Carnival Arc escrita por Senhorita Mizuki


Capítulo 2
Dream On


Notas iniciais do capítulo

Título: Dream On
Autora: Senhorita Mizuki
Categoria: Slash (malexmale)
Gênero: Drama
Classificação: PG-13
Personagens: Draco Malfoy e Harry Potter

Sumário: Não há saída, não há seu destino, culpe seu sangue. Continue sonhando...

Disclaimer: Harry Potter e personagens aqui representados não me pertencem, mas sim a autora J. e a Warner Bros. Foi escrito de fã para fã, sem fins lucrativos.



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Dream On

As your bony fingers close around me
Long and spindly
Death becomes me
Heaven can you see what I see

Hey you pale and sickly child
You're death and living reconciled
Been walking home a crooked mile

Ele perambula pelas ruas de Londres como um fantasma, contendo apenas um brilho fraco do garoto que fora um dia. As ruas estão agitadas, iluminadas e animadas. É noite de Halloween e os trouxas estão celebrando, fantasiados de seres fantásticos e que em algum momento da história puseram-lhes medo e terror. Alguns se vestiam de bruxos, ou uma forma exagerada de retratá-los. Se eles soubessem...

Suas próprias vestes estão longe de serem uma fantasia, ainda assim ele passa despercebido, tomado como mais um dos celebrantes da festa. Lembra da última vez que perambulara por uma celebração assim, na sua mente ela parecia muito distante, mas ainda fresca nas suas lembranças. Daria tudo para poder voltar àquela época, onde sua adolescência estava segura daquela guerra, e ele poderia nunca ter respondido a carta de seu pai. Ele poderia ter tomado um rumo diferente do planejado.

Dessa vez vestia uma capa negra e longa, um pouco suja, o capuz cobria-lhe os cabelos loiro-platinados e parte de seu rosto mais pálido que nunca. Uma máscara branca escondia metade de sua face, deixando a mostra os lábios que haviam perdido um pouco de sua cor natural, um rosado que se destacava da pele clara.

O medo regia sua vida agora, falhara miseravelmente, colocando em risco a vida das pessoas que mais amava. Fizera pior, envergonhando seu nome, os Malfoy, com sua incompetência imperdoável. Hesitara em sua última chance e deixara que outro fizesse a tarefa que lhe fora confiada pessoalmente pelo Lorde das Trevas. Havia sentido aquela onda de satisfação imensa por tal responsabilidade, era apenas um garoto, muitos dariam tudo para ter aquela honra. Quanta fama teria e em que patamar estaria agora aos olhos do Lorde, como seu pai ficaria orgulhoso de seu filho?

Seu filho que desde que entrara em Hogwarts só o havia decepcionado e envergonhado, sendo ofuscado pela luz de Potter, perdendo suas chances no quadribol, sendo ultrapassado por uma sangue-ruim nas notas. Sendo trocado por um Weasley no seu primeiro dia de escola.

E estava vivo agora graças à interferência de Snape, que clamara Draco como seu servo. O Lorde rira, dizendo que não havia castigo pior para um orgulhoso Malfoy que a servidão. Além de estar preso a uma dívida de vida, não podia ao menos morrer com a honra devida. A voz do velho diretor ainda estava em sua cabeça, ecoando com suas promessas e fala calma. Nunca duvidou de que cumpriria o que lhe dissera, sendo o grifinório que sempre se mostrara ser. Mas quando os Comensais entraram na Torre era tarde demais, e o rosto decepcionado de seu pai fora a coisa mais importante no momento. E ainda assim havia falhado.

Instintivamente segurou seu braço esquerdo coberto, onde a marca ainda estava fresca em sua pele. Era como carregar uma maldição, ainda doía como uma sessão prolongada de crucios. Sua mãe chorara quando vira o desenho tomar forma na pele de alabastro de seu filho, gritara tanto que sua tia Bellatrix fora obrigada a estuporá-la, porque estava irritando o Lorde das Trevas.

Passou as unhas distraidamente por cima do tecido da capa, coçando seu braço incômodo. Encostado a um muro, olhava para os lados, seu nervosismo crescendo a cada minuto. Agora ele vivia ansioso, com seus sentidos em alerta. Cada barulho fazendo-o se sobressaltar.

There's no time for hesitating
Pain is ready, pain is waiting
Primed to do it's educating

Unwanted, uninvited kin
It creeps beneath your crawling skin
It lives without it lives within you

Snape havia-o mandado ficar ali, esperando. Não sabia por que e nem se atrevia a questionar. Era seu servo, não mais seu aluno de Poções e DCAT. Alguma coisa muito importante iria acontecer, mas não fora permitido a Draco saber o que era.

Observou um grupo de crianças fantasiadas e barulhentas passarem, carregando sacolas cheias de balas e chocolate. Em Hogwarts, se a escola ainda estivesse aberta, deveria haver um banquete especial, mesas forradas de doces, a maioria feitas de abóboras. Draco poderia então se entupir de açúcar, roubar e confiscar os quitutes dos primeiro-anistas. Os fantasmas cantariam músicas fúnebres e sobrevoariam o salão.

As crianças trouxas se dirigiram a uma casa de subúrbio, tocando a campainha e rindo de antecipação. Quando a porta abriu, elas gritaram a célebre frase: "doces ou travessuras?". E então abririam suas sacolas para receberem mais doces. Draco lembrou-se de quando fugira escondido de casa, obrigando Vincent e Gregory a segui-lo. Alcançara a cidade trouxa mais próxima à mansão, vestindo-se normalmente, não sabiam feitiços de transformação na época.

No momento em que voltara para casa, com os bolsos carregados de doces trouxas, seu pai já o esperava a porta. Olhara-o fixamente, e como ensinado Draco não desviou seu olhar. Então fizera uma careta e o puxara para dentro da casa pela orelha, como se soubesse exatamente onde estava. E tivera certeza quando arrancou os doces das suas vestes.

Lembrou de que apanhara naquele dia, e Draco nunca havia visto seu pai levantar sequer um dedo contra si. Sua mãe não conseguira segurá-lo, dizendo inutilmente que era ainda uma criança e não sabia o que havia feito. Errado. Sabia muito bem o que havia feito. Sabia que havia agido como uma criança trouxa, que era uma blasfêmia. Mas então estava acostumado a ser perdoado e mimado. Mas aquilo seu pai não pôde perdoar.

Nos dias seguintes sob a ameaça da palmatória, Lucius Malfoy ensinara a seu único filho o quanto trouxas e sangue-ruins eram seus inimigos. O quanto eles haviam sofrido nas mãos da Igreja e seus inquisidores, criando histórias fantasiosas sobre seu tipo. Enfiou-lhe na cabeça que misturar-se a sangue-ruins só haveria de acabar com as antigas famílias bruxas e dissolver os poderes em seus sangues.

Draco cresceu odiando-os. Mas mesmo assim, como toda criança bruxa, também cresceu ouvindo sobre o garoto mestiço que derrotara o Lorde das Trevas. Enquanto ouvia sua mãe falar sobre, se encontrava fascinado. Era poderoso ainda bebê, e tinha a mesma idade que ele. Jurou a si mesmo que seria amigo do famoso Harry Potter em seu primeiro dia de aula em Hogwarts.

E isso tudo era sua falta, daquele maldito Potter, o garoto da profecia. O mesmo que o havia repudiado e que Draco tentara por cinco anos ter sua atenção. Que havia amargado de inveja e ultraje.

Nunca amaldiçoara tanto ter nascido um Malfoy como naquele momento. A guerra já acontecia, e Draco estava no meio dela, fazendo o mesmo que seu pai, que jazia apodrecendo em uma cela de Azkaban. Talvez seu destino também fosse esse, apodrecer em uma cela parecida, vendo sua mãe verter lágrimas e mais lágrimas de desespero vendo seus dois amores perecerem pela causa de um homem insano.

Draco passou os dedos magros e trêmulos pela franja loira, então se abraçou, sentindo o ar frio da noite. Próximo dali haviam pubs cheios, vozes altas se sobressaíam assim como um rock que falava de mortes e noites em cemitérios, algo que identificou ser dos anos oitenta e de estilo gótico. Mal sabiam os trouxas de que alguns cantores dessas bandas eram bruxos. 2

Sentiu o odor de álcool, de cerveja dos trouxas. Passou a língua pelos lábios, sentindo subitamente sede. Uma bebida lhe ajudaria a esquentar, e estava há tanto tempo ali sem acontecer nada.

Feel the fever coming
You're shaking and twitching
You can scratch all over
But that won't stop you itching

Blame it on your karmic curse
Oh shame upon the universe
It knows its lines
It's well rehearsed

Aproximou-se de um dos pubs, a música estava alta, as mulheres usavam fantasias mínimas, com minissaias e decotes que deixavam nada a imaginação. Os homens se esfregavam nelas como cachorros no cio. Um segurança parou Draco e pediu uma identificação. Tirando um pedaço de papel e encantando-o em uma, entregou ao homem, que olhou incrédulo para o garoto a sua frente. Draco ergueu uma sobrancelha e o encarou insolente, o homem grunhiu, mas lhe devolveu a identificação e deixou-o passar.

Com dificuldade passou pelas pessoas e alcançou o bar, pedindo uma garrafa de cerveja. Enquanto esperava, sentou-se no banco alto e retirou o capuz, revelando fios finos e quase brancos. Uma garota vestida de um traje provocante e que Draco imaginou que fosse fantasia de alguma vampira ninfomaníaca, o notou e pôs-se do seu lado. Soltou uma risada e o loiro virou a cara e chamou alguém.

- Veja John, temos um anjinho aqui. – ela encostou seu braço em Draco, que apenas olhou de esguelha.

Pelo canto dos olhos, viu um homem que devia ser seu par, pois estava vestido como um vampiro e combinando com sua roupa, se aproximar e sentar-se do seu outro lado. Ele pegou um pedaço de seu cabelo, sentindo a textura. A cerveja de Draco veio e ele deu um belo gole da bebida pelo gargalo. Fez uma careta, era bem diferente da bebida bruxa, mas não tão forte quanto firewhisky.

- O garoto acha que é crescido o bastante pra beber? – o homem zombou, recebendo um olhar irritado.

A garota pareceu achar aquilo divertido. Passou os dedos de unhas compridas e pintadas pelos fios sedosos, prendendo-os atrás da sua orelha. Trocando um olhar significativo com o seu companheiro, ela passou a mão por dentro da sua capa.

- Não gostaria de se divertir conosco, anjo?

Draco olhou para a mão da mulher, que pousava em seu peito. Ficou ainda mais irritado com a audácia daquela trouxa. Com um olhar frio, agarrou o pulso dela e a afastou, a mulher deu um gritinho. O homem do seu outro lado fechou ligeiramente a cara e agarrou o antebraço magro do garoto por sobre a capa. Draco cerrou ligeiramente os olhos cinza com a violência do ato.

- Relaxa menino. – o homem sussurrou contra o seu ouvido – Só queremos um pouco de diversão. Não vai lhe fazer mal, vai? – e deu um sorriso malicioso.

Mas Draco já tinha sua outra mão no bolso, segurando sua varinha, pronto para atacar ali mesmo, no meio de toda aquela gente. Poderia dizer a Snape que apenas resolvera adiantar o serviço. Quem se importava?

- Tire suas mãos nojentas de mim, seu trouxa imundo! – vociferou entredentes.

Mas antes que pudesse tirar a varinha e atingir o homem com tantos crucios que não poderia andar mesmo depois de dias, Draco gelou. Identificou a ponta de outra varinha encostando-se a sua nuca. A voz que soou bem próximo a ele o fez estremecer.

- Nem pense nisso. – rosnou baixo apenas para Draco ouvir – Deixe sua varinha aí mesmo onde se encontra e venha comigo. – terminou firme.

E o loiro permaneceu assim, com suas mãos ainda na varinha, mas sem se atrever a tirá-la para atacar. A pessoa retirou a varinha e segurou firme o antebraço de Draco, como o homem havia feito. Então pode ver Harry Potter, segurando sua varinha como se ela não fosse uma arma mortal e sorrindo para os estranhos trouxas. Aquele maldito sorriso.

- Perdoem meu amigo, ele já estava um pouco alto antes mesmo de entrar aqui.

A mulher e seu companheiro se entreolham meio incrédulos, mas então os dois garotos estavam fantasiados de maneira bastante parecida. Com uma cara mal humorada a 'vampira' murmurou um "não se preocupe" para Potter, puxando seu acompanhante para outro canto do pub.

Antes que Draco pudesse se desvencilhar, Potter o puxou através do pub, passando pelos corpos apertados. Sentiu-se um pouco tonto e febril. Em pouco tempo foi atirado para fora daquele lugar, cambaleou pelo chão asfaltado até apoiar-se a uma parede suja. Ouviu o som de uma porta de metal se fechando atrás de si. Voltou a colocar a mão no bolso da sua capa, segurando sua varinha com força.

Voltou-se para Potter, que se encontrava parado a frente da porta, e apontou sua varinha para ele. O grifinório também tinha sua varinha na mão, mas não a apontava. Tinha a aparência controlada, que fez inveja a de Draco, que percebeu com desgosto que sua mão tremia.

Draco cerrou seus olhos sentindo certa tontura.

- Que tipo de feitiço lançou em mim, Potter?

- Nenhum. – sua voz soou próxima, e Draco abriu os olhos, recuando um passo – Para alguém que despreza e trata trouxas como seu inimigo até que você foi bem idiota, Malfoy. – continuou sério.

- Cale a boca! – ofegou – Do que está falando?

- Daquilo que você tomou no bar. – disse sarcástico, apontando a cabeça para a porta – Tenho certeza que queriam se divertir com você. Mas com certeza seria o único a não se divertir, Malfoy. – ergueu uma das sobrancelhas, ainda se aproximando devagar.

- Merda. – sibilou, recuando mais e encostando as costas a parede áspera.

- Não deve ter sido muito, tomou apenas um gole, não? – perguntou solícito, erguendo a mão e se aproximando demais.

- Não chega perto! – alertou Draco, frenético, dando passos para o lado desengonçado.

Apontou novamente sua varinha para Potter, que ainda não se colocava em guarda, e o estava irritando. O moreno revirou os olhos para cima e suspirou, era como se não tivesse a mínima vontade de brigar. Azar o dele – pensou Draco, com um feitiço já na ponta da língua.

- Cruci...

- Protego!

O sonserino piscou incrédulo, o maldito havia aprendido a ler mentes? Quando voltou a tentar o feitiço, que foi rechaçado novamente pelo escudo, percebeu que ele próprio estava um pouco mais lento. Draco se movimentou contra a parede, soltando uma série de crucios enquanto se dirigia para a saída daquele beco. Todos defendidos pelo grande Menino-Que-Sobreviveu, amargou.

Continuou assim até se ver encurralado por Potter, estava a apenas três passos na sua frente. Draco ameaçou ir para a direita, ele acompanhou alerta, tentou a esquerda e idem. Não ia ficar ali com o bastardo brincando de gato e rato, ergueu sua varinha. Mas quando viu o grifinório fazer o mesmo, elevando acima da cabeça e pronto pra dizer um feitiço, Draco não soube o que o acometeu.

Em reflexo ele cerrou os olhos, ergueu os ombros e elevou as mãos de medo. Um arrepio transpassou sua espinha, lembrando do feitiço terrível. Quando ele não veio, Draco abriu um dos olhos cinza, espiando por entre os braços. Potter havia baixado a varinha e olhava-o sem entender.

Uma súbita vontade de gargalhar tomou conta do loiro, que relaxou os braços para cobrir o rosto com as mãos. As risadas se misturaram a um choro desesperado. Draco estava perdido de qualquer forma, ao menos daquela maneira poderia acabar rápido. Aquilo tudo podia se encerrar em um piscar de olhos.

Levou seus dedos magros até os botões da frente do seu robe, abrindo trêmulo ele e a camisa. Sob os olhares confusos de Potter, puxou o tecido e mostrou o peito nu e pálido, oferecendo a ele.

- Vamos, Potter. Tenha sua vingança pelos anos de Hogwarts. Faça aquilo de novo. – as palavras saíam raivosas e rosnadas entre seus dentes – Mas me acerte decentemente dessa vez, e me deixe sangrar até acabar!

- Malfoy, do que está falando? – pareceu um pouco aterrorizado com sua atitude.

- Não se faça de idiota! – gritou – Ia me matar naquele dia se não fosse por Snape!

Com a mão em formato de garra, acertou o rosto de Potter, mas ele o segurou. Draco blasfemou mentalmente, que espécie de efeito aquela droga trouxa tinha? O moreno manteve seu pulso firme, pedindo sua atenção. Gaguejava, parecendo novamente aquele garoto desengonçado que caíra de pára-quedas em Hogwarts.

- Eu não queria fazer nada daquilo! – elevou a voz quando o loiro fez um som incrédulo – Não sabia qual era o efeito, eu apenas o decorei de uma anotação de livro!

- Conveniente achar um feitiço que não esteja na lista das imperdoáveis, não é mesmo? – zombou, tentando se soltar.

- Porque nunca ouve, Malfoy? – disse em tom de cansaço, mais para si mesmo.

Draco abriu a boca para continuar, mas então o outro garoto prensou seus ombros contra a parede e aproximou perigosamente seu rosto. Quando menos esperava, Potter cobriu sua boca com a sua. Depois de ficar parado em estado de choque, tentou empurrar os ombros do moreno, mas estava fraco demais e o outro foi insistente.

Soltou um gemido de frustração e apertou os olhos, sentindo-o invadir sua boca. Não era doce como aquele outro beijo, era rude, desajeitado e persistente. Ainda assim algo que só poderia vir de Potter, e que fez se odiar por fazê-lo sentir daquele jeito.

It sucked you in, it dragged you down
To where there is no hallowed ground
Where holiness is never found

Paying debt to karma
You party for a living
What you take won't kill you
But careful what you're giving

Quando livrou seus lábios, Potter envolveu seus ombros estreitos e enterrou o rosto no seu pescoço. Draco permaneceu estático, sem ter onde por as mãos, olhando confuso para o grifinório preso a ele.

- Maldito seja por mostrar esse seu lado, Malfoy. – sua voz saiu abafada contra seu pescoço.

- Que lado? – Draco sussurrou e largou os braços, exausto.

- Tão frágil. Diferente do sonserino detestável que tem de andar pela escola se achando melhor que tudo e todos. – explicou, afastando a cabeça o suficiente para encará-lo – Me deixou maluco achando que havia brincado comigo naquele dia de carnaval em Hogsmeade. – viu o loiro arregalar os olhos, mas continuou – O sexto ano inteiro fiquei na dúvida sobre quem você realmente era. Aquele garoto fantasiado no vilarejo ou o que se gabava com os colegas naquele compartimento do trem.

O sonserino esfregou a têmpora e sentiu outra vontade de gargalhar. Ele sabia todo aquele tempo. Provavelmente passara boas semanas não querendo acreditar, achando que Draco estaria rindo de sua cara, enquanto o mesmo preferira guardar em segredo aquele seu escape de identidade.

- E isso faz alguma diferença? – desdenhou.

- Faz. – respondeu firme, fazendo Draco olhá-lo meio amargo – Não precisava ter aceitado aquela missão, sei que não queria cumpri-la.

- Era meu dever, Potter. – rosnou, sentindo lágrimas de frustração querendo voltar – Não sabe o que é ser um Malfoy? Existem regras a serem seguidas, travas familiares. Era esperado que eu tomasse o lugar do meu pai, que fizesse voltar as graças do Lorde. – soltou uma risada sarcástica – Não tinha saída ou muita escolha, Potter. Seria muita ingenuidade acreditar o contrário. – disse friamente.

- Você sabe que tinha escolha! Snape a deu para você, Dumbledore a deu antes de... – cortou a si mesmo.

O loiro arregalou os olhos, mas então se lembrou de que Potter estava sempre espionando a vida alheia com aquela sua capa de invisibilidade tão querida do seu pai amante de trouxas. Não ficaria surpreso ao saber como obteve aquelas informações.

- Queria que eu escolhesse rejeitar meu pai, Potter? Meu próprio sangue?

- Quer saber o que é não ter escolha, Malfoy? – o grifinório disse nervoso e afastou sua franja, mostrando a famosa cicatriz em forma de raio – Em um dia como esse minha escolha foi tirada de mim. Com apenas um ano fui marcado como um inimigo do seu Lorde e única salvação desse mundo que você tanto adora. E não posso mudar esse fato até concluir certa profecia!

Draco não conseguiu encarar por muito tempo e desviou seu olhar.

- E eu estou lhe dando outra escolha. – suspirou e ajeitou os ombros – Você pode rejeitar as escolhas que seu pai lhe fez, se elas não são o que quer. Você não precisa seguir os passos de Lucius Malfoy. Eu vim aqui apenas para lhe dar essa alternativa, Draco.

Virou o rosto pontudo ao ouvir pela primeira vez seu nome dito por ele, e então o viu estender a mão para si. Franziu o cenho, encarando-o. Potter deu um sorriso agradável, o mesmo que ele ainda se pegava pensando em algumas noites, vendo o teto úmido e sujo daquele quarto em Spinner's End, não conseguindo pregar o olho e dormir.

Draco olhou por um bom tempo para a mão estendida. Estava sonhando certo? Aquela era a mão que desejara apertar em seu primeiro dia de escola, aquele era o garoto que gostaria que sorrisse mais uma vez para si, como havia feito naquela noite de carnaval. Tinha de ser um sonho, porque, pela primeira vez, Harry Potter sorria-lhe calorosamente, oferecia sua mão e tinha um olhar de clara expectativa nos olhos verdes.

Mas um fisgar de dor o fez acordar, e apertou o braço direito em reflexo. Estremeceu de medo. Era o conhecido chamado.

Não podia, era tarde demais novamente. Não podia se dar ao luxo de sonhar com como sua vida poderia ter sido, se houvesse feito outra escolha. Se Potter houvesse lhe oferecido aquela mão e aquela promessa antes. Com um sorriso amargo e sem conter uma lágrima solitária, encarou-o com seus olhos cinza e vazios.

- Infelizmente, eu já fiz minha escolha, Potter.

E puxou a capa e a manga do robe para cima, revelando seu braço magro. Ao ver a marca nítida contra a pele, uma expressão de dor e desapontamento passou pelo rosto de Potter.

- Droga, Malfoy... – murmurou e baixou seu braço.

Draco então tirou a máscara do bolso e voltou a cobrir seu rosto pálido. Sem delongas, desaparatou, sumindo na sua frente e sem deixar vestígios. Deixando aquele lugar como mais um fragmento de sonho que ficaria rodando e rodando em sua cabeça, enquanto tentaria dormir em algum canto desconfortável e úmido.

can you feel a little love?
dream on dream on

Partindo para a sua realidade, seu destino. Pronto para a guerra, e mais do que nunca pronto para assumir as conseqüências de ser o filho de Lucius Malfoy.

Finite Incantatum


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Notas finais do capítulo

18/11/2006--------------------------------------------------------------------------------1 - Música de Depeche Mode2 - Vai dizer que alguns não tinham jeito?N.A.: Seqüência curta, non?Um pouco ooc de novo talvez, mas não resisto a escrever um Draco mais frágil.