Capítulo: Escolhas

Música Tema: Remember December

O vento chacoalhava meu cabelo, mesmo que eu estivesse de rabo-de-cavalo. Mas, pelo menos, o casaco me protegia do frio, se não eu estaria congelando.

-Me chamou? - perguntou uma voz atrás de mim.

Confirmei com a cabeça me virando.

-Sim.

Ele estava com a cara em dúvida, tinha olhos interrogativos, e seu cabelo estava bagunçado, como sempre, e de qualquer forma, parecia impecável.

-O que você quer? - ele me perguntou num tom doce.

Foco, Demi, foco.

Suspirei.

-Eu te amo - pareceu surpreendê-lo - Mas eu tenho medo.

-Você pode demorar o tempo que quiser, já disse.

Neguei com a cabeça.

-Não. É a você que eu quero estar ao lado. - Encarei-o fundo nos olhos - Mas tenho medo de sofrer de novo.

-Eu nunca lhe faria mal. - mas sua voz vacilou.

-Não vai me fazer mal de novo, Joe? Ok. Prove.

-Provar como?

Dei um giro com os braços abertos. Ele me olhou como se eu tivesse tido um mini-surto.

-Seja criativo. - falei.

Joe me segurou pelos braços e se aproximou de mim como se fosse me beijar.

-Ok, então. - ele disse com o hálito no meu rosto. Mas foi interrompidos por uma buzina que vinha da pista ao nosso lado.

-Tenho que ir. - falei me desvencilhando de seus braços. - Minha carona chegou. Lembre-se, provas.

Ele confirmou com a cabeça, mas se surpreendeu ao olhar pro carro.

-Aquele é o Sterling Knight?

-Hã-hã. Meu quase anjo da guarda. - eu disse a Joe com uma piscadela. - Até.

Corri até a porta do carro e me joguei dentro do quente assento com tudo. Ia dar um "oi" bem animado ao Sterling, mas ele estava distraído ao telefone.

-Eu causei tudo isso? - ele ecoou ao volante. - Tá bom. Desisto. Você quebrou meu coração. Sem mais. Por favor, não brinque comigo. - seu tom foi de súplica, algo que eu estranhei. Ele dava pausas entre as frases e eu ouvia berros do outro lado - Siga em frente. Eu vou tentar. Faça o mesmo. Tchau, Tê.

"Tê".

Sterling era, definitivamente, um cara calmo. Não berrava em discussões, nem perdia a paciência. Com exceção do "não brinque comigo", não perdeu o tom uma vez. E ainda chamava a ex de "Tê".

-Oi. - ele disse se virando pra mim.

-Vamos fingir que a sua briga nunca aconteceu ou podemos conversar sobre isso? – me peguei falando.

Boa Demetria. Na próxima, pergunte se ele quer ir ao shopping com você.

-Por mim. – ele deu de ombros. Eu fiquei calada. Ele soltou um suspiro. – Olha, sinto muito. Você não tem culpa do meu mau humor. Era minha namo... Ex-namorada. Só quis voltar depois de tantas brigas, sabe?

Preciso dizer que ele soou calmo o tempo todo. Como se estivesse dizendo: “Então, eu tive um dia cheio, quer pizza?”.

-Ah, - murmurei. – depois de terminar com você e tudo.

Sterling fechou os olhos (o que me preocupava, já que ele dirigia) e os abriu do nada. Técnicas de controle da raiva? Faz sentido.

-É, isso. Mas me fale sobre Joe. Então, escolheu o irmão mais velho, hein?

Cruzei os braços na defensiva. “Escolher” soava muito mal.Soava como se eu estivesse desprezando Nick.

O que não era verdade. Eu amo Nick. Só não como meu namorado. Amo-o como o melhor amigo, a quem sempre vou estar do lado. Não como o cara com quem quero fugir no meio da noite por causa de uma rixa entre nosso pais.

Droga. Ando vendo muito Romeu e Julieta.

-Sim. Mas disse que ele tem que provar que mudou.

Sterling parou num sinal vermelho e se virou de frente pra mim me encarando.

-Então, revelação, você continua o amando. Você se decidiu bem rápido. – seu tom foi sarcástico.

Falou isso pois havia sido naquela mesma manhã que Nick e Joe haviam ido no estúdio se declarar e fazer as pazes. Faziam apenas umas 10 horas. E haviam acontecido tantas coisas.

-Eu sei o que estou fazendo. – falei decidida.

-Eu espero mesmo que sim... – ele murmurou. – Enfim. Sinto que você tenha saído do programa. Mas entendo que você não tenha se sentido mais confortável na frente das câmeras. Você fez o certo. Prefiro sentir sua falta no estúdio do que ter você longe.

Senti que ia chorar depois disso.

-Sim. Também sinto. Hoje... Simplesmente não consigo mais. Se você não estivesse lá, eu teria saído depois do que rolou no camarim. Ainda não estou pronta.

Ele se voltou pro volante parecendo mais feliz... Por um lado. Mas algo no seu rosto estava sombrio. Desde que eu tinha entrado no carro.

-Só... Todo mundo vai sentir sua falta. – Sterling falou e ficou calado o resto do caminho.

-Valeu. Não teria tido como dirigir ou pegar um táxi. Você é um amigo e tanto. – falei a Sterling em frente a minha casa.

Ele sorriu meigo.

-Chofer a disposição. – Ele disse rindo.

Me virei pra lhe dar um abraço. Ele tinha braços fortes e cheiro de pinho. Me afastei apenas um pouco ficando há dois centímetros de distancia de seu rosto.

Fechei os olhos e senti seu cheiro, respirando fundo.

-Acho melhor você ir. – Sterling disse sorrindo doce/constrangidamente bem afastado de mim já virado pra frente do volante.

Ai, meu Deus.

-Me desculpe, é só que você tem cheiro de Pinho. E eu amo pinho. – me vi falando.

Ele sorriu e fez um gesto de sentido, dando a deixa para um “Tchau” e a minha saída do carro. Eu tinha o rosto vermelho.

Entrei em casa e fui pro meu quarto onde enterrei a cabeça no travesseiro. O dia havia sido tão longo. Volta das gravações e cancelamento da minha participação na mesma. Discussões entre mamãe e o meu empresário. Acordo com a Disney. Volta ao meu foco na música. Nick. Joe. Sterling.

E, minha nossa,o que foi aquilo? “Você tem cheiro de pinho e eu amo pinho”? Que tipo de problema mental eu tenho?

Sterling deve estar achando que eu sou idiota.

Fiquei viajando sobre Joe. E sobre como eu iria encarar Nick depois disso tudo. Minha cabeça dava voltas e voltas e eu me encolhia no travesseiro como se não soubesse o que fazer agora.

Talvez, ninguém fosse compreender o porquê deu escolher Joe. Nick muito menos. Mas tem tudo a ver com a as memórias. Com tudo o que passou e ninguém ficou sabendo.

Remember December é sobre isso.

Eu rogava pra que Joe lembra-se das mesmas coisas que eu e mudasse. Ou melhor, que ele provasse que no fim de tudo, eu valho algo pra ele.

Por favor se lembre, se lembre de dezembro.