Vesti o avental branco sobre a saia do uniforme, e me preparei para começar a trabalhar. Em breve os clientes chegariam e eu teria que estar pronta.

— Hmm... Hanako-chan? – ouvi alguém me chamar. Virei-me, percebendo Kaoru-kun com metade do corpo inserido em um espaço da cortina amarela. Ele estava com os cabelos penteados e alinhados, e vestia um tipo de terno inteiramente branco que o fazia lembrar um mordomo ou algo do tipo. Senti meu fôlego esvair-se em menos de meio segundo.

— K-kaoru-kun... você está tão lindo! – eu deiei escapar, admirada. Ele sorriu sem graça. Aproximei-me, e ele me conduziu para fora da sala.

— Tem algum problema? – indaguei, surpresa por ele estar querendo falar comigo a sós, sendo que o festival estava prestes a começar. Ele parou subitamente no corredor, respirando fundo.

— Na verdade não, mas, eu queria saber se você está bem...

— Anh? É claro que estou – respondi tolamente, sem entender a pergunta.

— É que eu vi você conversando com Hikaru antes, então fiquei preocupado. Ele não tentou nada estranho com você, não é?

— Não. Hikaru tem se comportado muito bem ultimamente, e ainda mais depois de ter ido morar com você. Acho que ele finalmente está criando juízo!

— É. Você tem falado bastante nele... Vocês estão se dando bem?

— Acho que sim. Desde que ele se machucou, eu tenho me sentindo culpada, então deve ser por isso.

— Então... – ele mudou de expressão subitamente, segurando minha mão firmemente na sua – Eu também queria contar para você que não vamos poder passear pelo festival no seu horário de folga como tínhamos combinado. Honey-senpai disse que muitas garotas fizeram reservas e não há como me dispensar. Sinto muito.

— Ah... tudo bem – eu forcei um sorriso. Não queria que ele pensasse que eu sou algum tipo de namorada possessiva e grudenta. Tenho que ser compreensiva, e não demonstrar nenhuma expressão de descontentamento – Bem, acho que não temos escolha, não é? Não tem problema.

— Entendo... você deveria estar esperando muito por isso... então eu realmente sinto muito.

Sim. eu estava muito ansiosa para passar o festival com meu namorado... e eu queria fazer aquele “circuito do amor” que a 2-B estava preparando...

— Tudo bem, Kaoru-kun. Não importava realmente.

— Certo. Não importa mesmo. – ele disse, inflexivelmente. Não consegui ler suas emoções. Sem que ele me desse a oportunidade para dizer mais alguma palavra, virou as costas e foi em direção ao vestiário, onde os outros hosts estavam se preparando.

— Parece que você magoou o coração do pequeno príncipe – Hikaru surgiu as minhas costas, rindo com escárnio. Ele também vestia um terno, idêntico ao de Kaoru, porém o dele era negro.

— Do que você está falando?

— Não é nada. Eu não explicar para você e facilitar as coisas para aquele cara. Por que você é sempre tão boazinha na frente daquele cara? Comigo, você não pensa duas vezes antes de me atacar com tudo o que tem, mas para ele é sempre “tudo bem” e “eu entendo”.

— Ah, isso é porque, quando se está na frente da pessoa que ama, você age de forma diferente – eu disse, corando levemente por estar falando de coisas tão embaraçosas – Eu quero que Kaoru-kun veja somente o meu lado bom.

— Isso é estupidez. – ele resmungou, dando-me as costas. Um pouco confusa, retornei para a cozinha, preparando-me para começar a cozinhar. Eu nunca entendo esses garotos!

–

O festival estava indo muito bem, eu ainda não havia tido oportunidade de ver como estavam indo as coisas com os garotos, mas pela quantidade de pedidos, aquela sala deve estar cheia.

— E então... – Yoko disse repentinamente, tirando minha atenção da omelete de arroz que eu estava virando – eu soube que você e Kao-tan discutiram. Ele já terminou com você?

— Não! Ninguém aqui terminou nada, tá legal? – pronunciei indistintamente, com os dentes cerrados. Yoko sorriu gentilmente.

— Você já viu Kao-tan trabalhando? Ele está fazendo muito sucesso.

— É claro que está! – eu disse, muito segura. Disfarçadamente, espiei pela fresta no encontro entre as duas cortinas. Todos os garotos estavam espalhados pelas mesas, aleatoriamente, com garotas a sua volta, rindo escandalosamente e se entupindo de bolo.

Na mesa mais próxima, Kaoru e Hikaru dividiam uma mesa, rodeados por estúpidas escandalosas por todos os lados... Ao que parece, Tamaki resolveu investir no fator “gêmeos” para atrair as garotas. Não que isso fosse realmente necessário, eu presumo.

— Eles estão indo bem, não é? – Yoko comentou. Eu podia sentir a acidez em sua voz no ar. – É impressionante o quanto esse irmão se parece com Kao-tan. Eu aposto que qualquer um poderia ficar com ele, e nem sentiria a diferença...

— Isso não é verdade – rebati, quebrando ovos em uma tigela, e começando a batê-los. Vi, pelo canto dos olhos, Mori-senpai pegar os pratos que já estavam servidos e levá-los para a sala. Respirei fundo, batendo os ovos com mais força do que era preciso. – Mesmo que eles sejam exatamente idênticos na aparência, são tão diferentes um do outro que seria impossível confundi-los. Eu sei que mais de uma vez, errei em reconhecê-los apropriadamente, mas agora que os conheço bem, posso garantir que eles são tão distintos um do outro que é uma surpresa que sejam mesmo irmãos. Não é possível achar que um possa substituir o outro.

Yoko não respondeu.

— Hmm... Hanako!

Haruhi estava na entrada da nossa cozinha improvisada, parecendo um pouco desconfortável.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntei, estranhando a sua presença aqui logo agora.

— Ah, não, é claro que não – ela sorriu – Mas, não estão precisando de mim lá na sala, então eu achei que vocês estariam necessitando de ajuda aqui...

Seja honesta consigo mesma e admita que veio aqui para cuidar do Tamaki, Haruhi.

— Tudo bem – eu sorri, solidária com minha amiga que certamente está se remoendo de ciúmes de todas aquelas garotas que estão com seu namorado agora. Eu entendo perfeitamente esse sentimento.

Haruhi se apressou, dobrando as mangas e começando a picar as frutas junto com Yoko, para colocar no parfait.

— E então, Coelhinha – Hikaru apareceu pela cortina, minutos depois, com semblante despreocupado – como vão as coisas aqui?

— Está tudo perfeito. Agora, você não tem que ir atender as garotas?

Ele ignorou minha pergunta.

— Vim até aqui dizendo que está na hora da sua pausa. Kaoru pediu para você encontrá-lo no pátio.

— Eu não acho que você deva ir, Hana-chan – Yoko argumentou, sem tirar os olhos do que estava cozinhando – Precisamos muito de alguém aqui, os pedidos não param de chegar.

— Eu cubro você, Hanako. Pode ir. – Haruhi disse, tomando a colher nas minhas mãos e o avental em um só gesto.

Acenei com a cabeça, rumando até a abertura na cortina, por onde Hikaru entrara.

— Por aqui não. Vamos pela outra porta – ele me conduziu para fora, caminhando rapidamente na frente. Eu o segui, um pouco aflita, imaginando o que Kaoru queria comigo.

Quando estávamos no pátio, logo abaixo da nossa sala, ele parou. Virando-se na minha direção, puxou seu celular, digitando rapidamente alguma coisa, e então voltou-se para mim.

— Ei, tem algo no seu cabelo. Acho que é um inseto...

— O que? Tira, tira logo!!! – me debati, empalidecendo imediatamente. Hikaru aproximou-se, segurando-me pelos ombros. Calmamente, ele colocou a mão no meu cabelo. Eu mal podia sentir seu toque, enquanto ele me fitava diretamente, com um sorriso sarcástico. Lentamente, ele parecia estar cada vez mais perto.

Subitamente, senti meu corpo seu puxado para trás. Não tive tempo para registrar o que acontecia, pois logo meus lábios foram tomados com furor, com um calor espalhando-se como brasa por todo o meu corpo. Entreabri meus olhos, tentando me localizar. Hikaru continuava em algum lugar atrás de mim, olhando incomodado para o chão.

Segurando minha cintura possessivamente, Kaoru aproximou nossos rostos, aprofundando o toque de maneira urgente e desesperada. Eu correspondi, deixando aos poucos, minha consciência dissipar-se. Mal me dava conta do fato de que tínhamos uma enorme plateia, incluindo professores e alguns pais.

Kaoru afastou-se, então, ofegante e corado, e abraçou-me com força, circundando seus braços em volta de mim. Respirei seu perfume, sem entender aonde ele queria chegar com isso.

— Você é minha, Hanako, só minha! Eu nunca vou permitir que outro garoto a toque! Eu nunca mais vou deixar que Hikaru a beije!

— Me beijar? Como assim?– indaguei, com interrogações saindo da minha cabeça – Hikaru pediu que eu viesse encontrar com você aqui... ele estava só tirando um bicho da minha cabeça!

— Eu não entendo... ele acabou de me mandar uma mensagem, dizendo para mim olhar pela janela e...

Ambos olhamos ao redor, mas Hikaru não estava em lugar algum. Na verdade, uma multidão parecia ter se reunido a nossa volta, e comentava sobre o fato. Eu e Hikaru, o mais discretamente possível, voltamos para dentro, desejando que nenhuma daquelas pessoas tenha realmente nos reconhecido.

Eu estava muito corada e ofegante, certamente, então parei no corredor para tentar me recompor. Kaoru colocou-se ao meu lado, fitando o chão com uma expressão dura.

— Me desculpe, Hanako. Eu estava sendo um idiota. Esses últimos dias, eu sempre tenho sentido ciúmes de você com Hikaru, e por isso, acabei fazendo um monte de besteiras. Eu até disse que não poderia sair com você... Sinto muito por ter descontado minhas frustações em você. Eu sou um garoto imaturo e mimado, possessivo e ciumento, e cheio de outros defeitos... mas... você pode me perdoar? Pode continuar a gostar de mim?

— Mas é claro! – eu exclamei, segurando com força a lapela do paletó, para obriga-lo a prestar atenção em mim. – Quando você é honesto dessa forma comigo, isso só me faz gostar ainda mais de você! Não importa o que aconteça, eu sempre irei amá-lo, Kaoru-kun! – Sem poder mais me conter, eu o beijei, sentindo a surpresa de Kaoru por eu ter tomado a iniciativa. Ele me pressionou contra a parede, intensificando o contato. Senti minha cabeça girando pela falta de oxigênio, mas isso não era importante. Tudo o que eu queria era que Kaoru compreendesse a profundidade dos meus sentimentos através desse toque.