Passava das duas da manhã quando Liz, Klaus e o lobo Tyler finalmente chegaram à tumba. Caroline havia se separado deles na metade do caminho, indo encontrar Elena e Jeremy, que esperavam no carro, na entrada do cemitério.

Os irmãos Salvatore, Bonnie e Alaric ficaram admirados com a nova forma de Tyler. Mas Elisabeth podia vê-lo, consciente e humano, mesmo sob o aspecto do animal. Ele ainda conservava os mesmos olhos negros, e o temperamento ainda era o mesmo. Ela voltou-se para ele e falou:

“Tyler, todos aqui são seus amigos e vão ajudá-lo. Mas, por enquanto, quero que você fique afastado. Você entende? Quero que você fique de fora, a não ser que eu peça para você intervir, certo?” Liz viu o lobo concordar. “Ótimo. Você deve estar cansado. Por que não se deita ali, naquela sombra?” ela sabia que ali, ele dificilmente seria visto.

Damon veio na direção dela e resmungou. “O que você está fazendo?”

“Isso se chama ‘arma secreta’ e serve para surpreender quem quer que possa tentar nos impedir de realizar o ritual.”

“Como assim?” perguntou Bonnie, apreensiva.

“Eu realmente não acho que Elijah estava aqui sozinho. Não era assim que ele trabalhava. Além disso, já devem ter estranhado o fato de ele ter sumido o dia inteiro. Por isso, é melhor nos prevenirmos.” Ela olhou em volta. “O poço de simpatia ali disse que você estava tendo problemas.” Falou para Bonnie.

“É, eu não consigo fazer funcionar” a jovem suspirou, com o diário de Emily nas mãos. “Eu não nasci pra isso.”

“Você tem razão. Você não nasceu pra isso. Você nasceu assim. Não é algo que você possa escolher. Você só precisa arranjar a confiança necessária em você mesma. Eu não já te disse que, até a minha mãe morrer, eu nunca tinha feito um feitiço na vida?”

“Já. Você disse que passou cinco anos treinando.”

“Pois é” Liz lhe dirigiu um sorriso amável. “E nesses cinco anos, eu também fiz muita coisa errada. Tentava controlar o vento e acabava derrubando as folhas de todas as árvores. Ou então, tentava criar fogo e explodia o celeiro inteiro.”

Klaus gargalhou. “Eu me lembro disso. Elijah ficou uma fera. Ela mandou pelos ares todos os instrumentos de trabalho...”

“Você quer dizer, de tortura!” Ela o corrigiu e voltou-se novamente para Bonnie. “Você viu, leva um tempo pra gente se acostumar. Com o que podemos fazer e com o que podemos aprender. Você também vai conseguir.”

“Dá pra duas comadres aí adiantarem as coisas” Damon reclamou. “Eu quero sair dessa tumba antes que o Justin Bieber tenha netos.”

Bonnie ergueu a sobrancelha. “Você realmente sabe quem ele é, Damon?”

“Algum garoto com cara de bebê e cabelo esquisito.”

Bonnie riu e Elisabeth revirou os olhos. Foi até onde Klaus e Stefan conversavam, enquanto Alaric se armava. “Vocês vão ficar sempre perto da porta, está bem? Se algo der errado, eu quero que vocês saiam daqui o mais depressa possível.”

“E o que pode dar errado?” Stefan indagou.

“Eu não sei” foi a resposta sincera. “Só estou sendo cautelosa.”

Elisabeth ajudou Bonnie a terminar de preparar o ritual. Colocou os sangues do sacrifício em três pequenos potes, acendeu as velas e as arrumou formando um círculo. Os homens também já estavam organizados e esperavam pelo sinal delas.

Stefan e Klaus abriram a porta da tumba e as duas bruxas se posicionaram, dando início ao rito. Nem bem haviam começado, ouviram uma voz estranha para a maioria, menos pra Elisabeth e Klaus.

“Será que alguém se esqueceu de nos mandar os convites pra essa festinha tão animada?” ele os olhava com cara de poucos amigos. Liz continuou concentrada no feitiço, apenas ouvindo a conversa se desenrolar.

“Dimitri.” Era a voz de Klaus. “Estava mesmo imaginando quando você ia aparecer. Você achou mesmo que aquele seu irmãozinho molenga pudesse dar conta de qualquer coisa sozinho? Bem, não conseguiu. Eu o matei mais rápido do que você pode pronunciar a palavra ‘fracasso’.”

“E você acha mesmo que eu me importo?” Liz ouviu-o responder com pouco-caso. “Elijah sempre foi um imbecil! Preferiu se unir a você a servir a mim! Se você quer mesmo saber, me fez um favor. Agora, eu mesmo não vou precisar matá-lo.”

“Então, por que está aqui?” agora era Stefan quem falava.

“Pelo mesmo motivo que vocês. Ou talvez não. Eu quero quebrar a maldição do sol e da lua. E você não querem deixar que isso aconteça.”

“É, parece que temos um impasse.” Damon se posicionou, por fim. “Mas acho que, como chegamos primeiro, temos prioridade.”

“Prioridade? Minha única prioridade aqui vai ser matar você da forma mais dolorosa possível!” Dimitri estava irritado.

Pelo canto do olho, Elisabeth viu mais três homens entraram na tumba, colocando-se atrás de Dimitri. Ela suspirou e agradeceu em silêncio. Pelo menos, não estavam em desvantagem numérica. Quando a luta se iniciou, Liz viu cada um dos três capangas atacarem Stefan, Klaus e Alaric. Dimitri foi pra cima de Damon. Bonnie e Liz continuaram com o feitiço, que dava sinais de começar a surtir efeito.

O vento soprou dentro da tumba, no momento em que Klaus matou o seu oponente e foi ajudar Alaric. Stefan também tinha derrubado seu adversário e saía, atrás de notícias de Elena e dos outros. Dimitri e Damon travavam uma batalha feroz.

Apesar de não conseguirem evitar alguns ferimentos, Klaus e Alaric se livraram do inimigo. Neste instante, Dimitri conseguiu acertar Damon e este caiu na entrada da tumba. Klaus estava muito fraco, e Alaric não conseguiria detê-lo. Elisabeth teve de pensar rápido.

Assim que Dimitri ajoelhou-se, segurando a cabeça de Damon entre as mãos, Elisabeth gritou: “Tyler, ajude Damon.” Num segundo, o grande lobo já tinha se lançado sobre o vampiro hostil, e lhe arrancava a cabeça com uma única mordida.

Damon suspirou, enquanto seu olhar ia do lobo cinza para Elisabeth. Ela continuou com o feitiço e o ouviu balbuciar um obrigado. Ignorou. Tinha que se concentrar. Olhou para Bonnie, enquanto tomava nas mãos o pote com o sangue de Stefan, que começou a evaporar. Alguns minutos se passaram, até que todo o sangue fosse consumido. Ela passou então, ao sangue de Elena. Foi neste momento que Katherine finalmente apareceu.

“Será que nem aqui vocês me deixam em paz?” ela perguntou sarcástica, sem saber do que realmente se tratava. Foi só quando viu os corpos inertes dos demais vampiros que ela percebeu a gravidade da situação. Também notou a presença de Klaus, e Liz, que passava agora a trabalhar no último pote, com o sangue de Tyler, viu quando ela recuou um passo.

“Muito esperta, Katherine. Você tem razão de ter medo de mim. Você me traiu, me roubou e me enganou, e ainda fugiu de mim por quase 500 anos. Mas chegou a hora de acertamos nossas contas. E quem vai sair no lucro sou eu.”

Logo o sangue de Tyler também já sumira do pote nas mãos de Elisabeth. Ainda absorta, ela falou para Klaus. “Chegou a hora.”

Klaus deu um passo a frente e Katherine se encolheu. Mas por mais que quisesse, não poderia fugir. Damon interceptou o vampiro mais velho no meio do caminho.

“Eu quero fazer isso!”

“Tem certeza?” Klaus perguntou baixinho. “Você quer mesmo tirar a vida da mulher que você amou por 150 anos?”

Damon respondeu resoluto. “Não. Eu quero tirar a vida daquela que me mostrou que a mulher que eu amei não passou de uma mentira!”

Elisabeth viu os dois se encaminharem para dentro da tumba. Faltava pouco. Ela olhou para Bonnie e as duas entoaram juntas o feitiço específico para aquele momento. Ela ouviu a última súplica de Katherine.

“Damon, por favor! Eu amei você e você me amou! Essa foi a verdade e você sabe!”

“Tudo que eu sei é que você me usou, me fez odiar a mim mesmo e ao meu irmão, me fez viver 150 anos num inferno. Você destruiu a vida de pessoas inocentes! A morte pra você é um castigo ameno. Mas infelizmente, eu terei de me conformar com ele.”

Todos assistiram quando Klaus segurou Katherine, enquanto Damon lhe atravessava uma estaca pelo coração. Klaus então carregou o corpo sem vida dela e o pôs no centro do circulo de velas. As chamas pareceram criar vida própria. Arderam e o consumiram rapidamente, até que restassem apenas cinzas.

Elisabeth tomou a selenita nas mãos, e a segurou nas palmas abertas. Todos viram quando a pedra saiu voando entre as duas bruxas, para refletir as labaredas e a luz da lua. Bonnie e Liz estavam no final de suas forças, mas a chave estava a um passo de ser anulada. Distraídos, porém, ninguém notou um dos capangas de Dimitri sorrateiramente se arrastar pela tumba e atacar novamente Damon, que estava no caminho entre ele e a saída.

Sem que ninguém esperasse, no entanto, Tyler, ainda como lobo, investiu contra ele, o matando. Mas não sem antes também ser atingido por ele. Entretanto, seu grito de dor foi abafado pela explosão da selenita que, destruída, caiu como flocos de neve sobre todos na tumba. A maldição do sol e da lua não poderia mais ser quebrada.

Após alguns instantes chegaram Stefan e Caroline, trazendo nas costas Elena e Jeremy, atraídos pelo barulho do estouro. Foi a vampira loira que notou o que havia acontecido com Tyler.

“Ele está ferido!” ela desesperou-se.

“Ele não tinha nada de se meter!” Damon falou, num tom de reprovação, mas ao mesmo tempo, de nervosismo.

“Ele só estava seguindo o meu comando.” Elisabeth se aproximou do lobo. “Eu disse pra ele te ajudar, mas não o mandei parar. Quando ele te viu em perigo de novo, ele não pensou. Apenas agiu.”

“Está sangrando muito! O que a gente vai fazer?” Caroline agora beirava a histeria.

“Vamos dar sangue pra ele!” sugeriu Stefan.

“Não vai adiantar”. Explicou Liz. “Como lobo, o nosso sangue só vai fazê-lo piorar.”

“Então vamos esperar ele voltar ao normal.” Damon disse.

“Não podemos” ela esclareceu. “Eu quebrei a maldição do lobisomem. Se o sol raiar e ele ainda estiver machucado assim, ele vai morrer.” Ela suspirou e por fim pediu. “Me dêem espaço, por favor.” Ela se ajoelhou ao lado dele e pôs a mãos sobre o ferimento, na altura das costelas.

“Elisabeth, você está muito fraca!” Klaus se interpôs.

“Mas eu preciso tentar!”

“E desde quando você se importa?” Damon retrucou ácido.

“Vocês se importam, não?” ele rebateu. “Então, me deixe tentar.”

Elisabeth fechou os olhos e começou a recitar mais um feitiço. Ela realmente se sentia cansada. Desgastada. Mas simplesmente não podia desistir. Não quando a esperança de todos se depositavam nela. Ela abriu os olhos e rapidamente vislumbrou os rostos de cada um. Não, ela não era uma inútil perda de tempo. Ela lhes salvaria o amigo.

Aos poucos, sentiu a magia se realizar e o ferimento parou de sangrar. Ela se concentrou mais, e o corte começou a fechar, cicatrizando rapidamente. Mais um pouco de energia, e Tyler estava completamente curado.

Elisabeth não agüentou mais. Estava extenuada. Suas forças haviam se exaurido e ela não resistiu mais. Sob os olhares de todos, ela suspirou e tudo ficou escuro. Ela simplesmente desistiu de lutar contra o inevitável, e deixou que a exaustão tomasse conta dela, enquanto seu corpo caía imóvel, ao lado de Tyler.