Agir naturalmente. Agir naturalmente. Agir naturalmente.

Eu repetia mentalmente o meu novo mantra. Resolvi ontem a noite que iria seguir meus próprios conselhos, como a Haruhi-chan disse. Não posso mais me deixar abalar... eu irei agir como se não houvesse acontecido nada... embora isso seja quase uma tortura, já que eu não consigo tirar da cabeça aquele abraço... sem falar naquela pulseira... será que foi o Kaoru-kun quem encontrou a pulseira, e adicionou aquele lindo pingente...? Ahhh! Eu tenho tantas coisas em que pensar que mal consigo andar até a escola!

Quando cheguei a escola, não pude deixar de me espantar com a cena que vi. Haruhi e Tamaki, juntos, embaixo de uma árvore... os dois parecem que não enxergam nada do mundo ao redor... eu fico realmente feliz pela minha amiga, ela finalmente teve coragem de se declarar... enquanto eu...

Resolvi não atrapalhar e segui direto para a sala de aula. Pediria por mais detalhes depois, essa é uma história que eu não posso perder.

A aula foi como sempre, Hikaru não estava, o que me deixava bem mais leve a aura ao meu redor, e eu evitava olhar para o lado onde Kaoru-kun senta. Me pergunto se ele também pensa no que aconteceu ontem... hm, é claro que não... para ele foi apenas como um abraço entre irmãos, não tem como ele ter pensado nisso da mesma maneira que eu! Mas seria ótimo se ele... aaah!

Na hora do almoço, eu desci correndo as escadarias, à procura da Haruhi-chan. Eu preciso saber como foi que tudo aconteceu!

Encontrei-a no refeitório, junto com Tamaki e Aiko-chan (quando foi que ela saiu da sala?), e depois de comprar um almoço, corri até lá. Haruhi nem se deu conta da minha presença, assim como Tamaki. Os dois estão no seu próprio mundinho agora, mas não posso culpá-los por isso. Ver uma cena dessas me deixa meio deprimida, de certa forma. Aii-chii também deve pensar assim, ela está claramente incomodada, comendo seu sanduíche enquanto olha de mau-humor pela janela.

— Ver coisas desse tipo... dá vontade de arrumar um namorado, né Ai-chii? – tentei puxar assunto.

— Hum! Eu não preciso disso! – ela respondeu sem olhar pra mim – Garotos são inúteis. Inúteis! Só causam problemas – Hmm.. certo então... acho melhor na tocar nesse assunto...

— Ah! Vocês estão aí! – Haruhi finalmente se deu conta que não está sozinha no mundo, e me cumprimentou com um enorme sorriso.

— Oh! Hanako-sama! Eu não tenho palavras para lhe agradecer! – Tamaki se levantou teatralmente, segurando minha mão – Haruhi-chan me contou dos seus maravilhosos conselhos! Realmente, muito obrigado!

— Você não precisa agradecer, Tamaki-san, só faça a Haru-chan feliz... – eu estava meio sem jeito com toda aquela situação, e parece que Haruhi também, ela está bem corada, e todos estão olhando para nossa mesa... Tamaki tem um dom para fazer as pessoas se constrangerem.

— Ei você aí de pé! – a voz infantil da Ai-chii soou estridente, enquanto ela fitava profundamente Tamaki, sem expressão nenhuma – compra mais uma tigela de rámen pra mim. Eu tenho fome.

— Anh... Ui, Le Petit – Tamaki, ao que parecia, era do tipo que não podia dizer não a uma dama. Ele pegou a tigela que Aiko estendia a ele, fazendo uma mesura.

— Espera aí! – Ela gritou quando Tamaki se virou para sair – Do que você me chamou.

— Le... petit...? – a voz dele saia sufocada, pois agora, Aiko o segurava com força pelo colarinho, de pé em cima da cadeira.

— V-v-v-v-você me chamou de c-criança? – a voz dela tremia, e seu rosto avermelhado transbordava fúria – está dizendo que eu não t-tenho p-p-p-peitos?

— Eu... na...não... isso... – Tamaki-kun estava ficando roxo.

            — Acho melhor você soltar ele, Aiko-chan – Haruhi observava atônita a cena. Eu espero realmente que ela não fique viúva no primeiro dia do seu namoro.

Aiko, que de repente se deu conta que todos naquele refeitório a observavam atentos, soltou Tamaki, que caiu no colo de Haruhi, pulou da cadeira com delicadeza, e saiu dali pisando fundo, com o rosto muito corado, mas a cabeça erguida.

Eu juro que um dia vou entender todas essas pessoas que convivem comigo...

-

No segundo tempo das aulas, depois do almoço, uma surpresa! Lá, sentado em seu lugar ao lado do meu, estava Hikaru. Totalmente desleixado, com cara de quem acabou de acordar, e apoiando os pés em cima da mesa.

Sentei no meu assento, levemente insegura de como proceder.

Eu estava tão preocupada com Kaoru-kun que me esqueci completamente dele!

Hikaru cuidou tão bem de mim, e ainda assim eu o deixei sair, sem nem mesmo agradecer, para ficar com Kaoru-kun... me sinto péssima, e eu tenho certeza de que ele vai ficar bravo comigo.

— Oi, Coelhinha – fechei os olhos, segurando a cabeça entre as mãos, para esperar os xingamentos e as reclamações dele. Senti algo quente e macio em cima pousar da cabeça, e abri os olhos, assustada. Hikaru tinha a mão na minha cabeça, e me encarava sorrindo divertido. AH! Deve ter sido muito engraçada a minha expressão de agora... mas...  ele não tá bravo comigo? Será que ele se esqueceu de tomar os remédios? – e então, aconteceu alguma coisa entre você e o Kaoru ontem? – ele perguntou, desinteressado, tirando a mão de mim.

Anh?...

— Ei, Hika-kun, você não vem? – uma garota gritou da porta, com uma voz irritante.

Hikaru apenas se levantou e a acompanhou, sem nem olhar para trás.

Idiota! Então é isso que ele faz quando não vem pra aula!

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Depois do final da aula, eu corri para o clube, principalmente para não ficar no caminho da Ai-chii, que estava soltando fumaça das orelhas de irritação, mas ao chegar à frente da porta, toda a confiança que eu reuni nas últimas horas se esvaiu. Como eu posso agir naturalmente e encarar Kaoru-kun, depois daquele abraço totalmente inesperado e sem motivo algum?

Entrei na sala do clube um pouco incerta, procurando com os olhos por qualquer coisa.

— Ah! Bom dia Hanako-chan! – a voz dele soou perto de mim, me fazendo sobressaltar como se eu tivesse sido pega no meio de um delito.

— B-b-b-omdia – eu falei rapidamente, atropelando as palavras.

— Se apresse e se troque, hoje Mori-senpai vai te ensinar a cair com segurança. – ele disse, com o habitual sorriso educado no rosto.

Eh?

— Eu estou indo me trocar – eu me virei e sai apressada, na direção dos banheiros femininos do prédio principal, com meu Karate-gi nos braços.

Kaoru-kun não parece diferente do usual...

Para ele não significou nada. Foi só uma maneira de me confortar ou algo assim. É claro que ele não pensaria da mesma maneira que eu... e afinal, foi só um abraço, nada de mais... então...

Se eu pensar cuidadosamente sobre isso, um garoto tão perfeito como Kaoru-kun definitivamente não vai se interessar por alguém como eu.

Então... porque que sabendo de tudo isso, ainda dói um pouco, bem aqui?

Voltei para o treino, encontrando Mori-senpai já me esperando, no centro do tatame. Me pergunto se ele não faz outras coisas, além de me torturar, nesse clube...

Logo, Hikaru também chegou, já vestido. Não posso negar que ele fica bem, de um jeito diferente do Kaoru-kun, quando veste o Kimono... e além disso, ele parece estar com bastante tempo livre na agenda, está aparecendo nas aulas e tudo... aposto que deve ter uma fila de loiras iguais aquela de hoje mais cedo esperando por ele em algum lugar... Bakaa!!!

— E aí, Coelhinha! - ele se aproximou, segurando uma das tranças que eu tinha acabado de fazer. Kaoru-kun o observava de longe, muito atento, mas ele não parecia ligar, e sorria.

— Hmm... então você tem um apelido... – Mori-senpai disse com certa curiosidade sarcástica na voz.

 Aaah! Ia ser horrível se esse negócio de Coelhinha se espalhasse pela escola. Abri minha boca para mandar Hikaru parar de me chamar assim quando senti alguém pulando para me abraçar. Aquele cumprimento já era marca registrada do Presidente do Clube, eu nem precisei olhar para saber que era o Honey-senpai.

— Hana-chaan! Eu senti saudades de você!

— A gente se viu ontem...

— Ah, é bom que você esteja aqui também, Kaoru-2. Tenho algo pra falar! – Honey sorria, me soltando.

— Eu já mandei parar de me chamar assim – Hikaru sibilou, encarando Honey irritado.

— Tudo beeeeem, Hika-chan... – Honey continuou, contrariado – eu queria dizer que no próximo fim de semana, vai ter uma festa para os novos membros do clube! Vai ser num Karaokê! Vocês vem, não vem?  - Honey pedia, com seus grandes olhos brilhando.

— Até parece que eu vou sacrificar um fim de semana precioso, só por causa de uma ... ai! – eu pisei no pé do Hikaru antes que ele falasse algo que magoasse os sentimentos do Honey-senpai.

— Obrigada, senpai! – sorri alegremente, enquanto Hikaru me fitava incrédulo.

— Hmm... você vai? – Hikaru indagou, olhando para o outro lado. Ei! Se você quer fazer uma pergunta, ao menos olhe para mim!!!

— Claro que sim! – Respondi. Eu não posso perder uma chance de estar com Kaoru-kun, sem falar, que magoaria muito Honey-senpai se eu não fosse, ele está tão animado!

— Hmpf! - Ele bufou, meio irritado, ainda sem olhar pra mim.

Se não quer ir, então não vá, eu pensei, enquanto mostrava a língua sem ele ver.

Kyaa, eu mal posso esperar para ir nessa festa!