Bokura no Love Style escrita por Shiroyuki


Capítulo 43
Capítulo 43 - Tanoshii




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— Eu sabia! Ela não vem…

Hikaru já estava sentado no banco daquela praça há mais de meia hora, batendo o pé com impaciência e olhando ao redor a cada segundo, e com a certeza de que Hanako não apareceria. Na realidade, ele havia chegado uma hora mais cedo do que o marcado, mas não parecia lembrar disso agora.

— Etto... Hikaru... – ele ouviu o chamado fraco de Hanako, e sobressaltou, ficando imediatamente de pé.

— Coelhinha! Você veio! – exclamou, sem poder deixar de sorrir.

— Foi por que… você disse que não ia ir para casa até que eu viesse… - ela respondeu.

— Ah… eu… estou tão feliz… - ele escondeu o rosto vermelho com as mãos – Por que pensei… que você não viria… - Hanako nada disse, vendo o semblante envergonhado que ela nunca imaginou que ficaria tão bem em Hikaru. Ela havia vindo até ali para rejeitá-lo, e dizer que não conseguiria esquecer Kaoru tão cedo, mas ao ver aquele tipo de expressão no garoto, tornou-se incapaz de dizer qualquer coisa.

— E-então… - ela mudou seus planos repentinamente, segurando com força a alça da bolsa, enquanto sentia seu rosto esquentando levemente – Onde nós vamos ir?

— Onde você quer ir? – ele indagou, nervoso – Eu a levo a qualquer lugar!

— Pode ser… eu não sei… no parque? – ela sussurrou, sentindo-se patética, ao falar a primeira coisa que veio a cabeça.

Hikaru sorriu, mexendo no bolso e tirando de lá dois pequenos papéis, ingressos para o parque de diversões. Hanako não pode fazer outra coisa além de sorrir de volta, ao perceber que Hikaru havia conseguido prever a escolha aleatória e óbvia que ela faria. Ele tinha muito mais empatia do que podia parecer à primeira vista.

Os dois andaram juntos até o parque próximo da estação, que estava realmente cheio naquele dia. Hanako mais parecia uma criança na manhã de Natal, com os olhos brilhando de empolgação. Nem parecia a pessoa que iria rejeitar o convite de Hikaru mais cedo.

— Waa! Olha lá, a roda gigante! E a montanha-russa! O carrossel!!! – ela gritava a apontava, absolutamente deslumbrada.

— Você nunca veio até aqui? – Hikaru tentava manter sua pose, com as mãos no bolso, caminhando um pouco atrás, mas estava ainda muito nervoso por estar enfim a sós com Hanako.

— Bom… só quando criança…

— E… aquele cara nunca te trouxe num encontro? – Hikaru resmungou, incomodado. Hanako se surpreendeu com a pergunta repentina, e então diminuiu o passo até estar ao lado dele.

— Eu… nunca pedi. Quero dizer… eu fico bastante empolgada com essas coisas, você pode ver. Eu não queria que ele visse esse meu lado infantil e vergonhoso – ela explicou, fitando o chão. Hikaru remexeu a mão no bolso, impaciente para alcançar a mão livre dela, mas se refreou e conteve sua vontade. Viu ao lado que uma mulher distribuía brindes, e correu até lá para pegar um. Retornou, e colocou na cabeça de Hanako, um par de orelhinhas de coelho. Era perfeito para ela.

— Ele iria gostar de você de qualquer jeito… - sussurrou, cerrando os dentes, terminando de ajeitar o adereço nos cabelos curtos da garota. – E se não gostasse… bom, isso só provaria que ele é mais imbecil do que parece.

— Hikaru… obrigada… - ela riu sem jeito, passando a mão nas suas orelhas novas. Era meio constrangedor, mas de alguma forma, ela não conseguia se sentir mal estando ridícula daquela maneira, quando estava perto de Hikaru, por isso, não se preocupou em tirá-lo.

— Vamos parar de falar nisso! – Hikaru parou de repente, irritado – Onde você quer ir primeiro?

— Ah… bom, se você quer saber… eu quero ir naquele… - ela apontou para a enorme montanha-russa, cheia de loopings e voltas. Hikaru engoliu em seco com a ousada escolha – É melhor ir naquele antes de comer, nee?

— Claro, hahaha… - ele afundou ainda mais as mãos no bolso do moleton, sentindo um calafrio. Ele não era exatamente forte para esse tipo de “diversão”.

Hanako sorriu, e por um momento, Hikaru esqueceu seus temores. Ela segurou-o pelo pulso, e o arrastou até o brinquedo, impaciente, e os dois entraram. Hikaru sentou no banco, e então as travas de segurança desceram. Ele sentiu um arrepio, e respirou fundo.

— Você tem medo, Hikaru? – Hanako indagou, percebendo o evidente desconforto do garoto.

— O que? – ele replicou, ofendido, e o carrinho começou a andar vagarosamente – É claro que nãaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAOOO!!!!!!!!

Na montanha russa, Hikaru e Hanako deram voltas e voltas, giraram, caíram, rodaram e voltaram. Hanako erguia os braços para o alto, segurando as orelhas de coelho, gritando com entusiasmo, enquanto Hikaru se agarrava à trava de segurança como um tripulante de navio se agarra ao colete salva-vidas num naufrágio, branco como papel, berrando com pavor.

Enfim, o brinquedo parou. Hanako pulou para fora, ainda sob o efeito da adrenalina, e Hikaru cambaleava para longe, tonto e pálido.

— Ei, Hikaru, você está bem? – Hanako indagou, segurando-se para não rir do garoto, que tentava se por de pé sozinho. Ela o ajudou a se reerguer, apoiando suas costas, e ele pareceu reagir ao toque, tentando recobrar um pouco da dignidade que restava.

— Claro que estou, que pergunta tola! – ele exclamou, sem convencer nem a si mesmo.

— Se eu soubesse que você não gostava, eu não teria...

— Sshhhh! Não diga nada, Coelhinha! Quem disse que eu não gostei?

— Ora, você estava se borrando, Hikaru! Gritou feito uma garotinha o tempo todo! – ela riu, e Hikaru corou furiosamente, sem resposta para aquela constatação.

— E-eu não... eu estava só...

— Não há desculpa, Hikaru! Você estava com medo! – ela encerrou a questão, cruzando os braços.

— Sua Coelhinha estúpida.... você vai ver quem tem medo! – ele bradou, e sem esperar nenhum segundo, avançou contra Hanako, segurando-a entre os braços fortes e fazendo cócegas.

— Hahahahahahahahaha.... Hika…ru hahahahahaha o que você... hahahaha.. paara!! Hahaha! Para com... isso hahaha!! – ela protestava em meio aos espasmos involuntários, tentando afastá-lo com as mãos, mas Hikaru apenas se empenhava mais, encurralando-a no canto atrás do abrigo do operador da montanha-russa, e distribuindo mais cosquinhas, enquanto ria das reações exageradas da garota – Hahahahahahaha! Já chega! Hahahaha, para!

Hikaru parou, pousando as mãos na cintura de Hanako. Os dois respiravam ofegantes, ainda com restos das risadas escapando nos lábios, recuperando o fôlego perdido. Hanako tinha as mãos postas sobre os ombros do rapaz, e tentava regularizar sua respiração e as batidas do seu coração. Fazia muito tempo que ele não acelerava e maneira tão alegre e espontânea.

— Eu consegui finalmente ver o seu sorriso de novo – ele sussurrou, encarando Hanako fixamente – E... isso é muito egoísta, mas eu fico feliz de ser o motivo das suas risadas dessa vez, Coelhinha.

Hanako ficou chocada. Ela não tinha percebido, mas essa era realmente a primeira vez que ela ria, de verdade e com vontade, em muito tempo. Apertou as mãos nos ombros de Hikaru, fitando-o realmente com atenção, pela primeira vez. Os olhos de Hikaru… eram lindos. E únicos. Tinham certo brilho fugaz, ao mesmo tempo em que deixavam transparecer ternura e gentileza, que antes, ela não foi capaz de perceber. E agora, também, transmitiam hesitação. Expectativa. Esperança.

— Hikaru… eu…

Um ruído longo e arrastado se fez presente, sobressaltando a ambos. Parecia com um animal em desespero, prestes a morrer de forma agonizante. Hanako corou, tirando as mãos de Hikaru e colocando na própria barriga.

— Você está com fome, nee? Vamos lá! – ele segurou a mão de Hanako, com certo nervosismo, e a levou até a praça de alimentação. Ficaram lá por muito tempo, e Hanako comeu de tudo um pouco, levando Hikaru a quase falência, mas ele de nada reclamou. Ela não sabia, mas ele agora recebia mesada de Donatella Hitachiin. Hikaru observou a maneira espalhafatosa de Hanako comer, derrubando na mesa, sujando o rosto e se atrapalhando com tudo. Ela também falava sem parar, sobre a família, os amigos, as coisas da escola, a sua prima chata, a calça jeans que ela queria comprar… enfim, sobre tudo. Será que ela também era assim quando estava com Kaoru? Hikaru desconfiava que não, e desejava que assim fosse. Ele queria guardar essas diferentes faces da desajeitada e adorável Wakamiya Hanako somente para ele.

Eles passaram bastante tempo na lanchonete, e quando finalmente saíram, já era noite.

— Hikaru… nós perdemos bastante tempo comendo… Daqui a pouco eu vou ter que ir… - ela lamentou, pesarosa.

— Não tem problema, Coelhinha. Ainda há tempo para mais um brinquedo? Onde você quer ir?

— Eu… acho que nós podemos ir até a Roda Gigante.

Hikaru sorriu, colocando as mãos no bolso do moleton e andando na direção da enorme roda que brilhava no meio do parque, satisfeito com o fato de não ter loopings nem nada de cabeça para baixo naquele brinquedo.

Os dois entraram na fila, que nem era muito grande naquele momento, e finalmente adentraram em uma das cabines, cada um sentando de um lado, que foi fechada e começou a andar bem lentamente. Hanako repentinamente se sentiu nervosa, segurando uma mão com a outra e vacilando o olhar da janela para o chão, sem conseguir apreciar a vista.

Hikaru… ele era tão estranho. Ele sabia que ela era gulosa, infantil e desajeitada. Ele sabia de tudo isso e mesmo assim… por que continuava gostando de uma garota como ela? Quando estava namorando Kaoru, Hanako tinha vergonha de si mesma, e por isso, ela se forçava a só mostrar a ele o seu lado bom. Ela não podia ser ela mesma na frente de Kaoru.

— O tempo… passou bem rápido, não é? – Hikaru falou. Ele também esfregava as mãos uma na outra, nervoso, e tentava se prender à paisagem noturna e brilhante do lado de fora.

— Sim. Eu… me diverti, hoje – Hanako  disse, suavemente, deixando Hikaru surpreso com suas palavras – mas… Eu acho que não quero mais aquele prazo de um mês.

— Não quer? Coelhinha… eu… por favor, me de a chance de mostrar a você que eu posso…

— Eu acho que você não pode aproveitar muito bem o nosso passeio, hoje – Hanako o interrompeu – Acho que não gosta muito de parques, não é? Tudo o que fez foi gritar de medo… - ela riu - Da próxima vez, nós iremos a um lugar que você goste, tá bem?

— P-próxima…? – Hikaru levantou os olhos, em choque, completamente abobalhado.

Sim, ela tinha certeza do que estava falando. Era graças a Hikaru que ela conseguia sorrir novamente. Ele cuidou dela, esse tempo todo, de forma tão gentil… ela queria ser capaz de corresponder os seus sentimentos à altura. E não conseguiria, a menos que tentasse.

— Eu irei com você aonde quiser… da próxima vez… - ela sussurrou, com o rosto em chamas – Quando você se confessou para mim, eu não te dei uma resposta, não é? – ela o encarou, com muita vergonha, mas ainda assim obstinada. Tirou as orelhas de coelho da cabeça, e segurou-as nas mãos, apertando com força, nervosa – Eu não sou completamente capaz de corresponder ao seu sentimento da maneira correta, como gostaria, mas, ainda assim, será que você me aceitaria?

— Hã… você tá falando sério? – Hikaru se precipitou, incrédulo. Hanako acenou afirmativamente, muito ruborizada.

Sem pensar duas vezes, Hikaru avançou e a prendeu em seu abraço, fazendo a cabine da roda gigante balançar vertiginosamente. Estavam agora perto do topo, no lugar de melhor vista, mas nenhum dos dois olhava para ela. Hanako, ainda sentada no banco, retribuía ao emocionado abraço de Hikaru, sentindo-o respirar em seu pescoço. Sentia-se segura naqueles braços, de uma maneira que nunca imaginou que poderia. Não pensou mais nas suas feridas mal cicatrizadas ou em qualquer outra coisa desagradável. Aos poucos, Hikaru foi se afastando, incerto de como proceder. Não queria magoar nem ofender Hanako, de maneira nenhuma, e pela primeira vez na vida, ele se importou com o que uma garota pensava dele. O que deveria fazer agora?

— Coelhinha… Hanako… - ele corou, ao pronunciar o nome dela de forma tão casual.  Ela gostou do som que o seu nome tinha quando pronunciado pela voz aveludada e ligeiramente nervosa de Hikaru – Isso quer dizer que agora, você é…

— A sua namorada. Se você quiser, é claro… - ela se adiantou, desviando o olhar logo depois.

— Claro que eu quero! Você tá brincando? Isso… eu estou tão feliz que poderia voar! – ele tornou a abraça-la, apertando bem os braços no seu entorno, como se temesse que ela fosse desaparecer se não a segurasse bem.

Hanako se afastou minimamente, segurando o rosto de Hikaru nas mãos hesitantes. Viu ele corar, e com os olhos dourados de gato brilhando de felicidade. Era a primeira vez que ela o via dessa maneira. Era absolutamente lindo. Agradavelmente perfeito. Tudo em seu lugar.

Ela acariciou, com cuidado, o rosto liso, sentindo-o arrepiar-se com seu toque. Ele parecia muito mais um gatinho indefeso do que o felino selvagem que ela encontrara um dia qualquer, na estação. Fechou os olhos, sabendo que ele se surpreenderia com a sua ousadia, e aproximou seus rostos. Sentiu sua respiração, agitada e cálida, e então seus narizes se tocaram. Ela sorriu, avançando com a mão até os rebeldes fios ruivos, bagunçando-os ainda mais, e tocou de leve os lábios entreabertos de surpresa do garoto. Ele não demorou em correspondê-la, aproximando seus corpos e apertando-a contra si. Hanako não conhecia aquele beijo, calmo, profundo e gentil, de Hikaru. Ele lentamente acariciava seus cabelos, passando de leve os dedos pelo seu rosto, como se apreciasse uma peça rara e frágil.

Foi diferente daquele primeiro beijo roubado, completamente diferente. Mas a sensação vertiginosa na sua barriga… de alguma forma, essa continuava a mesma, mas surpreendentemente mais agradável. Hanako, embora não admitisse antes, gostava dos beijos de Hikaru.

Eles ficaram assim por muitos minutos ainda, até a roda gigante finalmente parar e eles serem obrigados a se separarem. Hikaru, porém, não soltou Hanako, e não a deixou se afastar. Ele não cometeria o mesmo erro duas vezes. Ela ficaria bem ao seu lado, e nunca mais iria para longe. Pelo menos... ele se esforçaria para que fosse assim.


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