Fascination escrita por lady riot


Capítulo 4
É guerra que você quer?




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Eu sabia que estava sonhando, mas as imagens eram tão reais que quase me deixavam em dúvida.

Bella estava lá. Ela andava daquele jeito dela, muito rápido, mas sem correr, e por mais que eu me esforçasse, que eu me esticasse, nunca conseguia alcança-la. Eu sentia os meus músculos queimando, o sangue pulsando por minhas pernas, não podia parar de correr, eu precisava dela.

- Bella! Espera! – eu gritava impaciente, mas o ar era denso e minhas palavras morriam tão logo saiam de minha boca – Por favor! Me espera!

Ela não esperava, não diminuía o passo seguindo pelo enorme corredor escuro. Eu já estava prestes a cair, sem ar, sem força, meus joelhos fraquejando quando ela finalmente parou.

- Bella!

Bella se voltou para mim, com aquela expressão de ódio, inconformada, como da primeira vez que me olhou. Eu deveria estar completamente apavorado, mas ainda tinha uma leve noção de que aquilo era um sonho e não pude de achar aquele ódio tão lindo quanto ela era. Seu corpo frágil com aquela postura hostil só me faziam pensar em um filhote de gato irritado. Só então percebi que continuava correndo, eu não havia parado nem por um instante, estava prestes a toca-la quando cai.

Um enorme precipício tão negro que eu não enxergava seu fundo, na verdade não parecia haver um fundo, eu só caia, caia, caia...

- Bella! – chamei mais uma vez, gritando a plenos pulmões.

E realmente cai. Não sei o que diabos eu fiz, só sei que quando minhas costas bateram em meu colchão eu acordei. Será que eu estava pulando durante o sono? Sentei na cama com a respiração ofegante com uma sensação estranha na garganta, como se eu realmente houvesse gritado o nome dela.

Nunca falei dormindo, eu saberia, tive companheiros de quarto quase a vida inteira, e se eu falasse, nunca veria o fim das brincadeiras e gozações. Tenho certeza disso, eu mesmo muitas vezes participei das brincadeiras e gozações. Na verdade era eu quem normalmente começava...

Pensei novamente no rosto irado de Bella. Sonho esquisito. Eu estava começando a passar da curiosidade pra obsessão... E nem me importo.

A volta para a escola foi uma enorme festa de boas vindas para um herói de guerra. Completamente absurdos, todos me enlouqueceram durante a semana inteira por eu ter "salvo" Bella da droga da van do burro do Tyler, que por sinal agora agia como uma mosca pegajosa, me seguindo por toda a escola.

Insisti milhares de vezes que a única coisa que ele poderia fazer pra compensar sua idiotice era ficar bem longe de mim, mas ele achou isso engraçado... Tem algo de engraçado no meu desprezo por ele? Bom... Deveria ter para mim, não para ele!

A mesa do almoço agora estava sempre lotada, garotas que eu nunca havia nem reparado que estudavam lá me olhavam aos suspiros, como se eu estivesse usando uma armadura prateada, montado em um cavalo branco.

Nem uma pessoa me perguntou como Bella ficou, ninguém parecia se importar. Me perguntei como não notaram que apesar de tudo aquilo, ela saiu andando como se nada tivesse acontecido, como ninguém reparou que a lateral da van tinha duas marcas no formato de mãos. E só então percebi que eu era o único que notava os Cullen, que prestava atenção.

Claro, Mike as vezes demonstrava algum interesse, especialmente em Bella, e me irritava profundamente o jeito que ele olhava, falava dela, eu conseguia visualizar as fantasias imbecis mesmo quando ele não dizia nada. Mas mesmo ele, assim como todos os outros, os evitavam.

Bella nunca teve uma multidão em volta dela, ninguém lhe perguntou nada na verdade e ela era a vítima, poderia ter morrido.

Os Cullen se sentaram em sua mesa habitual e nenhum deles, especialmente Bella voltou o olhar para mim. Era até engraçado o jeito dela, quase de nariz empinado, fazendo tanta questão de não me olhar que trombou com um garoto de cabelos pretos, meio nerd, Eric, acho. Ela mal pareceu notar enquanto ele quase se esborrachou no chão.

Esperei que essa atitude mudasse na aula, mas não. Ela se sentou o mais distante que pode de mim, e agiu o tempo todo como se eu não estivesse lá.

Eu estava doente para falar com ela, especialmente depois do jeito que ela saiu correndo do hospital. Até queria ter continuado tão furioso quanto estava durante a nossa discussão, mas tudo era estranho demais, envolvente demais pra eu simplesmente me deixar afastar.

No primeiro dia após o acidente eu mal podia esperar para falar com ela. A encontrei já sentada na nossa carteira, sua expressão em branco, olhando para frente.

- Oi, Bella! – disse com meu melhor sorriso, minha forma de acenar a bandeira branca de paz.

Ela mal me olhou, fez um aceno mínimo com a mão e voltou a fazer nada.

- Não vai falar comigo? – perguntei me sentando, ainda sorrindo, olhando para ela.

A resposta foi apenas um olhar rápido, de esguelha e um encolher de ombros.

Sei que vou parecer estupidamente convencido, mas juro por Deus que se eu tivesse olhado daquele jeito pra Lauren, ela teria se derretido inteira. Por que ela me odiava tanto assim?

Aí eu entendi. Demorou, mas finalmente percebi. O problema foi que ela me salvou, mas não deveria, talvez nem quisesse. Torci o nariz com esse pensamento. Será mesmo que ela queria que eu tivesse morrido?

- Não vai falar, mesmo? – ela nem esboçou reação, me aproximei perigosamente do rosto dela, o perigo todo para mim, claro. Estava tão perto que senti de novo o cheiro de morango do cabelo dela – Aposto que posso fazer você falar...

Os ombros dela ficaram tensos, e ela virou o rosto devagar, estreitando os olhos na minha direção. Ainda assim não disse nada. Quando o professor entrou, ela se voltou para frente e continuou com a expressão em branco, como se estivesse distraída. Não tirei os olhos dela nem mesmo por um instante e vi todas as vezes que os nós dos dedos dela ficaram ainda mais brancos com a força que ela segurava o tampo da mesa, sua pele translúcida parecia pronta para rasgar de tão esticada, e não pude deixar de sorrir todas as vezes.

A aula chegava ao fim e eu sabia que ela já estava pronta pra sair, então, antes que ela pudesse levantar, me inclinei em sua direção.

- Eu vou fazer você falar. – murmurei, mas foi tão baixo e rápido que acabei ficando em dúvida se ela conseguira ouvir, mas quando ela se levantou, bufando irritada não tive mais dúvida alguma.

Bella passou como um furacão, pisando duro, chegou a derrubar todos os livros de Lauren no chão, que exclamou indignada, mas nem sequer recebeu um olhar como pedido de desculpas. Era engraçado como ela poderia ser tão desastrada enquanto caminhava com tanta desenvoltura.

Encontrei Mike na porta e ele olhava espantado na direção que Bella tinha ido.

- Uau!

- É. – foi o que consegui articular.

- Sua culpa?

- Só sei que agora entendo porque furacões têm nome de mulher.

- Furacão Isabella... Sexy! Está aí um desastre natural que não me faria fugir. – ele esticou o corpo tentando espiar mais uma vez as costas de Bella.

- Fala mais alto! O irmão monstruoso dela está atrás de você.

- Sério? – Mike perguntou num fio de voz, quando conseguiu descongelar.

- Não.

Agora eu era um homem numa missão. Não só faria ela falar comigo de novo, como ainda teria minha explicação pra toda aquela loucura.

Eu estava tão empolgado que demorei pra perceber que não tinha plano algum e que só estava agindo de improviso.

Girei os olhos pra mim mesmo. Ok, isso foi muito imbecil da minha parte.

Decidi que seria mais fácil agir devagar, no fundo eu sabia que era apenas uma desculpa para me dar mais tempo para pensar, mas me deu novo ânimo.

No decorrer da semana não dei tanta voz ao meu lado obsessivo, só o bastante para deixar Bella irritada. Se eu não conseguia dormir direito sonhando todas as noites com ela, ela também tinha que sofrer um pouquinho. Não tirava os olhos dela durante nossas aulas de biologia, sabia que isso a deixava desconfortável e não era nada mal. Os olhos dela pareciam ficar mais escuros a cada dia que passava.

- E hoje? Fala comigo? – murmurava em algum momento da aula.

O rosto dela se contorcia, mas ela nunca respondia.

Lauren estava extasiada por nossa aparente distância. Se eu agora era considerado o Príncipe Encantado de Forks High, que corria para salvar a donzela em perigo, Lauren se auto-intitulou minha princesa, e realmente agia como a maldita bruxa toda vez que me via lançar um olhar na direção de Bella no refeitório.

Chegou ao absurdo quando ela, vendo que Bella olhou de volta por um instante, colou os lábios nos meus. Sinceramente, ela era linda e eu adoraria beija-la se ela não fosse tão chata, mas aquilo foi ridículo, não a empurrei porque ela se afastou sozinha, dando risadinhas convencidas para as amigas.

Se Bella não tivesse feito aquela cara, eu teria ficado irritado.

O que eu não sabia era que os motivos de Lauren iam além, não era o bastante agir como minha namorada, tentar enciumar Bella e me enlouquecer com o falatório interminável, a escola teria um baile de primavera onde as garotas convidariam os garotos, e ela queria demonstrar a todos que estivessem interessados que eu era propriedade dela. Menos mal, enquanto ela estivesse entretida com isso, me daria folga.

Mike me ligou numa tarde, umas duas semanas antes do dia, para me perguntar se poderia convidar Bella.

- Mas não é um baile onde as garotas convidam os garotos? – perguntei enquanto me jogava no sofá, ligando a tv no canal de esportes.

- É, mas... Sei lá, os Cullen nunca convidam ninguém, então...

- E você está me pedindo permissão por que...?

- Ah, cara! Não tenta disfarçar comigo, eu já vi as olhadas que você lança pra Cullen no refeitório!

- Mike, eu não posso mais olhar para os lados?

- Se dependesse de Lauren, não. – ai. Nessa ele me pegou.

- Convide quem você quiser, eu provavelmente nem vou!

- Como não, meu?

- Sei lá... Bailes... Sei lá. Parece esforço demais por muito pouco! E também que ninguém me convidou.

- Mike gargalhou do outro lado da linha.

- O que?

- Espere só.

- Esperar pelo que?

- Você vai ver!

- Larga de ser idiota e fala logo.

- Ei, sabe o que é engraçado? Mesmo se você falasse do jeito que fala comigo com a Lauren, ela ainda acharia uma gracinha!

- Por que você não vai para o inferno?

- Porque não poderia te abandonar! Pensando melhor, dane-se a Isabella! Quer ir no baile comigo?

- Você vai ter que me disputar com o Tyler! No tapa. Igual as duas meninas que vocês são.

Ainda nos xingamos por alguns minutos até que eu desisti de responder e fiquei vendo a reprise de um jogo de futebol enquanto ele falava da viagem para a praia que estava planejando, quem iria, quem deixaria de ir, com quem que cada garota convidada estava ficando... Parecia uma menina me ligando para me contar das mais novas fofocas.

Será que a Bella aceitaria um convite dele? Larga de ser imbecil e pára de pensar nisso.

No dia seguinte encontrei Mike ainda no corredor com a pior cara que eu já havia visto, ainda pior do que quando parou de nevar e ele não pode organizar sua tão desejada batalha.

- O que foi?

Ele deu de ombros e meteu as mãos nos bolsos. E só então me lembrei e o não pude segurar o sorriso.

- Levou um fora?

E- la disse que vai estar fora da cidade! – ele respondeu mal humorado.

- Que resposta original!

- Cala a boca! Ela vai estar fora da cidade!

- Aposto que foi só porque foi você quem convidou.

- Você se acha tão...

Antes que ele pudesse completar com qualquer que fosse a palavra, uma garota morena de rosto comprido cheio de sardas se aproximou, parecendo extremamente nervosa.

- Oi, Edward! – ela estava prestes a hiperventilar. Esfregava tanto as mãos que fiquei esperando seus dedos darem um nó.

- Oi.

- Eu sei que você é novo aqui, mas acho que já sabe do baile e eu queria saber se alguém já te convidou, porque se ninguém te chamou ainda eu queria saber se você não está afim de ir comigo, eu sei que a gente nem se conhece direito nem nada, mas eu te acho super legal e sempre quis falar com você e... – eu já estava completamente tonto quando ela foi interrompida.

- CASEY! – Lauren gritou e a morena contorceu o rosto, se encolhendo – O que você pensa que está fazendo?

- L-Lauren? Eu... Bem... Estava convidando o Ed pro baile-

- Você esta completamente louca?

Como eu não queria ir nem com a Lauren, muito menos com a tal da Casey, sai andando, o que deixou Mike devastado, ele estava torcendo muito por uma "briga de gatas", como ele mesmo chamou.

- Eu não disse? – ele começou a falar com o peito estufado, orgulhoso de si mesmo.

- Disse o que?

- Que era só você esperar?

- Ah, cala a boca!

- Só se você concordar que eu estava certo!

- Só se você me contar do fora que levou da Bella!

Ele emburrou por um instante, voltando a enfiar as mãos nos bolsos. E então notou meu ato falho.

- Bella?

- O que tem ela?

- Bella? Eu quero dizer... Bella?

- Você teve um derrame? Repetir o nome dela várias vezes não vai me fazer entender qual é o seu mais novo problema mental.

- Por que você a chamou de Bella?

- Não é o nome dela?

- Não. O nome dela é Isabella. – agora ele decidiu prestar atenção no que eu falo, não é ótimo?

- Eu... sei que ela prefere... Bella. – tentei escolher as palavras.

- E como você sabe?

Girei os olhos, mas não pude responder porque outra garota correu na nossa direção, me convidando para o baile, uma ruiva dessa vez.

- Eu sei que a Lauren disse que vocês namoram, mas você não age como namorado dela! – ela já se defendia antes que eu dissesse qualquer coisa.

- A Lauren disse que a gente namora?

- Não namoram? – os olhos castanhos sem graça dela se acenderam, me fazendo soltar um suspiro meio cansado.

- Não.

- Então-

- Na verdade – eu a interrompi – eu vou estar fora da cidade!

Sorri para Mike que me fuzilou com o olhar. Fiquei o resto do tempo rindo dele, e ele só se acalmou quando finalmente uma garota o chamou para o baile, e ele disse que pensaria.

- Por que você está negando os convites de todo mundo? – ele me perguntou antes que eu entrasse na sala. E era uma ótima pergunta.

- Sabe que eu não sei. – ele riu com a resposta.

- É bonito você se guardar pra Lauren desse jeito.

- Olha! O Tyler está ali! Vá convida-lo pro baile!

- Eu não sou uma garota pra convidar o Tyler.

- Não é? – fiz uma cara de puro espanto e ele foi embora me xingando.

Na verdade eu ainda não sabia porque neguei os convites das duas garotas. Não tinha motivo nenhum para isso e até que ir ao baile não era uma idéia tão ruim.

Quando morava na Califórnia, nunca neguei nada para garota alguma, não namorava também, mas tinha uma bela fama de mulherengo. Agora estava desse jeito, amuado, sem dormir direito esperando uma única palavra de uma única garota. Uma que nem gostava de mim. E apesar de eu não ter dúvidas de que ela era deliciosamente gostosa, não tinha muita certeza se gostava dela também.

Passei o resto do dia me esquivando de todas as garotas que me olhavam sorrindo, mas quando fui para a aula de biologia, não tinha mais para onde correr. Sentei ao lado de Bella que ainda estava com aquela cara de paisagem e Lauren se sentou radiante na minha mesa.

- Oi, Ed! – Ed? Ela já começou errado.

- Oi. – respondi sem olhar.

- Fiquei sabendo que não aceitou nenhum convite das outras garotas para o baile!

- É porque acho que não vou.

- O que?

- Acho que não vou no baile – repeti pausadamente, como se falasse com uma criança. Uma criança bem burra.

- Mas... Achei que você estava se livrando delas para ir comigo!

- Por que? Por que somos namorados? – agora ela parou.

- Não somos? – encolheu os ombros, inclinando a cabeça levemente para o lado, de um jeito que ela achava que lhe dava um ar inocente.

- Lauren. Eu te pedi em namoro em algum instante?

- Não, mas... Eu sou a única garota com quem você anda e-

- Eu vi o que você fez com a tal Casey e entendi por que nenhuma outra menina chega perto de mim! – ok, eu menti só um pouquinho, várias meninas tentavam se aproximar quando ela não estava por perto.

- Desculpa? – ela repetiu a pose inocente.

- Isso é uma pergunta?

Não sei se era impressão minha, mas Bella estava mais próxima, o corpo inclinado na minha direção, como se não quisesse perder nenhuma palavra e estava... sorrindo? Era bem sutil, mas estava lá.

- Oh, Eddie... Me desculpe! – Lauren se abaixou um pouco, ficando mais próxima do meu rosto e o pseudo-sorriso de Bella sumiu – Isso não é motivo para não irmos juntos ao baile.

- Eu falava sério quando disse que acho que não vou.

- E por que não? – agora ela estava autoritária.

- Acho que vou estar fora da cidade. – respondi simplesmente e enquanto Lauren gesticulava e encarava o teto, inconformada, me deixei olhar Bella, lhe lançando um sorriso que fez seus ombros ficarem tensos.

- E com quem eu devo ir? – Lauren voltou a falar completamente transtornada.

- Por que não chama o Tyler?

- Mas você odeia o Tyler! – é, odeio mesmo. O que isso te diz da minha opinião sobre você?

- Que absurdo! – exclamei, me esforçando ao máximo para não rir – O professor chegou! Não se preocupe por que sozinha você, não vai! – sorri compreensivo e ela ainda tentou esboçar reação, mas o professor a fez voltar para seu lugar.

Suspirei de cansaço pela segunda vez naquele dia. Lauren me esgotou. Quando a aula começou, também resolvi começar minha observação diária da expressão de Bella, mas dessa vez, ela me encarava de volta. Os olhos escuros pareciam querer me ler por inteiro, curiosos, a ruga entre as sobrancelhas era visível, mas muito leve. Sustentei o olhar dela e assim ficamos, nos encarando sem dizer nada.

Ela parecia estar encarando um quebra-cabeças extremamente difícil, que a fazia se esforçar ao extremo para entende-lo. Seu olhar era intenso demais, eu por outro lado estava quase tremendo, mal podia acreditar que ela realmente estava me olhando depois de tanto tempo. Quantos dias? Perdi a conta.

Quando sorri, a confusão no olhar dela pareceu ainda maior. O que será que ela estava pensando? Ela finalmente abriu a boca, mas as palavras não foram dirigidas a mim.

- Srta. Cullen? – o professor a chamou para que ela respondesse alguma pergunta que eu não ouvi, na verdade nem lembrava que estava na sala de aula.

- O Ciclo de Krebs. – ela respondeu.

Se ela fosse um homem, eu teria batido nela. Como diabos ela ouviu a pergunta e sabia a resposta? Acho que meu queixo caiu, porque ela sorria enquanto se virava pra frente contra a vontade. Ainda fiquei olhando pra ela, mas consegui fechar a boca. Minha obsessão começava a dar frutos, o que não era nada saudável, mas me deixava mais animado de levar a vida naquela cidadezinha molhada. Apoiei o rosto numa das mãos, e continuei olhando pra ela, passei tempo demais fazendo isso e ainda ficava meio perdido. Que coisa de menina.

Bella quase se voltou algumas vezes, se preparando para falar, me fazendo prender a respiração, mas desistia.

- Edward. – ela disse ao mesmo tempo em que o sinal bateu, por um instante achei que tinha imaginado. Abri um enorme sorriso.

- Eu disse que faria você falar comigo!

- Na verdade, não estou falando com você.

Isso me fez torcer o nariz de leve.

- Então?

- O que?

- O que é tão importante para falar não-falando comigo?

- Eu, bem, na verdade eu queria pedir desculpas.

Agora as coisas estavam ficando ainda mais interessantes.

- Pelo que? – resolvi dar corda.

- Eu tenho sido muito mal educada com você. – ela disse sem graça – Desculpe. Mas só faço isso pelo seu bem.

- Pelo meu bem. – repeti, girando os olhos.

- Nós não podemos ser amigos. Desculpe.

- Não seria muito mais fácil você parar de se desculpar?

- Mas falo sério, é muito melhor assim. Confie em mim. – eu já tinha ouvido aquilo vezes demais.

- Confiar... Cansei de ser o único que se compromete aqui, Bella... – assanhei meu cabelo, me sentindo profundamente cansado. A falta de uma boa noite de sono desde o dia do acidente não colaborava em nada – Sei que se arrependeu, mas poxa vida!

- Me arrependi? Do que está falando?

- Eu já sei, não precisa disfarçar. Sei que se fosse hoje, teria simplesmente saído do caminho e deixado a van me esmagar, mas-

- O que você pensa que está falando? – a indignação foi tanta que ela se levantou – Acha que eu preferia ter deixado você morrer?

Pelo menos finalmente aceitamos os termos de quem salvou quem.

- Eu sei que você só fez o que fez por que eu entrei na sua frente, se fosse o contrário você não teria movido um músculo. Sei também que não gosta de mim, só acho que merecia um pouco mais de crédito! – agora eu começava a ficar irritado. Essa necessidade dela de ficar mudando de assunto já não tinha mais graça alguma.

Ela soltou uma exclamação que foi quase um grito indignado, fui instintivamente para trás, mas não pude segurar um sorriso. Ela ficava linda demais nervosa! Que droga!

- Você acha que sabe de tudo! Mas não sabe absolutamente nada! E nem entenderia! – as palavras irritadas dela me fizeram voltar para a realidade.

- Certo, Isabella! Então quando eu evoluir o bastante para entender ou quando sua TPM passar, fala comigo!

Ela bufou alto, completamente transtornada e quando tentou pegar seus livros, bateu a mão neles, os empurrando para fora da mesa. Estiquei o braço tentando aparar algum, mas ela pegou todos antes que qualquer dos livros chegasse próximo de mim e saiu pela porta. Não sei dizer se ela finalmente correu, mas foi estupidamente rápido.

Fui para a aula de educação física louco para socar alguma coisa. Jogamos basquete e eu não perdi nem a menor chance de cometer as mais loucas faltas, ninguém do meu time reclamou já que eu fiz a maior parte das cestas, mas eu vi o olhar assustado de Mike e o ignorei. Minha mente estava nublada com Bella, e se fosse qualquer outro esporte com mais contato eu teria machucado alguém seriamente.

Rumei para o estacionamento jogando a chave para cima, tentando me distrair, mas estava queimando de raiva. Respirava fundo, tentando me controlar e comecei a relaxar quando vi que já estava quase chegando na moto, e então reparei em Jéssica vindo na minha direção.

- Edward! – ela chamou ainda longe o bastante para eu fingir que não tinha ouvido.

Comecei a andar mais rápido para evitar a conversa. Era tudo que eu não precisava naquele momento. Mas claro, que surgida do nada, Bella trombou comigo com tanta força que minhas chaves voaram longe.

- Obrigado, Isabella! – disse entre dentes.

- Não há de que. – ela respondeu, claramente irritada.

Voltei até onde a chave havia caído o que deu todo o tempo do mundo para Jéssica me alcançar.

- Ainda bem que te encontrei! – ela disse sorrindo.

- É... – resmunguei, já caminhando para a moto.

- Bom, eu queria te perguntar se já tem par para o baile...

- Na verdade, eu acho que não vou estar na cidade.

- Ah... Estou sabendo.

Isso acabou me fazendo olhar para ela.

- Então por que veio me perguntar se queria ir no baile com você?

- Acho que esperei que fosse uma mentira que você disse para se livrar da Lauren... – ela falou um tanto sem graça, mas eu achei um pensamento muito justo. Até que ela era sensata.

- Desculpe, mas é verdade... Ei – eu sabia que ele não merecia, mas eu sou mesmo um ótimo amigo – por que não convida o Mike?

- O que? – ela me olhou meio corada.

- Ah vai. Eu sei que você gosta dele. Nem sei nem por que veio me convidar! – na verdade eu sabia, irritar a Lauren parecia ser o objetivo da vida dessa garota.

- Acha que ele-

- Claro que ele vai aceitar! Ele não é burro.

Ela me lançou um olhar extasiado, nem tentei fingir que estava animado pela constatação de que ela gostava dele e ele gostava dela, só queria ir para casa.

- Obrigada! – ela exclamou enquanto saia correndo.

Quando subi na moto, reparei no Volvo prata, mais especificamente em Bella que estava sentada no lado do motorista e me lançava um sorriso cínico. Ela viu! Ela sabia que Jéssica estava vindo e trombou comigo de propósito! Fechei as mãos em volta dos guidões e contei até 50 para não ir gritar com ela.

Mas como o destino é meu camarada e ela parecia atrair a escória do universo, vi que Tyler estava indo na direção do carro dela. Ela não pareceu ter notado, deu a partida devagar e saia da vaga tranqüilamente, não tive dúvida, acelerei e fechei o Volvo. Ela não estava indo rápido, mas freou de uma vez, muito longe de mim, achei que ela estava sendo extremamente zelosa, mas reparei que Alice estava sentada ao lado dela. Me lembrei do dia que quase bati no retrovisor...

Tyler bateu no vidro do motorista e antes de abrir, Bella estreitou os olhos na minha direção, e eu fiz questão de parecer extremamente ocupado com o zíper da minha jaqueta e se a viseira do capacete estava aberta ou não.

Por mais que me esforçasse, não consegui ouvir a conversa, mas a cara que ela fez enquanto ele se afastava fez tudo valer a pena. Eu já tinha visto aquela expressão, já havia rido dela, mas naquele momento, foi perfeita! Ela estava completamente indignada, queixo caído, horrorizada. Foi provavelmente a coisa mais engraçada que eu já havia visto.

Comecei a rir descontroladamente, mas tive que sair da frente do carro, antes que ela resolvesse passar por cima de mim com ele. E naquele momento, ela parecia completamente capaz disso.

Tive acessos de riso por todo o caminho até em casa. Agora estávamos empatados. Se Bella queria guerra, era o que teria. Eu ainda acho que seria muito mais fácil se ela parasse de se desculpar, de assumir toda a culpa do mundo e me explicasse logo, mas já que aparentemente eu não tenho capacidade para compreender, vou atormenta-la até que ela mude de idéia.

Cheguei em casa louco por um banho e cama, abri a porta procurando por minha mãe e logo percebi que estava sozinho. Era estranha essa sensação de ter a casa só para mim. Subi as escadas, e corri para o banheiro, jogando toda a roupa no chão, me encarei no espelho. Ainda dava pra ver onde o vidro tinha cortado a minha pele, mas não eram mais que leves riscos agora e também, sempre me disseram que garotas curtem cicatrizes.

Minha pele começava a desbotar e perder o bronzeado, mas só eu poderia notar isso, ainda era sutil e eu só sabia por ter que olhar para o meu próprio rosto todo dia.

Pensei na pele clara da Bella e no contraste que tem contra a minha. Por que eu pensei isso? Porque tenho transtorno obsessivo compulsivo. Também bato a cabeça na parede três vezes toda vez que ouço uma campainha.

Entrei no chuveiro e deixei a água quente bater na base do meu pescoço. Pensando com mais clareza decidi que no dia seguinte eu levaria a guerra para o próximo nível.

Afinal ouvi em algum lugar que o ataque é a melhor defesa.


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