Fascination escrita por lady riot


Capítulo 3
Rebelde sem causa




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Levantei mais cedo do que queria, mas assim que o dia clareou não pude mais dormir. Estava ansioso demais para ir a escola, Bella Cullen falou comigo! Eu ia esfregar isso na cara do Mike com tanta força que ele ia chorar como uma garotinha.

Respirei fundo, fica frio, cara. Não posso criar muitas expectativas, ela era meio maluca, eu não tinha como saber o que ela diria hoje, como ela reagiria.

E por que eu me importava tanto com a reação dela? Droga.

Coloquei a calça jeans e uma camiseta branca, jogando a jaqueta por cima. Desci as escadas e encontrei minha mãe tomando café.

- Nossa! – ela disse abaixando a caneca até a mesa.

- O que? – estendi os braços, olhando minha roupa, esqueci as calças ou algo assim?

- Sua roupa... – fiquei olhando para ela, esperando que completasse – Muito Marlon Brando da sua parte!

- O que?

- A camiseta, a jaqueta, a moto... Muito Marlon Brando. – ela se levantou devagar ainda olhando pra mim. – Só faltou o boné!

- Tchau, mãe...

Foi a única coisa que eu consegui formular. Bem idiota, e ela riu. Me fazia parecer ainda mais algum tipo de rebelde sem causa.

- Prefere o James Dean?

Ainda pude ouvir ela gritando da cozinha, agora ela lia pensamentos? Fechei a porta com um pouco mais de força do que gostaria, mas fingi que não vi. Quando me voltei para o quintal, arregalei os olhos em choque. Estava tudo branco, congelado, coberto por neve e gelo.

Primeiro Marlon Brando, agora neve. Ótimo.

Calma. Nem está tão frio. E pelo menos não está chovendo. Como ainda não estava atrasado, tive tempo o bastante para colocar correntes nas rodas da moto, quando estava tudo pronto, vi minha mãe na porta com um sorriso sacana.

- Você sabia que tinha nevado!

- Ei, ei! Não me acuse de nada, eu ia avisar quando você saiu correndo.

- Claro que ia.

- Tchau, mãe. – repeti, subindo na moto.

- Ei, Brando! – me voltei a contragosto – Boa aula!

Tive que admitir que era bem legal pilotar com a estrada coberta de gelo, dava uma sensação de que a qualquer momento eu poderia sair voando, no melhor estilo do Super Homem. Provavelmente a aterrissagem não seria muito suave, mas ainda assim, era bem legal.

Demorei mais para chegar na escola do que de costume, tive que ir mais devagar, mas não muito. Estacionei e desci, tirando o capacete, sacudindo a cabeça, foi aí que vi Bella escorada na porta do Volvo, ela parecia incomodada com alguma coisa em sua roupa, desconfortável. Não sei porque, afinal estava linda com uma mini saia xadrez verde escura, a blusa cinza de mangas compridas e meias longas, que vinham até quase a metade de suas coxas... Ela realmente não parecia feliz, e ainda não havia percebido que eu estava me aproveitando do descontentamento dela para analisar cada detalhe do rosto perfeito emburrado, do corpo esguio. Ela era adoravelmente desconcertante. Com algum custo, desviei o olhar para algo que me pareceu ainda mais estranho do que Bella irritada com a própria roupa, a irmã dela, Alice estava parada a alguns metros dela, mais perto de mim, com um olhar desfocado e ainda assim horrorizado, só pude ouvi-la dizer o nome da irmã antes daquele som. Os pneus da van azul escura de Tyler deslizavam no gelo fazendo um barulho enorme, na direção do Volvo, e entre os dois carros, estava Bella, distraída, olhando para os sapatos.

Não consegui nem pensar, só me vi correndo na direção dela e entrando no caminho da van. No fundo eu sabia que não adiantaria absolutamente nada, mas não podia deixa-la se machucar, pelo menos não sozinha.

E foi só então, me vendo na frente dela, ridiculamente tentando deixa-la protegida que as coisas realmente ficaram absurdas. Nada aconteceu devagar, mas a adrenalina bombava tão forte pelo meu corpo, que eu pude ver cada movimento claramente, e não entendi nada. Quando eu tentei empurra-la para longe do caminho, foi ela quem agarrou meus braços, nos trocando de posição e me empurrou com tanta força que me fez cair. Seus braços finos se esticaram e ela parou a van com as mãos e batendo as costas no Volvo deixando a lataria afundada no formato de seus ombros, ela se agachou numa posição estranha, suas pernas deveriam ter quebrado.

Não, ela inteira deveria estar quebrada, mas não estava e ainda era forte o bastante para levantar o carro, que estava prestes a esmagar as pernas dela, ou melhor, as nossas pernas. Me encolhi contra o Volvo exatamente quando a van atingiu o chão, fazendo vidro quebrado voar por todos os lados. Senti os estilhaços batendo no meu rosto, cobrindo meu cabelo, mal me dando tempo de me proteger com os braços.

- Você está bem? – ela perguntou com a voz baixa e cristalina para o topo da minha cabeça abaixada.

- O que foi aquilo? – eu achei que tinha gritado, mas mal pude ouvir minha própria voz.

- Está sentindo alguma dor?

Levantei a cabeça devagar, os olhos tão arregalados que achei que fossem saltar das órbitas. O espaço em que estávamos era restrito, ela estava tão próxima que podia sentir o perfume de morango que emanava de seu cabelo. Demorei tanto para responder que e ela tinha suspendido a respiração.

- Como você fez isso?

- Fiz o que?

- Você parou a van! Com as mãos!

- Não, Edward. – ela respondeu séria, a ruguinha entre as sobrancelhas – Você me empurrou para trás na hora exata!

Ela me olhava intensamente, seu olhar dourado estava tão preocupado... Do que é que eu estava falando mesmo?

- Você não sabe mentir.

Murmurei enquanto a vi mordendo o lábio, e me lembrei onde estávamos. A gritaria geral finalmente chegou até os meus ouvidos que agora pareciam zumbir um pouco. Comecei a ouvir as vozes autoritárias dos meus professores mandando todos se afastarem, mas eu ainda a tinha ali, presa junto a mim.

- Como você fez isso, Bella? – perguntei de novo, ainda não conseguindo piscar.

- Já disse que não fiz nada! Quem fez tudo foi você.

- Olhe para mim e depois diga isso.

- Edward, por favor!

- "Por favor" o que?

- Confie em mim? – ela se voltou para mim e mordeu o lábio mais uma vez, esperando a resposta.

Dei um pulo quando a van começou a se afastar e eu ouvi as sirenes e os gritos de comando de um homem que organizava o nosso resgate.

- Vai me explicar tudo depois?

- Edward...

- Vai dizer que não confia em mim? – vociferei.

Agora ela só podia estar brincando! Eu quase me mato para salva-la, certo que ela que acabou me salvando, mas parou uma van com as mãos! Com as mãos! Estava louca se achava que eu ia deixar aquilo passar.

- Está bem! – ela concordou desgostosa.

- Ótimo. – disse sério.

- Ótimo! – ela gritou de volta.

Sorri, ela ficava tão linda nervosa... Não! Foco. Não se esqueça do que acabou de ver. Ela me encarou de volta por um instante, o olhar meio perdido, talvez fosse o mesmo jeito que eu estava olhando para ela. Não encontrei a palavra para definir o que sentia quando ela me encarava daquele jeito.

Nesse instante que conseguiram tirar a van dali, nos libertando. As pessoas estavam enlouquecidas gritando e correndo por todos os lados.

As palavras se misturavam, não tinha certeza do que cada um falava.

- Eu estou bem. – disse enquanto levantava, olhando para todos os rostos que nos rodeavam. Parecia ser uma coisa que responderia a maioria das perguntas.

- Acho que ele bateu a cabeça com muita força – Bella falava com um dos para-médicos.

Mal consegui processar os acontecimentos e estava amarrado a uma maca.

- Mas eu disse que estou bem! – gesticulei e percebi o sangue nas minhas mãos.

- Você machucou o rosto... – ela me disse pegando um dos vários cacos de vidro na minha jaqueta – Os estilhaços... Desculpe.

Eu não tive tempo de responder e as portas se fecharam, e ela foi no banco da frente da ambulância. Quem quase foi atropelada foi ela! Quem deveria estar amarrada na maca era ela... Ou talvez eu amarrado numa camisa de força. Por que ela me pediu desculpas? Se não fosse por ela eu...

- Você é o filho da Elizabeth, não é? – o motorista perguntou.

Minha mãe. Gemi girando os olhos antes de concordar. Aquilo na escola não havia sido nada, o show começaria agora.

Ainda nem havia descido da ambulância e já podia ouvir os gritos desesperados.

- Oh, meu Deus! O que aconteceu? Oh, meu Deus!

- Calma, mãe... – eu estiquei as sílabas, ela odiava quando eu fazia isso.

- Como pode me pedir calma! Olhe só para você! Numa maca!

- Eu não queria vir na maca...

- Mas poderia ter fraturado o pescoço!

- Eu nem me machuquei, não sinto nada!

Só então ela entrou no meu campo de vista, estava com o uniforme de enfermeira, toda de branco, os cabelos acobreados presos, o rosto apavorado.

- Meu Deus! Ele não está sentindo nada! – seu desespero era tanto que vi suas mãos tremendo, frente a sua boca. Só então entendi do que ela estava falando.

- Não sinto dor, mãe! Sinto todo o resto do corpo! Eu estou bem!

A confusão durou mais um pouco até que me levaram para tirar radiografias, não encontraram nada, mas minha mãe ainda estava histérica. Por fim, me deixaram em um quarto, quando deitei no travesseiro percebi que realmente tinha batido a cabeça, mas não tenho idéia de quando isso aconteceu, só conseguia ver as mãos delicadas de Bella afundando a lateral da van...

Trouxeram Tyler para o mesmo quarto que eu e ele estava péssimo, com ataduras sujas de sangue em volta da cabeça. Ótimo. Moleque imbecil.

- Edward! Meu Deus, cara! Você está bem?

- Estou. – não graças a você.

- Eu sinto muito! Acho que virei rápido demais e... Eu não sei! Eu nem te vi lá! Só vi a Cullen...

- Ela também está bem, a propósito...

- Meu Deus, Edward, se houver qualquer coisa que eu possa fazer – ele falava sem parar, não ouvia nada do que eu dizia – Qualquer coisa mesmo! Eu juro que vou te compensar!

- Poderia começar se calando, sabia?

- Não acredito que você está bem! Eu ainda vou me redimir.

- Tyler, dá pra parar com isso? Daqui a pouco vai querer se desculpar me chamando para sair em um encontro! Eu já disse que estou bem!

Ele não entendeu. Se eu não o conhecesse, teria certeza que ele havia sofrido dano mental, mas não. Ele era insuportável assim mesmo.

Virei o rosto para o outro lado, encarando a parede, se ele pensasse que eu estava dormindo, pelo menos se lamentaria mais baixo.

- Ele dormiu? – a voz musical, de acordes de violino, me fez virar de volta.

Bella estava parada na porta, e apesar de ter falado com Tyler, estava me encarando divertida, seu sorriso chegava a ser malicioso.

- Isabella! Desculpe, eu...

- Ei! Sem sangue derramado, sem problema. – ela sorriu como se houvesse algum tipo de piada por trás daquilo.

Sem o seu sangue derramado, pensei emburrado. Já sabia que mal havia me machucado, me espantei com o sangue, mas foram apenas poucos cortes, no lábio, bochecha... O corte no meu supercílio que sujou minhas mãos. Só que ainda assim achei desaforo aquela risadinha dela.

- Eu vou compensar, prometo! – ele choramingou me fazendo girar os olhos.

Ela se voltou para mim, sentando na beirada da minha cama.

- E então? Vai sobreviver aos graves ferimentos? – ela perguntou ainda divertida.

- Na verdade não. – disse com a voz séria – Apesar de parecer tão bem por fora, os ferimentos internos foram extensos... Ninguém fala comigo direito e... Bem... Acho que vou morrer.

O olhar chocado e o queixo caído dela me disseram que além de péssima mentirosa, ela acreditaria em quase qualquer coisa que eu dissesse com emoção o bastante.

Então ela se lembrou de alguma coisa, esticou as costas, quando percebeu e sua expressão se tornou cética. Alguém já tinha falado que eu estava bem e ela tinha esquecido! Acho... Ainda tinha dificuldade em entender todas as expressões que passavam no rosto dela, eram tantas ao mesmo tempo.

- Não tem graça. – então ela já havia mesmo falado com alguém.

- Tem sim. – ela entortou o nariz, irritada – Eu já sabia que não havia nada errado, já havia falado pra todo mundo, e ainda me fazem ficar aqui apesar de já terem me falado que eu estou ótimo.

- Eles só querem ter certeza de que não se machucou.

- Se depender da minha mãe, estão fazendo testes até de gravidez. – levantei o tronco, sentando na cama e senti uma fisgada na mão. Outro corte. – Mas e você? Depois de todas as... emoções que passou hoje e te deixam correr livre? Não é justo.

- Bom... – ela desviou o olhar por um instante, sabendo que eu não havia esquecido nada – Acho que depende dos seus contatos... Mas se te serve de consolo, eu vim te libertar.

O médico finalmente entrou no quarto e eu entendi o jeito suspirante que minha mãe tinha toda vez que falava do hospital. O tal Dr. Carlisle parecia um galã de cinema, quero dizer, pessoas que pareciam com ele, não precisariam trabalhar para serem estupidamente ricos, pelo menos não trabalhar de verdade. Ainda não tinha certeza se era mesmo o pai dos Cullen, mas só poderia ser ele, tem até a mesma cor de olhos que a Bella.

Mas espera... Ela não é adotada? Tinha esquecido que a família inteira é estranha, mas agora, depois de tudo que vi hoje, eu iria descobrir o que estava acontecendo.

- Então Sr. Mansen – a voz dele era agradavelmente calma – como está se sentindo?

- Eu estou bem – parecia um disco riscado.

- Muito corajoso de sua parte entrar na frente de um carro por minha Bella! – ele disse sorrindo e olhando para ela, que estava num misto de constrangimento, me dando aquela sensação de que estava prestes a corar, e preocupação. Muita preocupação.

- Eu não fiz nada na verdade... – o olhar dela se estreitou na minha direção.

- Mas fez! Eu não sei o que poderia ter acontecido se você não tivesse a tirado do caminho do carro.

Eu apenas sorri em resposta. Em qualquer outra situação, ele teria me convencido.

Ele caminhou até o quadro de luz acima da minha cabeça e o ligou.

- Sua radiografia está boa, mas Bella me disse que você bateu a cabeça com força... – ele soltou o prontuário e começou a sondar meu crânio, seus dedos estavam muito frios. Quando ele tocou a área sensível, me encolhi de leve – Dolorido?

- Não.

Vi quando Bella girou os olhos rindo baixinho. Ela achava que eu estava mentindo? Franzi a testa, meio irritado.

- Sua mãe está na sala de espera para te levar para casa. Se sentir vertigem ou tiver qualquer problema com a visão quero que volte. Pode tomar um Tyllenol se estiver sentindo muita dor.

- Ela vai me obrigar a ficar de repouso ou algo assim? – ele riu diante da minha expressão de nojo.

- Acho melhor você descansar por hoje.

Olhei para Bella, que me sorria implicante. Estava se divertindo demais com a minha situação.

- E ela vai poder voltar para a escola?

- Claro! Eu não deixaria de contar pra Lauren e pros seus amigos que você é um herói!

Quando eu ia perguntar o que a Lauren tem a ver com isso, o doutor voltou a falar.

- Na verdade toda a escola parece estar na sala de espera.

Eu gemi, esfregando os olhos. Depois gemi de dor, esqueci que minha mão estava machucada. Ele ergueu uma sobrancelha para mim,

- Quer ficar aqui?

- Não. – respondi rápido demais, jogando as pernas para fora da cama.

Quando fiquei em pé, senti as costas doendo, mas evitei deixar que eles percebessem, não queria ficar ali para mais exames, eu estava ótimo! Ou quase. Ela me jogou no chão com muito mais força do que eu havia percebido.

Agora era a hora, não poderia deixar ela escapar. Ela me devia sérias explicações.

- Bella... – me aproximei dela – Posso falar com você?

Ela lançou um olhar para o doutor, mas ele não notou por já estar falando com o ridículo do Tyler, avisando que ele teria que ficar mais tempo lá.

Continuou sentada na cama, evitando me olhar.

- Em particular... Por favor? – fiquei a frente dela e olhei em seus olhos, grande erro. Quase esqueci o assunto.

- Está bem. - ela levantou e saiu andando rapidamente para fora do quarto.

Apesar de não correr, andava muito rápido, especialmente para alguém de aparência tão frágil como a dela. Tive que correr um pouco para alcança-la, mas uma vez a seu lado, mantive o mesmo passo. Então ela parou.

- O que quer? – ela cruzou os braços, a voz irritada.

- Quero saber como fez aquilo.

- Eu já disse que não fiz nada, você que me tirou do caminho a tempo.

- Não foi isso que aconteceu.

- Ah é? O que você acha que aconteceu? – ela se voltou para mim, o queixo travado, o olhar tão intenso, ela nem parecia respirar, de novo.

Eu sabia que tinha aberto a boca para começar uma frase, mas as palavras não saiam. Que tipo de feitiço ela fazia quando me olhava daquele jeito? Percebi que eu também havia parado de respirar, tive de tomar fôlego antes de falar.

- A van veio na sua direção... – eu comecei meio tímido – Eu tentei te tirar do caminho, mas você me jogou no chão e fez o carro parar com as mãos, chegou até a bater as costas no Volvo, mas não se machucou, e aí quando a van ia esmagar nossas pernas você a levantou bem a tempo e...

Uma vez que comecei, despejei tudo, mas o olhar dela era tão incrédulo que as palavras morreram e eu não pude terminar.

- Você acha que eu levantei uma van?

- Eu vi.

- Edward... – senti um choque passando pelo meu corpo quando ela disse meu nome, eu nunca havia prestado atenção em como soava bem na voz dela – Você está em choque, bateu a cabeça...

- E você realmente não sabe mentir! Não há absolutamente nada errado com a minha cabeça.

Mais uma vez naquele longo dia, ela mordeu o lábio, nervosa.

- Edward, confie em mim.

- Não me venha com essa, Bella! Você me deve uma explicação.

- Eu te salvei, não acho que devo nada! – ela replicou, ofendida.

- Ah... Mas achei que eu que tinha te salvado...

Meu sorriso vitorioso pareceu um tapa no rosto de Bella, ela abriu a boca duas vezes, mas não disse nada. Então ela conseguiu.

- Sabe que ninguém vai acreditar nisso.

- Eu nunca disse que ia contar. – agora começava a ficar irritado de novo, fechei as mãos em punhos, tentando controlar a voz. Que tipo de imbecil ela achava que eu era?

- Então nada disso importa! – ela gesticulou amplamente, como se aquilo encerrasse o assunto.

- Importa para mim! Eu arrisquei minha vida por você... – ok, agora eu estava partindo para a chantagem.

Ela pareceu muito cansada por um instante, esfregou o rosto com as duas mãos.

- Você não vai deixar isso passar, não é?

- Sem chance.

Ela mordeu o lábio mais uma vez, agora parecia triste. No que ela estava pensando? Por que tentava mentir? Especialmente sendo tão péssima nisso.

Suspirou, e então ela pareceu tensa, saiu andando tão rápido que eu mal percebi que ela se afastava até que ela estava muito longe.

- Espera! – eu chamei.

- Desculpe... – foi o que ela respondeu, tão baixo que eu não sei se deveria ter ouvido.

Foi a minha vez de esfregar o rosto e percebi que tinha fechado as mãos com tanta força que o corte tinha reaberto e um pouco de sangue escorria. Droga.

Voltei pelo corredor pisando duro, e encontrei minha mãe no meio do caminho, com os olhos mais rápidos do mundo, ela viu o sangue nas costas da minha mão antes mesmo de perceber que era eu.

- Sua mão!

- Não é nada...

- Está sangrando!

- Mãe... Pare de ficar ressaltando o óbvio.

- Não tente me fazer rir, vou te levar para casa agora e você vai descansar!

- Eu não estou cansado! – ela fingiu não me ouvir, agarrou meu pulso e saiu me arrastando.

- Você poderia ter morrido, sabia disso? – girei os olhos.

- Adolescentes não morrem. – ela me ignorou de novo e continuou falando como se eu estivesse quieto por todo o tempo.

- E eu se você não fosse tão burro, eu ficaria orgulhosa por ter salvo Isabella.

Eu pensei no que responder. "Poxa mãe, na verdade foi ela quem me salvou! Se dependesse de mim estaríamos os dois mortos! Talvez só eu já que ela é super forte, super rápida, super resistente e um pouco lerda... Mas só mentalmente."

Por alguma razão, achei melhor ficar calado.

Quando chegamos a entrada do hospital vi que o doutor não estava brincando, a escola inteira realmente estava lá. Juro que vi até a secretária ruiva que me comeu com os olhos no primeiro dia de aula. Avistei Lauren na ponta dos pés tentando me encontrar, foi a minha vez de arrastar minha mãe para fora dali. Não estava afim de conversar, muito menos com ela; Mike riu para mim na saída.

- Boa, cara! Agora que você a salvou, eu posso chamá-la para sair! Trabalho em equipe!

Quase dei um soco nele. Até parece que a Bella ia querer sair com um imbecil como ele. Entrei no carro e coloquei o cinto sem falar nada. Por que Bella não sairia com ele? Tanto faz, eu não me importo. Claro que não me importo. Repeti isso por todo o caminho.

- Brando! – minha mãe chamou pelo novo apelido – Já chegamos.

Desci do carro e fui direto para o quarto antes que minha mãe me perguntasse se eu estava bem, minhas costas estralavam com cada movimento. Tirei a jaqueta, bem devagar, liguei o rádio baixinho e deitei com um gemido, mas uma vez que me acomodei, não senti mais dor. Comecei a me questionar, se não estava louco, se vi o que eu achava que tinha visto. Mas não havia outra possibilidade. Se não fosse daquele jeito eu não estaria apenas com dores nas costas e alguns cortes superficiais. E ela não estaria completamente ilesa.

Minha mãe me surpreendeu e não ficou entrando de cinco em cinco minutos. Vinha de dez em dez. Me levou até o jantar na cama e disse que eu não precisaria ir para a escola no dia seguinte se não me sentisse bem. Não gostei de ter recusado tão rápido, nunca mais teria outra chance como aquela, mas eu estava obcecado demais com os Cullen para não ir.

You don't know me

You don't know me at all

Cantou a voz melodiosa de Regina Spektor. A música já estava no fim, na verdade o CD já deveria estar no final, mas foi a única parte que ouvi.

Realmente não a conhecia nem um pouco... Mas isso estava prestes a mudar!

Bufei exasperado. Até meu próprio gosto musical estava de brincadeira comigo.

Respirei fundo, me preparando, antes de me espreguiçar, mas parecia que minha coluna finalmente havia voltado para o lugar de origem.

Tudo me fazia pensar nela. Aquela... Mentirosa, linda, maluca, doida, intoxicante, irritante.

Não sei quando dormi, mas não ouvi nem a música seguinte. Foi a primeira vez que sonhei com Bella.


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