- Melhor doce que já comi – eu exclamei com os lábios cheios de goiabada.

- Chama sonho – a garota dos meus sonhos respondeu sorrindo sentada a minha frente –

Eu fui hoje à padaria perto de casa e simplesmente tinha que comprá-lo. Era nossa sobremesa preferida.

Eu sabia que a Hermione estava falando dos pais.

- Ainda é! – afirmei.

- Ainda é – ela confirmou.

Estávamos sentados um de frente ao outro na bancada que separava a cozinha da sala da casa dos Grangers.

Os olhos dela pareciam que haviam ganhado vida desde a volta a sua casa, mas ao mesmo tempo estavam tão mortos.

- A Auror se comunicou com você afinal?

- Sim – ela sorriu – duas vezes. Disse que foi na prefeitura de Sidney perguntar quantas

clinicas odontológicas abriram entre ano passado e esse ano. Ela vai checar todas até encontrar meus pais.

- Que bom – eu dei uma mordida enorme no doce.

- E a missão?

- Já sei como ajudar a Gina.

Ela me encarava séria, como se lutasse consigo mesma, talvez com vontade de me dizer algo.

- Você mudou – escapou de sua boca.

- Pra pior? – perguntei preocupado.

Eu sabia que havia mudado, já estava bem diferente por causa da guerra, mas agora com essas missões parece que cresci, amadureci.

- Você só virou adulto – ela finalmente respondeu.

- E isso é ruim?

- Não, é só que você sempre foi o Rony brincalhão, que nos animava, sempre falando a piada certa no momento de tensão, e agora...

- Esse Rony foi embora... – completei.

- Não sei, ele foi? – ela me perguntou.

- Não sei, acho que só está adormecido.

Ela suspirou.

- Acorda ele? – ela me perguntou suplicando.

Então ela não gosta do novo Rony? Ela vivia implicando comigo, dizendo que era um legume insensível, que tinha o emocional de uma colher de chá e agora ela queria o antigo Rony?

- Não é uma coisa que possa ser feita assim – eu respondi.

- Eu sei, – ela levantou da cadeira e puxou minha mão – vem quero assistir um filme...

- Acho que vou embora – eu sussurrei levantando da cadeira onde estava sentado.

- Ah – ela olhou para baixo – Ta bom.

Eu a puxei pelo braço e lhe dei um abraço, a apertando contra mim, minha mão percorrendo toda costa dela.

- O que veio fazer aqui? – ela perguntou com a voz abafada.

Levantou a cabeça olhando para mim esperançosa.

Eu apenas acariciei os cabelos dela.

- Vim tomar minha dose diária de Felix Felicis.

Ela sorriu e fechou os olhos.

Nossos rostos a centímetros de distância.

Espera aí!

Será que está esperando eu a beijar?

Não! Não pode ser.

Estamos sozinhos em sua casa.

Ninguém ao redor.

A Hermione continua com os olhos fechados.

E os lábios rosados dela tão convidativos.

É melhor agir antes que ela desista, seu imbecil.

Seguro o rosto dela com as duas mãos.

Abaixo minha cabeça de encontro à dela.

Encosto nossas testas.

Fecho meus olhos.

Aproximo nossas bocas.

Nossos lábios se roçam.

E um barulho irritante soa ao fundo.

A Hermione se afasta de mim.

Abro os olhos e vejo que ela está vermelha escarlate, tenho certeza que minhas orelhas estão da mesma cor.

E o barulho irritante soa de novo.

- Droga! – a Hermione grita indo de encontro a porta da sala a abrindo.

- Senhorita Granger que bom revê-la – exclamou um velho senhor de cabelos grisalhos e olhos azuis.

- Olá Senhor Pfeiffer – Hermione respondeu o mais educadamente que conseguiu.

- Onde estão seus pais? Faz um bom tempo que não os vejo.

Hermione me olhou meio que pedindo ajuda. Fechou os olhos e respondeu ao senhor com o rosto virado:

- Ainda trabalhando...

- Oh que pena! Quem é esse? – perguntou olhando para mim.

- Oh, é só o Rony.

Só o Rony?

- Ele é meu melhor amigo – ela continuou, parecia que queria explicar ao senhor que eu não era nada.

Melhor amigo.

Essas palavras podem matar um homem.

Não precisa de varinha, nem de feitiços.

Só de palavras e uma garota.

- Eu já vou, Hermione – anuncio caminhando até ela, lhe dando um beijo na testa – Tchau!

- Tchau! – ela sussurrou em resposta quando me viu passar ao lado do senhor ainda parado a porta.

Começo a andar em direção aos jardins procurando um lugar para aparatar sem ser visto.

Dou pequenos passos esperando.

Esperando o que?

Ela.

Ela me chamar.

Mas isso não acontece.

- Quando seus pais voltarem avise que estive aqui?

- Claro, Senhor Pfeiffer.

Só o Rony.

Só o Rony se esconde na penumbra.

Só o Rony segura fortemente a varinha na mão.

Só o Rony aparata para a casa.

Só o Rony.