O Fim de Uma Era escrita por Neko D Lully


Capítulo 12
Falhamos. Tudo vira um caos!


Notas iniciais do capítulo

Pessoas que insistiram tanto pela continuação dessa história, entrego a vocês mais um capitulo de O Fim de uma Era. A fanfic ressurgiu das cinzas!!! Estou tão orgulhosa de ter conseguido voltar a escrevê-la mesmo depois de anos ¹quem diria que conseguiria¹ *mesmo que o roteiro esteja um pouco diferente* shh ninguém precisa saber.

Bem minna, espero que aproveitem bem o cap, não sei quando o próximo pode aparecer.



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O FIM DE UMA ERA

FALHAMOS. TUDO VIRA UM CAOS!

MAKA POV.

Soul ainda não havia me soltado de seu abraço protetor, já deveríamos ter relatado do ocorrido para seis professores diferentes, forçando-me a repetir não apenas a terrível cena da professora Nygus como também a ligação sobre o falecimento de minha tia. Acredito que não teria aguentado muito mais tempo se Soul não estivesse ali me apoiando, tomando minha frente no interrogatório para que eu não tivesse que repetir. Ele sabia que eu já estava por um fio de me quebrar, tanto ele como Chrona sentiam o que se passavam no meu interior agora conturbado.

Minhas mãos tremulas agarravam fortemente a blusa que meu companheiro albino usava, meus olhos haviam se perdido em um canto qualquer do cômodo em que nos encontrávamos, nem ao menos lágrimas davam vida as esmeraldas que eram meus olhos. Eu me sentia morta, como se meu espirito tivesse sido arrancada de dentro do meu corpo. Minha base de sustentação havia sido retirada de mim sem pudor, obrigando-me a cair duramente sobre o chão em completo desamparo. E mesmo que todos os meus amigos estivessem agora do meu lado tentando reanimar-me, eu não me sentia na disposição para voltar ao "mundo real". Minha mente se perdia em memórias de um passado distante, onde nada era tão complicado, sombrio nem assustador. Não existiam mistérios maiores do que o motivo de não poder ficar acordada até mais tarde para ler um livro ou ver um filme.

Época em que meus sonhos não envolviam vidas passadas, nem encontro com deusas, mas singelos e simples sonhos de criança, que tudo o que mais queriam era acordar no dia seguinte para voltar a brincar. Memórias fracas de quando eu vivia junto com minha mãe e Blair, dias felizes no campo de flores onde ambas me contavam incriveis histórias sobre lentas ou tempos antigos. Histórias que deveriam ter permanecido sendo como são, apenas histórias.

Senti uma ligeira sacolejada em meu ombro direito, tão delicada e cuidadosa que realmente parecia que meu corpo iria desmoronar ou se partir a qualquer minuto. Eu não tinha intenções de voltar para essa realidade, eu não queria me desprender das memórias que inda se repetiam em minha mente e despertavam aquelas que jaziam adormecidas durante anos em meu cérebro. Todavia, meu corpo reagia ao impulso físico, direcionando meus olhos para a pessoa que agora tentava chamar minha atenção dispersa.

Olhos vermelhos, pele morena, cabelos brancos e marcas negras a lhe contornar o rosto firme já formado de um homem. Estava próximo de mim, tão próximo que conseguia distinguir meu reflexo morto em seus olhos vermelhos, tão próximo que conseguia sentir sua respiração calma em meu rosto. Mãos frias então agarraram meu rosto com cuidado, erguendo-o para que o encarasse direito, direcionando toda minha atenção para ele. Seu rosto preocupado formando linhas que deformavam sua perfeição, mas que não o deixavam menos bonito. E mesmo que tivesse prestado atenção em tantos detalhes ao mesmo tempo não havia prestado atenção nenhuma. Minha mente ainda estava longe no passado do qual eu não queria abrir mão.

Maka, pode me ouvir? - meu corpo respondeu automaticamente, assentindo enquanto ainda o encarava com olhos mortos. Ele me puxava aos poucos para a realidade, mas eu não queria voltar. Ser agredida daquela forma pela realidade apenas me desanimava ainda mais. - Sei que está abalada, mas ainda precisamos de você. Você é a única que pode impedir o que está por vir, por favor, continue seguindo em frente. Nós estaremos aqui para te ajudar.

Precisar de mim? Impedir o que estava por vir? E o que eu poderia fazer? O que alguém como eu poderia fazer? Eu nunca deveria ter me metido nessa confusão pra início de conversa. Eu não consigo, definitivamente não consigo atender todas as expectativas que estavam sendo jogadas para meu ombro. Eu tentei, tentei até me esgotarem os miolos de tanto me esforçar. Tornei-me essa aberração cheia de marcas brancas pelo corpo, com um poder que poderia conceder a vida novamente, mas que tornava a pessoa forçada a me proteger. E depois de ter passado por tudo isso, enfrentado poucas e boas, criaturas sombrias que queriam me matar, saber que era a reencarnação de uma boneca, que tinha um anjo maníaco que me queria como sua escrava sexual, desvendar profecias confusas, ser ameaçada de morte pela própria professora... Eu não queria mais tudo aquilo, eu não queria mais nada além de mergulhar em memórias confortáveis de tempos tranquilos.

Foi então que meu corpo se sentiu cansado de repente, uma sensação conhecida que me abrangeu todo o corpo. Eu sabia que perderia a consciência logo, sabia que desmaiaria para me transportar para outro cômodo. Mas será que ninguém poderia perceber que eu apenas queria ficar quieta?! Todavia, não era como se pudesse lutar contra aquela sonolência e cansaço, carregando-me para longe poucos instantes depois. Não sei como ficou minha imagem para as pessoas que me observavam naquele momento, entretanto isso não me incomodou nem um pouco. Quando dei por mim estava banhada pelas luzes confortáveis do enorme castelo da deusa.

E mesmo que aparentasse que nada havia mudado, para mim, naquele momento, tudo estava mais escuro, sombrio. Era como se nem mesmo as confortáveis luzes daquele lugar pudessem espantar a solidão que sentia em meu coração naquele momento. Encolhida em um canto qualquer da sala do trono onde normalmente aparecia para conversar com Kami, eu apenas esperava que sua voz tranquila e maternal enchessem o lugar. Eu não sei, na verdade, se ela estaria furiosa comigo por estar desistindo daquela maneira. Mas naquele exato momento não me importava com qual seria sua reação.

Por que abaixas tua cabeça, minha filha? - questionou, o tom tranquilo de sempre a ecoar pelas paredes vazias do lugar. Não fiz questão de mover-me, porém. Não era como se só por ouvir sua voz eu simplesmente retomaria minhas forças como mágica. - Ainda tens um tortuoso caminho a tua espera, não pode simplesmente deter-te aqui.

E o que quer que eu faça? Ignore a morte da ultima pessoa que cuidou de mim esse tempo todo e siga como se nada tivesse acontecendo, esquecendo que tudo isso foi culpa minha?! - exclamei, apertando o abraço em minhas pernas dobradas, tentando não derramar mais lágrimas do que já havia feito.

Pessoas morrem.

Sim, morrem. Mas não por causa de criaturas demoníacas, filhas de um anjo caído que está atrás de mim por ser a reencarnação de uma maldita boneca! Não por causa de uma simples pesquisa que foi fazer para mim! Pessoas não morrem por causa disso! - minha voz se elevava, talvez porque naquele lugar eu sempre conseguia falar tudo que se passava dentro de mim sem hesitar ou se quer pensar. Talvez porque ali eu era sincera de mais.

E vais parar toda tua luta, simplesmente pela perda de uma única pessoa? Acreditas que era isso que tua tia queria?

Eu não sei o que ela queria, tudo bem? Eu não sei o que você, ela ou qualquer um espera que eu faça! Mas eu não consigo ta legal? Eu não sou uma heroína dos livros, eu nem ao menos queria ter sido escolhida pra tudo isso! Queria apenas ser normal, com uma vida normal, com amigos e uma família que me amassem! Eu não pedi por nada disso!

Não, tu não pedistes por nada disto. Todavia, teu destino já foi escrito. E se pensas em desistir mais pessoas pereceram daqui em diante.

Eu não consigo fazer nada! Nem ao menos desvendei todos os mistérios que você jogou para mim! O ritual para trazer de volta Ashura está chegando e eu não faço ideia do que fazer para impedir! Não sei quem é o filho mais novo, não sei como Madusa vai fazer o ritual, nem ao menos sei como vou ter forças o suficiente para impedir Ashura caso ele realmente apareça. Eu não sou a pessoa certa para fazer tudo isso!

E quem seria essa pessoa?

Eu não sei, ta legal?! Você é a deusa aqui, não eu.

Ora, minha filha. - senti suas delicadas mãos afagando meus cabelos soltos, transmitindo-me um carinho e aconchego tão grande que por alguns instantes parei de chorar e apenas me deixei embalar por aqueles dedos a pentear as madeixas loiras de meu cabelo. - Não existe uma pessoa certa para isso. E é exatamente por esse motivo que tens amigos, que tens tantas pessoas capazes a seu lado para estender-te a mão. Mesmo que tu tenhas sofrido diversas perdas em teu caminho ainda existem pessoas caminhando a teu lado.

Mas... E se eu falhar?

Não vais.

Como pode saber?

Por que eu sou uma deusa. - ergui minha cabeça, pela primeira vez, encontrando-me com seu belo sorriso maternal. E por aqueles escassos instantes realmente acreditei em suas palavras, acreditei que seria capaz de passar todo e qualquer obstáculo que se interpunha em meu caminho. Pois tinha sua ajuda, a ajuda de tão bondosa deusa. - Agora deves retornar, minha filha. Já está na hora de que enfrentes teu destino. Mas nunca se esqueça que por mais sangrenta que seja a batalha sempre vai existir pessoas as quais você deve proteger e continuar lutando por.

E por fim, despertei.

Quando abri meus olhos estava em meu quarto, Chrona estava sentada ao lado da minha cama, no chão, dormindo com a cabeça apoiada sobre os braços sobre minha cama, bem ao meu lado. Sorri com carinho e lhe acariciei os cabelos rosados. As cortinas do quarto estava fechadas, deduzi então que já devia ser dia do lado de fora do quarto.

Kami então pulou sobre minha cama, miando manhosa em minha direção, pedindo carinho. Não neguei, obviamente e deixei que se aconchegasse em meu colo enquanto afagava seu macio pelo. Minha mente então deixou-se vagar no que havia acontecido em meu "sonho", dando voltas e mais voltas nas palavras da deusa, questionando-me o que faria agora. Sabia que não poderia parar, não poderia desistir porque mais pessoas dependiam do que faria agora, todavia ainda não tinha a completa confiança em minhas capacidades para ter garantia no meu sucesso. E se não tivesse seria a mesma coisa que não ter feito nada.

Deixei Kami sobre a cama e me dirigi até o banheiro. Talvez um banho pudesse me ajudar a achar as respostas que queria para todos os problemas que estavam acontecendo naquele momento. No caminho, enquanto retirava a roupa e a jogava para qualquer lado no quarto passei diante no enorme espelho de meu armário, e não consegui evitar encarar as marcas que agora enfeitavam meu corpo. Eu sabia perfeitamente que elas representavam a evolução do meu poder, mostravam que estava ficando mais forte a cada momento que me aproximava da verdade sobre todos os acontecimentos naquele lugar.

Aproximei-me do espelho, tocando de leve meu rosto, sobre uma das rosas brancas desenhadas delicadamente sobre minha bochecha. Aquelas rosas que se pareciam tanto com a que estava representada pelo meu medalhão. Mais uma prova de que eu, tão desgraçadamente eu, era a pessoa de todas as lendas que tinha ouvido quando era criança. E talvez, perceber aquilo, apenas me fez acreditar mais ainda nas palavras da deusa e que não conseguiria escapar do que já estava decidido para mim.

Entrei no banheiro, esquecendo-me completamente do espelho e simplesmente concentrando-me na água quente a escorregar por minha pele, contornando as curvas já mais desenvolvidas do meu corpo. Precisava arrumar uma maneira de impedir que Ashura retornasse, uma forma de impedir que o mundo se tornasse um caos. Mas o que poderia fazer? Impedir que o filho de Ashura, Shadow, fosse a cerimônia seria uma boa ideia, mas eu apenas tinha suspeitas de quem ele era, sem falar que ainda existia mais um que poderia ser usado para tal fim e bem mais determinado a isso do que seu irmão mais novo, Darkness. Então essa ideia não ajudaria de muito.

O que eu poderia fazer? Tinha certeza que ainda não estava forte o suficiente para enfrentar Ashura diretamente, mesmo que estivesse fraco quando retornasse... Droga! Não conseguia pensar em nada que pudesse me ajudar e não queria arriscar mais ninguém a tentar enfrentá-lo, mesmo em um ataque surpresa. Suspirei e desliguei o registro do chuveiro, embrulhando-me na toalha e saindo para vestir uma roupa. Algo bem confortável para me deixar relaxar.

Não sabia quanto tempo faltava para os horários de aula, mas o máximo de tempo que tivesse teria que aproveitar. Coloquei uma enorme blusa preta e um curto short jeans. O blusão chegava até mesmo a tampar o pequeno short, como se fosse um bem curto vestido. Penteei os cabelos de maneira a deixá-los da melhor maneira que consegui, soltos para que pudessem secar sem problemas. Voltei ao quarto assim que me vi pronta e acomodei-me novamente sobre a cama, de uma maneira que não despertasse Chrona.

Aconcheguei-me sob as cobertas já com um livro em mãos, pronta para ocupar os momentos que ainda me restavam de tranquilidade para distrair a mente e deixar que as ideias fluíssem, buscando uma solução para os problemas que se me apresentavam. E assim mergulhei no mar da literatura, degustando de palavras doces e fervorosas, viajando para lugares distantes sem ao menos sair do lugar. Era embriagante e quando dei por mim o tempo já havia se estendido para além do que eu poderia prever e o despertador para avistar o momento de se arrumar para as aulas tocou.

Chrona se ergueu pelo estridente sono que ecoou pelo quarto. Eu apaguei o alarme, e esperei que minha companheira despertasse completamente para enfim sorri-lhe com carinho, desejando-lhe um bom dia. Ela me encarou, por alguns minutos completamente sonolenta ainda e então parou, os olhos se abriram de surpresa e sem pensar duas vezes se jogou em mim, em um poderoso abraço que me assustou e me fez ser jogada para trás, acertando a cabeça na parede.

Chrona, que isso?! Vai acabar me matando! - exclamei, levando as mãos a cabeça, sem esperar que ela me soltasse. Todavia assim que ouvi seus soluços e senti a tristeza que me embargava vindo dela por intermédio de nossa ligação, percebi que algo estava errado.

Q-que b-bom que acordou... - murmurou entre soluços enquanto eu não conseguia achar palavras para responder a toda aquela comoção. O que teria acontecido? Não era possível que tivesse feito tanto mal com um pequeno desmaio. O que havia acontecido no tempo em que fiquei desacordada?

T-tudo bem... Vai se aprontar para a aula antes que nos atrasar para a aula. - Chrona assentiu, separando-se de mim com muita dificuldade. Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto, antes de finalmente se por definitivamente de pé.

T-temos q-que f-f-falar com os o-outros também. E-estávamos preocupados. - não compreendi exatamente o porque, eu não devia ter mais do que desmaiado, então por que causei tanta preocupação? Todavia, não quis perguntar, simplesmente me levantei, arrumei minha bolsa e pus um tênis qualquer. Deixaria meu cabelo solto dessa vez, ele ainda não havia secado por completo e estava com um pouco de preguiça de prendê-lo como normalmente fazia.

Assim que Chrona ficou pronta saímos do quarto, caminhando tranquilamente pelos corredores até nos encontramos no refeitório. Estava com um pouco de sono ainda, talvez tivesse ficado horas a ler até o despertador finalmente anunciar o início da noite. Os costumeiros olhares vieram me minha direção, a costumeira sensação de desconforto, mas por algum motivo sentia que algo estava errado. Peguei alguma coisa rápida para comer e por fim nos sentamos na mesma mesa de sempre, sem que ainda tivesse prestado atenção em qualquer outra coisa que não fosse minha própria comida.

Maka? - ergui o olhar e sem um aviso antecipado Liz havia se jogado em mim, apertando meu rosto contra seus enorme seios dificultando minha capacidade de respirar. Eu não entendia o que aquilo queria dizer, e minha mente estava mais preocupado em tentar puxar oxigênio para meus pulmões do que pensar em uma razão para aquela demonstração de afeto tão repentina.

L-liz... T-ta me s-s-sufocando... - murmurei como pude, finalmente sendo solta daquele abraço e conseguindo respirar, só para em seguida sentir mais braços a me envolver. Dessa vez era Tsubaki, que tão prontamente me viu livre de Liz jogou-se em minha direção. Todavia seu abraço era mais calmo, apesar de apertado. Não me sufocava, mas ainda sim dava a entender que, se por acaso me soltasse, algo ruim iria acontecer.

Que bom que está bem... - murmurou em meu ouvido um pouco antes de me soltar, encarando-me com lágrimas já a brilhar em seus olhos.

Deu-nos um susto e tanto na gente hein. - comentou Black Star, pela primeira vez a vida sem gritar ou falar se sua magnificência.

O que aconteceu para desmaiar daquele jeito por tanto tempo? - dessa vez foi Hero a perguntar, seu olhar preocupado direcionado a mim, enquanto Liz se acomodava a seu lado.

Pode ter sido o choque do momento, Hero. Foi dois golpes de uma vez. - comentou Kid, puxando a cadeira de Chrona para mais perto de onde estava sentado, fazendo questão de abraçar-lhe pelo ombro. Seus olhos dourados me encaravam com determinação e preocupação.

Soul ficou muito preocupado com você, foi complicado obrigá-lo a te largar para ir a seus deveres como um vampiro completo. - foi só depois que Ragnarok fez tal comentário que reparei na ausência de Soul. O fato era que ao se completar a transformação cada vampiro deveria contribuir de alguma forma para a sociedade vampirescas de acordo com seu dom. Soul poderia ser muito bem um guerreiro ou guardião de uma Tecnica.

M-mas por que ficaram tão preocupados? Eu apenas desmaiei... - comentei, ainda atordoada com toda aquela atenção que meus amigos estavam a me brindar. Aquilo já estava me assustando.

Maka, você ficou desacordada por quase uma semana. Amanhã já é a noite do ritual. - não soube o que dizer com a informação que Liz havia acabado de contar. E não perguntem qual me pegou mais de surpresa. Se era o fato de ter dormido por quase uma semana sendo que meu encontro com a deusa não aparentava ter durado mais do que alguns minutos ou se pelo fato de já ser amanhã o ritual. Talvez o segundo, já que em poucos instantes estava para arrancar os cabelos enquanto tentava pensar furiosamente em um plano.

Amanhã?! O que fazer, o que fazer?! Não vou conseguir ter todos os meus poderes em apenas um dia... Não dá pra montar um plano nesse meio tempo também. Droga! Droga! Droga! Não vou conseguir fazer nada e... - antes que pudesse continuar gargalhadas se espalharam em nossa mesa. Por alguma razão que eu não compreendia todos estavam rindo, mais relaxados do que há alguns minutos atrás.

É bom que esteja bem e animada assim, Maka-chan. - comentou Tsubaki e tudo que pude fazer em seguida foi corar.

Seja como for o café-da-manhã e as aulas seguiram seu rumo, enquanto eu quebrava minha cabeça para encontrar algum plano que pudesse me ajudar. Medusa acabou por me chamar nesse meio tempo. Colocando sua mascara de boa diretora, maternal e preocupada, felicitou-me pela melhora e pediu que eu fizesse parte desse ritual. Sua voz manhosa me enjoava, mas não pude dizer nada. Ela não sabia que eu sabia do seu segredo, e eu preferia que permanecesse assim até a hora certa, sem falar que sua petição me soou estranha. Afinal, se ela pretendia trazer Ashura de volta nesse ritual então por que pediu que eu o fizesse? Será que acreditava que eu não sabia de nada?

Seja como for, o tempo parecia se encurtar cada vez mais e quando dei por mim já estava quase amanhecendo. Todavia ao invés de estar me dirigindo a meu quarto estava a caminhar no dormitório masculino, dirigindo-me para o quarto de certo albino que durante o dia inteiro não tinha visto. Todos haviam me contado que ele estava bastante preocupado com meu estado e seria bom mostrar-lhe que agora estava bem. E mesmo que soubesse que não era nada de mais, que não me gastaria mais do que dez minutos ou menos eu ainda me sentia irrequieta.

Quando dei por mim estava a frente de sua porta, o coração saltando em meu peito, as mãos a suar pelo nervosismo que sentia. Respirei fundo e ergui uma das mãos para bater de leve na porta, entretanto, não foi necessário. Como se soubesse perfeitamente que me encontrava ali ele abriu a porta, esbaforido e ansioso. Encarou-me com seus olhos rubros repletos de surpresa, trajando nada mais do que uma camiseta branca e calças negras e moletom, parecia estar prestes a ir dormir quando cheguei a seu quarto.

O-oi. - comecei constrangida, o sorriso fraco a ser contornado em meu rosto. E antes que me desse conta ele estava me abraçando, os braços envolvendo minhas costas enquanto uma das mãos acariciava meus cabelos e aproximava meu rosto de seu peito. Eu não sabia o que fazer então apenas me deixei levar, esperando que me soltasse e assim pudessemos conversar.

Quando despertou? - questionou, arrepiando-me a pele por estar muito próximo de meu pescoço.

A tarde. Antes do café. - respondi calmamente, percebendo que ele finalmente se afastava de mim, suas mãos, no entanto, não desgrudaram de meu ombro em nenhum instante.

Está se sentindo bem?

Sim, obrigada. - lhe sorri com carinho, realmente agradecida por sua preocupação, meu rosto ligeiramente vermelho por estar recebendo tal atenção. Foi então que recordei que, apesar de todo o clima tranquilo ainda tínhamos preocupações a lidar. - Soul... Durante a noite será o ritual.

Sim, eu sei. Conseguiu pensar em alguma coisa para impedir o retorno de Ashura. - neguei, um pouco decepcionada comigo mesma. Ao invés de ter perdido tempo me lamentando deveria ter pensado em alguma coisa e só agora percebo meu erro. - Tem certeza que Medusa tentará libertá-lo amanhã?

Tudo indica que sim. Mas hoje ela me pediu para fazer o ritual, não entendo o que ela está planejando.

Não se preocupe, seja o que for que acontecer nesse ritual estaremos a seu lado. Daremos um jeito nisso. - ele me sorriu, um sorriso tão doce e carinhoso que não consegui acreditar que estava conversando com o mesmo Soul que conheci quando eu entrei para essa escola. Entretanto não consegui evitar retribuir o sorriso, sentindo-me aliviada de ouvir aquelas palavras.

Obrigada, me sinto bem melhor sabendo disso. - afastei-me um pouco, retirando suas mãos de meus ombros para que assim pudesse encerrar o assunto e deixá-lo descansar. - Até a noite Soul.

Já havia começado a me afastar quando o escutei me chamar. A voz hesitante, conseguia sentir o nervosismo que ele sentia e sabia que estava se esforçando muito para falar o que queria: - Antes do ritual quero te contar uma coisa.

Não pode me contar agora? - perguntei, curiosa em saber o que tinha a me dizer que o deixava tão nervoso. Todavia ele me negou.

É melhor que seja amanhã, deixarei que descanse por hoje. Já tem muito no que pensar. - e então adentrou em seu quarto. Depois disso tudo que me restou foi retornar ao meu, a curiosidade pinicando-me a mente para saber o que Soul tinha de importante para me dizer. Talvez fosse o que tanto estava tentando falar já fazia algum tempo, todavia só teria certeza no horário do ritual.

E não era como se tivesse que esperar muito para que esse momento chegasse. Tudo parecia propiciar esse momento, esse único momento em que tudo daria errado. Meu coração estava acelerado e um mal pressentimento tomava contar de mim enquanto me preparava para o ritual que sucederia daqui a poucos minutos. Eu já tinha feito isso, não seria tão complicado, mas as circunstâncias eram diferentes, eram estranhas e tensas. Eu podia sentir no ar a inquietação dos elementos, a inquietação do espírito.

Até mesmo a noite parecia ainda mais sombria, com fortes nuvens a tampar o céu estrelado. Era difícil de explicar esse sentimento estranho e eu estava com medo do que viria a acontecer. Tive respirar fundo algumas vezes para conseguir verdadeiramente me acalmar e parar de tremer, um pouco antes de Soul aproximar-se de mim. Tenso e inseguro, ele deveria estar igual ou pior do que eu.

Maka, tudo bem?- perguntou-me, tocando de leve meu ombro ainda tenso. Não eram necessárias palavras para responder aquele tipo de pergunta, com a ligação que possuíamos ele saberia perfeitamente o que eu sentia naquele momento, ao igual que eu saberia o que ele estava a sentir. Talvez exatamente por isso ele apertou com mais força meu ombro o qual ainda estava a apoiar a mão. - Também sente esse clima no ar, não é?

Não consigo tirar esse mal pressentimento de minha cabeça, sei que alguma coisa vai acontecer daqui a pouco e isso me incomoda. - comentei, voltando a encarar o céu que havia sobre minha cabeça.

Já disse que vai ficar tudo bem, não confia em mim? - vi um sorriso brincalhão em seu rosto e sabia que apenas estava tentando me animar. Retribui o sorriso, agradecendo por aquela pequena brincadeira. Todavia seu rosto de repente ficara sério e com um respirar profundo ele continuou a falar: - Maka, o que eu queria te falar é que... E-eu... E-eu sou...

Maka! - Medusa se aproximou, o enorme sorriso a contornar seu rosto. Ela aparentava extremamente feliz, o que era assustador. Deu um ligeiro empurrão em Soul e encarou-me atentamente, um brilho perverso encoberto por uma nevoa de falsidade em seus olhos. - Que ótimo que chegou cedo! Sinto muito Maka, mas terei que te pedir mais um favor. Os integrantes do grupo do ritual não estão se sentindo muito bem então precisamos achar urgentemente substitutos. Será que seus amigos não poderiam fazer isso?

A-acho que não teria problema... - comentei um pouco insegura, sem saber a onde tudo aquilo iria parar.

Oh! Que ótimo! - exclamou contente já empurrando-me na direção do circulo já formado para o ritual. - Então o que estão esperando?! Vão já para suas posições que todos já chegaram. Não temos tempo a perder.

E fui arrastada para o centro do lugar, ao igual que todos os meus amigos, que prontamente estavam posicionados cada um em seu respectivo elemento. Não estava me sentindo bem, depois de toda aquela pressa meu mal pressentimento havia aumentado consideravelmente e agora tinha quase certeza que alguma coisa de muito errada estava acontecendo. Soul havia se acomodado ao meu lado e a musica para o começo de todo o ritual já estava começando a tocar.

Eu estava começando a me sentir perdida diante de toda aquela situação tão acelerada, não poderia pensar em nada se estivesse agitada daquela maneira. O máximo que podia fazer era seguir o curso dos acontecimentos, arrastada para aquele momento. Contornando a roda o circulo e invocando pouco a pouco cada elemento, sentindo todos eles a me rodearem enquanto cada vela era acesa. E a cada chama a dançar diante de meus olhos sobre uma das velas, mais forte ficava a sensação de que eu deveria parar.

Todavia meus movimentos não queriam obedecer e eu prosseguia com o ritual, até o momento em que percebi que estava para acender a vela da escuridão e da luz. O círculo me dava força, mas ainda não conseguia controlar eu mesma, terminando a invocação dos elementos.

Foi como um flash! Tudo sucedeu de maneira tão rápida, tão surpreendentemente inesperada... Era impossível para mim prever ou se quer fazer alguma coisa contra ela. Foi só naquele momento que percebi que por mais que tivesse me esforçado aquela situação era inevitável. E todo o desastre foi marcado por uma flecha, uma rápida e fugaz flecha que cortou o ar em minha direção, mirando certeiro meu coração. Seria meu fim se aquela ponta afiada tivesse me atingido e eu conseguia ver perfeitamente a cena.

Todavia algo se interpôs nesse meu destino, empurrando-me para fora da trajetória do projétil segundos antes dela atingir seu alvo. Nos segundos seguintes estava no chão, sangue manchava meu ombro, mas não era meu, ele vinha da pessoa que no momento estava sobre mim, o rosto contorcido pela dor que estava sentido, e pela ligação que possuíamos eu também a sentia. A flecha, antes direcionada a mim, havia perfurado a carne do ombro de Soul, tão potente e perigosa que sua ponta começava a aparecer em suas costas.

Eu estava confusa, perdida, desnorteada. O sangue tinha um cheiro embriagante e manchava tanto o chão debaixo de mim quanto minhas roupas, sem falar que a dor que passava para mim por causa da ligação que compartilhava deixava meu braço e meus movimentos anestesiados, eu não conseguia me mover direito, mesmo que a situação exigisse. Os gritos que haviam começado a ecoar pelo local, por causa da surpresa do ataque, estavam distantes e perdidos naquele amontoado de situações. E em minha mente apenas vinha o fato doloroso do albino a minha frente estar dolorosamente machucado.

S-soul... - murmurei, assustada, tentando erguer-me para ampará-lo. Soul se ajeitou ao chão, encurvando-se sobre si mesmo por causa da dor. Os dentes bem apertados para que não gritasse e os músculos tensionados, apenas serviram para prepará-lo para o que faria em seguida. Todavia eu não estava. Sua mão foi para o cabo da flecha, segurando-o com firmeza enquanto sua respiração se acelerava. - O que vai...

E antes que pudesse terminar a pergunta ele arrancou o objeto de seu ombro, gritando fortemente no fim do processo. Um movimento rápido e preciso, todavia não acreditava que foi uma boa ideia. O sangue jorrou para fora e manchou o chão aos seus pés. Ele arfou e se deixou cair em meus braços, exausto pela perda de sangue e pela dor que sentia.

Maka!! - ouvir Tsubaki gritar fez minha atenção voltar-se para o que acontecia a minha volta, não diminuindo o medo e desespero que sentia naquele momento.

Se eu tivesse voz para descrever aquele momento em uma só palavra eu tenho certeza que apenas poderia usar a palavra "caos". As criaturas que tanto se esconderam nas sombras dos jardins do Shibusen agora saltavam para fora de seus esconderijos, com seus grasnados finos e arrepiantes, avançando um após o outro para atacar a multidão de alunos e professos que haviam se aglomerado para o ritual. Suas enormes garras dilaceravam a carne daqueles que não conseguiam escapar, as pobres garotas tinham suas roupas rasgadas e seus corpos violados violentamente por aqueles seres de aparência tão tosca.

E no meio de tudo aquilo eu sabia que era minha obrigação fazer alguma coisa. Agir seja da maneira que for para ajudar, mas minhas pernas não se moviam e o corpo de Soul ainda estava em meus braços. Gritos enchiam meus ouvidos, pessoas morriam diante de meus olhos e eu me sentia inútil. Terrivelmente inútil. Minha única missão era impedir que isso acontecesse e olha onde viemos parar! Exatamente no cenário que queria evitar, no momento mais desastroso de todos. O céu sobre nossas cabeças se tornou vermelho, como o reflexo do sangue que agora manchava a grama da escola. Os muros que separavam a cidade da escola foram facilmente derrubados por aquelas criaturas e a catastrofe com certeza se espalharia para mais além do que aquele lugar. EU havia falhado, falhado miseravelmente.

Quando meus ouvidos apurados captaram um grito especifico dentre todos aqueles que enchiam o momento algo despertou em meu interior. Não saberia dizer o que, mas ver meus amigos, Chrona, Liz, Hero e Ragnarok sendo atacados por aquelas coisas, eu já não duvidava mais. As melancolias de fracasso em minha mente se esfumaram e tão rápido quanto pude invoquei meu dom, envolvendo todo o circulo, somando minha força com a dos elementos de meus amigos.

Todos! Entrem no circulo! As criaturas não poderão atacá-los enquanto estiverem dentro dele! - gritei o mais alto que consegui. Tão prontamente as pessoas que escutaram correram em nossa direção, saltando para dentro da barreira que havia formado, enquanto as criaturas que as perseguiam simplesmente paravam do lado de fora, recuando e grasnando indignadas. Pelo menos aquilo poderia fazer por todos naquele momento.

É inútil! - gritou Medusa desde onde estava, misturada as coisas que não a atacavam. Os filhos de Ashura a ignoravam ao igual que Eruka e suas amigas. A albina ainda contendo o arco bem firme em suas mãos, indicando que a flecha tinha sido tarefa sua. Todavia o que mais me assustava era o sorriso que tinha no rosto de Medusa, tão louco quanto qualquer um que já tinha visto em minha vida. - O sangue dele foi derramado, agora nada impedirá seu retorno. E nem você e nem a deusa poderão parar a destruição da raça humana que se seguirá!

Compreendi suas palavras assim que o chão tremeu. Soul agarrou meu braço com força enquanto tremia, sem me deixar saber se era pelo esforço ou pelo medo que estampava-se em seus olhos vermelhos. Do chão, próximo ao circulo protetor que havia formado, uma enorme rachadura apareceu, como se a própria terra estivesse se partindo ao meio. Tudo tremia, uma enorme onda de desesperança e medo se espalhou pelo ar, como se aquela rachadura estivesse sugando toda nossa força de vontade, sonhos e desejos, substituindo-os por sentimentos desconfortáveis e desanimadores.

E da mesma rachadura um vulto escapou, erguendo-se no ar e espreguiçando-se como um animal. Longas asas negras se estenderam e sacudiram o ar para que mantivesse o corpo no qual estavam presas no ar. Pele morena, olhas vermelhos, cabelos negros com mechas brancas como se fossem olhos, corpo forte e perfeito, como o de um anjo deveria parecer. Trajava nada mais que o resquício de um tecido negro, que um dia deveria ter sido uma calça. O resto de sua pele estava exposta, e por mais que o tempo estivesse frio ele parecia não se incomodar com tal fato.

Seus olhos se encontraram com os meus e todos os pesadelos que tive até hoje voltaram de uma vez só, deixando-me desesperada, impotente e a beira da loucura. Ele sorriu, se é que aquele tracejado sinistro poderia ser chamado de sorriso.

Nos encontramos de novo, minha bela boneca Akemi. - sua voz não era grossa, mas também não era afeminada. Suas intenções já tinham sido denunciadas apenas com aquela simples frase.

Ashura...


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? como faz alguns aninhos que não escrevo nada na categoria de Soul Eater, e muito mais que não escrevo essa fanfic, devem ter notado uma mudança no meu jeito de escrever, certo? Se não, da uma conferida nos primeiros caps e comparem ok?
Bem, ficarei por aqui, ta bem tarde e só fiquei acordada pra terminar esse cap mesmo.
bye bye