alívio.

Depois de ajeitá-lo, Hanako o cobriu com os edredons, e depois de se certificar de que ele estava acomodado e confortável, sorriu para si mesma. Ele já estava ressonando, com a respiração entrecortada, e o rosto bastante vermelho. Era um pouco preocupante vê-lo dessa forma, mas… ela não podia negar que ele parecia muito fofo dessa forma.

— Hmm… Hikaru-kun… você é muito fofinho, desse jeito – ela sussurrou, depositando um singelo beijo na testa quente do garoto.

— … Eu sei… - ela ouviu um fraco murmurar vindo do que ela pensava ser um desacordado Hikaru. Sobressaltou, corando ao ver o sorriso convencido que se formava nos lábios dele.

— Idiota… - replicou, tentando se afastar, mas foi impedida por Hikaru, que segurou a sua mão assim que teve a chance.

— Fica aqui comigo, coelhinha… - ele pediu, com a voz rouca. Hanako engoliu em seco, incapaz de se manter impassível diante daquele pedido.

— Eu vou só pegar algo pra você tomar… fica aqui… É só um minutinho – Ela tentou se desvencilhar de Hikaru, mas ele apenas a puxou para mais perto, fazendo com que caísse por cima dele.

— Não… fica aqui… Não vai embora… - ele fechou os olhos. Podia estar delirando com a febre, ou sonhando…

— Eu vou cuidar de você, Hikaru… Não vou a lugar algum! – Hanako riu baixinho, acariciando o rosto febril com cuidado – Eu vou estar aqui quando você acordar, está bem?

— Está…bem… - ele concordou, deixando-se levar pelo sono, naquele lugar quente e confortável.

Algum tempo depois, que para ele foram como poucos segundos, mas que na verdade foi mais de meia hora, Hanako o acordou. Ele estava deslocado, ainda atordoado pela febre, mas aceitou o remédio que ela colocou em sua boca, e logo depois, tomou um gole de água.

— Aqui, você tem que se alimentar… - Hanako entoou com voz suave, pegando a tigela de sopa que sua mãe preparou especialmente para Hikaru – Diga “ah”!

— O que? Não precisa de tudo isso, Coelhinha! – Hikaru negou, com os olhos úmidos e semicerrados.

— Não discuta. Me deixe cuidar de você, seu teimoso! – ela replicou, trazendo a colher de sopa para perto do rosto do garoto até que ele não tivesse outra opção além de engolir o alimento.

— Onde está aquela sua prima barulhenta? – Hikaru indagou, entre uma colherada e outra.

— Ah, você deu sorte. Ela está na casa de uma amiga hoje, provavelmente volta só amanhã. – Hanako comentou alegremente, cortando qualquer resposta que o ruivo fosse dar com outra generosa porção da sopa.

Continuaram assim até que Hikaru tivesse esvaziado todo o conteúdo da tigela, deixando então Hanako satisfeita. Ela o deixou dormir por mais algum tempo, se encarregando de outros afazeres, e recebendo algumas indicações de sua mãe para o tratamento do resfriado de Hikaru. Depois de estar suficientemente informada, ela retornou para o quarto, fazendo o mínimo de barulho possível.

Mediu a febre do garoto, que não parecia ter baixado nada, e notou que ele começava a suar bastante. De fato, a camiseta que ele usava por baixo estava praticamente encharcada. Com um lenço úmido e quente, Hanako começou a despir o garoto desacordado, determinada a secá-lo, e com isso talvez a febre diminuísse.

— Sua pervertida… o que está fazendo com meu corpo…? - Hikaru rosnou assim que ela retirou sua camisa. É claro que ele acordaria com isso. Hanako corou, mas não ia dar o braço a torcer.

— Estou tentando fazer sua febre baixar, seu idiota.

— Desse jeito… você só vai fazer a febre aumentar… - ele disse, e riu fracamente da piada sem graça.

Hanako revirou os olhos, começando a secar o peito e o abdômen de Hikaru, com delicadeza. Era uma situação embaraçosa, obviamente, e Hanako não conseguiria passar por essa experiência sem nenhuma reação inconsciente do seu corpo, mas tinha certeza de que com aquela febre, Hikaru nunca se lembraria do ocorrido, e isso era suficiente para aplacar um pouco da vergonha que ela sentia.

Depois de virá-lo e secar suas costas, ela o vestiu novamente, com uma camiseta masculina e grande que ela usava por vezes para dormir, por que era incrivelmente confortável. Hikaru ainda murmurou coisas desconexas, na maior parte provocações, e então voltou a dormir. Hanako riu baixinho, acariciando as madeixas ruivas que caiam sobre a testa dele. Ele parecia uma criança, daquele jeito. E novamente, aquela vontade de cuidá-lo e de nunca vê-lo sofrer de novo invadiu-a.

Ele não parecia em nada com aquele príncipe pervertido que ela conheceu na estação de trem, e que roubou seu primeiro beijo. Na verdade, ele nunca foi aquela pessoa. Ela apenas demorou a enxergar isso. O verdadeiro eu de Hikaru era muito mais gentil, preocupado, e até mesmo responsável. O verdadeiro eu dele… a amava. E nunca escondeu isso, de forma nenhuma.

Hanako acariciou mais uma vez a testa dele, descendo a ponta dos dedos para as bochechas febrilmente coradas. Ela também… estava aprendendo a amá-lo. Era diferente de quando estava com Kaoru, agora ela se permitia compará-los. Com Kaoru, Hanako forçava-se a ser alguém que ela não era. Não queria mostrar as suas faces vergonhosas, o seu lado errado, para ele. Ela queria que ele a amasse, mas não tinha coragem para expor seus defeitos. E também não reconhecia nenhum defeito no próprio Kaoru. Ela o colocou em algum patamar acima, vendo-o como alguém inalcançável. Já com Hikaru, desde o início, foi diferente. Hikaru a conhecia como ela era: uma otaku, gulosa, desajeitada, escandalosa e atrapalhada. E ela também, enxergava a personalidade de Hikaru como ele era, nem um pouco perfeito.

De alguma maneira, em algum ponto desse conturbado percurso… eles começaram a se dar bem… Talvez tenha sido quando Hikaru cozinhou para ela… bem, ela não sentia vergonha de dizer que talvez tenha sido realmente conquistada pela barriga… Mas, agora ela via, Hikaru podia ser alguém que Kaoru jamais poderia ser para ela. Hikaru, antes de qualquer coisa, podia ser seu amigo. Alguém que andasse ao seu lado, não a sua frente.

— Ei, Hanako – o chamado sussurrado da mãe acordou-a dos pensamentos – Aqui, eu fiz um chá de gengibre com mel para o Hikaru-kun. Vai fazer bem para a garganta dele.

Hanako se levantou, pegando o chá, e depois se aproximou novamente da cama. Acordou Hikaru suavemente, e ofereceu a ele o chá. Ele parecia meio perdido, talvez ainda estivesse dormindo, mas aceitou. Provou um pequeno gole, e então ficou encarando a xícara com um semblante esquisito.

— O que foi? – Hanako perguntou – Está ruim? Foi minha mãe que fez… Ela disse que fará bem para a sua garganta, está doendo, não está? É melhor beber tudinho, vai fazer bem, mesmo que o gosto não seja tão bom…

— Não é isso, é que… e-eu… - Hikaru levantou os olhos para Hanako, e lá estavam pequenas lágrimas juntando-se nas bordas – Eu nunca tive ninguém que fizesse essas coisas para mim, desde que… desde que minha mãe… v-você sabe… Sempre fui só eu. É por isso que, ser tratado dessa forma, eu não estou acostumado a isso…

— Hikaru… - Hanako não hesitou em acariciar o rosto de Hikaru. Ele parecia ainda mais com uma criança nesse momento. Desamparado, sentindo falta da sua mãe… e tudo o que Hanako queria era poder cuidar dele. Poder amá-lo. Sim, ela podia!

Sem pensar duas vezes, Hanako tirou a xícara quente das mãos de Hikaru e o abraçou, com todas as forças. Sentiu-o arquejar, surpreso, e timidamente retribuir ao abraço. Hanako sentiu o impulso de chorar, mas manteve-se forte, para Hikaru. Se alguém ali tinha que chorar, era ele.

— Eu vou proteger você, Hikaru. Você não está mais sozinho. – ela disse, afagando os cabelos espevitados do ruivo – Eu amo você… - ela bradou, única e sinceramente.

— Coelh… Hanako… - Hikaru balbuciou, incrédulo, em dúvida se estava vivendo alguma ilusão causada pela febre.

— Eu posso não ser de grande ajuda, mas… quando você estiver doente, eu farei chá para você, e quanto você se sentir sozinho, eu estarei aqui, do seu lado, para abraça-lo… então… então…

— Isso é mais do que o suficiente – Hikaru sorriu fracamente, afastando-se um pouco do abraço sufocante da garota. Ergueu o rosto, apenas para tocar de leve os lábios dela, e então deitou novamente, trazendo-a junto consigo.

Hanako não fez nada para se desvencilhar do abraço de Hikaru, embora soubesse que sua mãe teria objeções a fazer quanto a isso. Acomodou-se naquele colo tão confortável, apertando seu corpo contra o dele, e cobrindo a ambos com os cobertores. Aquele calor… era tudo o que ela precisava para se sentir bem. E antes que percebesse, já havia se rendido, e caído no sono também.



O dia raiou, nublado e sem graça. Hikaru e Hanako dormiram a noite inteira, abraçados e felizes. A mãe dela notou, mas não impediu. Resolveu fingir que não havia visto nada. Hikaru já respirava com mais facilidade, e Hanako ressonava com um sorriso no rosto, resoluta de que nunca havia passado uma noite tão tranquila na vida.

O toque do celular ecoou pelo silêncio matinal, acordando o casal. Preguiçosamente, Hanako estendeu o braço para fora da cama, pegando-o e arrastando até o ouvido, enquanto resmungava algo para indicar que estava na linha.

As palavras seguintes não fizeram sentido no mundo brilhante e cor-de-rosa que ela estava dividindo com Hikaru no momento. Cruelmente, ela foi arrastada novamente para a realidade, pela voz de alguém que chorava inconsolavelmente do outro lado da linha.

Hanako sentou na cama, assombrada e pálida, acordando Hikaru no processo. Ele a fitou, primeiro irritado por ter sido acordado de forma tão brusca, mas ao ver o semblante de desespero em Hanako, ficou apreensivo.

Depois de alguns agoniantes minutos em que ela apenas murmurava respostas monossilábicas, a ligação foi encerrada, e ela deixou o celular escorregar sem vida para seu colo.

— O que houve? – Hikaru indagou, já impaciente.

— Hikaru… a Yoko… a Yoko… ela… ela morreu…






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