Gerard não se reconhecia. Estava há dois anos no seminário. Estava certo do que queria e a quem seu coração pertencia, mas se sentia extremamente encantado pela beleza daquela mulher.

Ela usava um véu rosa sobre seus cabelos muito negros que caíam em grandes e pesados cachos em seus ombros. Os olhos eram grandes e esverdeadas e possuía grandes cílios em sua volta. Sua sobrancelha fina e arqueada dava-lhe uma expressão sempre altiva e irônica, algo que seu olhar negava, com toda sua doçura.

Gerard, então, acordou do torpor e deu-lhe outra hóstia. Desta vez, para que não houvesse outra queda colocou-a em sua boca.

- Corpo e sangue de Cristo.

Os lábios dela tocaram seus dedos, arrepiando os pêlos dos seus braços. Gerard pensou que enlouqueceria por um momento. Retirou sua mão como se houvesse levado um choque. Nesse mesmo momento, ela o olhou sobressaltada e saiu em seguida de cabeça baixa.

Ajoelhou-se perto de uma senhora que mantinha sua cabeça sobre suas mãos unidas, fazendo o mesmo.

Durante o pouco que restava da missa, Gerard não pôde se concentrar. Algo que ficou bem aparente para o Frei. Ao terminar a missa, ela saiu de lá sem olhar para trás, em companhia da mesma senhora, por sinal, idêntica, se não fosse pela idade, a ela.

O Frei tocou-lhe o ombro.

- Preciso falar com o senhor.

- Sim, senhor. – Gerard abaixou a cabeça em um gesto de obediência.

Em poucos minutos restavam apenas Gerard, o Frei e Thomas, outro seminarista que também ajudava com a missa.

- Thomas, pode ir. Preciso falar com Gerard.

Thomas olhou de forma curiosa e ao mesmo tempo preocupada para Gerard, que assentiu com a cabeça, falando em apenas um gesto: “Ficarei bem.”. Thomas também assentiu e saiu obediente.

O Frei se colocou em frente a Gerard e começou o sermão.

- Estive observando sua conduta hoje, senhor Gerard, e o que vi não me foi nem um pouco satisfatório. O senhor, por acaso, sabe o que faz aqui? – Gerard o olhou como se não o entendesse. – Por que vem me acompanhar nos dias de missa?

- Para ajudá-lo, Frei.

- Exatamente. Mas qual o principal objetivo?

- Treinamento?

- Isso. Vejo que não enlouqueceu... Então o senhor sabe que a igreja não é um local para flertar, ainda mais o senhor que é um homem de Deus.

- Sei sim senhor.

- Espero que o acontecimento de hoje não se repita...

- Não se repetirá Frei.

- Assim o espero. Senão, serei obrigado a excomungá-lo.

- Não! Por favor, Frei. Prometo me comportar.

O Frei lançou-lhe um olhar gélido e saiu.

Gerard, ajoelhado em frente ao altar, pedia perdão a Deus por sua conduta. Se sentia sujo, insano... Mas a imagem daquela mulher não saía de sua mente.