Ironias de Uma Vida escrita por ThatzFer


Capítulo 13
Cap. 13 – Um motivo para continuar.


Notas iniciais do capítulo

último capítulo, espero realmente que gostem dele, consumiu muitas lágrimas para ser escrito.! Reviews!



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         Estava no meu quarto, deitada, ainda enfaixada da cirurgia. Pensava constantemente no que eu era agora. Me sentia oca. Um corpo vazio por dentro. Nunca havia parado para pensar que o sentido biológico de estar vivo era focado na reprodução. Porque qual seria o motivo de estar na Terra a não ser esse? Eu queria deixar minha marca no futuro!

         Alguém bateu na porta do meu quarto, e eu mandei entrar. Era Tom. Eu não havia conversado decentemente com ele desde que tinha ido ao médico, porque tudo foi feito em segredo, e eu e mamãe não tínhamos dito o que eu realmente tinha a ninguém. Então Tom não sabia que eu não seria mãe nunca, ele apenas achava que eu tinha feito um aborto cirúrgico. Antes fosse...

- Como se sente? – perguntou ele, carinhoso. Tom não era do tipo que demonstrava afeto por alguém que não fosse Bill ou tia Simone, e aquilo era estranho pra mim. Como eu havia dito antes, nossa relação era mais... carnal, não nos preocupávamos muito com a parte sentimental da história. Mas depois de tudo o que tínhamos vivido nas últimas duas semanas, algo parecia estar mudando...

- Tom, quero conversar com você. – falei, séria.

- Sou todo ouvidos. – ele respondeu, sério também. Aquela não era hora para brincadeiras ou ironias.

- Tom, eu não fiz um aborto. – comecei, vendo o rosto dele se contorcer em surpresa – Aliás, não necessariamente. Quando fui ao médico, ele me mandou fazer uns exames... Mas, além de confirmar a gravidez, ele viu algo que eu não esperava.

Tom ficou mudo, preocupado, surpreso.

- Ele viu que meu útero tinha uma... uma má formação. Um útero malformado não é capaz de sustentar uma criança, Tom. Não é capaz de sustentar nem a si mesmo. Fiz uma pausa para que a informação processasse na cabeça dele. Eu falava seriamente, mas por dentro, uma enorme vontade de chorar me consumia. Ah, quem dera eu ainda dispusesse do meu senso de humor naquela hora!

- Eles tiveram que... retirar o meu útero, com feto e tudo o mais. – desabafei, explodi, chorei – Eu, eu não vou ser mãe aos 16 anos,Tom. Eu não vou ser mãe nunca.

Chorei. Chorei muito. Precisava desabafar aquela dor. Pelo menos aliviaria um pouco, tiraria o peso das minhas costas, eu dividiria meu sofrimento com alguém. Tom ficou petrificado. Eu esperava que ele ficasse petrificado, sim, mas não do jeito que ele ficou. Então eu vi uma lágrima descer pelo canto do olho dele. Tom? Chorando? Aquilo era novidade para mim.

- Ei, o que há? – perguntei, segurando a mão dele.

- Como assim o que há? Mamma, era o meu filho que estava aí! – apontou para a minha barriga – E olhe para você, enfaixada, operada, e... E sem a possibilidade de ter filhos! Isso foi culpa minha, Mamma. Eu me sinto mal por isso.

- Espere aí, se sente mal? Por quê?

- Porque... Eu não sei como dizer isso mas, eu me apeguei a você, Mamma. Isso nunca me aconteceu antes. Todas as garotas com quem eu já estive foram casos. Casos de uma noite, como diz o Bill. Pensei que fosse o mesmo com você, mas não foi. Você não era igual a nenhuma das outras, Mamma, você não caiu aos meus pés, era como se você estivesse no comando de tudo. – falava Tom, com a voz engrolada, já que ele ainda estava chorando.

- Engraçado... Pensei exatamente o mesmo de você, Tom. Na verdade, não nos levei a sério. – comentei, um tanto nervosa. O que exatamente ele queria dizer?

- Depois teve esse problema da sua gravidez. Pela primeira vez, eu me senti culpado, responsável por isso ter acontecido com você. Logo com você, que eu tinha me apegado. E agora, você me diz que não vai poder ter filhos nunca...

- Pára, Tom. Por favor. Já está sendo bastante ruim eu estar triste aqui, eu preciso de alguém forte... Porque eu não sei se consigo agüentar tudo isso sozinha. – falei, soluçando. Era muito pra minha cabeça. Ele estava apegado a mim! E eu, a ele.

- Você não está sozinha, Mamma. Será que não percebeu? Eu gostei de ter me apegado a você, e vou ficar aqui, ao seu lado, Mamma. – disse Tom, apertando minha mão com mais força. E eu senti uma ponta de esperança... Ele estaria comigo, e isso me passou uma tranqüilidade que eu não sou capaz de descrever.

- Tom, você jura que não vai rir de mim se eu te disser uma coisa? – perguntei, olhando nos olhos dele. Eu não acreditava no que iria dizer, mas era algo que eu precisava desabafar, porque não fazia parte de mim, da pessoa que eu tinha sido até aquele momento.

- Claro que juro, Mamma.

- Err, eu nunca me apaixonei na minha vida, então eu não sei o que é isso. Mas eu acho que sinto alguma coisa a mais por você, uma segurança estranha. Eu gosto de estar com você, Tom. – falei, com o máximo de coragem que havia em mim. Eu não estava me reconhecendo. Onde estavam minhas ironias? Meus joguinhos imbecis?

- Mamma, eu nunca me apaixonei também, mas eu gosto de estar com você. Muito. E eu não quero me separar de você. Eu arruinei sua vida, agora vou te ajudar a reconstruí-la. – ele respondeu, e, pela primeira vez, eu sorri.

Porque, depois de tanta tristeza e angústia, agora eu via um motivo para continuar.


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Notas finais do capítulo

~* F i m *~



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