Elisabeth estava arrasada. Jogou-se sobre uma poltrona e fechou os olhos. Ainda podia ouvir as últimas palavras de Damon. Você é apenas igualzinha à Katherine! Será que era mesmo? Ela não duvidava. E isso a deixava pior.

Klaus encostou-se a seu lado e passou um braço por sobre seus ombros, confortando-a. “Você sabe que o que ele disse não é verdade.” Pareceu que ele lia seus pensamentos. “Você não parece em nada com a Katherine.”

“Mesmo? Eu sou uma mentirosa manipuladora. Assim como ela!”

“Não é, não! Você uma pessoa doce e que se importa com os outros, tanto que ficaria chateada comigo se eu arrancasse a cabeça daquele imbecil!”

Liz respirou fundo. Precisava de ar. Não conseguia mais ficar ali.

“Klaus, assim que todos estiverem aqui, pede pro Stefan me ligar, ok? Eu preciso sair, dar uma volta.”

“Tem certeza?”

“Tenho, eu preciso ficar sozinha.”

Deixando Klaus pra trás, Elisabeth saiu e caminhou em direção ao bosque. Sua cabeça parecia que ia explodir e seu coração... esse não existia mais. Como ela pudera ser tão ingênua? Será que nem a eternidade a faria entender que Damon nunca seria dela?

Ela caminhou até chegar num lugar que ela conhecia muito bem. Não estivera lá nos últimos anos. E de que adiantaria? Estar no cemitério não fazia sua família parecer mais perto. Apenas aumentava sua dor.

Mesmo assim, Liz serpenteou por entre os túmulos, até chegar onde queria. Os túmulos, um do lado do outro, onde seu pai, sua mãe e o pequeno David descansavam. Era tão injusto, ela pensou. Ela deveria estar ali, e não eles.

Ela sentiu uma dor profunda, mas, surpreendentemente, chorou poucas lágrimas. Apenas sentou e ficou ali, quieta. Talvez se ela ficasse em silêncio por tempo suficiente, conseguiria ouvir de novo a voz dos pais, ou a risada infantil do irmão.

Não soube ao certo quanto tempo se passou até que seu celular tocasse. Era Stefan. Ela atendeu logo.

“Liz, onde você tá? Você tá legal?”

“Eu estou ótima. Estou a caminho.” Ela respondeu e desligou, não esperando por mais nenhum interrogatório.

Demorou poucos minutos pra que ela estivesse novamente na mansão. Assim que entrou, viu que já estavam todos reunidos na grande sala de estar. A maioria olhava com curiosidade para Klaus. Apenas Damon olhava pela janela para o jardim. Ela decidiu não perder mais tempo.

“Vejo que vocês já conhecem o Klaus.” Ela apontou para o recém-chegado. “Eu conversei com ele. Não haverá problemas para realizarmos o ritual esta noite. Pelo menos, não da parte dele.”

“Como assim?” indagou Stefan.

“Duvido que Elijah estivesse aqui sozinho. E quem quer que fosse o seu cúmplice, não acho que vá desistir agora. Quem detêm a pedra da lua controla os elementos da natureza e se torna um ser extremamente poderoso.” Klaus explicou.

“Mas a gente não deve se incomodar com isso agora. Vamos fazer isso quando e se o problema aparecer. Até lá, precisaremos de algumas coisas. Vou precisar de um pouco de sangue de Elena, que é uma Petrova e uma doppleganger. Caroline, o seu também pode ser útil.”

“O meu?” A loira perguntou.

“Não foi Katherine que transformou você?” Liz questionou.

“Tecnicamente sim. Mas apesar de ela ter me matado, era o sangue de Damon que estava no meu sistema.”

“Droga! Então vai ter que ser o seu, Stefan.”

“Tudo bem.” Ele respondeu. “O que você precisar.”

Ela pegou a mochila e tirou duas seringas de dentro. Depois retornou à explicação. Lembrou-se de algo importante.

“Tyler, essa é a primeira vez que você se transforma, não é?”

“É, e eu estou apavorado!” ele foi honesto.

“E deveria. A dor vai ser insuportável, excruciante. Você vai desejar estar morto.” Ela tentou melhorar o humor do lobo jr. “Se serve de consolo, como esta é a sua primeira transformação, eu vou poder fazer uma outra magia e quebrar a sua maldição também!”

“Sério? Quer dizer que eu não vou mais virar lobisomem?

“Sério! Você não vai mais precisar passar por isso outra vez.”

“Você pode fazer isso conosco? Quer dizer, com vampiros?” Caroline perguntou.

“Infelizmente não, Caroline. No caso do Tyler, ele ainda é humano. Mas nós estamos tecnicamente mortos. Se eu tirar o vampiro de você, não vai sobrar nada além do corpo vazio.”

Todos se entreolharam. A tensão pairava no ar. Estavam apreensivos, e com razão. Se Liz fizesse mesmo o que prometera a Tyler, eles não teriam outra chance.

“Nós vamos conseguir. Vocês vão ver.” Liz pegou novamente as seringas. “Elena, vamos começar com você, está bem?” Ela caminhou até a outra sala, e a jovem a acompanhou. Quando Elena sentou, falou baixinho: “Eu sinto muito”

“Pelo que?” Liz já estava espetando-lhe o braço. O sangue encheu rápido a seringa. “Você nem gritou!”

Elena sorriu, mas disse novamente. “Eu sinto muito. Pelo Damon.”

“Você não tem culpa se ele está apaixonado por você.”

“Não, não.” Elena balançou a cabeça. “Eu sinto muito por vocês terem brigado.”

“Não é novidade. Afinal, não é a primeira vez que ele me magoa.” Ela não queria falar sobre aquilo. “Será que você pode chamar o Stefan, agora?”

“Claro!” Elena saiu e um segundo depois, Stefan estava ao lado de Liz. Ele lhe encarou e perguntou sério.

“Você está bem? Eu sei que você e o Damon brigaram.”

“Não foi nada.”

“Sei que não é desculpa, mas eu posso dizer que o Damon passou muito tempo dedicado apenas a esconder os próprios sentimentos. Talvez demore um tempo até que ele aprenda como é deixar alguém entrar na vida dele de novo.”

“Stefan, eu não me importo.” Ela rapidamente lhe colheu o sangue e falou novamente. “Eu estou ótima. Só quero que isso tudo acabe logo.”

Os dois voltaram pra sala e Liz chamou Bonnie em um canto. “Você vai precisar canalizar muita energia. Você está pronta pra isso?”

“Estou, eu sei o que fazer. Encontrei no diário da Emily. Parece que ela está sempre nos ajudando.”

“Talvez ela esteja mesmo. É melhor você comer alguma coisa, Bonnie. Você precisa estar forte.” Liz sorriu. Seus olhos encontraram os de Damon.

Ela podia ver o rancor espelhado no azul dos olhos dele. Seu corpo se contraiu e ela quis sumir. Merecia aquilo, e não havia nada que ela pudesse fazer quanto aquilo.

O resto do dia passou sem maiores transtornos. Todos se preparavam para a missão noturna. Elisabeth e Damon ignoraram um ao outro o máximo que puderam. E todos perceberam o quanto ambos estavam chateados.

Depois do anoitecer, dividiram-se em grupos. Elizabeth, Tyler, Caroline e Klaus foram para o porão da antiga propriedade Lockwood, próxima ao cemitério onde encontrava-se a tumba. Este foi o destino do restante dos vampiros, além de Bonnie e Alaric. Elena e Jeremy concordaram em esperar afastados. Caroline iria encontrá-los depois, para protegê-los.

Puseram-se a esperar. A lua ainda demoraria algumas horas para alcançar o seu ponto mais alto e completar a transformação de Tyler. Caroline ficou o tempo todo ao lado dele, e Klaus parecia querer estar em outro lugar.

“Você não precisava ter vindo.” Liz lhe disse docemente.

“E quem é que ia proteger você?”

“Eu não preciso de proteção.” Ela rebateu.

“Mesmo assim. Eu não tinha nada melhor pra fazer. Então vou assistir a transformação do lobisomem e a morte da Katherine.”

Ele a abraçou e Elisabeth recordou porque gostava tanto dele, apesar de tudo. Ele lembrava-a do pai.

“Detesto estragar o momento” Liz ouviu a voz de Damon. “Mas a Bonnie tá tendo dificuldades com o feitiço lá da tumba.”

“Diga a ela que assim que terminarmos aqui, eu vou ajudá-la.” Ela soou indiferente. Klaus se afastou, fingindo estar interessado em outra coisa. Damon aproximou-se dela e, com a expressão vazia, sentenciou.

“E você, se sair viva daqui, vai pegar as suas coisas e nunca mais vai por os pés nessa cidade.”

“Desde quando você comprou Mystic Falls?” ela perguntou azeda.

“Você está avisada!”

“Se é o que você quer” Liz falou, no exato momento em que o grito de Tyler ecoou pelo bosque. Klaus correu pra perto dela e Damon deu um passo pra trás. Todos sabiam o que acontecia.

“Começou!” Caroline gritou de dentro do porão.

Liz olhou no relógio. 23:00h. Tyler ainda teria algumas horas de sofrimento.

Damon logo voltou para a tumba e Liz e Klaus continuaram a ouvir os gritos de Tyler. Após aproximadamente duas horas, Caroline saiu. Lágrimas corriam por seu rosto.

“O que foi? Você está bem” Elisabeth preocupou-se.

“Ele está ficando louco lá dentro.”

“É agora” Klaus olhou pra Liz, que assentiu. Deixaram Caroline pra trás e entraram no porão. Com a selenita na mão, Elisabeth começou a entoar o feitiço de controle. De repente, o silêncio se sobressaiu e eles abriram a pesada porta de ferro. Liz nuca tinha visto nada igual. Um lobo enorme e cinza a olhava com olhos vidrados. Ela terminou o feitiço e deu um passo a frente.

“Tyler, você pode me ouvir? Se puder me entender, eu quero que você concorde com a cabeça.” Eles viram o lobo fazer exatamente o que Liz pedira.

Ela continuou. “Tyler, eu quero que você relaxe e fique calmo. Lembra-se de tudo que eu te expliquei antes? Eu vou ter de colher o seu sangue. Você entende que tem de ficar quieto e que não pode me atacar?”

Ele assentiu novamente e Klaus falou, assombrado: “É impressionante!”

Ela rapidamente encheu a seringa com o sangue do lobo. Depois, lhe deu novo comando. “Agora você vai nos acompanhar até a tumba, no antigo cemitério. Vai reconhecer quem são seus amigos e seus inimigos. Vai proteger os seus amigos e atacar os inimigos.”

O lobo anuiu novamente e os três saíram do porão. Caroline ainda chorava, assustada. Abafou um grito quando viu o tamanho de Tyler.

“Não se preocupe. Ele é grande mais não morde.” Liz brincou, e os quatro seguiram em direção à tumba. Agora faltava pouco. Pouco para terminar com a maldição. Pouco para matar Katherine. E pouco para Liz ter de deixar Damon no passado. Mais uma vez.