A Volturi escrita por Nanda Parodi


Capítulo 2
Capítulo 1




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Capítulo 1


Ah, sim. O Poder do sangue. Hoje, eu desejava esse Poder mais do que tudo. Eu desejava esse prazer mais do que tudo. Mas eu também sou um ser racional, às vezes, quando não sinto o cheiro, e sabia as consequências de me alimentar.

Minha garganta estava como se ardesse em chamas. Todo o meu corpo parecia mais cansado e eu sentia um buraco no meu estômago. Precisava caçar.

Eu não sou um monstro tão grande. Não gosto de matar, mas Caius e Aro sempre me disseram que a única maneira de nos mantermos sãos é beber sangue humano. Especificamente sangue humano. Claro que sempre acreditei neles, neles e em Marcus, afinal, era meus “pais”, não os biológicos, obviamente.

Não me lembro muito da minha vida humana. Sabia que eles me criaram desde os 4 anos. Eles disseram que meus pais verdadeiros morreram há muito tempo e me criaram como prova de sua humildade e sentimentalismo, não acreditava muito na última parte, porque a última coisa que eles são é humildes e sentimentais. Jane e Alec eram meus tutores, tudo que eu sei é graças a eles. As Esposas também se diziam minhas “mães”, mais para agradar aos anciãos, já que eu mal as vira, e muito menos conversara com elas.

Hoje chegariam mais humanos para nós, todos os vampiros estavam se mobilizando para arrumar tudo para o banquete. Menos eu. Eu evitava ao máximo tirar vidas, infelizmente, estava com muita sede.

Olhei pela janela do quarto, meu quarto fica de frente para o jardim. Nesta época do ano várias flores silvestres nascem e colorem a vista e deixam a paisagem da toscana, ao fundo, muito mais bonita. Talvez correr um pouco me ajudasse a tirar o sangue da cabeça até a hora do “jantar” que eu sou obrigada a ir.

Banquetes só aconteciam uma vez por semana, quem quisesse mais deveria sair para matar em outros vilarejos, eu só matava uma vez por mês, por isso, era mais fraca que todos ali, mas ninguém sabia que eu pulava todas essas refeições, além de Alec e Jane, que sempre me davam uma dura por isso.

Meu dever no momento era caçar, deixar meus olhos bem vermelhos. Sou a criança ali; devia matar por impulso; devia ser a irresponsável. Mas não é assim. Sou muito mais controlada que qualquer um aqui, mais até do que Chelsea - a certinha - , talvez.

Peguei minhas lentes de contato castanhas e pulei para o jardim, larguei a caixinha em qualquer canto. Corri o máximo que podia. O vento no rosto deixava uma sensação de liberdade. Eu senti que tinha a eternidade toda para mim. E isso nem parecia uma ideia tão ruim.

Meu clã, Os Volturi, eram extremamente poderosos e temidos, o que me garantia proteção. E é confortável estar com eles. Jane, apesar de ser brava, é uma ótima garota, esperta e até gentil, quando quer. Alec é tão esperto quanto Jane, não conheço ninguém melhor para escapar de uma das ciladas de Felix do que ele. Felix, Santiago e Demetri são os palhacinhos da turma, pregam muitas peças e suas piadas são as mais idiotas possíveis. Chelsea e Heidi são muito controladas e as Mulheres, com “M” maiúsculo, mais lindas que eu conheço, porém Chelsea é muito mais sensível e carinhosa comigo do que Heidi, e, pelo que sei, sempre foi assim. Afton é o parceiro de Chelsea, é o mais reservado da Guarda. Ah, sim! Renata; Renata é engraçada, parece uma pata choca, imagino como era quando humana, no século XV. Marcus está sempre entediado, adora a cultura européia: música, arte em geral. Caius é, com certeza, o mais rabugento, daria o braço apenas para arrumar confusão e acabar com algum outro clã, chega a ser divertido ver as suas frustradas tentativas perante Aro. E Aro, claro. Como poderia esquecê-lo? Parece ser meigo e atencioso, mas foi com ele que descobri que as aparências enganam; não conheço ninguém, absolutamente ninguém tão perigoso, mesquinho, ambicioso e calculista quanto ele. Aro é mortal.

Com tudo, eu estou até feliz em estar aqui.

Sabia que já estava em outro estado da Itália, bem longe de casa. Fui diminuindo os passos, até parar completamente. O plano era caçar, sentir um cheiro bom e partir para o ataque. Me sentei no chão e ouvi. Ouvi o som da natureza: bichos rastejantes se escondendo debaixo das folhas mortas, pássaros assobiando, avisando sobre o perigo de uma tempestade que estava prestes a cair. O som de algo pesado chegando me chamou a atenção, o chão tremeu de leve e uma buzina soou ao fundo, um caminhão, tinha alguma rodovia por aqui.

Um forte vento bateu, jogando meu cabelo e terra em minha cara, e trazendo o forte cheiro doce de sangue. Cravei meus dedos na terra, ânsia de saltar em algum pescoço. Meus olhos foram atraídos para além da mata, onde um restaurante de beira de estrada ficava; um casal apaixonado saiu dele rindo. Parei de respirar. Esperei que eles se fossem para puxar o ar novamente. Não eram o tipo de gente que eu devia matar, eles, com certeza, tinham famílias que procurariam por eles após o seus desaparecimentos.

Sai em disparada novamente, a caça tinha ido por água a baixo. O tempo que eu tinha se esgotava e eu precisava voltar para o castelo. Pulei por minha janela. Na cama havia um bilhete:

Juliet,

Felix perturbou os humanos e será preciso levar um por um a sala do trono, isso vai demorar um pouco. Então, o jantar atrasará. Faça qualquer coisa, mas não fuja.

Jane

Não tinha nada especial a fazer. Ser vampira é um tédio. Ainda mais se você for um membro inútil na guarda. Não faço a menor ideia de qual é o meu poder - se eu tiver um - , ninguém faz. Sou uma inútil, e mesmo assim faço parte da Guarda. E isso é muito injusto contando com os vários vampiros talentosos que querem entrar no clã. Sou mais o bichinho de estimação dos Volturi do que um membro. Mal posso me proteger sozinha.

Me joguei na cama e fiquei ali esperando, apenas olhando para o teto até me chamarem.

Troquei de roupa rapidamente e desci a sala dos tronos.


O aposento estava cheio daquele delicioso cheiro que fazia o veneno se espalhar pela minha boca e o ódio pela minha consciência. Eu sentia que não conseguiria resistir, não dessa vez. Com um mármore branco impecável por toda a sua extensão, inclusive nas paredes e no alto teto, poucas cadeiras rodeavam a sala. Quadros desconhecidos de grandes artistas renascentistas na parede. E três grandes tronos, cada um com seu detalhe especial, bem na frente a porta ornada em ouro.

Respirei fundo. Ok! Está tudo bem! Só fique calma e não pense nas mortes... Não ta ajudando muito!

- Não vai aprontar, não é? - Alec sussurrou atrás de mim. Os outros estavam preocupados demais com a comida para prestar atenção em nossa conversa.


Eu não respondi, mas a minha vontade era de xingá-lo. Eu corria muito risco ali, com muitos ouvidos aguçados que poderiam ouvir, e ele ainda fazia piada da situação.



- Buon pomeriggio! Boa tarde! - Aro cumprimentou, chamando a atenção dos vivos e dos mortos - Me chamo Aro. E lhes convido para um banquete.

Não foi preciso outro sinal. Era possível sentir o instinto de todos os presentes agindo por eles, dos gritos às mordidas. O cheiro de sangue ficava mais forte a cada instante. E eu tremia no lugar, uma neblina densa cobria minha razão, me tornando quase um animal pronto para o ataque, quase.

Um homem de talvez uns 30 anos, de terno escuro e gravata, um pequeno brinco prateado na orelha, e com um celular, tentando pegar sinal, permanecia num canto escuro. Com certeza ele achava que não podíamos vê-lo, mal percebeu quando, ao tirar o celular da orelha, ele puxou o brinco e uma única gota de sangue escorreu por seu pescoço. Aquele cheiro foi um golpe, todos ali sangravam, mas nenhum era tão bom.

Quando vi já estava do outro lado da sala, puxando o seu cabelo para trás e deixando seu pescoço exposto.

- Só vai doer um pouquinho. - o mordi.

Sem dúvida nenhuma aquela era a melhor coisa que eu já provara. Nada além do paladar funcionava em mim naquele momento. Eu não ouvia, não sentia cheiro, não via e minha pele formigava demais para perceber algum toque ou uma mudança de temperatura.

Ele acabou mais rápido do que eu podia imaginar. Seu sabor estava impregnado na minha boca, não que eu pudesse reclamar disso. E aos poucos fui voltando ao normal. Deixei o corpo tão gélido quanto o meu cair no chão, e não ousei olhar para baixo.

Todos acabaram, a sala estava completamente silenciosa. Jane fez questão de olhar no fundo dos meus olhos para ter certeza de que eu não a enganara dessa vez.

- Felix, resolva essa bagunça. - Caius ordenou.

Ouvi o barulho dos corpos sendo empilhados, mas não me movi. Estava extasiada pelo gosto em minha boca. O monstro ainda agia dentro de mim. Quanto tempo fazia que eu não me alimentava? Eu só podia estar enlouquecendo mesmo. Daria qualquer coisa para prová-lo novamente, pouco me importava, naquele momento, se ele tinham alguém que o amava. Eu sentia aquele sabor tomar conta de mim.

- Juliet. Juliet. - me senti sendo sacudida.

Olhei para cima e vi Felix me balançando como se eu fosse uma boneca de pano.

- Oi?

- Pensei que vampiros não pudessem dormir. - Demetri o acompanhou.

- Ha-Ha! Não vejo graça nisso. - os fuzilei com os olhos

- Ui! Tá de TPM! - Santiago se juntou.

Bati em seu ombro, não que eu conseguisse machucá-lo, ele era tão grande quanto Felix. Santiago se encolheu pingindo sentir dor. E eu lhes dei a língua. Parecíamos ciancinhas brigando




- Quem sabe se você não fosse tão pequena poderia me fazer cócegas, ao menos. - bagunçou me cabelo, tentei morder sua mão, mas ele a tirou a tempo.



- Vá se...

- Juliet! Venha cá. - Aro chamou.

- Sim, mestre? - me curvei aos três anciãos sentados.

- Você está bem, minha querida? Parece perturbada. Aconteceu algo? - até mesmo Marcus se inclinou para mim, esperando uma resposta.

- Não sei, mestre. Ele era... diferente.

Aro estendeu a mão para mim, como um sinal para que eu a tocasse. Alguns instantes se passaram com ele lendo minha mente, e então... Ele explodiu em gargalhadas ruidosas.

- Il tuo cantante! Parece que você é uma jovem sortuda, Juliet! - bufei com o comentário - Muitos buscam por esse tipo de sangue, e você... Tão nova o consegue sem maiores esforços! Rá, rá, rá! Muito bem! Voltem aos seus afazeres, não há show nenhum para ver aqui! - gritou o final para os vampiros enxeridos que prestavam atenção em nós.

- Por que não vai ao jardim, criança? Estamos esperando uma visita importante, e é melhor que não esteja aqui. - Marcus advertiu.

Assenti e me dirigi ao jardim, eles me chamariam ali depois, senão não me diriam para onde eu tinha que ir. Sentei num banco de ferro, bem de frente para a parte leste do jardim, a mais bela. Ali flores mais coloridas nasciam, uma fonte - que para os passarinhos, servia para tomar banho e beber água - estava ao lado de uma enorme trepadeira que cobria o muro atrás de si, flores cor-de-rosa brotavam dela e suas pétalas caiam dentro da água. Como eu queria olhar aquilo para sempre, sem ter que me importar com nada.

- Aro lhe chama. - um vampiro enorme surgiu a minha frente.

O segui por entre os corredores de pedra, ele não me levava aos tronos. Abriu uma porta e esperou que eu entrasse para fechá-la com um baque. A sala era pequena. Um carpete marrom chocolate cobria o chão, nele havia um sofá de dois lugares e algumas poltronas, outro vampiro estava sentado no sofá. Me olhou, avaliando, eu fiz o mesmo. Seu cabelo preto contrastava com a pele de giz, vestia-se como um típico americano; seus olhos eram o mais interessante, eram amarelos. O que causava isso? Por que ele não tinha olhos vermelhos como o dos outros?

- Diga aos seus mestres que “convidar-me” - fez aspas com as mãos - e depois me deixar esperando aqui sem nenhuma explicação plausível é uma extrema falta de educação. - quase rosnou para mim, com frustração.

- Calma. - levantei as mãos, me defendendo, e dei um passo para trás - Estou tão confusa quanto você, apenas fui chamada aqui.

- Perdão pela demora, amigo. - Aro entrou na sala, imediatamente nos endireitamos - Juliet, esse é Eleazar, uma amigo de velha data. E Eleazar, essa é Juliet, nossa mais recente admissão a Guarda.


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Notas finais do capítulo

Como eu já expliquei num capítulo postado na história (que foi deletado pois acho que atrapalha os leitores novos)eu passei por alguns problemas mas já está melhorando. Então, espero que tenham gostado desse cap. também.Beijos de morango com chocolate.



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